segunda-feira, 9 de agosto de 2021

JULIANO MOREIRA 01

 

                      



 

 

 JULIANO MOREIRA 01

 

DADOS PESSOAIS

Juliano Moreira nasceu em 6 de janeiro de 1873, na Freguesia da Sé, na cidade de Salvador, então província da Bahia. Era filho de Manoel do Carmo Moreira Junior, português, e de Galdina Joaquim do Amaral, que trabalhava na residência de Adriano Alves Lima Gordilho, Barão de Itapuã. Foi criado pela mãe, e reconhecido posteriormente pelo pai, um funcionário municipal, inspetor de iluminação pública. Casou-se com Augusta Peick, enfermeira alemã que conheceu durante sua estadia em um sanatório na cidade do Cairo, para tratar da tuberculose.

Faleceu, em 2 de maio de 1933, no Sanatório de Correias, distrito da cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro.

Início

 

 

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Juliano Moreira iniciou seus estudos primários no Colégio Pedro II e os concluiu no Liceu Provincial, ambos na cidade de Salvador.

Ingressou, em 1886 na Faculdade de Medicina da Bahia, onde foi interno da cadeira de clínica dermatológica e sifiligráfica (1890), e onde se doutorou em medicina e cirurgia em 1891, com a tese intitulada “Syphilis maligna precoce”, merecedora de honrosas referências do sifilógrafo Frédéric Buret, mencionando-a no Journal des Maladies Cutanées et Syphilitiquese do professor Raymond Jacques Adrien Sabouraud (1864-1938), citando-a nos Annales de Dermatologie et Syphiligraphie. Juliano Moreira, embora contasse à época com apenas 18 anos de idade, já era conhecido internacionalmente nos meios acadêmicos, tornando-se referência para os estudos sobre a sífilis.

Foi assistente não remunerado da cadeira de clínica psiquiátrica e doenças nervosas (1893), da qual era catedrático João Tillemont Fontes, e preparador da cadeira de anatomia médico-cirúrgica (1894) na Faculdade de Medicina da Bahia, e médico adjunto no Hospital Santa Izabel, vinculado à mesma instituição.

De 1893 a 1903 foi alienista e médico-adjunto do Asylo São João de Deos, criado em 1874, vinculado à Santa Casa da Misericórdia da Bahia e, que foi posteriormente denominado Hospício São João de Deus (1922), Hospital São João de Deus (1925) e Hospital Juliano Moreira (1936).

Juliano Moreira, já formado, integrou diversas comissões sanitárias, tendo sido indicado pela Inspetoria de Higiene para a comissão médica que trataria da assistência aos indigentes acometidos de febres e disenteria na cidade de Bonfim e regiões próximas como a Vila de Campo Formoso. O relato desta experiência resultou na publicação, em 1894, do artigo “Endemo-epidemia da Jacobina”, “a primeira assinada com o nome por extenso Juliano Moreira na Gazeta Médica da Bahia” (GELMAN, 2006, p.40).

Publicou, em 1894, na Gazeta Medica da Bahia seu estudo sobre a enfermidade denominada botão endêmico, que era “uma minuciosa descrição das formas clínicas, com base em numerosos casos clínicos, e afirmava, pela primeira vez, a existência na Bahia e no Brasil do botão de Biskra, também chamado botão ou úlcera do Oriente ou botão endêmico dos países quentes” (JACOBINA, 2008). Publicou também no periódico Journal des maladies cutanées et syphilitiques, em 1895, um artigo sobre esta enfermidade, intitulado “Le bouton endemique des pays chaud observe a Bahia”.

Foi o primeiro no país a descrever a Hydroa vacciniforme, uma condição crônica de pele, tendo publicado os casos estudados a respeito desta enfermidade no British Journal of Dermatology em 1895 (EL-BAINY, 2007).

Juliano Moreira apresentou, em 1896, a tese intitulada “Dyskinesias Arsenicaes, nova contribuição, estado atual da questão”, que tratava da questão do envenenamento por arsênico, para o concurso de lente substituto da cadeira de clínica psiquiátrica e de moléstias nervosas da Faculdade de Medicina da Bahia. Suas provas repercutiram de forma impressionante naquela Faculdade, a ponto de alunos da 6ª série, como Julio Afrânio Peixoto, o terem reconhecido como doutorando honorário de sua turma. Este concurso foi marcado também por uma disputa acirrada e por uma atmosfera de ansiedade, pois ao fim de inúmeras avaliações Juliano Moreira foi aprovado, com 15 notas dez, contrariando àqueles que esperavam sua derrota, pelo fato de tratar-se de um candidato mulato que postulava uma colocação em uma instituição ainda com sérias restrições raciais (PICCININI, 2002).

Na Faculdade de Medicina da Bahia havia sido aluno de Raymundo Nina Rodrigues na primeira turma de Medicina Legal, e em 1896 tornou-se seu colega de docência, com a aprovação no concurso de lente para a cadeira de clínica psiquiátrica e doenças nervosas na mesma instituição.

Fez diversas viagens à Europa, entre 1895 e 1902, num roteiro que incluiu países como Alemanha, França, Inglaterra, Escócia, Bélgica, Holanda, Itália e Suíça, quando visitou as mais destacadas clínicas psiquiátricas e manicômios, e freqüentou cursos de diversas especialidades. Na área de doenças mentais, freqüentou os cursos dos neurologistas alemães Eduard Hitzig (1839-1907) e Friedrich Jolly (1844-1904), dos psiquiatras alemães Paul Emil Flechsig (1847-1929), Richard von Krafft-Ebing (1847-1902), e Emil Kraepelin (1856-1926). No campo da clínica médica contatou os médicos alemães Ernst Viktor von Leyden (1832-1910) e Carl Wilhelm Hermann Nothnagel (1841-1905), e o anatomista alemão Rudolf Carl Virchow (1821-1902). Nesta ocasião também assistiu às palestras do dermatologista francês Raymond Jacques Adrien Sabouraud (1864-1938), dos neurologistas franceses Joseph Jules Dejerine (1849-1917) e Georges Albert Édouard Brutus Gilles de la Tourette (1859-1904), e do psiquiatra francês Valentin Magnan (1835-1916) (HJM – Biografia, 2013).

Durante sua estadia na Europa, Juliano Moreira esteve no laboratório do Dermatologikum, um instituto para diagnóstico e tratamento das enfermidades dermatológicas em Hamburgo (Alemanha) chefiado pelo dermatologista alemão Paul Gerson Unna (1850-1929), onde realizou um estudo anatomopatológico, transformado em monografia e considerado como a mais completa análise até hoje efetuada sobre o assunto (ACADÊMICO, 1933).

No ano de 1902 realizou o estudo patológico do mycetoma e de Goundum, em casos observados na clínica do médico Antônio Pacheco Mendes, na cidade de Salvador.

Em 10 de novembro de 1902 licenciou-se da Faculdade de Medicina da Bahia e viajou para a cidade do Rio de Janeiro, onde assistiu ao ato de embalsamento do cadáver de seu amigo, mestre, e médico Manuel Victorino Pereira.

No início do governo do presidente Rodrigues Alves, em 16 de dezembro de 1902, tendo em vista irregularidades administrativas e orçamentárias, foi constituída uma comissão para avaliar a situação do Hospício Nacional de Alienados , antigo Hospício de Pedro II , e das colônias de alienados, integrada por Carlos Fernandes Eiras, Egydio de Salles Guerra, Francisco Manoel da Silva Araújo, e Antônio Maria Teixeira. O relatório desta comissão apresentou um quadro pouco favorável à instituição, então dirigida por Antônio Dias de Barros, descrevendo a instituição como um “ajuntamento vergonhoso que não é só ofensivo da moral, mas prejudicial também ao tratamento dos pequenos infelizes, cujo estado mental bem poderia melhorar si em outro meio recebessem cuidados adequados” (RELATÓRIO, 1903, Anexo B, p.5).

Em 26 de março de 1903, Juliano Moreira, que ainda se encontrava na cidade do Rio de Janeiro, foi nomeado diretor do serviço sanitário do Hospício Nacional de Alienados. Em 16 de julho do mesmo ano encaminhou uma exposição de motivos ao Ministro da Justiça e Negócios Interiores, na qual afirmou a importância da criação de uma lei geral de Assistência a Alienados e apresentou as bases para uma reforma do Hospício Nacional de Alienados, destacando inúmeros aspectos, entre estes:

“Tendo em vista o augmento de população da Capital Federal e as necessidades de receber doentes de outros Estados, torna-se de mais em mais necessário alargar as dependências do Hospício e augmentar os alojamentos das Colônias para onde serão transferidos todos os alienados indigentes, capazes de trabalharem no serviço de lavoura, incontestavelmente o melhor meio de occupar as actividades de alguns de entres elles. Muito lucraria a Assistência si o Estado fundasse uma colônia especial para epilépticos indigentes (....). (...). Entre as insufficiencias actuaes desse estabelecimento nota-se a falta de pavilhões especiaies para tuberculosos e para moléstias intercurrentes. (...). Prover o estabelecimento de laboratórios de propedêutica e semiótica mentaes, incluindo a psycho-physiologia, de anatomia pathologica e bio-chimica, será armar os alienistas deste manicômio de recursos para melhor diagnosticarem e, portanto, conseguirem melhores resultados therapeuticos. Como complemento disto, vem a urgência de reformas radicaes nos serviços de electro e hydrotherapia, accrescentando-lhes o de kynesotherapia. Relativamente ao pessoal do estabelecimento, devem ser muito sérias as modificações a imprimir no estado actual de cousas. Quanto ao pessoal medico, é imprescindível a creação de alguns logares clínicos; um delles, que deverá ser um pediatra, conhecedor do ramo da psychiatria e da neurologia applicado às crianças, ficará encarregado do serviço especial do instituto a que me referi acima. A outro clinico ficará entregue o serviço dos pavilhões de isolamento. Assim, daremos mais folga aos aquatro alienistas effectivos para bem cuidarem de suas respectivas secções (...). (...). Além destes, é urgente a fundação dos logares de cirurgião gynecologista, de ophtalmologista e de dentista. Assim serão postas em pratica não só a escola de enfermeiros, uma das maiores necessidades do serviço hospitalar entre nós, como a abertura de officinas em que poderão trabalhar muitos doentes.” (MOREIRA, 1905, p.14-16)

 

 

 

 

 

 

Na direção do Hospício, Juliano Moreira adotou como orientação a corrente alemã de psiquiatria, que conhecera com Emil Kraepelin (1856-1926), e que divergia da vertente francesa tradicionalmente adotada no Brasil. Em nenhuma hipótese admitia a referência pejorativa aos doentes mentais, afirmando de forma irônica que na realidade a maioria dos loucos estava fora dos manicômios (PASSOS, 1975).

Juliano Moreira, como diretor do Hospício Nacional de Alienados, criou novas enfermarias, como a enfermaria infantil, reestruturou as oficinas de trabalho, retirou as grades das janelas das enfermarias, aboliu os coletes e camisas de força, criou o Pavilhão Seabra com várias oficinas (ferreiro, bombeiro, mecânica elétrica, carpintaria, marcenaria, tipografia, etc.) para recuperação dos pacientes, e implantou oficinas artísticas (HJM. Biografia, 2013). Instituiu a assistência a familiares, e inaugurou uma biblioteca dotando-a de “obras clássicas francezas, antigas e modernas, muitas inglezas, allemãs, italianas, revistas francezas de psychiatria e neurologia (Annales Medico-Psychologiques, 1843 a 1904, Archives de Neurologie, 1880 a 1904, Nouvelle Iconographie de la Salpe¬trière, 1888 a 1904, Revue de Psychiatrie, 1897 a 1904, Revue Neurologique, 1893 a 1904), e assignatura de quasi todas as mundiaes sobre esse assumpto restricto, francezas, belgas, italianas, allemãs, inglezas, americanas, hespanholas, argentinas, etc.” (RELATORIO, 1904-1905, p.19)).

Da mesma forma que fizera na Bahia, Juliano Moreira organizou um laboratório e principiou a realização de punções lombares e exames citológicos de líquido céfalo-raquianos a fim de diagnosticar enfermidades. O número grande de pacientes internados no Hospício Nacional de Alienados e a forma de tratamento adotado eram apontados como problemas importantes para o funcionamento da instituição. Em 1890 havia sido criada, nas dependências daquela instituição, a Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras, com o objetivo de preparar os profissionais que atuassem nos hospícios e hospitais civis e militares, mas, de acordo com os relatos de 1908, esta escola não estaria funcionando devido a pouca regularidade de freqüência do pessoal às aulas, dada à sobrecarga de trabalho deste com a vigilância permanente de um número grande de pacientes (RELATORIO, 1909).

A gestão de Juliano Moreira à frente do Hospício Nacional de Alienados, abolindo medidas consideradas desumanas, atraiu para o estabelecimento um grande número de profissionais interessados nas novas técnicas do tratamento psiquiátrico. Júlio Afrânio Peixoto, Miguel da Silva Pereira, Antônio Austregésilo Rodrigues Lima, Raul Leitão da Cunha, Antonio Fernandes Figueira, José Chardinal D´Arpenans, Humberto Netto Gotuzzo, Bruno Alvares da Silva Lobo e Alvaro Porfírio de Andrade Ramos, entre outros, integraram o corpo clínico do estabelecimento e em pouco tempo se tornariam reconhecidos no ramo. Outros especialistas renomados formaram-se sob sua direção, como Gustavo Koehler Riedel, Mário Pinheiro de Andrade, Ernani Lopes, Faustino Monteiro Esposel, Ulysses Machado Pereira Vianna Filho, Henrique Waldemar de Brito Cunha, Carlos Mattoso Sampaio Corrêa, Mauricio Campos de Medeiros, Adauto Junqueira Botelho, Heitor Pereira Carrilho, Fabio de Azevedo Sodré, Odilon Galloti e Hermelino Lopes Rodrigues (LOPES, 1964).

Entre os internos mais célebres no então Hospício Nacional de Alienados esteve o escritor Afonso Henriques de Lima Barreto. A experiência de Lima Barreto em segundo internamento, ocorrido de 25 de dezembro de 1919 a 2 fevereiro de 1920, foi relatada em seu “Diário do Hospício”, no qual se refere a seu encontro com Juliano Moreira:

“Na segunda-feira, antes que meu irmão viesse, fui à presença do doutor Juliano Moreira. Tratou-me com grande ternura, paternalmente, não me admoestou, fez-me sentar a seu lado e perguntou-me onde queria ficar. Disse-lhe que na secção Calmeil. Deu ordens ao Santana e, em breve, lá estava eu.” (BARRETO, 1993, p.27)

 

 

Em relação às instituições de assistência aos alienados propôs “a substituição do hospício do fim do século XIX, obsoleto e inchado, por diferentes formatos institucionais para o tratamento da doença mental em seus diversos níveis: hospitais urbanos para curtos períodos de internação e tratamento, hospitais-colônia, clinoterapia, assistência heterofamiliar para casos mais longos etc.” (VENANCIO, 2005a, p.70).

A perspectiva humanista implementada por Juliano Moreira no Hospício Nacional de Alienados foi igualmente adotada pela nova lei federal de assistência aos alienados, apresentada em 1903 por João Carlos Teixeira Brandão, ex-diretor do Hospício Nacional de Alienados, cujo projeto foi apoiado por Juliano Moreira e pelo presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves. Aprovada em 22 de dezembro do mesmo ano na forma do decreto nº 1.132, essa lei era baseada na proteção jurídica aos alienados, nos moldes da legislação francesa estabelecida de 30 de junho de 1838, que proibia, entre outras deliberações, a colocação dos doentes mentais em prisões. Em 1º de fevereiro de 1904, o decreto nº 5.125 estabeleceu o Regulamento da Assistência a Alienados no Distrito Federal.

Em 1905, com o apoio de Júlio Afrânio Peixoto, Juliano Moreira criou os Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Sciencias Affins, com a proposta segundo seus editores, de "registrar as contribuições nacionais" e "estimular os especialistas nacionais ao estudo acurado de seus doentes" (Nota editorial, 1905, Apud FACCHINETTI, 2010). Em 1908 este periódico passou a denominar-se Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal, com a criação da Sociedade Brasileira de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal, em 1907. A partir de 1919 o órgão da Sociedade Brasileira de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal passou a ser denominado Arquivos Brasileiros de Neuriatria e Psiquiatria, de responsabilidade de Juliano Moreira, Antônio Austregésilo Rodrigues Lima, Ulysses Machado Pereira Vianna Filho, Henrique de Brito Belford Roxo, Waldemar de Almeida, e Faustino Monteiro Esposel

Os referidos periódicos não foram, contudo, as únicas publicações que contaram com seu auxílio. Ainda na Bahia, foi diretor dos Annaes da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia, e colaborador da Gazeta Medica da Bahia, da Revista Médico-Legal, órgão da Sociedade de Medicina Legal da Bahia, e da Revista dos Internos da Faculdade de Medicina da Bahia. A Gazeta Medica da Bahia, criada em 1866 pelos integrantes da denominada Escola Tropicalista Baiana, foi destacada pelo próprio Juliano Moreira:

“Por meados do século XIX floresceu na Bahia uma tríade memorável de médicos a qual muito deve a medicina nacional: foram Wucherer, Paterson e Silva Lima. Provaram eles em 1849 que era de febre amarela a epidemia então reinante na cidade de Salvador. Silva Lima descreveu por primeira vez o ainhum alem de ter estudado com desusado esmero o beriberi e outras doenças aqui reinante. Essa Tríade fundou a Gazeta Médica da Bahia, o mais antigo repositório americano de subsídios para o estudo das doenças nos trópicos.” (Apud GELMAN, 2006, p.34)

 

 

Juliano Moreira foi o redator principal da Gazeta Medica da Bahia de julho de 1901 a junho de 1906:

“(....) Juliano Moreira tornou-se seu colaborador assíduo, com publicação de uma dezena de artigos, tendo a sífilis como tema principal. Entretanto as pesquisas de Juliano Moreira que tiveram maior destaque no período não foram sobre sua temática principal, a sífilis, mas sobre uma outra doença 'de países de clima quente', com manifestações cutâneas, o botão de Biskra, botão endêmico ou, numa linguagem mais atual, a leishmaniose tegumentar americana ou cutâneo-mucosa. Esses estudos se inscrevem numa fecunda e original tradição da Gazeta Medica, a dos estudos científicos com preocupação nacional sobre as doenças ditas tropicais, principalmente infecciosas e parasitárias, como fez Wucherer com seus trabalhos sobre a ancilostomíase e a filariose, e Silva Lima sobre o beribéri e o ainhum, já mencionados.” (JACOBINA, 2008)

 

 

 

Foi colaborador efetivo do Brazil Médico, periódico fundado em janeiro de 1887, por Antônio Augusto de Azevedo Sodré, professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e também da Revista Médico-Cirúrgica do Brazil, criada em 1892.

Em viagem a Portugal, em 1906, para participar do XV Congrès International de Médicine, Juliano Moreira conheceu os médicos Miguel Augusto Bombardia (1851-1910), organizador deste Congresso e diretor do Manicómio de Rilhafoles (Lisboa), Júlio Xavier de Matos (1856-1922), criador do ensino oficial da psiquiatria em Portugal, e Júlio Dantas (1876-1962), médico militar e escritor (PASSOS, 1975).

Em 1911, participou da fundação dos Archivos Brasileiros de Medicina, juntamente com Antônio Austregésilo Rodrigues Lima, Eduardo Marques, Ernani Lopes, Gustavo Koehler Riedel, Mário Pinheiro de Andrade, Roberto César de Andrade Duque Estrada, Raul Pacheco e Zopyro Goulart.

Juliano Moreira foi nomeado, em 1911, diretor da Assistência Médico-Legal de Alienados, órgão que havia sido criado em 1890 e que posteriormente, em 1927, tornou-se o Serviço de Assistência a Psychopatas. Exerceu esta função sem remuneração adicional, acumulando-a com a de diretor do Hospital Nacional dos Alienados, Durante sua gestão na Assistência Médico-Legal de Alienados, criou o Manicômio Judiciário, inaugurado em 1921, em terrenos anexos à Casa de Correção na Rua frei Caneca, no centro do Rio de Janeiro.

Foi designado professor honorário de clínica de doenças mentais da Faculdade de Medicina da Bahia em julho de 1911, por proposta da Congregação desta instituição.

Em 1912, Augusto Rodrigues Caldas, diretor das colônias de alienados na Ilha do Governador, recebeu o apoio do Ministro da Justiça e Negócios Interiores e de Juliano Moreira, então diretor da Assistência a Alienados e do Hospital Nacional de Alienados, para a instalação de uma colônia de alienados em um terreno da Fazenda do Engenho Novo, na área rural de Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. Buscava-se, desta forma, resolver os problemas existentes nas antigas colônias de alienados na Ilha do Governador. As obras foram concluídas em 1924, quando foi inaugurada a então denominada Colônia de Psicopatas-Homens, para o atendimento de pacientes indigentes e crônicos oriundos, em sua maioria, das colônias da Ilha do Governador. Em 1935 passou a denominar-se Colônia Juliano Moreira como homenagem póstuma (VENÂNCIO, 2011).

Juliano Moreira defendia energicamente a adoção do tratamento de alienados em colônias rurais, como se depreende dos artigos que escrevia aos Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Sciencias Affins. As novas colônias eram, a seu ver, necessárias em substituição às colônias de São Bento e Conde de Mesquita, localizadas na Ilha do Governador, em terras onde hoje se encontra a Base Aérea do Galeão. Além da exigência dos frades do Mosteiro de São Bento, proprietários destes terrenos, e da Marinha, que desejava instalar ali a sua recém-criada Divisão Aérea, estas áreas estavam de todo modo em estado precário, não possibilitando assim condições adequadas para seus internos.

Juliano Moreira integrou o conselho executivo dos Archivos Brasileiros de Hygiene Mental, veículo oficial da Liga Brasileira de Hygiene Mental, tendo publicado o artigo “A seleção individual de immigrantes no programa de hygiene mental” no número de lançamento da publicação, em 1925.

Como referência da medicina nacional, representou o Brasil em diversos encontros científicos no exterior, como o XI Congres International de Médecine (Paris, 1900), o XV Congrès International de Médecine (Lisboa, 19-26/04/1906), o Congresso de Assistência a Alienados (Milão,1907) e o International Congress of Psychiatry, Psycology and Neurology (Amsterdã, 1907). Sua atuação neste congresso de psiquiatria rendeu-lhe a nomeação para a presidência do Comitê de Propaganda no Brasil, função esta que desempenhou em outras ocasiões também por indicação dos comitês organizadores de congressos em Viena, Londres, Gand (Bélgica), Berne (Suíça) e Moscou. Em 1901 foi eleito presidente honorário do IV Congresso Internacional de Assistência aos Alienados, realizado em Berlim. No 2º Congresso Medico Latino Americano (Buenos Aires, 1904), apresentou o trabalho “A paranóia e os syndromas paranoides”, em co-autoria com Júlio Afrânio Peixoto. Foi também eleito presidente honorário do Congresso de Assistência a Alienados, realizado em Milão, em 1907. Integrou o Instituto Internacional para o Estudo da Etiologia e Profilaxia das Doenças Mentais.

Em 1908 foi convidado pelo governo norueguês para participar da Second International Conference on Leprosy (Bergen, Noruega, 1909), por indicação do leprólogo Gerhard Armauer Hansen (1841-1912), para tratar da questão das doenças mentais nos leprosos, tendo posteriormente publicado seus estudos no Allgemeine Zeitschrift für Psychiatrie und psychisch-gerichtliche Medicin, na Alemanha. Participou do IV Congresso Medico Latino-americano (Rio de Janeiro, 1º-09/08/1909) com a apresentação do trabalho “Quaes os melhores meios de assistencia aos alienados?” na 5ª Secção de Neurologia, Psychiatria, Criminologia e Medicina Legal. Foi membro, desde o princípio da International League against Epilepsy, tendo participado do encontro em 30/08/1909 no Hotel Bristol, em Budapeste que discutiu sua criação, e tendo representado o Brasil no International Committee desta associação. Foi delegado do governo brasileiro na 11ª International Conference on Tuberculosis (Berlin, 22-25/10/1913). Participou, como membro organizador, do International Medical Congress (Budapeste, 29/08-04/09/1918), tratando do tema das doenças mentais e nervosas decorrentes da arterioesclerose. Na Réunion Jubilaire da Société de Médecine Mentale (Gand, Bruxelas, 25-26/09/1920) foi reconhecido como membro honorário desta sociedade.

Juliano Moreira também teve importante participação em congressos nacionais, tendo sido presidente da Seção de Sifilografia e Dermatologia do 5º Congresso Brasileiro de Medicina e Cirurgia, promovido pela Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, (Rio de Janeiro, 16/06-02/07/1903), e presidido, em 1916 e 1922, o 1º e o 2º Congresso Brasileiro de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal respectivamente.

Participou, juntamente com Antônio Pacheco Mendes, Raymundo Nina Rodrigues, Alfredo Tomé de Britto e outros, da fundação da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia, criada em 18 de novembro de 1894, na qual foi também diretor de seus Anais e membro da Comissão seccional de dermatologia-sifiligrafia. Participou juntamente com Raymundo Nina Rodrigues, da criação da Sociedade de Medicina Legal da Bahia, em 1895.

Foi um dos membros fundadores, vice-presidente (1923-1926), e presidente (1926-1929), da Sociedade Brasileira de Ciências criada em 1916, posteriormente denominada Academia Brasileira de Ciências. Por ocasião da visita de Albert Einstein (1879-1955) ao Brasil, em maio de 1925, Henrique Charles Morize, presidente da então Academia Brasileira de Ciências, e Juliano Moreira (vice-presidente), o recepcionaram na instituição. Nesta ocasião Juliano Moreira discursou e apresentou a proposta dos acadêmicos solicitando a admissão de Einstein como membro correspondente daquela associação. Juliano Moreira também o recebeu no Hospital Nacional de Alienados para uma visita às instalações do estabelecimento. Em 30 de abril de 1929, foi nomeado presidente honorário da Academia Brasileira de Ciências.

Integrou também outras associações nacionais, como a Academia de Letras da Bahia, o Instituto Histórico-Geográfico Brasileiro (eleito sócio em 1914, e posse em maio de 1917), e a Academia Nacional de Medicina, da qual foi membro titular da Seção de Medicina (eleito em 29 de outubro de 1903) e vice-presidente durante a gestão de Miguel de Oliveira Couto na presidência (1913-1934).

Integrou o Conselho Penitenciário do Distrito Federal, criado em 1924, juntamente com Antônio Evaristo de Morais, Raul Leitão da Cunha, José Gabriel Lemos de Brito, e outros, e foi membro do Conselho de Menores e do Conselho dos Patrimônios do Ministério da Justiça (HJM, 2013). Participou, juntamente com Júlio Afrânio Peixoto e Benjamin Franklin Ramiz Galvão, do conselho administrativo do Monte Médico, uma associação de previdência de médicos, farmacêuticos e cirurgiões dentistas no Distrito Federal.

Juliano Moreira, juntamente com Júlio Afrânio Peixoto, fundou em 1905, na sede da Academia Nacional de Medicina, a Sociedade Brasileira de Psychiatria, Neurologia e Sciencias Affins,. Em 17 de novembro de 1907 esta associação que reunia médicos do Hospício Nacional de Alienados e professores e alunos da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, foi renomeada como Sociedade Brasileira de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal, da qual Juliano Moreira foi presidente, e presidente perpétuo (1928). Em 5 de abril de 1908 foi constituída uma comissão para elaboração dos estatutos desta sociedade, formada por Carlos Fernandes Eiras, Júlio Afrânio Peixoto e Henrique de Brito Belfort Roxo, os quais teriam como modelo o de uma instituição alemã, de Munique. Em 1907 foi lançado o Boletim da Sociedade, produzido na Oficina Tipográfica do Hospital Nacional de Alienados (VASCONCELOS, 2008)

No seio da Sociedade Brasileira de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal foi constituída uma Comissão para propor uma classificação psiquiátrica, que “fosse uniformemente adotada no Hospício Nacional de Alienados e nas nossas Casas de Saúde para Psicopatas” do Distrito Federal (Apud SANTO, 2012, p.26). Esta Comissão foi formada por Juliano Moreira, Carlos Fernandes Eiras, Henrique de Brito Belford Roxo e Júlio Afrânio Peixoto, e seu resultado foi apresentado no relato de Juliano Moreira à Repartição Geral de Estatística em 1910, no qual se evidenciavam as influências da classificação psiquiátrica de Kraepelin. A classificação proposta pela Sociedade Brasileira de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal apresentava 14 grupos diagnósticos.

Juliano Moreira integrou o conselho executivo e foi presidente de honra da Liga Brasileira de Hygiene Mental, criada em 26 de janeiro de 1923 pelo médico Gustavo Koehler Ridel.

A Sociedade Brasileira de Psicanálise foi fundada em São Paulo, em 27 de novembro de 1927, por Francisco Franco da Rocha, professor de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo, e Durval Bellegarde Marcondes. No ano seguinte, em 17 de junho de 1828, foi criada a Seção Rio de Janeiro desta associação, em uma reunião presidida por Juliano Moreira, com a presença de Murilo de Campos, Pedro Deodato de Moraes, José Carneiro Ayrosa, Júlio Pires Porto Carrero, Durval Bellegarde Marcondes e de Osório Thaumaturgo César, realizada no Serviço de Psychanalise do Hospital Nacional de Alienados, que havia sido criado naquele ano por Juliano Moreira, e que era dirigido por Murilo de Campos e José Carneiro Ayrosa. Juliano Moreira foi o primeiro presidente da Seção Rio de Janeiro (CARRERO, 1929).

Na residência de Juliano Moreira eram realizadas reuniões, com a presença de diplomatas estrangeiros, professores, artistas, médicos, como Miguel Ozorio de Almeida, Gastão Cruls e Antonio da Silva Mello.

Foi membro de diversas sociedades científicas estrangeiras, incluindo a Anthropologische Gesellschaft (Munich, Alemanha), a Société de Médecine de Paris, a Société de Pathologie Exotique (Paris, França), a Société Clinique de Médécine Mentale (França), a Medico-Legal Society of New York (E.U.A.), a Sociedad de Neurología y Psiquiatría (Buenos Aires, Argentina), a Société de Psychologie de Paris, a Societé de Psychiatrie (Paris), a Société Clinique de Médecine Mentale (Paris), a Societé Medico-Psychologique de Paris, a American Academie of Political and Social Science (Philadelphia, E.U.A.), a Société de Médecine Mentale de Belgique, Société de Neurologie de Paris, a Ligue de Hygiene Mentale (Paris), e membro correspondente da Royal Medico-Psychological Association (Londres, 1909).

Juliano Moreira foi eleito, em 1922, membro correspondente da Ligue Française de Prophylaxie et d´Hygiène Mentale, criada em Paris em 1921, e integrou o Comitê Internacional de redação da Folia Neurológica, que era um órgão para estudos de biologia do sistema nervoso, em Amsterdã (EL BAINY).

Sua trajetória foi destaque nas crônicas e notícias dos periódicos médicos de sua época:

“O Dr. Juliano Moreira especializou-se em psychiatria e em dermatologia. É talvez o único medico brazileiro que há percorrido todos hospitaes de alienados da Europa e da América do Sul, adquirindo na especialidade uma competência que todos reconhecem e de que dão mostra os seus trabalhos, alguns dos quaes ten honrado as columnas do <Brazil-Medico>. Trabalhou em diversos laboratórios do velho mundo e salientou-se muito no do Dr. Unna, em Hamburgo, tendo então opportuindade de publicar o seu magnífico estudo sobre o ainhum, com a mais completa e original contribuição scientifica sobre o assumpto. Sentimos que nos falte espaço para dar a lista dos numerosos trabalhos do Dr. Juliano Moreira, que tem collaborado em diversas revistas medicas estrangeiras e nacionaes, sendo um dos redactores effectivos da ´Gazeta Medica da Bahia`.” (CHRONICA, 1903, p.140)

 

 

 

Juliano Moreira é considerado o introdutor de inúmeros estudos clínicos no Brasil. Sua produção científica foi reconhecida e reverenciada no exterior. Foi precursor da clinoterapia no tratamento de doenças mentais e o pioneiro na realização de exames microscópicos de casos de micetoma no Brasil. Também impulsionou a criação de laboratórios em hospitais e clínicas através de uma conferência na Sociedade de Medicina e Cirurgia da Bahia, onde expôs a conveniência de tais serviços para o bom funcionamento destes órgãos. A partir de então, a Faculdade de Medicina da Bahia instituiu seu Instituto de Clínicas, laboratórios reunidos com a finalidade de colaborar nos diagnósticos realizados nas diversas clínicas, serviço que funcionava anexo ao Hospital Santa Izabel.

Foi também considerado o precursor da psicanálise no Brasil, pois o trabalho de Sigmund Schlomo Freud (1856-1939) “há trinta anos era estudado por elle na Bahia” (PEIXOTO, 1931). Segundo Carmen Oliveira, Juliano Moreira já o teria referido, em 1899, em uma conferência na Faculdade de Medicina da Bahia, uma década antes do movimento de divulgação do pensamento freudiano no país (OLIVEIRA, 2002).

Ana Teresa A. Venâncio, ao analisar o conjunto dos trabalhos de Juliano Moreira, o apresenta como tendo duas fases, sendo a primeira caracterizada como “tropicalista”, pois “seus artigos versam sobre doenças como a leishmaniose, a sífilis, a malária e o ainhum” (2005, p.68). E nesta fase estariam trabalhos como “Distribuição geográfica do botão endêmico dos países quentes” (1895), “A alimentação pelo arroz e o beribéri perante a observação dos médicos holandeses” (1898), “A sífilis como fator de degeneração” (1899), e “Os mosquitos e a malária” (1899). Na segunda fase, Juliano Moreira teria dedicado seus estudos especialmente à clínica psiquiátrica:

“A partir de 1901, Juliano Moreira discorre sobre exemplos internacionais – “A clínica psiquiátrica da Universidade de Leipzig” (1901), “A clínica psiquiátrica e de moléstias nervosas na Universidade de Halle” (1901), “A clínica psiquiátrica e de moléstias nervosas na Universidade de Wirtzburg (1902) – e elege, como modelo mais bem acabado, o Instituto de Munique dirigido por Emil Kraepelin, o qual se destinava tanto à assistência quanto ao ensino e à pesquisa.” (VENANCIO, 2005a, p.69)

 

 

Divergiu da teoria da degenerescência de Raymundo Nina Rodrigues, que tentava explicar a incidência das doenças mentais nos brasileiros através do viés patológico da miscigenação, enfatizando a “contribuição negativa” dos negros. Também refutava a tese de outros alienistas que acreditavam na relação entre determinadas enfermidades mentais com o clima tropical (ODA, 2001).

A projeção profissional de Juliano Moreira fazia-se sentir pelas inúmeras homenagens que recebeu, tanto em vida como póstumas. Em 1923 e 1925 os números dos Archivos Brasileiros de Neuriatria e Psychiatria foram inteiramente dedicados a sua trajetória enquanto médico e cientista.

Na data de seu aniversário, em 6 de janeiro de 1924, foi inaugurado um busto em bronze – obra do escultor Rodolpho Pinto do Couto – no salão nobre do Hospital Nacional dos Alienados. Esta iniciativa, resultado da admiração pelos trabalhos realizados em prol dos doentes mentais do país, partiu de seus alunos, amigos, discípulos e companheiros de profissão.

Em 1926, um grupo de especialistas em psiquiatria e neurologia reunidos no anfiteatro do Hospital Nacional de Alienados, resolveu criar a Fundação Juliano Moreira, um instituto de pesquisas destinado ao estudo científico das moléstias do sistema nervoso. Participaram da iniciativa Ulysses Machado Pereira Vianna Filho, Henrique da Rocha Lima, Raul Leitão da Cunha, Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, Miguel de Oliveira Couto, Arthur Alexandre Moses, Heitor Pereira Carilho, Juvenil da Rocha Vaz, Mário Pinheiro de Andrade, Waldemar Schiller, Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, Pedro Pernambuco Filho, Adauto Botelho, João Marinho de Azevedo, Henrique de Brito Belford Rôxo, Faustino Monteiro Esposel, Henrique Duque e Waldemar de Almeida, sendo Juliano Moreira declarado seu presidente honra.

Juliano Moreira foi convidado pelo médico alemão Carl Anton Mense (1861-1938) para colaborar com a nova edição do tratado de doenças nervosas e mentais dos países tropicais, que resultou na publicação de seu trabalho intitulado “Die nervenund Geistskrankheiten in den Tropen” no vol.4 do Handbuch der Tropenkrankheiten, em 1926.

Em julho de 1928 viajou para o Japão, onde permaneceu por quatro meses, a convite de universidades de Tóquio, Kioto, Sendai, Hokaido, Fuknoka, Osaka, entre outras, nas quais proferiu suas conferências. Recebido com grande reverência, foi nomeado membro honorário da Sociedade Japonesa de Neurologia e Sociedade Japonesa de Psiquiatria, e condecorado pelo Imperador com a Ordem do Tesouro Sagrado. Seguiu posteriormente para a Europa para realizar conferências na Alemanha, onde foi condecorado com a medalha de ouro, condecoração máxima conferida a um professor estrangeiro, por três instituições - Sociedade Médica de Munique, Cruz Vermelha Alemã e Universidade de Hamburgo. Foi eleito membro honorário das Sociedades de Neurologia e Psiquiatria de Berlim e de Hamburgo.

De volta ao Brasil, Juliano Moreira retomou a direção do Hospital Nacional de Alienados até aposentar-se como Diretor Geral da Assistência a Psicopatas do Distrito Federal em 1930, cargo que ocupava desde 1911. Ainda em 1930 fundou, juntamente com Heitor Pereira Carrilho, os Arquivos do Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro.

Juliano Moreira teve uma atuação bastante variada no campo da ciência. Foi médico, tropicalista, dermatologista, sifilógrafo, alienista, psicólogo, naturalista e historiador da medicina. Júlio Afrânio Peixoto, em texto publicado nos Archivos Brasileiros de Medicina em 1931, destacou a trajetória de Juliano Moreira:

“Não foi nacionalista, nem teve freguesia intelectual. Ouviu os sons de todos os sinos. Aqui, Silva Lima, tropicalista. Ali, Nina Rodrigues, medico legista. Estendeu as mãos a Teixeira Brandão e a Franco da Rocha. Propagou Kraepelin, sem esquecer Pierre Marie, nem Toulose, Clouston e Morselli. Leu a todos, aprendeu de todos, a todos no seu tanto consagrou, com a citação, a aplicação, a correcção. Freud, novidade de hoje, há trinta annos era estudado por ele na Bahia.” (PEIXOTO, 1931, p.66)

 

 

Sua contribuição mais destacada foi no campo da psiquiatria, cujos métodos ajudou a modernizar e divulgar. Por sua insigne projeção na área médica, foi reverenciado no mundo inteiro e fez parte de diversas associações e sociedades científicas internacionais, que o convidavam a integrar seus quadros por reconhecê-lo como o melhor em sua especialidade – a psiquiatria.

Em 02 de maio de 1933, faleceu em consequência de uma enfermidade crônica, tuberculose, na cidade de Petrópolis, onde se internara em um sanatório do distrito de Correias, no Rio de Janeiro. Foi publicado um necrológio em sua homenagem nos Annales Médico-Psychologiques (Nécrologie, n.02, 1933, p.448).

Antônio Austregésilo Rodrigues, na seção Necrologia do Brasil-Medico, de 13 de maio de 1933, destacou a trajetória de Juliano Moreira:

“A evolução scientifica da Assistência aos alienados sob sua direcção jamais parou; fez sempre progressos, ora rápidos ora lentos, porém a propulsão dada por Juliano Moreira à nossa escola psychiatrica não foi interrompida. Ahi estão os trabalhos da Sociedade de Neurologia, Psychiatria e Medicina Legal que há 25 annos vive cheia de serviços; as publicações feitas nos Archivos Brasileiros de Neuriatria e Psychiatria e em outras revistas technicas e em tratados. (...) e a compreensão do conceito philosophico e pragmático dos themas médicos, sobretudo neuro-psychiatricos; fizeram de Juliano Moreira chefe de escola clinica.” (AUSTREGESILO, 1933, p.343)

 

 

 

A publicação Sonderabdruck sus Psychiatrisch-Neurologische Wochenschrift, de Halle (Alemanha) em seu nº 25, de 24 de junho de 1933, publicou o necrológio de Juliano Moreira, escrito por W. Weygandt, no qual foram ressaltados sua trajetória, e seus estudos científicos sobre a psiquiatria, a neurologia, a neurosífilis, o envenenamento pelo arsênico, o saturnismo, a paranóia, a psicologia da tuberculose, as questões referentes à psicose da lepra, a malária, a influenza, as enfermidades nervosas das regiões tropicais, a organização da assistência aos epilépticos, e a psiquiatria no Brasil.

Juliano Moreira é o Patrono da Cadeira nº 57 da Seção de Medicina da Academia Nacional de Medicina.

Em dezembro de 2001, a Congregação da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia aprovou a criação do Prêmio Juliano Moreira, que contempla, a cada semestre, o graduando em medicina que apresente as mais expressivas atividades de extensão ao longo do curso.

Para preservar a memória de sua trajetória, foi criado o Memorial Juliano Moreira, como um setor do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, na Avenida Edgard Santos, s/nº, Bairro do Cabula, na cidade de Salvador.

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