Geraldo Leony Machado |
CANGAÇOLOGIA
- sobre a matéria chegou-me “LAMPIÃO NA BAHIA”, de Oleone Coelho
Fontes, conhecido de longas datas, que, num estilo incisivo, escreve e
analisa os fatos do cangaço nos sertões deste Estado e de outras
paragens. Ponto e Vírgula Publicações, 2019, 11ª edição, 425 páginas.
Trabalho de fôlego, sério, fruto de anos de pesquisas, próprio de quem
se preocupa em buscar a verdade e leva-la a público em favor da
historicidade.
Oleone, contrariando sua simpatia inicial pelo Rei
do Cangaço, ao estudar Lampião, desnuda-o da imagem – desejada por
alguns - de justiceiro, de resistente ao sistema. É bandido cruel,
sanguinário, farsante, mas o diz também – com razão - inteligente,
estrategista nato, e mais outras qualidades que registra em seu livro .
Seu editor, Sergio Sinnotti, assinala: “Defende Oleone uma trinca de
teses neste ensaio: Lampião veio dar com os costados na Bahia em
decorrência do frustrado assalto a Mossoró (RN), em junho, 1927; sua
opção pela Bahia assegurou-lhe dez anos de vida; e foi o presumido
“capitão” Virgulino quem na Bahia introduziu o cangaço organizado.”
Importante para mim, nascido e crescido em Salvador, sem o privilégio
daqueles que são filhos das longínquas e recônditas terras do interior
sertanejo, foi enxergar Lampião, conforme minha mulher, sertaneja de
Itiúba, o define e que converge para a afirmação de Oleone ao
desenroupar Virgulino Ferreira da Silva. Tinha-lhe certa simpatia.
Na síntese que possibilitam as orelhas da publicação, ”Fica patente, no
livro, a convicção do autor quanto ao banditismo de Lampião e seus
asseclas, contrariando a tendência de certos grupos de ver com
complacência a vida criminosa de Lampião e seus cangaceiros, chegando-se
mesmo a lhes atribuir certa aura de “heroísmo” guerrilheiro”.
Inegável, entretanto, na minha visão, é o sentido heroico da vida
daquele que se intitulou “governador do sertão”, ostentando a patente de
“capitão”. Lutar contra o estado durante 20 anos, com forças materiais
mínimas, em fuga constante, com prática de guerrilha moderna, se encaixa
na definição de herói dos dicionários: “... aquele que se distingue
pela bravura e valentia, especialmente em situações de conflito ou
guerra. ... Que enfrenta o perigo sem medo, com coragem e destemor...”.
Controvérsias à parte, Lampião era homem de coragem e ousadia,
afirmaram os seus comandados.
Oleone Coelho Fontes, às páginas
166/168 de “Lampião na Bahia” narra fato que conhecia e não tinha
comprovação, contado pela avó de meu genro, Odete Sampaio aos 92 anos
de lucidez e alegria diante da vida, transformado em objeto de narrativa
ficcional que assinei: O Malogro de Lampião. Superam-se, pois, no meu
entender, possíveis dúvidas, mesmo as do autor, se existirem.
Odete, criança, filha de Arnaldo Sampaio vivera o episódio de Lampião em sua casa, em Queimadas.
“Lampião na Bahia” oferece análise e múltiplos fatos, até a morte em
Angico, Sergipe, julho, 1938, do facínora maior dos sertões, facetas de
cangaceiros, de políticos, de coiteiros e de pessoas sem ligações
diretas com o cangaço. É obra para ser lida, com mente fria e coração
quente, insere-se na História do Nordeste Brasileiro e do seu valoroso e
digno povo.
Geraldo Leony Machado
SSA, 14.08.2020
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