terça-feira, 30 de maio de 2023

REFLEXÃO 2

 

Na Stanza della Segnatura, localizada no Vaticano, estão os afrescos mais famosos de Rafael Sanzio, pintados entre 1509 e 1510 — fiz um post sobre um dos afrescos recentemente, o Parnaso, recomendo que veja.

Tais afrescos, que são quatro, representam com maestria o espírito renascentista, que buscava revisitar os valores da antiguidade clássica. As alegorias pintadas representam quatro faculdades do espírito, as categorias mais elevadas enquanto formas de conhecimento.

Tais categorias são: a teologia, a filosofia, a justiça e a poesia. Fazendo uma breve análise — e generalizada, aviso — dessas categorias em nossos tempos, podemos ver quão grande é nossa devastação moral, ética, intelectual, simbólica, espiritual, emocional.

Teologia: A teologia moderna é ensejo para todo tipo de assunto, menos os que envolvam o Deus bíblico. É um espaço onde sequer o filho de Deus pode permear, a não ser que seja como um carpinteiro revolucionário. “Uma vez abolido Deus, o Estado torna-se o deus” — G. K. Chesterton in Cristandade em Dublin (tradução livre)

 

Filosofia: “Hoje que a filosofia esmoreceu, as ciências rebaixam–se e dispersam–se; hoje que se ignora a teologia, a filosofia é estéril, não conclui coisa alguma, faz crítica e faz história sem bússola; é sectária e muitas vezes destruidora, nunca tranquiliza nem ilumina; não ensina” — A. D. Sertillanges in A Vida Intelectual

Justiça: Em Os Deveres, Cícero diz que “o fundamento da justiça reside na boa-fé, isto é, na fidelidade e na verdade em compromissos assumidos”. O fato é que ninguém mais em sã consciência tem fé pública, pois a justiça há muito não é vista como virtude e, sua fidelidade reside não mais no bem comum.

Poesia: A poesia deveria ser a forma mais solene da linguagem, sempre em busca dos homens para levar sabedoria: “[…] a poesia é a sabedoria em busca dos homens” — Olavo de Carvalho in Poesia e Filosofia. Porém, o que temos hoje é uma completa corrupção da linguagem, não há mais verdade, realidade, significado em nada. O mundo não compreende a poesia, e a “poesia” que se faz é tão obscura quanto o mundo.

“Caso nossa sociedade estivesse saudável, não seria necessário dizer a ninguém como ler ou escrever poesia” — G. K. Chesterton in Como ler Poesia.

 

Anderson C. Sandes

 

Poeta, cronista, ensaísta. Articulista no PHVox. Vivo de poesia pra não morrer de razão. Reflexões sobre arte e literatura. Autor de Baseado em Fardos Reais, de Arte & Guerra Cultural: preparação para tempos de crise, e organizador da antologia Quando Tudo Transborda.


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