Bebês estão sendo roubados no Quênia e viram mercadorias no mercado clandestino. Ainda, mulheres vulneráveis estão sendo perseguidas em Nairóbi para alimentar um crescente mercado ilegal de bebês.
Ao longo de uma investigação de um ano, a BBC Africa Eye encontrou evidências de crianças sendo raptadas de mães sem-teto e vendidas com lucros enormes. O tráfico ilegal de crianças de rua e bebês roubados eram feitos sob encomenda em um grande hospital público.
Em um esforço para expor esses abusos, a reportagem da BBC combinou de comprar uma criança abandonada de um funcionário do hospital, que usou documentos legítimos para ficar com a guarda de um menino de duas semanas antes de vendê-lo diretamente.
Os ladrões de bebês variam de oportunistas vulneráveis à criminosos organizados — geralmente os dois elementos juntos. Entre as oportunistas estão mulheres como Anita, que bebe muito, é usuária de drogas e vive na rua e fora dela, e ganha dinheiro roubando filhos de mulheres, com foco em mães com filhos menores de três anos.
O Africa Eye soube da existência de Anita por intermédio de uma amiga dela, que quis permanecer anônima. A amiga, que pediu para ser chamada de Emma, disse que Anita tinha métodos diferentes para sequestrar crianças na rua.
“Às vezes, ela fala com a mãe primeiro, para tentar ver se ela sabe o que ela planeja fazer”, disse Emma. “Outras vezes ela droga a mãe, dá remédio para dormir ou cola. Às vezes, ela brinca com a criança”.
Bebês usados para rituais e sacrifícios
Passando-se por potenciais compradores, a equipe da BBC Africa Eye marcou um encontro com Anita em um bar no centro de Nairóbi frequentado por vendedores de rua. Anita contou que estava sob pressão de seu chefe para roubar mais filhos e descreveu um recente sequestro.
“A mãe era nova nas ruas, parecia estar confusa, sem saber o que estava acontecendo”, disse ela. “Ela confiou seu filho a mim. Agora eu estou com ele.”
Anita disse que sua chefe era uma empresária que comprava bebês roubados de pequenos criminosos e os vendia com lucro. Alguns dos clientes eram “mulheres estéreis, então para elas isso é uma espécie de adoção”, disse ela, mas “alguns os usam para sacrifícios”.
“Sim, eles são usados para sacrifícios. Essas crianças simplesmente desaparecem das ruas e nunca mais são vistas.” Essa informação só confirmou os rumores que alguns compradores “levam as crianças para rituais”.
Na verdade, depois que Anita vende uma criança, ela pouco sabe sobre o destino do bebê. Ela vende para a empresária: as meninas por 50.000 xelins (R$ 2.420) e os meninos, por 80.000 xelins (R$ 3.880). Essa é aproximadamente a taxa atual em Nairóbi para roubar uma criança de uma mulher na rua.
Polícia
Como a vida de uma criança estava em perigo, o Africa Eye informou a polícia, que montou uma operação policial para prender Anita e resgatar a criança, assim que o comprador a encontrasse. Provavelmente seria a última oportunidade de proteger essa menina antes que ela desaparecesse.
Mas Anita nunca apareceu e, apesar dos repórteres tentarem por dias, não conseguiram encontrá-la. Semanas depois, Emma finalmente a localizou.
Ela contou que Anita disse que encontrou uma proposta de compra de valor mais alto e usou o dinheiro para construir uma casa de dois cômodos em uma das favelas da cidade. A criança se foi. A polícia ainda tem uma investigação aberta sobre Anita.
Após a investigação da equipe da BBC sobre roubo e venda de bebês, a polícia no Quênia prendeu três funcionários médicos por supostamente comandarem uma organização de tráfico de crianças.
O comando da polícia ordenou uma investigação em hospitais, bem como em lares infantis em Nairóbi. E as investigações revelaram que funcionários estiveram intimamente envolvidos com traficantes de crianças, disse o inspetor-geral de polícia, Hillary Mutyambai.
Em uma entrevista coletiva, o ministro do Trabalho e Proteção Social do Quênia, Simon Chelugui, disse que os culpados enfrentariam “toda a força da lei”. Ele também reconheceu que são necessárias melhorias em alguns serviços de proteção à criança do Quênia.
Fonte: BBC News Brasil
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