sexta-feira, 22 de março de 2019

O VELHO!




 HOMENAGEM...!


Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse Que me olha e é tão mais velho do que eu? Porém, seu rosto… é cada vez menos estranho… Meu Deus, Meu Deus… Parece Meu velho pai – que já morreu! Como pude ficar assim? Nosso olhar – duro – interroga: “O que fizeste de mim?!” Eu, Pai?! Tu é que me invadiste, Lentamente, ruga a ruga… Que importa? Eu sou, ainda, Aquele mesmo menino teimoso de sempre E os teus planos enfim lá se foram por terra. Mas sei que vi, um dia – a longa, a inútil guerra!- Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste… 

Mario Quintana.


 

terça-feira, 19 de março de 2019

SEXUALIDADE "AZUL OU ROSA"



Cientista desmoraliza os obcecados com a “sexualidade azul-ou-rosa”

• O novo e fascinante livro de Gina Rippon mostra que o cérebro não tem sexo.

Você recebe um convite, no qual se destaca uma pergunta: “Um menino saltitante ou uma linda menina?” A pergunta é o instigador para a “festa de revelação de gênero”, à qual você está sendo convidado por uma gestante que, com mais de 20 semanas de gravidez, já sabe o que você não sabe: o sexo da criança. Depois que você chega, explica a neurocientista cognitiva Gina Rippon em seu novo e fascinante livro, The Gendered Brain (O Gênero do Cérebro), a grande revelação estará escondida em algum item, como um bolo com cobertura branca. Quando cortarem o bolo, você verá o recheio azul ou rosa. Se for azul, é… Sim, você adivinhou. Seja qual for o sexo do bebê, seu futuro é predeterminado pela crença tradicional de que homens e mulheres fazem muitas coisas de modo diferente, pior, ou melhor, porque têm cérebros diferentes.
“Espere um pouco!”, diverte-se Gina Rippon, que se interessa pelo cérebro humano desde que era criança. “A ciência avançou. Estamos no século XXI!” Sua declaração comedida não combina com a imagem criada por seus críticos, que a chamam de “neonazista” e de uma “bruxa velha” com “fetiche de igualdade”. Eu, de minha parte, estava preparada para um encontro com uma intelectual que me esnobaria com seu conhecimento. Rippon é paciente, embora haja em sua voz certa urgência ao explicar como é vital, como é modificador da vida, que finalmente rompamos – e descartemos – os estereótipos sexistas e a codificação binária que nos limitam e prejudicam.
Para Gina Rippon, que é gêmea, os efeitos da estereotipagem vieram rapidamente. Seu irmão, que tinha dificuldade de aprendizado, foi enviado para um internato católico aos 11 anos. Ela, por sua vez, foi mandada pelos pais para um convento católico. “A escola não ensinava ciência. As alunas eram educadas para serem freiras, esposas de diplomatas ou mães. “A psicologia”, a indica, “foi o mais perto que eu cheguei do estudo do cérebro”. Eu não tinha as matérias necessárias para fazer medicina. Eu queria ser médica. ”
Um doutorado em psicologia fisiológica e o enfoque em processos cerebrais e esquizofrenia se seguiram. Hoje, a cientista nascida em Essex (sudeste da Inglaterra) é professora emérita de neuroimagiologia cognitiva na Universidade Aston, em Birmingham (Reino Unido). Seu irmão é artista. Quando ela não está no laboratório usando técnicas avançadas de imagiologia para estudar transtornos do desenvolvimento, como autismo, viaja pelo mundo derrubando o mito “pernicioso” das diferenças entre os sexos: a ideia de que você pode “definir o sexo” de um cérebro ou que haja diferenças entre o cérebro masculino e o feminino.
É um argumento científico que ganhou força, incontestado, desde o século XVIII, “quando as pessoas gostavam de discutir como eram os cérebros do homem e da mulher – antes que se pudesse sequer examiná-los. Eles inventaram ideias e metáforas que se enquadravam à situação geral e à sociedade e deram origem a uma educação diferente para meninos e meninas”.
• Há diferença baseada apenas no sexo?
Gina Rippon analisou dados sobre diferenças sexuais no cérebro. Ela admite que, como muitos outros, inicialmente procurou essas diferenças. Mas não conseguiu encontrar nenhuma realmente séria, e outras pesquisas começavam a questionar a existência dessas diferenças. Por exemplo, quando se levavam em conta quaisquer diferenças nos tamanhos dos cérebros, as diferenças sexuais “bem conhecidas” em estruturas-chave desapareciam. Foi quando caiu a ficha: talvez estivesse na hora de abandonar a antiga busca por diferenças entre cérebros de homens e cérebros de mulheres. Há alguma diferença significativa baseada apenas no sexo? A resposta é não, diz ela. Sugerir outra coisa é “neurotolice”.
“A ideia de cérebro masculino e cérebro feminino sugere que cada um é uma coisa tipicamente homogênea e que quem tem um cérebro masculino, digamos, terá o mesmo tipo de aptidões, preferências e personalidades que todos os outros com aquele ‘tipo’ de cérebro. Sabemos que isso não ocorre. Estamos no ponto em que precisamos dizer: ‘Esqueça o cérebro masculino e feminino; é uma distração, é impreciso’. E também possivelmente perigoso, porque é usado como um gancho para dizer: ‘Ora, não adianta as meninas fazerem ciência porque elas não têm um cérebro científico, ou os meninos não devem ser emotivos e devem querer liderar’.”
A pergunta seguinte foi: o que então orienta as diferenças de comportamento entre meninas e meninos, homens e mulheres? Nosso “mundo de gêneros”, diz ela, molda tudo, da política educacional e das hierarquias sociais a relacionamentos, identidade própria, bem-estar e saúde mental. Se isso parece um conhecido argumento de condicionamento do século XX, é mesmo – exceto que hoje é acompanhado de conhecimento sobre plasticidade cerebral, o que só viemos a perceber nos últimos 30 anos.
• O cérebro aprende e muda
“Hoje é um dado científico”, diz ela, “que o cérebro é moldado a partir do nascimento e continua a ser moldado durante o ‘abismo cognitivo’ na idade avançada, quando nossas células cinzentas começam a desaparecer. Então aí vai o argumento da ‘biologia é destino’: efetivamente, você tem o mesmo cérebro desde o nascimento – ele fica um pouco maior e mais conectado, mas você tem o ponto final do desenvolvimento determinado por um projeto biológico que se desdobra com o tempo. Com a plasticidade cerebral, o cérebro é muito mais uma função de experiências. Se você aprende uma técnica, seu cérebro muda, e continuará mudando.”
Essa tese foi demonstrada em estudos com motoristas de táxi negros que têm de aprender os 320 principais trajetos em Londres, por exemplo. “O cérebro aumenta e diminui muito mais do que nós percebemos. Por isso, se você não teve experiências particulares – se quando menina você não ganhou Lego, você não tem o mesmo treinamento espacial que outras pessoas no mundo têm.”
Se, por outro lado, você recebeu essas tarefas espaciais com frequência, você será melhor nelas. “Os caminhos neurais mudam, tornam-se caminhos automáticos. A tarefa realmente fica mais fácil.”
A plasticidade neural atira pela janela do laboratório a polaridade natureza/educação. “Fazer parte de um grupo de interação social é um dos principais motivadores de nosso cérebro.” O cérebro também é previdente e pensa antecipadamente de maneira que não percebíamos antes. Como um GPS, ele segue regras, é faminto delas. “O cérebro é um caçador de regras”, explica Gina Rippon, “e adquire suas regras do mundo exterior. As regras alteram como o cérebro funciona e como a pessoa se comporta.” E o resultado das regras conforme o gênero? “A ‘diferença de gêneros’ torna-se uma profecia que se autorrealiza.”
• Comportamentos não são prescritos por sexo biológico
A cientista costuma fazer palestras em escolas. Ela quer que as meninas tenham cientistas importantes como modelos, e quer que todas as crianças saibam que suas identidades, capacidades, conquistas e comportamento não são prescritos por seu sexo biológico. O “bombardeio de gênero” nos faz pensar o contrário. Bebês meninos vestidos com macacões azuis e as meninas de rosa é a codificação binária de uma situação que resiste à evidência científica. A “rosificação”, como diz Gina Rippon, tem de acabar.
Os pais nem sempre gostam do que escutam. “Eles dizem: ‘Eu tenho um filho e uma filha, e eles são diferentes’. E eu digo: ‘Eu tenho duas filhas, e elas são muito diferentes’. Quando você fala sobre identidade masculina e feminina, as pessoas estão muito ligadas à ideia de que homens e mulheres são diferentes. Pessoas como eu não são negadoras da diferença sexual”, continua. “É claro que há diferenças sexuais. Anatomicamente, homens e mulheres são diferentes. O cérebro é um órgão biológico. O sexo é um fator biológico. Mas não é o único fator, ele se combina com muitas variáveis.”
###### O sexo é um fator biológico, mas não é o único. Variáveis como a educação ajudam a defini-lo.
Eu lhe pergunto sobre um momento comparável, divisor de águas, na história do conhecimento científico, para avaliar a importância do seu insight. “A ideia da Terra girando ao redor do Sol”, ela rebate.
Abandonar certezas ancestrais é assustador, admite ela, ao mesmo tempo otimista e temerosa sobre o futuro. “Estou preocupada com o que o século XXI está fazendo, como está tornando o gênero mais relevante. Precisamos examinar onde estamos mergulhando o cérebro dos nossos filhos.”
Nossa época pode ser a da autoimagem, mas não estamos prontos para deixar a personalidade individual emergir, independentemente das expectativas culturais sobre o sexo biológico da pessoa. Essa desconexão, diz Gina Rippon, é exagerada nos homens, por exemplo. “Sugere que há algo errado em sua autoimagem.” O cérebro social quer se enquadrar. O GPS recalibra-se conforme as expectativas. “Se eles são conduzidos por uma estrada que leva a danos à própria pessoa ou até ao suicídio ou à violência, o que os leva para lá?”
No lado positivo, nossos cérebros plásticos são bons alunos. Só precisamos mudar as lições de vida. Ou, como escreveu Gina Rippon, num capítulo voltado para o futuro: “Com a contribuição de animadores progressos na neurociência, a distinção clara e binária desses rótulos está sendo contestada – passamos a perceber que a natureza está inextricavelmente ligada à educação. O que costumava ser considerado fixo e inevitável está sendo revelado como plástico e flexível; os poderosos efeitos dos mundos físico e social na transformação da biologia estão sendo revelados. O século XXI não está apenas discutindo as velhas respostas – está contestando a própria pergunta”.

Fonte: Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves, para CartaCapital




A MENTALIDADE DA ESQUERDA!





A mentalidade da esquerda e seus estragos sobre os mais pobres
Quando adolescentes criminosos e assassinos são rotulados de "jovens problemáticos" por pessoas que se identificam como sendo de esquerda, isso nos diz mais sobre a mentalidade da própria esquerda do que sobre esses criminosos violentos propriamente ditos.

Raramente há alguma evidência de que os criminosos sejam meramente 'problemáticos', e frequentemente abundam evidências de que eles na realidade estão apenas se divertindo enormemente ao cometer seus atos criminosos sobre terceiros.

Por que então essa desculpa já arraigada?  Por que rotular adolescentes criminosos de "jovens problemáticos" e supor que maníacos homicidas são meros "doentes"?

Pelo menos desde o século XVIII a esquerda vem se esforçando para não lidar com o simples fato de que a maldade existe — que algumas pessoas simplesmente optam por fazer coisas que elas sabem de antemão serem erradas.  Todo o tipo de desculpa, desde pobreza até adolescência infeliz, é utilizada pela esquerda para explicar, justificar e isentar a maldade.

Todas as pessoas que saíram da pobreza ou que tiveram umas infâncias infelizes, ou ambas, e que se tornaram seres humanos decentes e produtivos, sem jamais praticarem atos violentos, são ignoradas pela esquerda, que também ignora o fato de que a maldade independe da renda e das origens, uma vez que ela também é cometida por gente criada na riqueza e no privilégio, como reis, conquistadores e escravocratas.

Logo, por que a existência do mal sempre foi um conceito tão difícil para ser aceito por muitos da esquerda?  O objetivo básico da esquerda sempre foi o de mudar as condições externas da humanidade.  Mas e se o problema for interno?  E se o verdadeiro problema for a perversidade dos seres humanos?

Rousseau negou esta hipótese no século XVIII e a esquerda a vem negando desde então.  Por quê?  Autopreservação.  Afinal, se as coisas que a esquerda quer controlar — instituições e políticas governamentais — não são os fatores definidores dos problemas do mundo, então qual função restaria à esquerda?

E se fatores como a família, a cultura e as tradições exercerem mais influência positiva do que as novas e iluminadas "soluções" governamentais que a esquerda está constantemente inventando?  E se a busca pelas "raízes da criminalidade" não for nem minimamente tão eficaz quanto retirar criminosos de circulação?  As estatísticas ao redor do mundo mostram que as taxas de homicídio estavam em declínio durante as décadas em que vigoravam as velhas e tradicionais práticas tão desdenhadas pela intelligentsia esquerdista.  Já quando as novas e brilhantes ideias da esquerda ganharam influência, no final da década de 1960, a criminalidade e violência urbana dispararam.

O que houve quando ideias antiquadas sobre sexo foram substituídas, ainda na década de 1960, pelas novas e brilhantes ideias da esquerda, as quais foram introduzidas nas escolas sob a alcunha de "educação sexual" e que supostamente deveriam reduzir a gravidez na adolescência e as doenças sexualmente transmissíveis?  Tanto a gravidez na adolescência quanto as doenças sexualmente transmissíveis vinham caindo havia anos.  No entanto, esta tendência foi subitamente revertida na década de 1960 e atingiu recordes históricos.

Desarmamento

Uma das mais antigas e mais dogmáticas cruzadas da esquerda é aquela em prol do desarmamento.  Aqui, novamente, o enfoque está nas questões externas — no caso, nas armas.

Se as armas de fato fossem o problema, então leis de controle de armas poderia ser a resposta.  Mas se o verdadeiro problema são aquelas pessoas malvadas que não se importam com a vida de outras pessoas — e nem muito menos para as leis —, então o desarmamento, na prática, fará apenas com que pessoas decentes e cumpridoras da lei se tornem ainda mais vulneráveis perante pessoas perversas.

Dado que a crença no desarmamento sempre foi uma grande característica da esquerda desde o século XVIII, em todos os países ao redor do mundo, seria de se imaginar que, a esta altura, já haveria incontáveis evidências dando sustentação a esta crença.  No entanto, evidências de que o desarmamento de fato reduz as taxas de criminalidade em geral, ou as taxas de homicídio em particular, raramente são mencionadas por defensores do controle de armas.  Simplesmente se pressupõe, de passagem, que é óbvio que leis mais rigorosas de controle de armas irão reduzir os homicídios e a criminalidade.

No entanto, a crua realidade não dá sustento a esta pressuposição.  É por isso que são os críticos do desarmamento que se baseiam em evidências empíricas, todas elas magnificamente coletadas nos livros "More Guns, Less Crime", de John Lott, e "Guns and Violence", de Joyce Lee Malcolm. [Veja nossos artigos sobre desarmamento].  Mas que importância têm os fatos perante a visão inebriante e emotiva da esquerda?

Pobres

A esquerda sempre se arrogou a função de protetora dos "pobres".  Esta é uma de suas principais reivindicações morais para adquirir poder político.  Porém, qual a real veracidade desta alegação?

É verdade que líderes de esquerda em vários países adotaram políticas assistencialistas que permitem aos pobres viverem mais confortavelmente em sua pobreza.  Mas isso nos leva a uma questão fundamental: quem realmente são "os pobres"?

Se você se baseia em uma definição de pobreza inventada por burocratas, como aquela que inclui um número de indivíduos ou de famílias abaixo de algum nível de renda arbitrariamente estipulado pelo governo, então realmente é fácil conseguir estatísticas sobre "os pobres".  Elas são rotineiramente divulgadas pela mídia e gostosamente adotadas por políticos.  Mas será que tais estatísticas têm muita relação com a realidade?

Houve um tempo em que "pobreza" tinha um significado concreto — uma quantidade insuficiente de comida para se mantiver vivo, ou roupas e abrigos incapazes de proteger um indivíduo dos elementos da natureza.  Hoje, "pobreza" significa qualquer coisa que os burocratas do governo, que inventam os critérios estatísticos, queiram que signifique.  E eles têm todos os incentivos para definir pobreza de uma maneira que abranja um número suficientemente alto de pessoas, pois isso justifica mais gastos assistencialistas e, consequentemente, mais votos e mais poder político.

Em vários países do mundo, não são poucas as pessoas que são consideradas pobres, mas que, além de terem acesso a vários bens de consumo que outrora seriam considerados luxuosos — como televisão, computador e carro —, são também muito bem alimentadas (em alguns casos, até mesmo apresentam sobrepeso).  No entanto, uma definição arbitrária de palavras e números concede a essas pessoas livre acesso ao dinheiro dos pagadores de impostos.

Esse tipo de "pobreza" pode facilmente vir a se tornar um modo de vida, não apenas para os "pobres" de hoje, mas também para seus filhos e netos.

Mesmo quando esses indivíduos classificados como "pobres" têm o potencial de se tornar membros produtivos da sociedade, a simples ameaça de perder os benefícios assistencialistas caso consigam um emprego funciona como uma espécie de "imposto implícito" sobre sua renda futura, imposto este que, em termos relativos, seria maior do que o imposto explícito que incide sobre o aumento da renda de um milionário.

Em suma, as políticas assistencialistas defendidas pela esquerda tornam a pobreza mais confortável ao mesmo tempo em que penalizam tentativas de se sair da pobreza.  Exceto para aqueles que acreditam que algumas pessoas nascem predestinadas a serem pobres para sempre, o fato é que a agenda da esquerda é um desserviço para os mais pobres, bem como para toda a sociedade.  Ao contrário do que outros dizem, a enorme quantia de dinheiro desperdiçada no aparato burocrático necessário para gerenciar todas as políticas sociais não é nem de longe o pior problema dessa questão.

Se o objetivo é retirar pessoas da pobreza, há vários exemplos encorajadores de indivíduos e de grupos que lograram este feito, e nos mais diferentes países do mundo.

Milhões de "chineses expatriados" emigraram da China completamente destituídos e quase sempre iletrados.  E isso ocorreu ao longo dos séculos.  Independentemente de para onde tenham ido — se para outros países do Sudeste Asiático ou para os EUA —, eles sempre começaram lá embaixo, aceitando empregos duros, sujos e frequentemente perigosos.

Mesmo sendo frequentemente mal pagos, estes chineses expatriados sempre trabalhavam duros e poupavam o pouco que recebiam.  Era uma questão cultural.  Vários deles conseguiram, com sua poupança, abrir pequenos empreendimentos comerciais.  Por trabalharem longas horas e viverem frugalmente, eles foram capazes de transformar pequenos negócios em empreendimentos maiores e mais prósperos.  Eles se esforçaram para dar a seus filhos a educação que eles próprios não conseguiram obter.

Já em 1994, os 57 milhões de chineses expatriados haviam criado praticamente a mesma riqueza que o bilhão de pessoas que viviam na China.

Variações deste padrão social podem ser encontradas nas histórias de judeus, armênios, libaneses e outros emigrantes que se estabeleceram em vários países ao redor do mundo — inicialmente pobres, foram crescendo ao longo de gerações até atingirem a prosperidade.  Raramente recorreram ao governo, e quase sempre evitaram a política ao longo de sua ascensão social.

Tais grupos se concentraram em desenvolver aquilo que economistas chamam de "capital humano" — seus talentos, habilidades, aptidões e disciplina.  Seus êxitos frequentemente ocorreram em decorrência daquela palavra que a esquerda raramente utiliza em seus círculos refinados: "trabalho".

Em praticamente todos os grupos sociais e étnicos, existem indivíduos que seguem padrões similares para ascenderem da pobreza à prosperidade.  Mas o número desses indivíduos em cada grupo faz uma grande diferença para a prosperidade ou a pobreza destes grupos como um todo.

A agenda da esquerda — promover a inveja e o ressentimento ao mesmo tempo em que vocifera exigindo ter "direitos" sobre o que outras pessoas produziram — é um padrão que tem se difundido em vários países ao redor do mundo.

Esta agenda raramente teve êxito em retirar os pobres da pobreza.  O que ela de fato logrou foi elevar a esquerda a cargos de poder e a posições de autoexaltação — ao mesmo tempo em que promovem políticas com resultados socialmente contraproducentes.

A arrogância

É difícil encontrar um esquerdista que ainda não tenha inventado uma nova "solução" para os "problemas" da sociedade.  Com frequência, tem-se a impressão de que existem mais soluções do que problemas.  A realidade, no entanto, é que vários dos problemas de hoje são resultado das soluções de ontem.

No cerne da visão de mundo da esquerda jaz a tácita presunção de que pessoas imbuídas de elevados ideais e princípios morais — como os esquerdistas — sabem como tomar decisões para outras pessoas de forma melhor e mais eficaz do que estas próprias pessoas.

Esta presunção arbitrária e infundada pode ser encontrada em praticamente todas as políticas e regulamentações criadas ao longo dos anos, desde renovação urbana até serviços de saúde.  Pessoas que nunca gerenciaram nem sequer uma pequena farmácia — muito menos um hospital — saem por aí jubilosamente prescrevendo regras sobre como deve funcionar o sistema de saúde, impondo arbitrariamente seus caprichos e especificidades a médicos, hospitais, empresas farmacêuticas e planos de saúde.

Uma das várias cruzadas internacionais empreendidas por intrometidos de esquerda é a tentativa de limitar as horas de trabalho de pessoas de outros países — especialmente países pobres — em empresas operadas por corporações multinacionais.  Um grupo de monitoramento internacional se auto atribuiu a tarefa de garantir que as pessoas na China não trabalhem mais do que as legalmente determinadas 49 horas por semana.

Por que grupos de monitoramento internacional, liderados por americanos e europeus abastados, imaginam ser capazes de saber o que é melhor para pessoas que são muito mais pobres do que eles, e que possuem muito menos opções, é um daqueles insondáveis mistérios que permeiam a intelligentsia.

Na condição de alguém que saiu de casa aos 17 anos de idade, sem ter se formado no colégio, sem experiência no mercado de trabalho, e sem habilidades específicas, passei vários anos de minha vida aprendendo da maneira mais difícil o que realmente é a pobreza.  Um dos momentos mais felizes durante aqueles anos ocorreu durante um breve período em que trabalhei 60 horas por semana — 40 horas entregando telegramas durante o dia e 20 horas trabalhando meio período em uma oficina de usinagem à noite.

Por que eu estava feliz?  Porque antes de encontrar estes dois empregos eu havia gasto semanas procurando desesperadamente qualquer emprego.  Minha escassa poupança já havia evaporado e chegado literalmente ao meu último dólar quando finalmente encontrei o emprego de meio período à noite em uma oficina de usinagem.

Passei vários dias tendo de caminhar vários quilômetros da pensão em que morava no Harlem até a oficina de usinagem, que ficava imediatamente abaixo da Ponte do Brooklyn, e tudo para poupar este último dólar para poder comprar pão até finalmente chegar o dia de receber meu primeiro salário.

Quando então encontrei um emprego de período integral — entregar telegramas durante o dia —, o salário somado dos dois empregos era mais do que tudo que eu já havia ganhado antes.  Foi só então que pude pagar a pensão, comer e utilizar o metrô para ir ao trabalho e voltar.

Além de tudo isso, ainda conseguia poupar um pouco para eventuais momentos difíceis.  Ter me tornado capaz de fazer isso era, para mim, o mais próximo do nirvana a que já havia chegado.  Para a minha sorte, naquela época não havia nenhum intrometido de esquerda querendo me impedir de trabalhar mais horas do que eu gostaria.

Havia um salário mínimo, mas, como o valor deste havia sido estipulado em 1938, e estávamos em 1949, seu valor já havia se tornado insignificante em decorrência da inflação.  Por causa desta ausência de um salário mínimo efetivo, o desemprego entre adolescentes negros no ano de 1949, que foi um ano de recessão, era apenas uma fração do que viria a ser até mesmo durante os anos mais prósperos desde a década de 1960 até hoje.

À medida que os moralmente ungidos passaram a elevar o salário mínimo, a partir da década de 1950, o desemprego entre os adolescentes negros disparou.  Hoje, já estamos tão acostumados a taxas tragicamente altas de desemprego neste grupo, que várias pessoas não fazem a mais mínima ideia de que as coisas nem sempre foram assim — e muito menos que foram as políticas da esquerda intrometida que geraram tais consequências catastróficas.

Não sei o que teria sido de mim caso tais políticas já estivessem em efeito em 1949 e houvesse me impedido de encontrar um emprego antes de meu último dólar ser gasto.

Minha experiência pessoal é apenas um pequeno exemplo do que ocorre quando suas opções são bastante limitadas.  Os prósperos intrometidos da esquerda estão constantemente promovendo políticas — como encargos sociais e trabalhistas — que reduzem ainda mais as poucas opções existentes para os pobres.  Quando não reduzem empregos, tais políticas afetam sobremaneira seus salários.

Parece que simplesmente não ocorre aos intrometidos que as corporações multinacionais estão expandindo as opções para os pobres dos países do terceiro mundo, ao passo que as políticas defendidas pela esquerda estão reduzindo suas opções.

Os salários pagos pelas multinacionais nos países pobres normalmente são muito mais altos do que os salários pagos pelos empregadores locais.  Ademais, a experiência que os empregados ganham ao trabalhar em empresas modernas transforma-os em mão-de-obra mais valiosa, e fez com que na China, por exemplo, os salários passassem a subir a porcentagens de dois dígitos anualmente.

Nada é mais fácil para pessoas diplomadas do que imaginar que elas sabem mais do que os pobres sobre o que é melhor para eles próprios.  Porém, como alguém certa vez disse, "um tolo pode vestir seu casaco com mais facilidade do que se pedisse a ajuda de um homem sábio para fazer isso por ele".


Autor

Thomas Sowell
, um dos mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution da Universidade de Stanford.  Seu website: www.tsowell.com.

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