O legado desconhecido das Reformadoras do século XVI
Por Lidice Ribeiro

O
descontentamento de Lutero encontrou eco em humanistas, religiosos e
governantes de seu tempo. Ficaram registrados na história da Reforma
nomes como de Lutero, Calvino, Melanchton e Jonh Huss enquanto que
Katharina von Bora, Caritas Pirckheimer, Argula Stauff von Grumbach,
Elisabeth von Calenberg e Elisabeth Schütz Zell dentre outras foram
praticamente esquecidas. Apesar disto podemos afirmar que a Reforma não
teria sido possível sem a atuação das mulheres.
O livro
de Lutero “Da Liberdade Cristã” trouxe a base necessária para que homens
e mulheres exercessem o sacerdócio geral dos crentes. Mulheres
religiosas e leigas passaram a se envolver diretamente com as questões
políticas e teológicas de seu tempo. Elisabeth von Calenberg-Göttingen,
duquesa de Braunschweig-Lüneburg introduziu o protestantismo na Baixa
Saxônia, além de ter escrito livros de teologia e composto hinos. Amiga
pessoal de Lutero, que lhe presenteou com uma Bíblia com dedicatória
pessoal, e de Melanchton, que escreveu: “Elisabeth governou esta igreja
com um coração materno, suave e doce, alimentada e nutrida pelo
evangelho.”
A imprensa recém inventada permitiu a
divulgação das ideias reformadas através dos livros e cartas
panfletárias que eram lidas nos mercados e púlpitos das igrejas. Quando
em 1522 foi proibida a divulgação de qualquer texto de Lutero em toda a
Baviera, Argula Stauff von Grumbach não se deixou intimidar e publicou
sua primeira carta panfletária. O texto foi rapidamente reproduzido em
muitas outras cidades e reinos. Argula publicou mais oito cartas,
correspondeu-se com Melanchton e com Lutero que a chamou de “um
instrumento especial de Cristo”.
Katharina Schütz Zell
era casada com um pastor, ex-padre. Seu marido a tratava como pastora
assistente e por várias vezes pregou em público. Considerada mãe da
igreja, hospedou frequentemente os reformadores, deu aconselhamento
pastoral às esposas dos reformadores, escreveu textos teológicos e
hinos, e lutou por uma relação de igualdade entre homens e mulheres.
Apesar
de muitas mulheres terem atuado na composição musical, Elisabeth von
Meseriz Cruciger é considerada a primeira compositora do protestantismo,
tendo um de seus hinos sido incluído por Lutero no hinário protestante
em Wittenberg.
Dois casos de ex-freiras convertidas
mostram a liberdade alcançada pelas mulheres após a Reforma. Embora
Lutero se opusesse a continuidade dos mosteiros e conventos, Caritas
Pirckheimer o convenceu de que algumas freiras não almejavam o casamento
e sentiam-se bem na vida monástica. Assim, instituiu-se a primeiro
convento protestante sob a liderança da abadessa Caritas. Por outro
lado, outras ex-freiras optaram por casar-se e constituir família. Entre
elas estava Katharina von Bora que audaciosamente propôs casar-se com
Lutero, tornando-se sua parceira e companheira nas discussões teológicas
com estudantes e reformadores, e a quem se referia como: doutora,
pregadora de Wittenberg, a luterana, entre muitos outros termos
carinhosos.
Estas mulheres são apenas uma tênue imagem da
atuação e importância das mulheres no movimento da Reforma. Uma
história que nos dias de hoje se reveste de mais relevância dado os
debates atuais e acalorados sobre o papel da mulher na igreja
protestante. Talvez ainda tenhamos muito que aprender sobre nossa
própria história.
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