Themis
foi uma das titânides, filha de Urano e Gaia. Seu nome significava "aquela
que é posta, colocada" e era representada empunhando uma balança onde
equilibrava a razão e a emoção. Quando ainda era uma criança, sua mãe a
entregou aos cuidados de Nyx, a Deusa da Noite e da Escuridão para protegê-la
do enlouquecimento de seu pai. No entanto, Nyx se sentia cansada e pediu às
Moiras que criassem Themis e sua filha Nêmesis.
As Moiras
eram as Deusas do Destino. Elas fiavam o fio do destino humano e cuidavam para
que um destino fosse designado para cada um e que ninguém escapasse dele. Cloto
era quem fiava, Láquesis determinava o comprimento do fio e Átropos cortava o
fio da vida no momento determinado para a morte. Tanto os homens quanto os
deuses temiam as Moiras e suas decisões deviam ser obedecidas.
Elas
criaram Themis e Nêmesis ensinando-lhes tudo sobre a ordem cósmica e natural
das coisas, como o ciclo da vida - nascer, crescer, morrer -, além da
importância de zelar pelo equilíbrio. Por terem crescido juntas, as duas tinham
muitas semelhanças: Themis - a Deusa da justiça e Nêmesis - a Deusa da
retribuição e recompensa.
Nêmesis
originalmente significava "distribuição da sorte", nem boa nem má,
simplesmente na proporção devida a cada um segundo seu merecimento. Quando
alguém sofria por uma atitude alheia, Nemêsis não permitia que o ofensor
passasse impune. Nas tragédias gregas, Nêmesis apareceu principalmente como
vingadora dos crimes e castigadora da arrogância.
Alguns a
chamavam de Adrastéia que significa "aquela de quem não há
escapatória" ou "a inevitável". Como deusa da devida proporção e
equilibrio, ela punia toda transgressão dos limites da moderação e restaurava a
boa ordem das coisas, por isso era considerada a divindade do castigo.
Ostentando uma espada que representa a justiça, trazia nas mãos uma ampulheta
advertindo que a justiça poderia demorar, mas seria certeira. Por isso, muitas
vezes é relacionada ao karma.
Themis
era a deusa guardiã da consciência coletiva e personificava a lei, a ordem
social, a lei espiritual e justiça divina. Era frequentemente invocada na corte
quando se faziam os juramentos perante os magistrados, pois representava o
ajuste das divergências para estabelecer a paz. Por isso Themis passou a ser
considerada a Deusa da Justiça e protetora dos oprimidos, que os romanos
chamavam de Deusa Justitia.
Ela tinha
as qualidades de Gaia - a terra, ou seja, estabilidade, solidez, imobilidade e
falava com os homens através dos oráculos. Estava ligada à voz da terra e
exaltava as leis da natureza e as leis naturais que todos deviam obedecer, que
antecedem as regras ditadas pela sociedade. Foi Themis quem orientou Deucalião
e Pirra para formar uma nova humanidade depois do dilúvio e ajudou Hércules a
salvar Prometeu, que tinha sido condenado a morrer acorrentado num rochedo após
roubar o fogo dos deuses para oferecer aos homens.
Quando a
esposa de Zeus estava grávida, Themis alertou-o que nasceria uma filha que
seria uma ameaça ao seu poder. A esposa de Zeus tinha o dom de se transformar
em qualquer coisa, por isso Zeus propôs uma brincadeira pedindo que Métis se
transformasse em uma mosca. Aproveitando-se de uma distração, Zeus engoliu-a.
Da cabeça de Zeus nasceu Athena.
As Moiras
profetizaram que Zeus tinha muito a aprender com Themis. Algum tempo depois,
Zeus e Themis casaram e foram os pais das Horas e de Astreia, a deusa
protetora da humanidade e simbolizava a pureza e a inocência. Conta-se que
Astreia deixou a Terra no fim da Idade do Ouro para não presenciar as aflições
e sofrimentos da humanidade durante as idades do Bronze e do Ferro. No céu ela
foi transformada na Constelação de Virgem.
As Horas
eram muitas, sendo as mais conhecidas: Eirene, Eunômia e Dikê que
personificavam a paz, a disciplina e a justiça. Como guardiãs do Olimpo, elas
cuidavam da ambrosia, o alimento dos deuses, e organizavam a passagem das
estrelas. Assim tornaram-se as deusas do ano, das estações climáticas e da
divisão do dia em horas. Elas eram a extensão dos atributos de Themis e
presidiam a ordem natural humana, da natureza e social.
Enquanto
Zeus exercia o poder absoluto, um padrão arquetípico que governa a consciência
coletiva, Themis desestabilizava o absolutismo e as certezas de Zeus,
movimentando-se dentro de vários outros padrões arquétipicos. Ela era sua
esposa e conselheira, temperando o poder com sabedoria. Respeitada por todos os
deuses, ao presidir as reuniões políticas do Olimpo Themis manifestava o
teor organizacional de sua dignidade e justiça.
Com
seriedade moral obrigava os grandes e poderosos a ouvir, de modo consciencioso,
as objeções e contribuições daqueles menos proeminentes. A deusa opunha-se à
dominação de um sobre muitos e apoiava a unidade mais que a multiplicidade, a
totalidade mais do que a fragmentação, a integração mais do que a repressão.
Nessa atividade de contenção e vinculação, Themis revelava o princípio operado
pela consciência feminina: a lei do amor.
Seu maior
opositor era Ares - o deus da guerra - que tinha apetite por violência e sua
sede de sangue não conhecia limites. Themis não era contra a guerra, mas
defendia a ordem natural e ambiental, pois a guerra reduzia o tempo da vida e a
população humana. Sua balança foi transformada na Constelação de Libra,
que brilha céu para nos lembrar que a justiça é fundamental.
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No
imaginário popular, sempre quando se fala em Justiça surge a figura da mulher
de olhos vendados carregando uma balança e a espada. De fato, essas imagens
alegóricas representam a manifestação da Justiça.
- A
Balança simboliza a equidade, o equilíbrio, a ponderação e a igualdade das
decisões aplicadas pela lei. O direito precisa ser pesado, senão torna-se
força bruta e irracional.
- A
Espada simboliza a ordem, regra, força e coragem, aquilo que a razão dita
e a coerção para alcançar tais determinações. Se não obriga a sua
aplicação, o direito não tem qualquer validade.
- Os
olhos vendados da deusa simboliza a necessidade de nivelar o tratamento
jurídico de todos por igual, sem nenhuma distinção. Tem o propósito da
imparcialidade, da objetividade e da afirmação de que todos são iguais
perante à lei. Isso não implica que a justiça é cega, pois aos olhos da
justiça, nenhum pormenor que seja relevante deixa de ser considerado para
a aplicação da lei, ou seja, o julgamento é avaliação de todos os ângulos
de uma questão.
Cada
símbolo completa o outro, para que a Justiça seja a mais justa possível:
- A
espada sem a balança torna o Direito brutal.
- A
balança sem a espada torna o Direito impotente perante os desvalores que
insistem em ser perenes na história da humanidade.
- Os
olhos vendados objetivam evitar privilégios na aplicação da justiça. A
balança é o instrumento capaz pesar o direito de cada um e a espada, a sua
aplicabilidade.
A existência
psicológica de Themis está no inconsciente coletivo. Sendo Themis a deusa da justiça,
da lei, da ordem e protetora dos oprimidos, também determinou que o direito
depende dos deveres a serem cumpridos por todos. Foi o casamento de Themis com
Zeus que inseriu a ordem e equidade no mundo dos homens, mostrando que até
mesmo quem emana as leis deve a elas estar submetido. Quando a justiça não age
devidamente e não pune os culpados, acaba punindo os inocentes...