Ao eminente professor da UFAM e pesquisador
Humberto Coelho Batista,
Companheiro, em Belém, PA, sempre amigo.
INCONSEQUÊNCIA E CORAGEM – UM CERTO ASPECTO REAL - Uma vez empreendi viagem que me levou a uma cidade cujo nome de origem Tupi, era Nhamundá, a 375 km de Manaus, 14.105,6 Km2, com 1,3 habitantes por km2, altitude de 17 m, aberta à exploração sustentável de suas florestas nativas, ao turismo e à pesquisa científica. O transporte sempre fluvial ou através de pequenos aviões.
Lá permaneci alguns dias, tendo conhecido habitante ilustre, aviador experiente, sonhador, inteligente. Interessante figura. O homem era um sucesso. Falava bem, de tal forma que se fizera famoso e apreciado. Tudo isso num misto de irreverência e ousadia.
Estávamos num vasto alpendre, onde ele apreciava o céu e eu a terra batida, úmida, de vegetação majestosa. Estávamos na Amazônia. Olhamo-nos e ele sorriu piedoso. Mais uma vez olhamo-nos e o estranho tomando a dianteira estendeu-me a mão que apertei em cumprimento.
- Muito prazer, disse. O Sr. demonstra gostar da natureza, da terra e das coisas que nela estão. Isso é bom. Eu, me embriago com os ares e as visões da terra que lá de acima vejo.
Apenas sorri porque nele notara certo exagero.
Respondi, com esforço, o prazer é meu. Ele falava, mas, não via nele um falador. Seus olhos fundos denotavam homem de meditação. Inadaptado. Ansioso. Fora de seu âmbito e realidade. Dizia estar em crise funcional, sem transportes, fossem pessoas ou coisas. Isso o deixava nervoso. Não conseguia ficar muito tempo sem voar. Era pássaro de asas emprestadas.
Fora aviador militar de muitas viagens. Fez-me convite para voar na manhã seguinte. Aceitei - também estava angustiado e só - e fui por ele levado a um pequeno avião. O homem simples que se fizera meu novo amigo, ao sentar na cabine de seu monomotor, transformara-se . Silencioso, seu olhar, sua postura eram de príncipes. Portava-se com autoridade.
Ajeitou-se na cadeira de comando. Buscou a chave que o faria ligar o motor da aeronave e a girou. Não obteve sucesso, o motor não pegava.
- Deve ser a bateria, disse. Tantos dias parado!.
Nada estranhei até o momento em que me pediu para dar um tombo na “máquina”. Sem reagir, fiz o que me pedira e o motor roncou. O avião, sob o comando do piloto, lançou-se na pequena pista, uma estrada, demonstrando valentia. Sem esforço fez-se ao ar, subiu, depois deslizou suave.
Tudo muito belo e atraente, parecia que as coisas tomavam configuração diferente naquele flutuar que nos conduzia ao céu. O vento forte brincava com a pequena aeronave, que vencia a atração exercida pelas frondosas árvores e permanecia voando. O piloto não se perturbava, encantado a seu modo, exigia do pequeno pássaro de aço continuar em voo vencedor e obediente.
A floresta, as árvores, os rios convidavam para um pouso experimental, uma queda magistral talvez, mas, o avião, orgulhoso de sua condição, mantinha-se em grito de liberdade. Subia e avançava.
O piloto chamava minha atenção para as casas que ficavam pequenas, para a terra que se nivelava, para os rios que sinuosos semelhavam linhas riscadas no papel. Tudo era encantamento, ao ponto de perdermos, especialmente ele o piloto, a noção do real.
Impetuoso e imprudente o aviador, lançava-se em desafios empolgantes. Eu ainda não percebera a situação em que me envolvera. Voar com um desconhecido inconsequente, num pequeno avião, que para subir precisou ser empurrado, não fora suficiente?
A natureza e seus caprichos. O ser humano, seus caminhos e descaminhos. O que fazia ali? Num momento de lucidez, almejei um rápido retorno, porém o orgulho ou a timidez me impedia de dizê-lo.
As temperaturas, dizem as normas, variam a cada quilômetro subido, diminuindo cerca de 7º C, gerando turbulência progressiva até uma área de melhor estabilidade. Um quilômetro era o limite de subida segura de um monomotor...
Nada disso sabia, sequer tinha condição de verificar essas condições. Estava nas mãos do carismático piloto.
Uma turbulência fez-me temeroso. Olhei para o piloto que sorria. O avião lentamente subia em círculos. Olhei para baixo, tudo pequeno. Com dificuldade distinguia casas e caminhos.
Agora em calmaria deslizávamos. Perguntei ao piloto a que altura estávamos. Ainda sorridente, respondeu: três quilômetros. Também, confiante e inocente, sorri. O piloto mostrava-me a beleza dos ares. Fazia curvas, subia, descia, acelerava. Disse-me estar com 75 nós de velocidade, aproximados 138 km/h.
Senti frio. Não sabia se o piloto se exibia ou se encontrava equilíbrio nas piruetas que fazia. O fato é que desejava retornar e por os pés novamente no chão firme, na terra batida.
Eram 16 horas. Uma chuva torrencial iniciara, Ventos fortes faziam o avião oscilar de um lado para o outro lado. Nada que preocupasse o experiente piloto. Meus receios, entretanto, aumentavam. Lá em baixo um verde belo, dominador, asfixiante nos convidava.
Depois de rápida descida e de uma subida vagarosa fugindo da borrasca de todas as tardes, o avião sofreu leve estremecimento.
Continuamos. Minutos depois, ouvi um pequeno estampido. O piloto olhou
rápido para os controles. Notou que o óleo baixava e que o ritmo do
motor perdera sincronismo. Passou uma das mãos pelo rosto. Olhou para
mim e fez com a mão esquerda o sinal de OK, com o polegar..
O avião perdia altitude lentamente. O óleo continuava a baixar de nível, informava o controle. A descida tornava-se mais rápida e acentuada. O piloto passou a denotar disfarçada preocupação. O seu olhar procurava-me mais vezes, até que confessou:
- Estamos numa emergência.
Gelei. Do motor, agora, saiam faíscas. Logo, ocorreria incêndio, a queda do avião e nossa morte. Apertei os dentes. Pedi a Deus perdão e misericórdia. Lembrei de minha família, da mulher amada, minha terra, meus amigos. Sobre ele, o piloto, apenas senti pena, que me pareceu suicida, posto que suava e sorria levemente. Era homem acostumado à essas situações, sempre superadas. Desligue o motor, sugeri.
- Não posso, preciso sair desse trecho, esvaziar o tanque ao máximo, chegar a uma planície, um pasto, ou ao Rio (Rio Nhamundá, banha os estados do Roraima, Amazonas e Pará, 17° afluente do Rio Amazonas e a principal via de navegação).
Tentou subir, sem sucesso. Procurava altura para mais percorrer e encontrar seu objetivo. Iria tentar aterrissagem forçada, passei a entender. O medo dominava-me. Depender da habilidade de outro não é coisa fácil. Saber que sua vida dele depende é pior.
Seria o destino? Uma fatalidade? Inconsequência por ter aceito convite de um estranho? Minha mente transformara-se
em tela onde filmes rápidos eram exibidos. Nesse observar, pensar e
sentir, um medo real passou a me dominar. Estava estático. O piloto
enrubescido, com as mãos crispadas no manche (volante do avião)
olhava-me com olhos de quem pede desculpas.
O motor pegou fogo. Sem alternativa o piloto o desliga e tenta expulsar a gasolina, temendo incêndio e explosão. O avião desce em velocidade crescente. Não planou. Ao longe casas, que já vislumbrávamos.
À direita, muitas árvores. E o Nhamundá, largo, extenso, àquela hora
opaco. O avião relutava. .O piloto me surpreendeu ao gritar:
- Passe para o banco de trás, atrás do meu. Preciso desviar daquelas casas. Suor ou lágrimas escorriam de seu rosto vermelho. Forçou o manche até o limite esquerdo, conseguindo elevar a asa direita do monomotor e iniciar curva abrupta.
O avião estava a pouco mais de 100 metros do solo, que se agigantava aos nossos olhos. O piloto buscava inclinar o avião para a esquerda em direção às árvores, que combatentes nos esperavam de frente.
A guinada deu certo. As casas passaram. Esperavam-nos as árvores. Novamente o piloto gritou:
- Pule para o banco da direita. Preciso chegar ao rio.
Não entendi sua intenção, contudo me atirei como pude, em obediência. As árvores, enormes, verdes, horríveis. Retorci-me, encolhi, prevendo o impacto, que veio, forte, estrondoso.
O piloto em manobra brusca jogara o avião para direita, atendendo ao comando, mas, não foi o suficiente. A pequena distância para a audaciosa manobra não o permitiu. Tentava fugir das árvores para alcançar o rio.
Olhando para mim fez o avião retornar à esquerda, arremessando-o de encontro ao caule frondoso de um angelim vermelho, no mesmo lado em que estava sentado, a cadeira de comando. Assim quis, desse modo ocorreu:.
A asa esquerda do monomotor desfez-se, o avião quase que abraçou a majestosa árvore. Vi-me projetado para a frente e nada mais percebi ou senti.
***
...Passaram-se oito dias desde o trágico acidente. Muitos ossos quebrados. O heroico piloto falecera. Sacrificara-se por mim ao lançar o avião contra o angelim no lado em que estava sentado. Tirou-me do choque frontal. Escapara da morte por milagre e pela personalidade altiva e ousada de um valente e inconsequente sonhador. Atraíra para si as consequências de sua total irresponsabilid ade, até o sacrifício máximo. Também livrara uma população de nativos por sentimento humano e cristão e extrema responsabilidad e. Em seu bolso encontraram algumas anotações:
1. Ontem conheci um cabra interessante. Fiz-me seu amigo, mas ele não sabe o porquê. 2. Lembra meu falecido irmão, com o qual fui injusto, e um pouco meu pai. 3. Parece triste. 4. Gosta daqui mas se vê engolido pela imensidão. 5. Parece querer viver situação já vivida. 6. Somos parecidos. 7. Claro, gostei dele. 8. Eu o convidei a voar. 9. Um pensador emotivo.
Um homem estranho. Disseram-me ser ex religioso, abandonado pela mulher, sem filhos. Um filósofo do povo que se debruçava em leituras de toda ordem. Magro, de pele branca, estatura média, de espírito brilhante, muito amado. Inquieto como a procurar sem nunca encontrar. Éramos realmente parecidos. Ele, um homem que não sabia medir as consequências, de extrema coragem ou que perdera a noção e o real significado da vida.
Nhamundá manteve-se em luto durante três dias. Na Câmara Municipal o nome do piloto foi honrosamente citado
Geraldo Leony Machado
SSA, 28.12.2019
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“Nhamundá é um município brasileiro no interior do estado do Amazonas, Região Norte do País. Pertencente à Mesorregião do Centro Amazonense e Microrregião de Parintins, localiza-se a leste de Manaus, capital do Estado, distando desta cerca de 375 quilômetros”.
“Área: 14.106 km², População: 18.198 (2008),PIB (IBGE/2013): R$ 129 066 mil, PIB per capita (IBGE/2013): R$ 6 521,14, Fundação: 31 de janeiro de 1956 (63 anos)”
17 hHumberto Coelho Batista,
Companheiro, em Belém, PA, sempre amigo.
INCONSEQUÊNCIA E CORAGEM – UM CERTO ASPECTO REAL - Uma vez empreendi viagem que me levou a uma cidade cujo nome de origem Tupi, era Nhamundá, a 375 km de Manaus, 14.105,6 Km2, com 1,3 habitantes por km2, altitude de 17 m, aberta à exploração sustentável de suas florestas nativas, ao turismo e à pesquisa científica. O transporte sempre fluvial ou através de pequenos aviões.
Lá permaneci alguns dias, tendo conhecido habitante ilustre, aviador experiente, sonhador, inteligente. Interessante figura. O homem era um sucesso. Falava bem, de tal forma que se fizera famoso e apreciado. Tudo isso num misto de irreverência e ousadia.
Estávamos num vasto alpendre, onde ele apreciava o céu e eu a terra batida, úmida, de vegetação majestosa. Estávamos na Amazônia. Olhamo-nos e ele sorriu piedoso. Mais uma vez olhamo-nos e o estranho tomando a dianteira estendeu-me a mão que apertei em cumprimento.
- Muito prazer, disse. O Sr. demonstra gostar da natureza, da terra e das coisas que nela estão. Isso é bom. Eu, me embriago com os ares e as visões da terra que lá de acima vejo.
Apenas sorri porque nele notara certo exagero.
Respondi, com esforço, o prazer é meu. Ele falava, mas, não via nele um falador. Seus olhos fundos denotavam homem de meditação. Inadaptado. Ansioso. Fora de seu âmbito e realidade. Dizia estar em crise funcional, sem transportes, fossem pessoas ou coisas. Isso o deixava nervoso. Não conseguia ficar muito tempo sem voar. Era pássaro de asas emprestadas.
Fora aviador militar de muitas viagens. Fez-me convite para voar na manhã seguinte. Aceitei - também estava angustiado e só - e fui por ele levado a um pequeno avião. O homem simples que se fizera meu novo amigo, ao sentar na cabine de seu monomotor, transformara-se
Ajeitou-se na cadeira de comando. Buscou a chave que o faria ligar o motor da aeronave e a girou. Não obteve sucesso, o motor não pegava.
- Deve ser a bateria, disse. Tantos dias parado!.
Nada estranhei até o momento em que me pediu para dar um tombo na “máquina”. Sem reagir, fiz o que me pedira e o motor roncou. O avião, sob o comando do piloto, lançou-se na pequena pista, uma estrada, demonstrando valentia. Sem esforço fez-se ao ar, subiu, depois deslizou suave.
Tudo muito belo e atraente, parecia que as coisas tomavam configuração diferente naquele flutuar que nos conduzia ao céu. O vento forte brincava com a pequena aeronave, que vencia a atração exercida pelas frondosas árvores e permanecia voando. O piloto não se perturbava, encantado a seu modo, exigia do pequeno pássaro de aço continuar em voo vencedor e obediente.
A floresta, as árvores, os rios convidavam para um pouso experimental, uma queda magistral talvez, mas, o avião, orgulhoso de sua condição, mantinha-se em grito de liberdade. Subia e avançava.
O piloto chamava minha atenção para as casas que ficavam pequenas, para a terra que se nivelava, para os rios que sinuosos semelhavam linhas riscadas no papel. Tudo era encantamento, ao ponto de perdermos, especialmente ele o piloto, a noção do real.
Impetuoso e imprudente o aviador, lançava-se em desafios empolgantes. Eu ainda não percebera a situação em que me envolvera. Voar com um desconhecido inconsequente, num pequeno avião, que para subir precisou ser empurrado, não fora suficiente?
A natureza e seus caprichos. O ser humano, seus caminhos e descaminhos. O que fazia ali? Num momento de lucidez, almejei um rápido retorno, porém o orgulho ou a timidez me impedia de dizê-lo.
As temperaturas, dizem as normas, variam a cada quilômetro subido, diminuindo cerca de 7º C, gerando turbulência progressiva até uma área de melhor estabilidade. Um quilômetro era o limite de subida segura de um monomotor...
Nada disso sabia, sequer tinha condição de verificar essas condições. Estava nas mãos do carismático piloto.
Uma turbulência fez-me temeroso. Olhei para o piloto que sorria. O avião lentamente subia em círculos. Olhei para baixo, tudo pequeno. Com dificuldade distinguia casas e caminhos.
Agora em calmaria deslizávamos. Perguntei ao piloto a que altura estávamos. Ainda sorridente, respondeu: três quilômetros. Também, confiante e inocente, sorri. O piloto mostrava-me a beleza dos ares. Fazia curvas, subia, descia, acelerava. Disse-me estar com 75 nós de velocidade, aproximados 138 km/h.
Senti frio. Não sabia se o piloto se exibia ou se encontrava equilíbrio nas piruetas que fazia. O fato é que desejava retornar e por os pés novamente no chão firme, na terra batida.
Eram 16 horas. Uma chuva torrencial iniciara, Ventos fortes faziam o avião oscilar de um lado para o outro lado. Nada que preocupasse o experiente piloto. Meus receios, entretanto, aumentavam. Lá em baixo um verde belo, dominador, asfixiante nos convidava.
Depois de rápida descida e de uma subida vagarosa fugindo da borrasca de todas as tardes, o avião sofreu leve estremecimento.
O avião perdia altitude lentamente. O óleo continuava a baixar de nível, informava o controle. A descida tornava-se mais rápida e acentuada. O piloto passou a denotar disfarçada preocupação. O seu olhar procurava-me mais vezes, até que confessou:
- Estamos numa emergência.
Gelei. Do motor, agora, saiam faíscas. Logo, ocorreria incêndio, a queda do avião e nossa morte. Apertei os dentes. Pedi a Deus perdão e misericórdia. Lembrei de minha família, da mulher amada, minha terra, meus amigos. Sobre ele, o piloto, apenas senti pena, que me pareceu suicida, posto que suava e sorria levemente. Era homem acostumado à essas situações, sempre superadas. Desligue o motor, sugeri.
- Não posso, preciso sair desse trecho, esvaziar o tanque ao máximo, chegar a uma planície, um pasto, ou ao Rio (Rio Nhamundá, banha os estados do Roraima, Amazonas e Pará, 17° afluente do Rio Amazonas e a principal via de navegação).
Tentou subir, sem sucesso. Procurava altura para mais percorrer e encontrar seu objetivo. Iria tentar aterrissagem forçada, passei a entender. O medo dominava-me. Depender da habilidade de outro não é coisa fácil. Saber que sua vida dele depende é pior.
Seria o destino? Uma fatalidade? Inconsequência por ter aceito convite de um estranho? Minha mente transformara-se
O motor pegou fogo. Sem alternativa o piloto o desliga e tenta expulsar a gasolina, temendo incêndio e explosão. O avião desce em velocidade crescente. Não planou. Ao longe casas, que já vislumbrávamos.
- Passe para o banco de trás, atrás do meu. Preciso desviar daquelas casas. Suor ou lágrimas escorriam de seu rosto vermelho. Forçou o manche até o limite esquerdo, conseguindo elevar a asa direita do monomotor e iniciar curva abrupta.
O avião estava a pouco mais de 100 metros do solo, que se agigantava aos nossos olhos. O piloto buscava inclinar o avião para a esquerda em direção às árvores, que combatentes nos esperavam de frente.
A guinada deu certo. As casas passaram. Esperavam-nos as árvores. Novamente o piloto gritou:
- Pule para o banco da direita. Preciso chegar ao rio.
Não entendi sua intenção, contudo me atirei como pude, em obediência. As árvores, enormes, verdes, horríveis. Retorci-me, encolhi, prevendo o impacto, que veio, forte, estrondoso.
O piloto em manobra brusca jogara o avião para direita, atendendo ao comando, mas, não foi o suficiente. A pequena distância para a audaciosa manobra não o permitiu. Tentava fugir das árvores para alcançar o rio.
Olhando para mim fez o avião retornar à esquerda, arremessando-o de encontro ao caule frondoso de um angelim vermelho, no mesmo lado em que estava sentado, a cadeira de comando. Assim quis, desse modo ocorreu:.
A asa esquerda do monomotor desfez-se, o avião quase que abraçou a majestosa árvore. Vi-me projetado para a frente e nada mais percebi ou senti.
***
...Passaram-se oito dias desde o trágico acidente. Muitos ossos quebrados. O heroico piloto falecera. Sacrificara-se por mim ao lançar o avião contra o angelim no lado em que estava sentado. Tirou-me do choque frontal. Escapara da morte por milagre e pela personalidade altiva e ousada de um valente e inconsequente sonhador. Atraíra para si as consequências de sua total irresponsabilid
1. Ontem conheci um cabra interessante. Fiz-me seu amigo, mas ele não sabe o porquê. 2. Lembra meu falecido irmão, com o qual fui injusto, e um pouco meu pai. 3. Parece triste. 4. Gosta daqui mas se vê engolido pela imensidão. 5. Parece querer viver situação já vivida. 6. Somos parecidos. 7. Claro, gostei dele. 8. Eu o convidei a voar. 9. Um pensador emotivo.
Um homem estranho. Disseram-me ser ex religioso, abandonado pela mulher, sem filhos. Um filósofo do povo que se debruçava em leituras de toda ordem. Magro, de pele branca, estatura média, de espírito brilhante, muito amado. Inquieto como a procurar sem nunca encontrar. Éramos realmente parecidos. Ele, um homem que não sabia medir as consequências, de extrema coragem ou que perdera a noção e o real significado da vida.
Nhamundá manteve-se em luto durante três dias. Na Câmara Municipal o nome do piloto foi honrosamente citado
Geraldo Leony Machado
SSA, 28.12.2019
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“Nhamundá é um município brasileiro no interior do estado do Amazonas, Região Norte do País. Pertencente à Mesorregião do Centro Amazonense e Microrregião de Parintins, localiza-se a leste de Manaus, capital do Estado, distando desta cerca de 375 quilômetros”.
“Área: 14.106 km², População: 18.198 (2008),PIB (IBGE/2013): R$ 129 066 mil, PIB per capita (IBGE/2013): R$ 6 521,14, Fundação: 31 de janeiro de 1956 (63 anos)”
Público
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