sexta-feira, 23 de setembro de 2022

GAZETA DO POVO

 


 

Com dois anos de atraso, revista médica diz que vírus da Covid pode ter vindo de laboratório.

 

Querido(a) leitor(a), tudo bem? Eli Vieira aqui, um dos seus editores de Ideias da Gazeta do Povo.

Nosso tema hoje é meu texto que atingiu a marca do mais lido da semana, acima até das polêmicas eleitorais. Fico muito grato e creio que os leitores têm razão ao dar essa importância ao assunto: a virada de posição da revista médica The Lancet, a mais influente revista científica especializada em medicina do mundo, a respeito das hipóteses que estão na mesa sobre as origens do coronavírus causador da pandemia de Covid-19. Foi uma grande virada, pois em 2020 ela deu certeza que o vírus só poderia ter vindo de animais. 


É normal e esperado que vírus que nos afligem tenham origem em animais silvestres ou domesticados. É o que chamamos de “origem zoonótica”. Porém, desde o primeiro surto, já tínhamos motivos para pôr outra hipótese na mesa: uma origem laboratorial. Primeiro pelo local: a metrópole chinesa de Wuhan é o principal polo de pesquisa com coronavírus no mundo. As populações de morcegos, de onde sabíamos que os pesquisadores de Wuhan extraíam amostras de vírus dessa família, não ficam próximas à metrópole, em cujo coração começou o primeiro surto em dezembro de 2019 ou antes. Além disso, era inverno, morcegos ficam quietinhos nessa estação. 

A favor da origem zoonótica está o fato de que os chineses consomem animais silvestres e há mercados que os vendem também em Wuhan. Um dos maiores suspeitos é o mercado de Huanan, que não fica muito longe do Instituto de Virologia de Wuhan (IVW), maior dos centros de pesquisa com esses vírus. Mas a ditadura chinesa, mesmo com pleno interesse de encontrar um reservatório animal, não o achou nesse mercado nem em outro lugar, apesar de testar dezenas de milhares de animais. Quem ainda defende que a pandemia começou com o vírus saltando de bichos do mercado para pessoas depende de evidências circunstanciais, não diretas, pois não acharam qual animal serve de reservatório. 

Até hoje, o vírus mais próximo ao SARS-CoV-2 da Covid é o de uma amostra de fezes de morcego coletada pelo IVW. O instituto alega que essa amostra se esgotou. Em setembro de 2019, o instituto deletou um grande banco de dados sobre amostras de vírus, alegou estar sendo alvo de hackers. Tudo muito estranho. 

A hipótese de origem laboratorial se desmembra em duas principais sub-hipóteses: (1) o vírus vazou do laboratório por mau manejo de amostras, mas não foi geneticamente manipulado, (2) o vírus vazou e foi geneticamente manipulado. Outras hipóteses, como liberação proposital, e criação de arma biológica, são menos prováveis porque envolvem mais elementos para os quais não temos evidências. O que surpreende é que temos evidências não só para a hipótese 1, como também para a 2: o vírus carrega uma estrutura molecular já usada antes em pesquisa de manipulação genética em laboratório, essa estrutura aumenta a infecciosidade viral em humanos, e uma ONG americana que servia de intermediária de verbas entre o governo americano e o IVW pediu verba para implantar essa estrutura em uma linhagem de coronavírus! 

Não podemos bater o martelo ainda. Mas podemos dizer que a narrativa de que todas essas hipóteses de origem laboratorial eram “teorias da conspiração”, narrativa recusada com coragem e pioneirismo pela Gazeta do Povo desde novembro de 2020, foi um fracasso histórico de grande parte da imprensa e das autoridades no Ocidente.

 

 

 


 

Um grupo de cientistas influentes e burocratas da saúde que poderia ter evitado esse atraso de dois anos, incluindo Anthony Fauci e Francis Collins, se reuniu em 2020 para discutir as origens do vírus. Desconfiavam que poderia ter escapado de laboratório, em parte por ter essa estrutura molecular. Mudaram de ideia em apenas quatro dias e não explicaram por quê. Saiba mais sobre essa história e sobre a ONG intermediária de verbas dos EUA para a China: 

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