Baobá 0 2
substantivo
masculino
- 1.
árvore de até 20 m ( Adansonia digitata ) da
fam. das bombacáceas, com tronco gigantesco, ereto, madeira branca, mole e
porosa, casca medicinal e de que se extrai fibra têxtil, grandes folhas
digitadas, flores brancas, às vezes com tons de lilás, e cápsulas grandes,
oblongas e pubescentes; adansônia, embondeiro [Nativa de regiões tropicais da
África, pode viver mais de dois mil anos e seu tronco alcançar mais de 10 m de
diâmetro; as folhas, flores, frutos e sementes são comestíveis e têm inúmeros
usos medicinais.].
Descrição
As
espécies do género Adansonia são árvores de copa compacta, decíduas, deixando cair a folha na estação seca, de tronco massivo, formando um paquicaule cilíndrico ou em forma de
garrafa, repleto de nós, com diâmetros que atingem os 7 a 11 m,
embora se conheçam exemplares isolados de muito maiores dimensões, e alturas
que variam de 5 a 30 m. O ritidoma é liso e a madeira fibrosa com pouco conteúdo em
água.
O
exemplar conhecido por boabá de Glencoe, um espécime de A.
digitata da Província
do Limpopo, África do Sul, era considerado a maior árvore
deste género, com um perímetro à altura do peito de 47 m[2] e um diâmetro de 15,9 m. Esta árvore
entretanto partiu-se em duas partes, pelo que o maior espécime de baobá
conhecido é presentemente o baobá de Sunland (ou árvore de Platland), também na África do Sul,
com um diâmetro ao nível do solo de 9,3 m e um perímetro à altura do peito
de 34 m.[3]
Como os
baobás são árvores de folha caduca das zonas sazonalmente áridas,
as suas folhas caem durante a estação seca e
apenas brotam na época das
chuvas, no verão no hemisfério sul e de inverno no hemisfério
norte. As
folhas dos exemplares adultos são compostas, com 5 a 11 folíolos que surgem do mesmo pecíolo em círculo e cujos bordos são
inteiros em todas as espécies, salvo na espécie A. rubrostipa, que os apresenta dentados. Os exemplares jovens
apresentam folhas simples, adquirindo progressivamente folhas lobuladas.
As flores são hermafroditas, actinomorfas, até 10 cm de comprimento,
com pétalas brancas.
Todas as
espécies frutificam no final da estação seca ou princípios da húmida. O fruto é uma baga seca ou uma cápsula engrossada com forma de melão
alargado. As sementes são numerosas, grandes, com
forma de rim. As sementes são envolvidas por uma polpa de coloração creme, cuja
textura varia de terrosa a esponjosa segundo a espécie e o grau de maturação do
fruto. As sementes permanecem viáveis por mais de cinco anos.
O tronco
dos baobás adopta a forma de garrafa durante a fase de maturidade da árvore, em
geral estimada pelos 200 anos. Em boas condições ecológicas, sobre solo
arenoso, com um clima temperado e precipitação anual entre
300 e 500 mm estas árvores podem viver até aos
800 ou 1000 anos. Alguns exemplares têm a fama de terem vários
milhares de anos, mas as árvores do género Adansonia produzem anéis de
crescimento ténues,
provavelmente anuais, que não são fiáveis para datação ou para a determinação
da idade do espécime onde sejam amostrados, por serem difíceis de contar e
porque desaparecem à medida que a madeira envelhece. A datação por radiocarbono permitiu a determinação da idade de alguns
indivíduos, entre os quais o espécime de A. digitata conhecido por
«árvore de Grootboom» (África do Sul), para o qual foi obtida uma idade
estimada de pelo menos 1275 anos, fazendo dele a angiospérmica mais velha que se conhece.[3][4]
O número
cromossómico de Adansonia
digitata é 2n =
160, enquanto que para todas as restantes espécies do género é 2n = 88.[5]
Armazenamento de água
Como
todas as espécies de Adansonia ocorrem em regiões sazonalmente áridas, e são decíduas, deixando cair as folhas durante a estação seca, estas árvores destacam-se
pela capacidade de armazenamento de água nos tecidos do tronco, a qual
pode alcançar os 100 000 litros. Esta reserva hídrica destina-se a permitir
sobreviver às duras condições de seca comuns nessas regiões.[6]
Alguns
exemplares ficam ocos quando envelhecem, convertendo-se em grandes depósitos
nos quais se podem armazenar mais de seis mil litros de água.
Historiografia do conhecimento do género
Fruto e
folhas de Adansonia
digitata numa
ilustração de obra Exoticorum Libri Decem de Charles de l’Écluse (1605).
A
primeira menção literária conhecida a uma árvore que pode ser reconhecida como Adansonia
digitata aparece no relato de viagem de Ibn Battuta, que em 1352 menciona um tecelão
do Mali que trabalhava protegido pelo
tronco oco de uma árvore.[7]
As
primeiras informações escritas sobre as espécies de Adansonia datam de 1445, quando navegantes portugueses, conduzidos por Gomes Pires, chegaram à ilha de Gorée, no Senegal. Naquela região
encontraram o brasão do Infante
D. Henrique gravado
em árvores que o cronista Gomes
Eanes de Zurara, na Crónica dos Feitos da Guiné, descreveu: «E naquella ilha
em que as armas do Iffante estavam entalhadas, acharom arvores muyto grossas
destranha guisa, antre as quaes avya hũa que era no pee d'arredor cviijo
(108) palmos. E esta arvor nom tem o pee muyto alto se nom como de nogueira;
e da sua antrecasca fazem muy boõ fyado pêra cordoalha, e arde esso meesmo como
linho. O seu fruito he como cabaaças, cujas pevides som assy como avellaãs, o
qual fruito comem em verde, e as pevides secamnas, de que teem grande multidom,
creo que seja pêra sua governança despois que o verde fallece.»[8] Eram pois árvores de estranha
aparência, entre as quais havia uma que media na base cerca de 108 palmos (25 m). Não eram muito altas e da sua entrecasca
faziam fios para cordoaria e estes ardiam como os de linho. O fruto era como
uma cabaça e as sementes como avelãs, que guardavam para os períodos
de seca.
Também Leo Africanus, que entre 1511 e 1517 viajou
pelo Norte de
África conheceu
e descreveu a árvore, mas a sua divulgação entre as elites europeias deve-se à
menção que dela fez Julius
Caesar Scaliger, que em
1557 a descreveu sob o nome de Guanabus.[9][10] Deve-se a Prospero Alpini a publicação em 1592 da primeira
ilustração conhecida mostrando um fruto de baobá, acompanhado por um desenho
fantasista das folhas e flores.[11] O desenho foi feito a partir dos
frutos que então eram vendidos nos mercados europeus sob o nome bu hobab,
tendo como origem o Egipto. A primeira representação correcta das folhas
deve-se a Charles de l’Écluse, em 1605.[12]
Bernard
de Jussieu informou
Carl von
Linné de uma
espécie descoberta por Michel Adanson a que tinha atribuído o nome de Charadrium
spinosum Adansonia. Lineu incluiu esta informação, sem qualquer descrição
adicional, como Adansonia no anexo da obra Species Plantarum.[13] Michel Adanson, por carta datada de 2 de
Outubro de 1758, enviou a Lineu uma descrição do género, denominado Bahobab
por Adanson,[14] a qual foi incluída em 1764 na
6.ª edição de Genera
Plantarum.[15] Adanson não tinha aceite o nome Adansonia
para o género e utilizou na sua obra Familles des Plantes, publicada em
1763, o nome genérico Baobab para a classificar.
O nome genérico Adansonia, criado por Bernard
de Jussieu em
homenagem a Michel
Adanson
(1727-1806), o botânico e explorador francês que primeiro descreveu
cientificamente a espécie-tipo, o baobá-africano, a partir de exemplares do
Senegal, acabou por ganhar aceitação, sendo presentemente considerado como
válido. Antoine-Laurent de Jussieu criou a família Bombacaceae, onde incluiu Adansonia[16]
removendo-o das Malvaceae onde originalmente fora
inserido.
Com
exclusão das espécies Adansonia perrieri, descrita em 1960, e Adansonia kilima, descrita em 2012, todas as espécies
de Adansonia foram descritas até ao final do século XIX.
Gerald Ernest Wickens (* 1927) publicou em 1982 a
primeira monografia geral das espécies africanas de
baobá, na qual identificou surpreendentes lacunas no conhecimento científico da
biologia e ecologia destas árvores.[17] David Alastair Baum (* 1964) realizou estudos de
campo aprofundados nas regiões de distribuição
natural das
várias espécies e examinou o material de herbário existente. Com esta base,
publicou em 1995 uma revisão sistemática de todo o género Adansonia.[18]
A etimologia do nome comum baobá, que entrou nas
línguas europeias através do francês baobab,[19] mas
presente também no latim
medieval como bahobab
(circa 1590),[20] aponta para uma origem africana,
atestada desde 1445.[21] O étimo exacto não é conhecido,
mas segundo o American Heritage Dictionary derivaria do árabe بو حباب būħibāb "pai
de muitas sementes", de ابو ʾabū "pai" e حب ħabb,
"semente".
Espécies e distribuição geográfica
Das nove
espécies validamente descritas, seis são nativas de Madagáscar, duas são nativas do continente africano e da Península
Arábica e uma é
nativa da Austrália. Uma das espécies que ocorre no
continente africano também está presente em Madagáscar, mas não é nativa da
ilha, tendo sido introduzida em tempos remotos no sul da Àsia e durante a era
colonial nas Caraíbas. Está também presente no
arquipélago de Cabo
Verde.[25] A
nona espécie do género foi descrita em 2012, sendo encontrada em regiões de
grande altitude do sul e leste da África.[24] Os baobás africanos e
australianos são quase idênticos, tendo-se separado há menos de 100 000
anos atrás.[26]
Sistemática
Antoine-Laurent de Jussieu incluiu o género Adansonia em 1789 na
família Malvaceae, então por ele criada.[27] Em
1822, por proposta de Karl
Kunth, o
género foi um dos dez géneros que passaram a integrar a então criada família
das Bombacaceae.[28] Na actualidade, seguindo o
sistema APG III, o género Adansonia foi
integrado na subfamília Bombacoideae da família Malvaceae, na qual constitui a tribo Adansonieae.
Adansonia é com alta probabilidade um táxon monofilético.[29]
A espécie-tipo do género é Adansonia
digitata. São sinónimos
taxonómicos de Adansonia:
Baobab Adans.,[30] Ophelus
Lour. [31] e Baobabus Kuntze.[32]
Bénédict Pierre Georges
Hochreutiner
subdividiu em 1908 o género Adansonia com base na morfologia das flores,
frutos e sementes em três secções:[33]
Habitat e ecologia
A espécie
A.
digitata é
considerada como um "ícone definidor da savana africana".[4]
As espécies
malgaxes de Adansonia são
importantes componentes da associação vegetal conhecida por floresta decídua seca de
Madagáscar. Naquele
bioma, as espécies A. madagascariensis e A. rubrostipa ocorrem especificamente na Floresta de Anjajavy, incluindo árvores crescendo
sobre os calcários da Reserva Natural Integral do Tsingy de Bemaraha.
Os baobás
são importantes para a nidificação de múltiplas espécies de aves, em particular para o apodídeo Telacanthura
ussheri[34] e quatro espécies de Ploceidae (tecelões africanos).[35]
Usos
Múcuas na
árvore.
Múcua de Benguela.
Algumas
espécies de Adansonia são utilizadas como fonte de fibras vegetais, corantes para têxteis e lenha. Os povos aborígenes
australianos usavam a
espécie nativa A. gregorii para obter diversos produtos, fazendo cordas
com as fibras da raiz e objectos decorativos com os frutos.
A partir
da última década tem vindo a aumentar o interesse no desenvolvimento de
técnicas que permitam aproveitar as sementes de baobá e a polpa do fruto,
especialmente da espécie A. digitata, por secagem e pulverização para
incorporação em produtos de grande consumo.[36][37]
A polpa
seca encontrada no interior dos frutos de várias espécies de Adansonia pode
ser utilizada como "espessante em geleias e molhos, adoçante para bebidas
frutadas, ou como um complemento de sabor picante para molhos picantes".[38]
A polpa do fruto e as sementes da espécie A. grandidieri[39]
e A. za são consumidas em fresco.[40]
As
sementes de algumas espécies são um fonte de óleo vegetal[39][40] e as folhas frescas podem ser
consumidas como uma hortaliça.[4]
O fruto
de A. digitata apresenta uma casca aveludada e o tamanho aproximado de
um coco, pesando cerca de 1,5 kg.
Tem no seu interior um miolo seco comestível, sem sumo, que se desfaz
facilmente na boca. Apresenta um sabor acídico, acre, descrito como "algo
entre a toranja, a pera e a baunilha".[41]
O fruto fresco apresenta sabor semelhante ao de um sorvete,[42] ligeiramente agridoce, isto é, adocicado com uma
ligeira acidez. Em fresco o fruto é rico em vitaminas e sais minerais.[43]
O fruto
seco pulverizado de A. digitata contém cerca de 12% de água e níveis
modestos de vários nutrientes, incluindo carboidratos, pectina, riboflavina, cálcio, magnésio, potássio, ferro e fitoesteróis, com teores reduzidos de proteínas e gorduras.[41][44][38][45] O conteúdo em vitamina C, descrito como variável em
diferentes amostras, está no intervalo 74–163 mg por 100 g de fruto seco
pulverizado.[41]
Na África
lusófona este fruto é conhecido por mucua, múcua ou "mukua".
Ao dissolver-se a mukua em água a ferver obtém-se o sumo de mukua que, depois de arrefecido, é tomado como
uma bebida fresca com um sabor muito apreciado em alguns países africanos. Em
Angola, o fruto seco é fervido e o caldo obtido é utilizado para sumos ou como
base para um tipo de sorvete conhecido como gelado de múcua.
Em
Moçambique, o fruto, tem o nome de "malambe" na língua xi-nyungwe da província de Tete, tem uma polpa branca que seca
no próprio fruto e que é utilizada para a alimentação, em tempos de escassez de
comida. Também é referida como cura para a malária.[46]
Na União Europeia (UE) o fruto seco pulverizado do
baobá-africano não esteve disponível para utilização como ingrediente para
alimentação humana até 2008, pois legislação aprovada em 1997 requer que
qualquer produto não tradicionalmente utilizado na Europa deva ser sujeito a uma aprovação
comercial formal antes de ser introduzido no mercado europeu. Em 2008 a polpa
seca do baobá-africano foi declarada como um ingrediente alimentar seguro para
utilização na União Europeia,[47] e
pouco depois recebeu o estatuto de GRAS (Generally
Recognized as Safe) nos Estados Unidos da América.[48]
Na Tanzânia, a polpa seca de A. digitata
é adicionada a cana de
açúcar para
melhorar a fermentação no processo de fabrico de cerveja.[49]
No Zimbabwe, o fruto é usado na preparação
de pratos tradicionais, os quais incluem "comer a fruta fresca ou utilizar
a polpa friável esmagada para misturar em papas e bebidas". No Malawi grupos de mulheres criaram
estruturas comerciais para a colheita do fruto de A. digitata que lhes
permite ganharem o dinheiro necessário para pagar as despesas escolares dos
filhos.
Outros usos
Um grande
baobá oco existente a sul de Derby, Western Australia, teria sido utilizado na década
de 1890 como prisão para detidos que eram conduzidos a Derby para
sentenciamento. A Boab Prison Tree, Derby permanece de pé e agora
considerada uma atracção turística.[50] Não sendo seguro que a Adansonia
existente nos arredores de Derby tenha servido de prisão, uma árvore similar, a
Boab Prison Tree, Wyndham, próxima de Wyndham, também na Austrália, foi
comprovadamente usada para esse fim.[51]
Em Angola e Moçambique, esta árvore é conhecida como
"embondeiro" ou "imbondeiro". Em certas regiões de
Moçambique, o tronco desta árvore é escavado por carpinteiros especializados
para servir como cisterna comunitária. [52]
Os baobás do Brasil
Ver artigo principal: Baobá no
Brasil
No Brasil existem poucas árvores de baobá,
que foram trazidas pelos sacerdotes africanos e foram plantadas em locais
específicos para o culto das religiões africanas. No candomblé é considerada uma árvore sagrada
(ossê, em iorubá e akpassatin, em fon), e nunca deve ser cortada ou arrancada.
A
presença do baobá no
Brasil desperta
grande interesse, sendo em geral notada a sua existência nas diferentes
unidades federativas e municípios.
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