Era um
homem vazio
Sem direção
Era
sombra e martírio
Só solidão
Coração
calafrio
E geladas mãos
Um
orgulho sem brio
Sem certidão
Sua voz
por um fio
Sem diapasão
Um olhar
já sem brilho
Escuro
O
desanuvio
Veio após visão
Virou desvario
Revelação
Mas se
ela surgiu
Foi uma aparição
Era estéril e pariu
Regeneração
Gestação
Breu
quando encontra a luz
A palavra não diz
O que não se traduz
Pôde até ser feliz
Num
momento fugaz
Um desenho de giz
Essa paz, essa paz
Era tudo o que quis
Nunca mais, nunca mais
Foi assim por um triz.
Esta
canção vai integrar o disco "Triste Entrópico", segundo volume da
"Trilogia dos Sertões".
18 de
abril às 02:58 ·
Público
Refuge é
uma canção inspirada no livro “Walden ou A Vida nos Bosques” do poeta e
naturalista norte-americano Henry Thoreau, também autor do essencial
“Desobediência Civil”, tão atual e necessário agora. A letra é tradução para o
inglês de um texto que escrevi originalmente em português, que segue abaixo.
Não sou
fluente em inglês, mas o idioma de Shakespeare se impôs quando comecei a cantar
a melodia. Estudei um pouco, depois pratiquei da forma que foi possível nas
viagens que fiz a países de língua inglesa ou onde se falam línguas nas quais
eu não conseguia me comunicar nem no nível básico, como húngaro, lituano ou
dinamarquês. Talvez isso explique meu sotaque estranho.
Usei uma
afinação aberta em sol, muito usada pelos violeiros do Vale do Urucuia, no
Noroeste de Minas. Lá eles chamam de "rio abaixo". Essa pegada me
lembra um pouco o fingerstyle de Nick Drake e Bert Jansch, que são fortes
influências para o meu trabalho. Então ficou parecendo um folk inglês com gosto
do sertão de Minas.
Eu toco
aqui uma craviola, instrumento inspirado na viola e no cravo criado e
desenvolvido pelo grande violonista brasileiro Paulinho Nogueira e produzido
pela Giannini desde os anos 70.
Refúgio
Quando
quero ficar só
Este é o lugar para onde venho
Aqui me sinto bem melhor
Leio um livro, faço um desenho.
Sinto
calor e passo frio
Tomo um gole de vinho
Me concentro e desvario
Perde a razão e me alinho
Eu acendo
uma fogueira
E durmo ao relento
Acordo com as estrelas
Ouvindo a voz do vento
Quando é
preciso sair de cena
Fugir da luz e buscar a sombra
Me refúgio em uma fenda
No espaço-tempo onde ninguém me encontra.
Refuge
When I want to be alone
Here is where I come
And I make my home
I read a book, I draw on stone
I feel the warmth and feel the cold
I take another sip of wine
I feel my brain being flooded
Silence and torpor in my mind
I light a little shiny bonfire
And I sleep in the ground
Wake up under the dim sky
Hearing the voice of the wind
When you need to leave the scene
Escape the light and seek the shadow
I take refuge in a flaw
In space-time no one will find me.