A alegria na dor
Por Marta Kerr Carriker
Nossa
aluna do Centro de Treinamento de Missionários ia muito bem. No seu
último ano de curso, já estava fazendo estágio em uma das igrejas locais
e, depois de merecido descanso após a formatura, havia combinado de
voltar e trabalhar numa congregação perto de nossa casa.
Depois
das férias, chegou cheia de disposição e energia. Mas, a igreja que a
estava sustentando começou a dar desculpas. Não estavam prontos, não era
o momento... resumindo: nossa aluna ficou sem trabalho. Foi difícil.
Ficou magoada, imaginando que o problema fosse com ela, não conseguia
compreender.
Mas, resolveu voltar para sua cidade e
seguir em frente. Mais tarde descobrimos que seu pai adoeceu e ela foi
a peça principal do seu cuidado. Não, ele não era um pai que havia sido
um bom pai. Por causa da bebida, havia deixado corações partidos na
família. Mas Deus, rico em misericórdia, permitiu à nossa ex-aluna se
reconciliar com o pai e gastar com ele muitas horas de cuidado amoroso. E
assim ela o convidou a vir a Cristo e se alegrou com sua resposta
positiva. Sua tristeza temporária de perder o emprego abriu portas para
um novo relacionamento com seu pai antes que este morresse, o que acabou
sendo logo a seguir, e para a esperança de reencontrá-lo na vida
eterna.
No momento da dor, a alegria pode parecer
mais uma paz. É a paz de confiarmos que Deus vai cuidar de nós. Ou ela
pode mesmo trazer um sorriso aos nossos lábios e o coração em festa ao
percebermos que Deus não nos esquece, está sempre ao nosso lado, que ele
alivia nosso sofrimento através de muitos sinais da sua atenção e da
ajuda que vem muitas vezes de quem não esperamos.
Há
dores e dores, as temporárias e as mais permanentes, as mais leves e as
mais profundas. Elas apontam para a falta, para o desejo não
satisfeito, para a perda. São os sofrimentos da vida, pelos quais todos
acabamos passando. A dor da alma pode ser tão forte que adoecemos ou até
pode nos matar.
Embora a dor seja muito pessoal e
íntima, é importante sabermos que não estamos sós na dor. Deus se
importa com a nossa dor. A Bíblia descreve em Isaías o servo sofredor,
que muitos atribuem a uma figura de Cristo como “homem de dores e que
sabe o que é padecer”. No mesmo capítulo, no versículo 4, ela afirma que
“ele [Jesus] tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores
levou sobre si...” Ele, que não merecia a dor e o sofrimento pelo
pecado, pagou pelos nossos, e carregou as nossas dores.
Podemos
entregar nossas dores a Deus através da oração. Expressar a dor é uma
forma de passar pelo luto e podemos ser bem sinceros, como fazia Davi
nos Salmos, por exemplo o Salmo 42, que diz “O meu coração está
profundamente abatido...”. Podemos falar, chorar, gritar na presença de
Deus porque Jesus, Deus encarnado, compreende perfeitamente o que é
sofrer. Podemos também ajudar uns aos outros a suportar a dor. A igreja,
corpo de Cristo deve estar atenta para aliviar o sofrimento ao seu
redor. A melhor forma de fazer isso não é citar versículos bíblicos ou
dizer que tudo vai passar. É a nossa presença e o nosso cuidado prático
que fazem a diferença.
Temos em nossa igreja uma
linda mulher que infelizmente tem esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Promotora de justiça, antes de adoecer já havia feito muito bem através
de sua profissão. Somos desafiados por sua atitude diante dessa
dificuldade tão grande. Ela foi quem promoveu a criação da ARELA, uma
associação para ajudar outros pacientes com ELA. Nós a chamamos de nossa
missionária porque seu testemunho tem sido constante. E muitas pessoas
têm participado de sua vida através de fisioterapia, visitas, orações e
amizade. Não queremos soltar sua mão e oramos por ela, que Deus alivie
sua dor a cada dia. Uma benção de Deus durante este tempo foi ter se
tornado avó bem jovem ainda. Sua linda netinha, além de toda sua
família, lhe traz muita alegria.
Reconhecer as
bênçãos de Deus no meio da dor não é negar nossa dor, é ter olhos para
ver que o milagre pode estar tanto na cura, no cessar do sofrimento,
quanto no ser carregado por Deus através do processo do sofrimento. Como
diz Deuteronômio 33.27: “O Deus eterno é a tua habitação, e, por baixo
de ti, estende os braços eternos...”
- Marta Kerr Carriker tem três filhos e três netos. É autora de O Que Rouba a Sua Alegria?, missionária e mestre em linguística aplicada. Começou seu ministério participando de Vencedores por Cristo, cantando e compondo. Junto com seu marido, Timóteo Carriker, serviu em Goiás, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Ceará, participando na plantação de igrejas e no ensino missiológico desde 1978.
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