A
mentalidade da esquerda e seus estragos sobre os mais pobres
Quando
adolescentes criminosos e assassinos são rotulados de "jovens
problemáticos" por pessoas que se identificam como sendo de esquerda, isso
nos diz mais sobre a mentalidade da própria esquerda do que sobre esses
criminosos violentos propriamente ditos.
Raramente há
alguma evidência de que os criminosos sejam meramente 'problemáticos', e
frequentemente abundam evidências de que eles na realidade estão apenas se
divertindo enormemente ao cometer seus atos criminosos sobre terceiros.
Por que
então essa desculpa já arraigada? Por
que rotular adolescentes criminosos de "jovens problemáticos" e supor
que maníacos homicidas são meros "doentes"?
Pelo menos
desde o século XVIII a esquerda vem se esforçando para não lidar com o simples
fato de que a maldade existe — que algumas pessoas simplesmente optam por fazer
coisas que elas sabem de antemão serem erradas.
Todo o tipo de desculpa, desde pobreza até adolescência infeliz, é
utilizada pela esquerda para explicar, justificar e isentar a maldade.
Todas as
pessoas que saíram da pobreza ou que tiveram umas infâncias infelizes, ou ambas,
e que se tornaram seres humanos decentes e produtivos, sem jamais praticarem
atos violentos, são ignoradas pela esquerda, que também ignora o fato de que a
maldade independe da renda e das origens, uma vez que ela também é cometida por
gente criada na riqueza e no privilégio, como reis, conquistadores e
escravocratas.
Logo, por
que a existência do mal sempre foi um conceito tão difícil para ser aceito por
muitos da esquerda? O objetivo básico da
esquerda sempre foi o de mudar as condições externas da humanidade. Mas e se o problema for interno? E se o verdadeiro problema for a perversidade
dos seres humanos?
Rousseau
negou esta hipótese no século XVIII e a esquerda a vem negando desde
então. Por quê? Autopreservação. Afinal, se as coisas que a esquerda quer
controlar — instituições e políticas governamentais — não são os fatores
definidores dos problemas do mundo, então qual função restaria à esquerda?
E se fatores
como a família, a cultura e as tradições exercerem mais influência positiva do
que as novas e iluminadas "soluções" governamentais que a esquerda
está constantemente inventando? E se a
busca pelas "raízes da criminalidade" não for nem minimamente tão
eficaz quanto retirar criminosos de circulação?
As estatísticas ao redor do mundo mostram que as taxas de homicídio
estavam em declínio durante as décadas em que vigoravam as velhas e
tradicionais práticas tão desdenhadas pela intelligentsia esquerdista. Já quando as novas e brilhantes ideias da
esquerda ganharam influência, no final da década de 1960, a criminalidade e
violência urbana dispararam.
O que houve
quando ideias antiquadas sobre sexo foram substituídas, ainda na década de
1960, pelas novas e brilhantes ideias da esquerda, as quais foram introduzidas
nas escolas sob a alcunha de "educação sexual" e que supostamente
deveriam reduzir a gravidez na adolescência e as doenças sexualmente transmissíveis? Tanto a gravidez na adolescência quanto as
doenças sexualmente transmissíveis vinham caindo havia anos. No entanto, esta tendência foi subitamente
revertida na década de 1960 e atingiu recordes históricos.
Desarmamento
Uma das mais
antigas e mais dogmáticas cruzadas da esquerda é aquela em prol do
desarmamento. Aqui, novamente, o enfoque
está nas questões externas — no caso, nas armas.
Se as armas
de fato fossem o problema, então leis de controle de armas poderia ser a
resposta. Mas se o verdadeiro problema
são aquelas pessoas malvadas que não se importam com a vida de outras pessoas —
e nem muito menos para as leis —, então o desarmamento, na prática, fará apenas
com que pessoas decentes e cumpridoras da lei se tornem ainda mais vulneráveis
perante pessoas perversas.
Dado que a
crença no desarmamento sempre foi uma grande característica da esquerda desde o
século XVIII, em todos os países ao redor do mundo, seria de se imaginar que, a
esta altura, já haveria incontáveis evidências dando sustentação a esta
crença. No entanto, evidências de que o
desarmamento de fato reduz as taxas de criminalidade em geral, ou as taxas de
homicídio em particular, raramente são mencionadas por defensores do controle de
armas. Simplesmente se pressupõe, de
passagem, que é óbvio que leis mais rigorosas de controle de armas irão reduzir
os homicídios e a criminalidade.
No entanto,
a crua realidade não dá sustento a esta pressuposição. É por isso que são os críticos do
desarmamento que se baseiam em evidências empíricas, todas elas magnificamente
coletadas nos livros "More Guns, Less Crime", de John Lott, e
"Guns and Violence", de Joyce Lee Malcolm. [Veja nossos artigos sobre
desarmamento]. Mas que importância têm
os fatos perante a visão inebriante e emotiva da esquerda?
Pobres
A esquerda
sempre se arrogou a função de protetora dos "pobres". Esta é uma de suas principais reivindicações
morais para adquirir poder político.
Porém, qual a real veracidade desta alegação?
É verdade
que líderes de esquerda em vários países adotaram políticas assistencialistas
que permitem aos pobres viverem mais confortavelmente em sua pobreza. Mas isso nos leva a uma questão fundamental:
quem realmente são "os pobres"?
Se você se
baseia em uma definição de pobreza inventada por burocratas, como aquela que
inclui um número de indivíduos ou de famílias abaixo de algum nível de renda
arbitrariamente estipulado pelo governo, então realmente é fácil conseguir
estatísticas sobre "os pobres".
Elas são rotineiramente divulgadas pela mídia e gostosamente adotadas
por políticos. Mas será que tais
estatísticas têm muita relação com a realidade?
Houve um
tempo em que "pobreza" tinha um significado concreto — uma quantidade
insuficiente de comida para se mantiver vivo, ou roupas e abrigos incapazes de
proteger um indivíduo dos elementos da natureza. Hoje, "pobreza" significa qualquer
coisa que os burocratas do governo, que inventam os critérios estatísticos,
queiram que signifique. E eles têm todos
os incentivos para definir pobreza de uma maneira que abranja um número
suficientemente alto de pessoas, pois isso justifica mais gastos
assistencialistas e, consequentemente, mais votos e mais poder político.
Em vários
países do mundo, não são poucas as pessoas que são consideradas pobres, mas
que, além de terem acesso a vários bens de consumo que outrora seriam
considerados luxuosos — como televisão, computador e carro —, são também muito
bem alimentadas (em alguns casos, até mesmo apresentam sobrepeso). No entanto, uma definição arbitrária de
palavras e números concede a essas pessoas livre acesso ao dinheiro dos
pagadores de impostos.
Esse tipo de
"pobreza" pode facilmente vir a se tornar um modo de vida, não apenas
para os "pobres" de hoje, mas também para seus filhos e netos.
Mesmo quando
esses indivíduos classificados como "pobres" têm o potencial de se
tornar membros produtivos da sociedade, a simples ameaça de perder os
benefícios assistencialistas caso consigam um emprego funciona como uma espécie
de "imposto implícito" sobre sua renda futura, imposto este que, em
termos relativos, seria maior do que o imposto explícito que incide sobre o
aumento da renda de um milionário.
Em suma, as
políticas assistencialistas defendidas pela esquerda tornam a pobreza mais
confortável ao mesmo tempo em que penalizam tentativas de se sair da
pobreza. Exceto para aqueles que
acreditam que algumas pessoas nascem predestinadas a serem pobres para sempre,
o fato é que a agenda da esquerda é um desserviço para os mais pobres, bem como
para toda a sociedade. Ao contrário do
que outros dizem, a enorme quantia de dinheiro desperdiçada no aparato
burocrático necessário para gerenciar todas as políticas sociais não é nem de
longe o pior problema dessa questão.
Se o
objetivo é retirar pessoas da pobreza, há vários exemplos encorajadores de
indivíduos e de grupos que lograram este feito, e nos mais diferentes países do
mundo.
Milhões de
"chineses expatriados" emigraram da China completamente destituídos e
quase sempre iletrados. E isso ocorreu
ao longo dos séculos. Independentemente
de para onde tenham ido — se para outros países do Sudeste Asiático ou para os
EUA —, eles sempre começaram lá embaixo, aceitando empregos duros, sujos e
frequentemente perigosos.
Mesmo sendo
frequentemente mal pagos, estes chineses expatriados sempre trabalhavam duros e
poupavam o pouco que recebiam. Era uma
questão cultural. Vários deles
conseguiram, com sua poupança, abrir pequenos empreendimentos comerciais. Por trabalharem longas horas e viverem
frugalmente, eles foram capazes de transformar pequenos negócios em
empreendimentos maiores e mais prósperos.
Eles se esforçaram para dar a seus filhos a educação que eles próprios
não conseguiram obter.
Já em 1994,
os 57 milhões de chineses expatriados haviam criado praticamente a mesma
riqueza que o bilhão de pessoas que viviam na China.
Variações
deste padrão social podem ser encontradas nas histórias de judeus, armênios,
libaneses e outros emigrantes que se estabeleceram em vários países ao redor do
mundo — inicialmente pobres, foram crescendo ao longo de gerações até atingirem
a prosperidade. Raramente recorreram ao
governo, e quase sempre evitaram a política ao longo de sua ascensão social.
Tais grupos
se concentraram em desenvolver aquilo que economistas chamam de "capital
humano" — seus talentos, habilidades, aptidões e disciplina. Seus êxitos frequentemente ocorreram em
decorrência daquela palavra que a esquerda raramente utiliza em seus círculos
refinados: "trabalho".
Em
praticamente todos os grupos sociais e étnicos, existem indivíduos que seguem
padrões similares para ascenderem da pobreza à prosperidade. Mas o número desses indivíduos em cada grupo
faz uma grande diferença para a prosperidade ou a pobreza destes grupos como um
todo.
A agenda da
esquerda — promover a inveja e o ressentimento ao mesmo tempo em que vocifera
exigindo ter "direitos" sobre o que outras pessoas produziram — é um
padrão que tem se difundido em vários países ao redor do mundo.
Esta agenda
raramente teve êxito em retirar os pobres da pobreza. O que ela de fato logrou foi elevar a
esquerda a cargos de poder e a posições de autoexaltação — ao mesmo tempo em
que promovem políticas com resultados socialmente contraproducentes.
A arrogância
É difícil
encontrar um esquerdista que ainda não tenha inventado uma nova
"solução" para os "problemas" da sociedade. Com frequência, tem-se a impressão de que
existem mais soluções do que problemas.
A realidade, no entanto, é que vários dos problemas de hoje são
resultado das soluções de ontem.
No cerne da
visão de mundo da esquerda jaz a tácita presunção de que pessoas imbuídas de
elevados ideais e princípios morais — como os esquerdistas — sabem como tomar
decisões para outras pessoas de forma melhor e mais eficaz do que estas
próprias pessoas.
Esta
presunção arbitrária e infundada pode ser encontrada em praticamente todas as
políticas e regulamentações criadas ao longo dos anos, desde renovação urbana
até serviços de saúde. Pessoas que nunca
gerenciaram nem sequer uma pequena farmácia — muito menos um hospital — saem
por aí jubilosamente prescrevendo regras sobre como deve funcionar o sistema de
saúde, impondo arbitrariamente seus caprichos e especificidades a médicos,
hospitais, empresas farmacêuticas e planos de saúde.
Uma das
várias cruzadas internacionais empreendidas por intrometidos de esquerda é a
tentativa de limitar as horas de trabalho de pessoas de outros países —
especialmente países pobres — em empresas operadas por corporações
multinacionais. Um grupo de
monitoramento internacional se auto atribuiu a tarefa de garantir que as
pessoas na China não trabalhem mais do que as legalmente determinadas 49 horas
por semana.
Por que
grupos de monitoramento internacional, liderados por americanos e europeus
abastados, imaginam ser capazes de saber o que é melhor para pessoas que são
muito mais pobres do que eles, e que possuem muito menos opções, é um daqueles
insondáveis mistérios que permeiam a intelligentsia.
Na condição
de alguém que saiu de casa aos 17 anos de idade, sem ter se formado no colégio,
sem experiência no mercado de trabalho, e sem habilidades específicas, passei
vários anos de minha vida aprendendo da maneira mais difícil o que realmente é
a pobreza. Um dos momentos mais felizes
durante aqueles anos ocorreu durante um breve período em que trabalhei 60 horas
por semana — 40 horas entregando telegramas durante o dia e 20 horas
trabalhando meio período em uma oficina de usinagem à noite.
Por que eu
estava feliz? Porque antes de encontrar
estes dois empregos eu havia gasto semanas procurando desesperadamente qualquer
emprego. Minha escassa poupança já havia
evaporado e chegado literalmente ao meu último dólar quando finalmente
encontrei o emprego de meio período à noite em uma oficina de usinagem.
Passei
vários dias tendo de caminhar vários quilômetros da pensão em que morava no
Harlem até a oficina de usinagem, que ficava imediatamente abaixo da Ponte do
Brooklyn, e tudo para poupar este último dólar para poder comprar pão até
finalmente chegar o dia de receber meu primeiro salário.
Quando então
encontrei um emprego de período integral — entregar telegramas durante o dia —,
o salário somado dos dois empregos era mais do que tudo que eu já havia ganhado
antes. Foi só então que pude pagar a
pensão, comer e utilizar o metrô para ir ao trabalho e voltar.
Além de tudo
isso, ainda conseguia poupar um pouco para eventuais momentos difíceis. Ter me tornado capaz de fazer isso era, para
mim, o mais próximo do nirvana a que já havia chegado. Para a minha sorte, naquela época não havia
nenhum intrometido de esquerda querendo me impedir de trabalhar mais horas do
que eu gostaria.
Havia um
salário mínimo, mas, como o valor deste havia sido estipulado em 1938, e
estávamos em 1949, seu valor já havia se tornado insignificante em decorrência
da inflação. Por causa desta ausência de
um salário mínimo efetivo, o desemprego entre adolescentes negros no ano de
1949, que foi um ano de recessão, era apenas uma fração do que viria a ser até
mesmo durante os anos mais prósperos desde a década de 1960 até hoje.
À medida que
os moralmente ungidos passaram a elevar o salário mínimo, a partir da década de
1950, o desemprego entre os adolescentes negros disparou. Hoje, já estamos tão acostumados a taxas
tragicamente altas de desemprego neste grupo, que várias pessoas não fazem a
mais mínima ideia de que as coisas nem sempre foram assim — e muito menos que
foram as políticas da esquerda intrometida que geraram tais consequências
catastróficas.
Não sei o
que teria sido de mim caso tais políticas já estivessem em efeito em 1949 e houvesse
me impedido de encontrar um emprego antes de meu último dólar ser gasto.
Minha
experiência pessoal é apenas um pequeno exemplo do que ocorre quando suas
opções são bastante limitadas. Os
prósperos intrometidos da esquerda estão constantemente promovendo políticas —
como encargos sociais e trabalhistas — que reduzem ainda mais as poucas opções
existentes para os pobres. Quando não
reduzem empregos, tais políticas afetam sobremaneira seus salários.
Parece que simplesmente
não ocorre aos intrometidos que as corporações multinacionais estão expandindo
as opções para os pobres dos países do terceiro mundo, ao passo que as
políticas defendidas pela esquerda estão reduzindo suas opções.
Os salários
pagos pelas multinacionais nos países pobres normalmente são muito mais altos
do que os salários pagos pelos empregadores locais. Ademais, a experiência que os empregados
ganham ao trabalhar em empresas modernas transforma-os em mão-de-obra mais
valiosa, e fez com que na China, por exemplo, os salários passassem a subir a
porcentagens de dois dígitos anualmente.
Nada é mais
fácil para pessoas diplomadas do que imaginar que elas sabem mais do que os
pobres sobre o que é melhor para eles próprios.
Porém, como alguém certa vez disse, "um tolo pode vestir seu casaco
com mais facilidade do que se pedisse a ajuda de um homem sábio para fazer isso
por ele".
Autor
Thomas
Sowell
, um dos
mais influentes economistas americanos, é membro sênior da Hoover Institution
da Universidade de Stanford. Seu
website: www.tsowell.com.
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