TEXTOS
“Mãos
dadas” | Poema de Carlos Drummond de Andrade
Em
tempos de intenso individualismo e redes sociais que nos aproximam virtualmente
enquanto nos afasta emocionalmente, o poema Mãos Dadas, de Carlos Drummond de
Andrade, é um convite à empatia e à presença.
Publicado
em 1940, como parte da coletânea Sentimento do Mundo, esse poema é um manifesto
lírico contra o isolamento e a alienação, escrito em meio às angústias da
Segunda Guerra Mundial.
Drummond,
um dos maiores nomes da literatura brasileira do século XX, não se esquiva da
realidade. Pelo contrário: ele a encara de frente, com os olhos voltados para o
presente e os pés firmes no chão… Recusando tanto o saudosismo quanto a utopia
vazia.
Hoje, o
poema continua urgente. Em meio a polarizações e incertezas, Drummond nos
lembra: só de mãos dadas é possível atravessar o caos…
Mãos
dadas
Não
serei o poeta de um mundo caduco.
Também
não cantarei o mundo futuro.
Estou
preso à vida e olho meus companheiros.
Estão
taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre
eles, considero a enorme realidade.
O
presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos
afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não
serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não
direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não
distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não
fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo
é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida
presente.
Carlos
Drummond de Andrade em Antologia Poética – 12a edição – Rio de Janeiro: José
Olympio, 1978, p. 108 via A magia da poesia.
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