Quando os filmes de heróis vão saturar?
Quando o assunto é arte, uma coisa é certa: em algum momento
essa e aquela tendência vão saturar, esgotar. Isso ocorre na literatura,
pintura, arquitetura e também com o cinema. Determinada corrente, escola ou movimento
passa a não responder mais aos anseios daquele tempo, passando então à
substituição, incorporação, absorção ou até ostracismo.
Fazer arte é imitar a vida e gerar valores a serem imitados,
tudo em movimento, como a vida assim o é, e esse movimento vital sofre
variações aqui, preservações ali e rupturas. As técnicas cansam os artistas e o
público.
Sempre há alguns durões na queda que permanecem, por
vocação, gosto pessoal, ou seja lá por quais motivos. Não precisa procurar
muito para achar quem ainda pinte com técnica impressionista ou até
classicista.
Tudo se esgota, mas não acaba por completo, podendo então
voltar à “moda” em algum momento. Alguns especulam sobre a saturação dos filmes
de heróis, ou os chamados super-heróis. Martin Scorsese já cravou tal
saturação, mas um comentário recente e interessante foi o de Shawn Levy,
diretor de Deadpool e Wolverine, que afirmou não haver a saturação dos heróis,
mas da temática do multiverso. Acontece que multiverso não é apenas temática,
mas uma técnica de se fazer e vender tais obras, um formato, modelo de negócio.
Como dito: as técnicas esgotam, sejam na arte ou no mercado.
Mas as temáticas de primeira monta não esgotam. O heroísmo é uma das temáticas
mais antigas da humanidade, desde Homero, Hesíodo, Virgílio, Prudêncio, Camões,
Cervantes, Milton. Sempre será. Bem como histórias de amor, amizade, traição,
vingança e superação. Histórias de heróis durarão enquanto o cinema durar.
Quanto aos super-heróis, já pertencem a temáticas menores, mais voltadas à
fantasia, que também são tão antigas quanto o mundo.
O que quero dizer é: mesmo os super-heróis não sumirão, mas
isso não quer dizer que o estilo deles não mudará, talvez deixarão de usar
capas ou armaduras, mas terão super poderes, mágicos, cósmicos, e farão grandes
feitos.
Em suma, as técnicas de fazer filmes de super-heróis
cansarão os artistas e até grande parte do público em algum momento. Alguns
permanecerão firmes a produzir tais obras de modo mais independente e distante
do público mais amplo e, por consequência, alguns consumirão tais obras.
Vez ou outra o gênero (sim, também é um gênero), assim como
o é agora, voltará à tona, renovado, talvez, com nova linguagem, com o espírito
de novos tempos. Mas os heróis, enquanto tema, estarão sempre por aí, fazendo
suas “heroices”.
Anderson C. Sandes
Poeta, cronista, ensaísta. Articulista no PHVox. Vivo de
poesia pra não morrer de razão. Reflexões sobre arte e literatura. Autor de
Baseado em Fardos Reais, de Arte & Guerra Cultural: preparação para tempos
de crise, e organizador da antologia Quando Tudo Transborda.
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