domingo, 7 de setembro de 2025

MÃOS DADAS...

 

TEXTOS

“Mãos dadas” | Poema de Carlos Drummond de Andrade

Em tempos de intenso individualismo e redes sociais que nos aproximam virtualmente enquanto nos afasta emocionalmente, o poema Mãos Dadas, de Carlos Drummond de Andrade, é um convite à empatia e à presença.

 

Publicado em 1940, como parte da coletânea Sentimento do Mundo, esse poema é um manifesto lírico contra o isolamento e a alienação, escrito em meio às angústias da Segunda Guerra Mundial.

 

Drummond, um dos maiores nomes da literatura brasileira do século XX, não se esquiva da realidade. Pelo contrário: ele a encara de frente, com os olhos voltados para o presente e os pés firmes no chão… Recusando tanto o saudosismo quanto a utopia vazia.

 

Hoje, o poema continua urgente. Em meio a polarizações e incertezas, Drummond nos lembra: só de mãos dadas é possível atravessar o caos…

 

Mãos dadas

 

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros.

Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considero a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

 

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,

não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,

não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,

a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade em Antologia Poética – 12a edição – Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, p. 108 via A magia da poesia.

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