segunda-feira, 22 de março de 2021

ENTENDENDO A BÍBLIA


 


Texto básico
Colossenses 3. 5-17

Textos de apoio
– Joel 2. 28-32
– Jeremias 31. 31-34
– João 13. 34-35
– Filipenses 2. 1-11
– 1 Pedro 3. 8-12
– Salmo 51. 10-13

Introdução

A transformação que tem início em nossa vida, ao nos comprometermos genuinamente com Jesus Cristo e seu “programa de governo cósmico”, não é instantânea, mas é inegociável. Como costuma dizer um querido amigo, o pr. Ziel Machado, sob a cruz de Jesus Cristo há espaço para todos, e ele nos recebe do jeito que estamos; mas, uma vez debaixo da cruz, a nova “agenda de vida” quem nos fornece é ele! E quando lemos nos evangelhos os relatos sobre os encontros de Jesus com as mais variadas pessoas, percebemos como essa “agenda” é revolucionária, libertadora e humanizadora.

É uma “proposta de vida”, como dissemos acima, totalmente nova! Ela nos convida a uma revisão (e transformação!) completa de todos os nossos relacionamentos: com Deus, consigo mesmo, com o próximo e com o restante da criação. E essa transformação gradual e ininterrupta tem como alvo final a nossa conformação ao caráter de Cristo: nos tornarmos semelhantes a ele (Colossenses 3.10)!

E, embora apresente um convite “pessoal e intransferível”, é uma agenda que encontra sua plena realização no âmbito relacional, coletivo, comunitário. Aqui não há espaço para um tipo de “Cristão Você S.A.”… Como ensina o apóstolo João: “Se alguém diz: ‘Eu amo a Deus’, mas odeia o seu irmão, é mentiroso. Pois ninguém pode amar a Deus, a quem não vê, se não amar o seu irmão, a quem vê” (1 João 4.20, NTLH).

Como veremos neste estudo, a transformação interior e pessoal gerada pela nova vida em Cristo tem implicações comunitárias, pois o Espírito Santo, o “realizador” desta nova vida, não está apenas formando pessoas transformadas, mas pessoas transformadas que optem por uma jornada de relacionamentos transformados e transformadores. Vamos refletir sobre isso?

 

Para entender o que a Bíblia fala

1. Paulo inicia o trecho de nosso estudo com a conjunção “portanto” (v. 5), que indica uma conclusão da ideia que ele vinha desenvolvendo no trecho anterior. É como uma “ponte” que liga o que vinha antes com o que virá depois: “já que é assim… façam isso ou vivam desse modo”. Paulo, logo em seguida, diz que devemos “matar os desejos pecaminosos e terrenos” que agem dentro de nós (v. 5). O que há em comum entre esses desejos que devem “ser mortos”? E qual é a “garantia” de que podemos realmente “fazer morrer” esses desejos (2. 9-11, 20; 3. 1, 3-4)?

2. Por que os comportamentos descritos nos vv. 8-9 são incompatíveis com a nova vida em Cristo? Como a figura de linguagem usada por Paulo (“despir/vestir”) nos ajuda a entender a “amplitude” desta nova vida possibilitada pelo evangelho (vv. 9-10)? Qual é o alvo final de todo esse processo de “(re)vestimento” (v. 10)?

3. Qual a importância (para a igreja de Colossos e para nós) do reconhecimento de que “em Cristo” já não existem mais barreiras (étnicas, doutrinárias, culturais, sociais e outras) que impossibilitem nossa fraternidade e comunhão (v. 11)? Como esse reconhecimento da “presença de Cristo” no outro pode nos ajudar a eliminar nossas divisões?

4. Nos vv. 12-14 Paulo descreve as qualidades que devem caracterizar a “nova natureza” daqueles que fazem parte do “povo escolhido e amado por Deus” (v. 12). Faça uma lista destas qualidades. Você consegue imaginar como seria viver entre pessoas “revestidas” com estas virtudes?

5. Paulo sabia que os cristãos teriam conflitos uns com os outros. De que maneira esses conflitos serão melhor tratados, ou pelo menos amenizados, se permitirmos que a paz “governe” (literalmente, funcione como um “árbitro” ou um “juiz”) nossos corações (v. 15)?

6. Na sua opinião o que significa permitir que a “palavra de Cristo habite ricamente” em nosso coração (v. 16)? Como essa atitude irá influenciar e até determinar o que pensamos, falamos e fazemos (v. 17)?

7. Perceba o lugar de destaque que Paulo confere à gratidão na experiência de uma nova vida em Cristo (vv. 15, 16 e 17). Porque o apóstolo insiste tanto nessa questão?

 

Para pensar

“A graça tem o poder de reconciliar já no presente Deus e a humanidade, o Criador e as criaturas, integrar povos e culturas diferentes numa nova sociedade, restaurar a justiça no relacionamento entre gêneros, conciliar classes sociais diferentes, enfim, ajuntar e agregar, com base na obra de Jesus, tudo o que está rompido.

É o Espírito Santo que opera e aplica na atualidade a agenda divina de reconciliação. O Espírito é o sinal que identifica os que aderiram ao grande projeto redentor de Deus por meio de Jesus (Ef 1.13-14), gente que se entregou ao pertencimento a Deus, à cooperação no seu projeto e à existência para o louvor da sua glória.

Por isso, toda forma de relacionamento e de comunicação importam e precisam ser avaliados à luz do propósito eterno de Deus (Ef 3.11), visto que o Senhor pretende expor, por meio da unidade em amor da igreja, toda a sua sabedoria prática para juntar numa plataforma justa culturas, gêneros e classes diversas (Ef 3.10).

(…) O sentido do movimento do Espírito é sempre na direção de gerar unidade espiritual (Ef 4.3), sendo a única resposta esperada dos que ouviram o chamado divino por meio do evangelho (Ef 4.1) o empenho total no esforço da manutenção da unidade que o Deus Trino está estabelecendo no mundo (Ef 4.4-6).

Enquanto forças adversas se opõem ao projeto divino (Ef 4.27; 6.12), procurando destruir os vínculos humanos e fraternos, e se manifestam inflamando a língua com discursos de ódio, agressões digitais, fake news, lacração e cultura de cancelamento, o povo chamado a cooperar na constituição de uma nova humanidade integrada em amor precisa se conectar à fonte de poder espiritual (Ef 5.18). Precisa ligar-se à usina de energia que fortalece o discípulo no seu íntimo, no ser interior (Ef 3.16), para que do coração renovado pelo Espírito brote uma nova linguagem de adoração, louvor e gratidão (Ef 5.19-20), junto com a capacidade de se sujeitar aos demais irmãos e irmãs em Cristo (Ef 5.21) e refletir a beleza e a sabedoria de Deus pela unidade em Cristo.”.

(Christian Gillis, em Nascidos do Pentecostes)

 

“Segundo Paulo, [escrevendo aos efésios], o que o Espírito faz em nós é criar uma nova linguagem; com ele aprendemos a falar entre nós com salmos. ‘Falar com salmos’ é falar na linguagem da intimidade, é experimentar o poder do amor na vivência cotidiana, é falar com poesia, revelar os segredos do coração. Falar com salmos não significa recitar os salmos da Bíblia ou espiritualizar nossas conversas; é encontrar, por meio do Espírito de Deus, uma linguagem que fale à alma, que toque no coração. (…) Falar com salmos é procurar expressar, na conversa do dia a dia, a riqueza e o significado da aliança de Deus conosco.”

(Ricardo Barbosa, em Janelas Para a Vida, Encontro Publicações, 1999, p. 39, 40)

 

“E agora, José?”

1. Fazer “morrer” a nossa “natureza terrena”, com todos os seus “frutos” (imoralidade sexual, impureza, paixões más, desejos maus, cobiça, ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar) é o desafio de Paulo a cada um de nós que assumimos um compromisso com Cristo. A ideia presente aqui é que este “matar” deve ser um exercício gradual e progressivo – com a ajuda de Deus e dos “companheiros de fé”. Que atitudes e/ou disciplinas você poderia desenvolver para aprofundar sua comunhão com Deus e também com amigos(as) de “caminhada”, visando este exercício progressivo de “fazer morrer sua natureza terrena”?

2. Fazer algo “em nome de Jesus”, ao contrário do que algumas pessoas pensam, não significa verbalizar esta “fórmula” ao final de cada desejo ou aspiração pessoal. Realizar algo em nome de alguém implica em agir como aquela pessoa agiria se estivesse ali. Você é um representante de tal pessoa. Então, pensando em todos os espaços de sua vida cotidiana (família, trabalho, sociedade, etc), o que significa, em termos práticos, “fazer tudo em nome do Senhor Jesus” (v. 17)?

 

Eu e Deus

“Para vós minhas mãos eu estendo;
minha alma tem sede de vós,
como a terra sedenta e sem água.

Fazei-me cedo sentir vosso amor,
porque em vós coloquei a esperança!
Indicai-me o caminho a seguir,
pois a vós eu elevo a minha alma!

Vossa vontade ensinai-me a cumprir,
porque sois o meu Deus e Senhor!
Vosso Espírito bom me dirija
e me guie por terra bem plana!”

(Salmo 143. 6, 8, 10, Saltério Monástico, Abadia da Ressurreição Edições, Ponta Grossa, 2011)

 

Autor: Reinaldo Percinoto Junior


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