quarta-feira, 5 de abril de 2017

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Mulheres Negras: histórias, lutas, conquistas…


Brasília, 8/3/07 - Oito de março, Dia Internacional da Mulher. Talvez seja o momento de fazermos uma reflexão sobre a identidade e resistência da mulher negra brasileira. A mulher que sofre duas vezes mais preconceitos. Pois sofre por ser mulher e por ser negra! E mesmo assim segue forte. E quão forte é a Mulher, quão importante foi a mulher negra para a formação da sociedade brasileira. As negras que sempre se fizeram presentes. Presentes nas senzalas, para o trabalho braçal, como mucamas nas casas grandes, amas de leite, e em todas as outras situações, em que sua presença se fez necessária.



As mulheres que sempre sustentaram o sofrimento de ver seus filhos, maridos, e elas próprias sendo escravizadas. E que hoje lutam para se fazerem presentes, no mercado de trabalho, nas universidades, no mundo da moda, da publicidade. Ela, que ao longo de sua história, tem sido a espinha dorsal de sua família. Que enfrenta a pobreza, a marginalidade e a condição de inferioridade a que é submetida. Mulheres que assistiram à chegada de sua “liberdade” e continuaram sofrendo e lutando contra a discriminação racial. Mulheres que sempre tiveram os menores salários, os piores cargos. As mais atingidas pela desigualdade de gênero e raça no mercado de trabalho brasileiro.



A Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostrou em sua pesquisa que a taxa de desemprego para esse segmento passou de 10% em 1992 para 15,8% em 2005, com crescimento 58%. E mesmo assim, não desanimam. Mesmo com todos esses índices, a população negra “feminina”, ainda vislumbra uma realidade menos opressora para sua descendência.



A escritora Conceição Evaristo ressalta que apesar desses índices desanimadores, as mulheres negras não podem deixar de lutar e sonhar com um futuro próspero. “Teoricamente já vivemos em um futuro melhor e podemos continuar almejando melhorias. Já colocamos o dedo na ferida. Do discurso da denuncia, passamos para a cobrança dos nossos direitos”, afirmou a escritora. Quanto às condições de trabalho e saúde da mulher negra, Conceição acredita que só serão revertidas com programas sociais, como as cotas nas universidades federais, nas empresas privadas e, atendimento específico para a saúde da população negra.



Conceição Evaristo é militante do movimento negro e tem na sua história, a mesma de milhares de mulheres que apesar de tudo, tem lutado e conquistado, provando sua competência, se inserindo no mercado de trabalho, e conquistando um espaço significativo no mundo da moda e na publicidade. Mulheres que estão se conscientizando e mostrando para a sociedade sua beleza natural, sem a necessidade de mudar para se aproximar de padrões sociais.



Negras que com suas mão fortes ajudaram a construir o Brasil. Que se tornaram lideranças, e articulam políticas e ações voltadas para a superação das desigualdades no Brasil, inspirando um futuro melhor. “As nossas mães, avós, bisavós e tataravós representantes legítimas dos antigos quilombos, hoje periferias nos legaram a força da resistência, da capacidade de amar e doar a coragem de romper elos convencionais para buscar formas alternativas de restabelecer o que já há muitos anos está estabelecido e principalmente coragem para dizer, NÃO”, ressalta a rapper Malu Viana. Malu vê um futuro otimista para as guerreiras negras, “Mulher negra como símbolo sexual ou amas de leite não fazem parte do nosso futuro, pois hoje existem mulheres que têm a ousadia de pensar, discordar, contestar, mas isto apenas reforça nossa tradição na luta pela sobrevivência”, conclui a rapper.



NOSSAS HEROÍNAS:



Maria Filipa – Natural de Itaparica, a heroína negra foi uma liderança destacada em 1822, na luta contra o domínio português, quando comandou dezenas de homens e mulheres, negros e índios, na queima de 42 embarcações de guerra que estavam aportadas na Praia do Convento, prontas para atacar Salvador. Esta ação foi vital para a Independência da Bahia. Em sua biografia destaca-se também a lendária história de quando Maria Felipa usou galhos de cansanção para dar uma surra nos vigias portugueses Araújo Mendes e Guimarães das Uvas.





Mãe Menininha do Gantois – Umas das mães-de-santo mais famosas e importantes do país, Maria da Conceição Nazaré, mais conhecida como Mãe Menininha do Gantois, foi uma das grandes defensoras da preservação dos cultos Afro-brasileiros na época da escravidão, principalmente nos espaços do Engenho Velho ou a Casa Branca, o terreiro mais antigo da Bahia. Mãe Menininha nasceu em 10 de fevereiro, tornou-se Ialorixá em 1922, sob o reino de Oxum, e falesceu aos 92 anos, com 74 de iniciação.



Luiza Mahin – Trazida à Bahia pelo tráfico de escravos, desempenhou importante papel na Revolta dos malês, última grande revolta de escravos ocorrida em Salvador (1835). Luiza era uma africana inteligente e rebelde que fez sua casa de quartel general das principais lutas abolicionistas. Mãe de Luiz Gama, poeta e abolicionista, ela acabou deportada para a África devido à participação em rebeliões negras. Pertencente à etnia jeje tem seu nome estampado em praça pública, Cruz das Almas, São Paulo.

Lélia Gonzalez – Mineira de nascimento (1935), filha de um ferroviário negro e mãe de origem indígena empregada doméstica e penúltima de dezoito irmãos migra em 1942 para o Rio de Janeiro. Sua trajetória guarda pouca semelhança com a maioria da população negra, pois ascende de babá a professora universitária. Engajou-se na luta contra o racismo e sexismo na década de 70, no Rio de Janeiro, ainda um período de forte repressão dos governos militares. Pioneira nos cursos sobre Cultura Negra, o qual destacamos o 1º Curso de Cultura Negra na Escola de Artes Visuais no Parque Lage. Esta escola foi também lugar de expressão de vários artistas e de intelectuais negros. Fez inúmeras viagens no Brasil e no exterior (EUA, países da África, da América Central, do Caribe e da Europa) buscando denunciar o mito da democracia racial brasileira e o regime de exceção em que Brasil sua meta era, enquanto intelectual e ativista, oferecer instrumentos práticos e teóricos de desmonte das opressões vividas pela maioria da população brasileira. Lélia faleceu em 1994.

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