ANÁLISE
Alexandre Garcia: A palavra final
"Os que defendem as propostas que tramitam no
Legislativo alegam que se trata de voltar ao equilíbrio entre os poderes, pondo
um freio no ativismo judicial que tem prejudicado o próprio Supremo", diz
o jornalista
Ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, do STF
Ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, do STF -
(crédito: Rosinei Coutinho/SCO/STF)
O decano e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)
reagiram às quatro aprovações de projetos na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) da Câmara, semana passada. O ministro Gilmar Mendes disse que "se a
política voltou a respirar ares de normalidade, isto também se deve à atuação
firme do STF". O ministro Luís Roberto Barroso afirmou que não se deve
mexer em instituições que funcionam bem e estão cumprindo o seu papel.
A CCJ, por 38 x 18, acolheu a proposta de emenda
constitucional — já aprovada no Senado por 52 x 18 — que restringe decisões de
um único ministro do STF que suspendam leis aprovadas pela maioria de deputados
e senadores. E por 32 x 12 admitiu o projeto de emenda à Constituição em que
dois terços da Câmara e do Senado podem suspender decisões do Supremo que
invadam a competência do Legislativo.
Além disso, começaram a tramitar na CCJ projetos que
estabelecem novas hipóteses de crime de responsabilidade para juiz do Supremo e
dá poder aos plenários sobre a pauta, hoje ao arbítrio dos presidentes das
casas. Ficou para esta semana a proposta de anistia para os do 8 de Janeiro.
O PSol e o Solidariedade já tomaram partido: estão do lado
do outro Poder. Entraram no Supremo com ações para suspender a tramitação das
PECs. Mas se o Supremo é o sujeito das propostas, como vai julgar em seu
próprio interesse? Está nas mãos do relator Nunes Marques.
Sem disputa
Não se trata de disputa entre poderes. O Legislativo não
quer julgar. Quer manter-se como Legislativo e a Constituição manda que os
congressistas defendam suas prerrogativas, no art. 49: "É de competência
exclusiva do Congresso — XI Zelar pela preservação de sua competência
legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes".
No artigo 2º, a Constituição põe o Poder Legislativo em
primeiro lugar. Porque é por meio dele que o povo exerce o poder citado no
primeiro artigo. Os deputados e senadores são os representantes do povo e das
unidades federadas. Por isso o Congresso é diversificado em geografia, etnia,
religião, sexo, cor da pele, doutrinas e ideologias, religiões, profissões —
enfim, é o retrato da nação.
O Congresso é o lugar da política. O Judiciário vem em
terceiro lugar na Constituição, porque não é órgão de representação, mas
técnico, para aplicar a lei e interpretar a Constituição. Os 11 do Supremo não
têm representação da diversidade nacional, mas notável saber jurídico,
reputação ilibada e idade entre 35 e 70 anos.
Os que defendem as propostas que tramitam no Legislativo
alegam que se trata de voltar ao equilíbrio entre os poderes, pondo um freio no
ativismo judicial que tem prejudicado o próprio Supremo. A declaração de
Barroso, em reunião da União Nacional dos Estudantes (UNE) — "Nós
derrotamos o bolsonarismo" —, é a expressão disso. E é corroborada pela
fala já citada de Gilmar, ligando a atuação do STF à política.
Quando tomou posse na presidência do Supremo, em setembro de
2020, o ministro Luiz Fux identificou o problema: "Assistimos,
cotidianamente, o Poder Judiciário ser instado a decidir questões para as quais
não dispõe de capacidade institucional… Essa prática tem exposto o Poder
Judiciário, em especial o Supremo Tribunal Federal, a um protagonismo deletério".
Os ministros do Supremo, que já não podem circular
livremente, devem sentir que esse protagonismo prejudica não apenas a
instituição, mas suas próprias vidas cotidianas.
Vivemos tempos estranhos, sem poder confiar em garantias
constitucionais, temendo o arbítrio. Nossos representantes não têm sido
respeitados em suas prerrogativas, que são as nossas, da origem do poder. O
Supremo, que deveria ser guardião da Constituição, está com viés de tutor da
nação. O ministro Dias Toffoli já disse: "Nós somos editores de um país
inteiro". Não é esse o papel do Supremo. A instituição precisa funcionar
dentro de suas atribuições.
O primeiro dos Poderes é o Congresso dos representantes do
povo, para o qual o voto dá poderes para agir em nome do povo, tendo, assim, a
palavra final
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