terça-feira, 9 de dezembro de 2025

POETAS BRASILEIROS

 

Poetas brasileiros fundamentais:

O universo da poesia brasileira é extremamente rico e multifacetado, atravessando vários séculos e correntes de escrita com contextos e características muito diferentes.

 

Entre a infinitude de autores nacionais que produziram versos, selecionamos 25 poetas famosos e icônicos, que continuam sendo lidos e amados tanto no Brasil como no exterior.

 

1. Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987)

 

Carlos Drummond de Andrade é considerado um dos mais importantes e influentes poetas de toda a literatura brasileira. Integrante da segunda geração do modernismo nacional, ele se tornou um dos autores mais inesquecíveis do movimento.

 

Capaz de colocar nos seus versos alguns sentimentos intemporais como o amor e a solidão, o autor mineiro trouxe reflexões profundas sobre a realidade brasileira, as estruturas sociopolíticas e as relações humanas.

 

Uma das características mais marcantes da sua poesia é o modo como ela é atravessada por elementos da vida cotidiana. Por exemplo: a agitação urbana, o trabalho árduo, a rotina e até o próprio uso da linguagem.

 

No meio do caminho

 

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

 

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

 

Confira também a nossa análise dos melhores poemas Carlos Drummond de Andrade.

 

2. Cora Coralina (1889 – 1985)

 

Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, a autora que ficou mais conhecida pelo pseudônimo literário Cora Coralina, é considerada um nome essencial da literatura goiana.

 

Embora tenha começado a escrever durante a juventude, Coralina só lançou o seu primeiro livro depois dos 70 anos, quando ficou viúva, já que o marido não permitia.

 

Lida e apreciada por escritores de renome como Drummond, a autora não seguiu os preceitos de nenhum movimento cultural ou artístico. Pelo contrário, sua escrita cristalina era pautada pela liberdade formal e alicerçada nas suas experiências de vida.

 

Os seus versos narram sentimentos e episódios da vida no interior, prestando especial atenção à cidade de Goiás e representando um verdadeiro tributo ao local.

 

Meu Destino

 

Nas palmas de tuas mãos

leio as linhas da minha vida.

Linhas cruzadas, sinuosas,

interferindo no teu destino.

Não te procurei, não me procurastes –

íamos sozinhos por estradas diferentes.

Indiferentes, cruzamos

Passavas com o fardo da vida…

Corri ao teu encontro.

Sorri. Falamos.

Esse dia foi marcado

com a pedra branca

da cabeça de um peixe.

E, desde então, caminhamos

juntos pela vida…

 

Confira também a nossa análise dos melhores poemas de Cora Coralina.

 

3. Vinicius de Moraes (1913 – 1980)

 

Mais conhecido como “poetinha”, Vinicius de Moraes foi um escritor, cantor e compositor insuperável na cultura brasileira.

 

Uma das mais importantes vozes da sua geração, o mestre da Bossa Nova continua sendo amado pelo público, sobretudo graças ao seu trabalho poético.

 

Com um olhar atento ao mundo ao redor, os seus versos abordavam temáticas políticas e sociais, mas também falavam de emoções e relacionamentos.

 

Um verdadeiro apaixonado, o poeta se casou 9 vezes e escreveu inúmeros sonetos de amor que continuam arrebatando os corações de leitores de todas as idades.

 

Soneto de fidelidade

 

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

 

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento

 

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

 

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

 

Confira também a nossa análise dos melhores poemas de Vinicius de Moraes.

 

4. Adélia Prado (1935)

 

Adélia Prado é uma escritora, filósofa e professora mineira que integrou o movimento modernista brasileiro. A sua carreira literária começou aos 40 anos e recebeu um grande apoio de Drummond, que chegou a enviar os poemas dela para a Editora Imago.

 

A sua linguagem coloquial aproxima a autora dos leitores e os seus versos transmitem uma visão mágica acerca da vida cotidiana. Com um olhar de fé e encantamento perante o mundo, Prado é capaz de criar novos significados para os elementos mais comuns.

 

Uma das suas composições mais notáveis, “Com licença poética”, é uma espécie de resposta ao “Poema de Sete Faces” de Drummond. A composição transmite uma perspectiva feminina, pensando como é viver e escrever enquanto mulher brasileira.

 

Com licença poética

 

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos

— dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

 

Mulher é desdobrável. Eu sou.

 

Confira também a análise dos melhores poemas de Adélia Prado.

 

5. João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999)

 

João Cabral de Melo Neto foi um famoso poeta e diplomata nascido no Recife que continua sendo apontado como um dos maiores escritores da língua portuguesa.

 

A sua poesia fugia de sentimentalismos ou tons confessionais; pelo contrário, o fazer poético de Cabral de Melo Neto era encarado como uma construção.

 

Parte da terceira geração do modernismo brasileiro, o poeta é lembrado pelo rigor estético das suas composições, sempre ancoradas em imagens concretas (a pedra, a faca, etc).

 

Escrevendo sobre as suas viagens e os lugares que conheceu, o autor também manteve um olhar atento e engajado sobre a realidade brasileira, em obras como Morte e Vida Severina (1955).

 

Catar feijão

 

1.

 

Catar feijão se limita com escrever:

Jogam-se os grãos na água do alguidar

E as palavras na folha de papel;

e depois, joga-se fora o que boiar.

Certo, toda palavra boiará no papel,

água congelada, por chumbo seu verbo;

pois catar esse feijão, soprar nele,

e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

 

2.

 

Ora, nesse catar feijão entra um risco,

o de que, entre os grãos pesados, entre

um grão imastigável, de quebrar dente.

Certo não, quando ao catar palavras:

a pedra dá à frase seu grão mais vivo:

obstrui a leitura fluviante, flutual,

açula a atenção, isca-a com risco.

 

Confira também a nossa análise dos melhores poemas de João Cabral de Melo Neto.

 

6. Cecília Meireles (1901 – 1964)

 

Cecília Meireles foi uma escritora, professora e jornalista carioca que continua sendo considerada uma das mais importantes poetas da nossa literatura.

 

Com ligações ao movimento modernista, Meireles fez história com a sua escrita singular, sendo muitas vezes lembrada pelas obras infantis de enorme sucesso.

 

Já a poesia intimista da autora, caracterizada pelo neossimbolismo, versava sobre temas incontornáveis como a vida, o isolamento do indivíduo e a passagem inevitável do tempo.

 

Assim, as suas composições, além de refletirem sobre a identidade, são atravessadas por sentimentos como a solidão e a perda, e continuam emocionando os leitores nacionais.

 

Lua adversa

 

Tenho fases, como a lua

Fases de andar escondida,

fases de vir para a rua…

Perdição da minha vida!

Perdição da vida minha!

Tenho fases de ser tua,

tenho outras de ser sozinha.

 

Fases que vão e que vêm,

no secreto calendário

que um astrólogo arbitrário

inventou para meu uso.

 

E roda a melancolia

seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém

(tenho fases, como a lua…)

No dia de alguém ser meu

não é dia de eu ser sua…

E, quando chega esse dia,

o outro desapareceu…

 

Confira também a nossa análise dos melhores poemas de Cecília Meireles.

 

7. Manoel de Barros (1916 – 2014)

 

Manoel de Barros foi um notório poeta pós-modernista brasileiro, nascido no Mato Grosso do Sul. Profundamente ligado aos elementos naturais, Manoel é lembrado como o poeta das coisas miúdas.

 

A linguagem dos seus versos se aproxima da oralidade e integra as expressões e a sintaxe da fala rural, inventando também novas palavras.

 

O autor é considerado um dos maiores escritores da literatura contemporânea nacional, eternizado pela sua sensibilidade à beleza e aos detalhes cotidianos da vida natural.

 

Outra característica fundamental da sua poesia é a sua forte ligação com os sentidos: a visão, o olfato, o paladar, etc.

 

Biografia do orvalho

 

A maior riqueza do homem é a sua incompletude.

Nesse ponto sou abastado.

Palavras que me aceitam como sou — eu não

aceito.

Não aguento ser apenas um sujeito que abre

portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que

compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora,

que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.

Perdoai.

Mas eu preciso ser Outros.

Eu penso renovar o homem usando borboletas.

 

Confira também a nossa seleção dos melhores poemas de Manoel de Barros.

 

8. Manuel Bandeira (1886 – 1968)

 

Manuel Bandeira foi um poeta, tradutor, professor e crítico nascido no Recife que integrou a primeira geração do modernismo brasileiro.

 

A leitura da sua composição “Os Sapos”, durante a Semana da Arte Moderna de 22, é apontada como um dos primeiros passos do movimento que veio libertar a poesia de várias restrições.

 

Com raízes na tradição parnasiana, a sua poesia é marcada pelo lirismo e também pela angústia e efemeridade da vida. O poeta, que enfrentava graves problemas de saúde, imprimiu na sua poesia relatos de doença e reflexões sobre a morte.

 

Por outro lado, precisamos louvar o lado humorístico do autor que também ficou conhecido pelos seus poemas-piada, uma forma de composição curta e de teor cômico que surgiu entre os modernistas.

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

 

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcaloide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

 

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

 

Confira a nossa análise dos melhores poemas de Manuel Bandeira.

 

9. Hilda Hilst (1930 – 2004)

 

Hilda Hilst, nascida no estado de São Paulo, é considerada uma das maiores e mais memoráveis escritoras da literatura nacional.

 

Autora de obras de teatro e ficção, Hilst costuma ser lembrada principalmente pela sua poesia. As composições, na época, eram encaradas como polêmicas e provocavam controvérsia, principalmente com os críticos.

 

Conhecida pelos seus versos de amor, a sua poesia também abordava temas como o desejo e a sensualidade feminina, assim como questões filosóficas e metafísicas.

 

Dez chamamentos ao amigo

 

Se te pareço noturna e imperfeita

Olha-me de novo. Porque esta noite

Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.

E era como se a água

Desejasse

 

Escapar de sua casa que é o rio

E deslizando apenas, nem tocar a margem.

 

Te olhei. E há tanto tempo

Entendo que sou terra. Há tanto tempo

Espero

Que o teu corpo de água mais fraterno

Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

 

Olha-me de novo. Com menos altivez.

E mais atento.

 

Confira a nossa análise dos melhores poemas de Hilda Hilst.

 

10. Machado de Assis (1839 –1908)

 

Machado de Assis continua sendo, indubitavelmente, um dos nomes mais notórios da literatura nacional.

 

Embora também demonstrasse traços do romantismo na sua criação literária, ele foi considerado o primeiro escritor do realismo nacional. O carioca é conhecido principalmente pelo seu trabalho como contista e romancista, mas escreveu obras de vários gêneros, incluindo poesia.

 

Embora em menor quantidade, o autor escreveu versos de tom confessional onde abordava temas como o amor, os relacionamentos e até a morte da sua esposa, Carolina.

 

Livros e flores

 

Teus olhos são meus livros.

Que livro há aí melhor,

Em que melhor se leia

A página do amor?

Flores me são teus lábios.

Onde há mais bela flor,

Em que melhor se beba

O bálsamo do amor?

 

Confira também a biografia e as maiores obras de Machado de Assis.

 

11. Ferreira Gullar (1930 – 2016)

 

José Ribamar Ferreira, mais conhecido pelo pseudônimo literário Ferreira Gullar, foi um autor, crítico e tradutor brasileiro de relevo, nascido em São Luís, Maranhão.

 

O poeta foi um dos nomes pioneiros do neoconcretismo, um movimento carioca que combatia uma certa atitude positivista perante a criação artística.

 

Um escritor engajado, que chegou a ser militante do Partido Comunista, Gullar foi preso e esteve exilado durante a ditadura.

 

A sua poesia social é um reflexo desse percurso, traçando um retrato político e histórico do Brasil no qual o autor vivia, escrevia e resistia.

 

Meu povo, meu poema

 

Meu povo e meu poema crescem juntos

como cresce no fruto

a árvore nova

 

No povo meu poema vai nascendo

como no canavial

nasce verde o açúcar

 

No povo meu poema está maduro

como o sol

na garganta do futuro

 

Meu povo em meu poema

se reflete

como a espiga se funde em terra fértil

 

Ao povo seu poema aqui devolvo

menos como quem canta

do que planta

 

Confira a nossa análise dos melhores poemas de Ferreira Gullar.

 

12. Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977)

 

Carolina Maria de Jesus foi uma célebre escritora brasileira que nasceu em Sacramento, Minas Gerais, mas viveu maioritariamente no norte de São Paulo.

 

A vida de Carolina foi marcada por dificuldades e privações: ela precisou deixar a escola no segundo ano e era mãe solteira, sustentando três filhos com o trabalho de catadora de lixo.

 

Moradora da comunidade do Canindé, a autora era apaixonada pela literatura e escrevia registros diarísticos sobre a sua realidade, que foram publicados na obra Quarto de despejo: diário de uma favelada.

 

Nos seus poemas, compostos numa linguagem simples, relata as violências e opressões que sofria, sendo uma mulher negra e pobre na década de 50.

 

Muitas fugiam ao me ver

Pensando que eu não percebia

Outras pediam pra ler

Os versos que eu escrevia

 

Era papel que eu catava

Para custear o meu viver

E no lixo eu encontrava livros para ler

Quantas coisas eu quiz fazer

Fui tolhida pelo preconceito

Se eu extinguir quero renascer

Num país que predomina o preto

 

Adeus! Adeus, eu vou morrer!

E deixo esses versos ao meu país

Se é que temos o direito de renascer

Quero um lugar, onde o preto é feliz.

 

Confira a biografia e as principais obras de Carolina Maria de Jesus.

 

13. Mario Quintana (1906 –1994)

 

Mario Quintana foi um jornalista e poeta brasileiro, nascido no Rio Grande do Sul. Conhecido como “o poeta das coisas simples”, Quintana produziu versos que pareciam dialogar com o leitor.

 

Através de uma linguagem límpida e acessível, o poeta refletia sobre temas diversos: o amor, a passagem do tempo, a vida e até mesmo o trabalho de criação literária.

 

Pela sabedoria dos seus versos e também pelas emoções intemporais que eles transmitem, Mario Quintana continua sendo um dos autores favoritos do público brasileiro.

 

Poeminho do Contra

 

Todos esses que aí estão

Atravancando meu caminho,

Eles passarão…

Eu passarinho!

 

Confira a nossa análise dos melhores poemas de Mario Quintana.

 

14. Ana Cristina Cesar (1952 – 1983)

 

Ana Cristina Cesar, também conhecida como Ana C., foi uma poeta, crítica literária e tradutora carioca que marcou profundamente a geração de 70.

 

Autora de poesia marginal, Ana C. foi um dos nomes mais famosos da geração mimeógrafo, uma corrente artística que surgiu na sequência da censura militar.

 

Com poemas focados na primeira pessoa, a autora reflete acerca de sentimentos e temáticas do cotidiano, não deixando também de pensar nas grandes questões existenciais.

 

Embora tenha falecido prematuramente, com apenas 31 anos, Ana Cristina Cesar se tornou uma das autoras mais icônicas da nossa literatura.

 

Contagem regressiva

 

Acreditei que se amasse de novo

esqueceria outros

pelo menos três ou quatro rostos que amei

Num delírio de arquivística

organizei a memória em alfabetos

como quem conta carneiros e amansa

no entanto flanco aberto não esqueço

e amo em ti os outros rostos.

 

15. Paulo Leminski (1944 – 1989)

 

Paulo Leminski foi um escritor, crítico, professor e músico brasileiro, nascido em Curitiba. A sua poesia, inconfundível e cheia de personalidade, continua ganhando novos leitores diariamente.

 

Os seus poemas habitualmente eram curtos, inspirados pela literatura japonesa, principalmente o formato de haiku ou haicai.

 

Encarado como um poeta vanguardista, Leminski escreveu versos atravessados por jogos de palavras, trocadilhos e expressões populares, usando uma linguagem coloquial e imagens do cotidiano.

 

Com a reedição da sua antologia poética em 2013, o poeta voltou a ser uma presença essencial nas estantes e nos corações dos brasileiros.

 

Incenso fosse música

 

isso de querer ser

exatamente aquilo

que a gente é

ainda vai

nos levar além

 

Confira a nossa análise dos melhores poemas de Paulo Leminski.

 

16. Alice Ruiz (1946)

 

Alice Ruiz é uma escritora, letrista e tradutora brasileira, nascida em Curitiba, tem as suas obras publicadas em diversos países.

 

A autora contemporânea foi casada com Leminski e, assim como ele, se inspirou na forma de poesia japonesa designada de haicai.

 

As suas composições curtas e até minimalistas trazem uma espécie de mágica para a vida comum, transmitindo mensagens bastante sensíveis e complexas através de imagens simples e concretas.

 

A gaveta da alegria

já está cheia

de ficar vazia

 

17. Gonçalves Dias (1823 – 1864)

 

Gonçalves Dias foi um poeta, advogado e teatrólogo brasileiro que pertenceu à primeira geração do romantismo nacional.

 

Durante a juventude, o autor se mudou para Portugal, com o objetivo de completar os seus estudos universitários. Esse período que passou afastado do Brasil serviu de inspiração para uma das suas composições mais célebres, a “Canção do Exílio”.

 

Um estudioso ávido da cultura dos povos indígenas, Gonçalves Dias também foi um dos criadores do indianismo, uma corrente literária que procurava narrar e homenagear as qualidades desses indivíduos.

 

Canção do Exílio

 

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

 

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

Em cismar – sozinho – à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras;

Onde canta o Sabiá.

 

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho – à noite –

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que eu desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Confira a análise completa do poema Canção do Exílio.

 

18. Castro Alves (1847 – 1871)

 

Antônio Frederico de Castro Alves foi um poeta brasileiro, nascido na Bahia, que integrou a terceira geração do romantismo nacional.

 

Uma importante peça da nossa história coletiva, o poeta foi um dos maiores nomes do condoreirismo, uma corrente literária profundamente marcada pelas pautas sociais.

 

Defensor de valores como a liberdade e a justiça, Castro Alves foi uma grande voz que se ergueu a favor do abolicionismo e contra a barbárie da escravidão.

 

Canção do africano

 

Lá na úmida senzala,

Sentado na estreita sala,

Junto ao braseiro, no chão,

Entoa o escravo o seu canto,

E ao cantar correm-lhe em pranto

Saudades do seu torrão …

 

De um lado, uma negra escrava

Os olhos no filho crava,

Que tem no colo a embalar…

E à meia voz lá responde

Ao canto, e o filhinho esconde,

Talvez pra não o escutar!

 

“Minha terra é lá bem longe,

Das bandas de onde o sol vem;

Esta terra é mais bonita,

Mas à outra eu quero bem!

 

Confira a nossa análise dos melhores poemas de Castro Alves.

 

19. Pagu (1910 – 1962)

 

Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, foi uma escritora, jornalista, artista visual e diretora de cinema nascida em São João da Boa Vista, São Paulo.

 

Integrante do modernismo, ela se uniu ao movimento antropofágico de Oswald de Andrade e era uma artista extremamente criativa e talentosa.

 

No entanto, Pagu é lembrada principalmente como uma mulher inspiradora e vanguardista, muito à frente do seu tempo, que defendia a luta feminista e fazia militância política durante a ditadura.

 

Um grande nome da resistência nacional, ela chegou a ser presa e torturada inúmeras vezes. A violência do que viu e viveu transparece nos seus poemas, atravessados por duras críticas sociais.

 

Natureza Morta

 

Os livros são dorsos de estantes distantes quebradas.

Estou dependurada na parede feita um quadro.

Ninguém me segurou pelos cabelos.

Puseram um prego em meu coração para que eu não me mova

Espetaram, hein? a ave na parede

Mas conservaram os meus olhos

É verdade que eles estão parados.

Como os meus dedos, na mesma frase.

As letras que eu poderia escrever

Espicharam-se em coágulos azuis.

Que monótono o mar!

 

Os meus pés não dão mais um passo.

O meu sangue chorando

As crianças gritando,

Os homens morrendo

O tempo andando

As luzes fulgindo,

As casas subindo,

O dinheiro circulando,

O dinheiro caindo.

Os namorados passando, passeando,

Os ventres estourando

O lixo aumentando,

Que monótono o mar!

 

Procurei acender de novo o cigarro.

Porque o poeta não morre?

Por que o coração engorda?

Por que as crianças crescem?

Por que este mar idiota não cobre o telhado das casas?

Por que existem telhados e avenidas?

Por que se escrevem cartas e existe o jornal?

Que monótono o mar!

 

Estou espichada na tela como um monte de frutas apodrecendo.

Si eu ainda tivesse unhas

Enterraria os meus dedos nesse espaço branco

Vertem os meus olhos uma fumaça salgada

Este mar, este mar não escorre por minhas faces.

Estou com tanto frio, e não tenho ninguém…

Nem a presença dos corvos.

 

20. Augusto dos Anjos (1884 – 1914)

 

Augusto dos Anjos foi um escritor e professor brasileiro, nascido na Paraíba, que marcou a nossa história com a originalidade dos seus versos.

 

Embora os seus escritos transpareçam as influências dos movimentos que vigoravam na época (parnasianismo e simbolismo), o poeta não integrou nenhuma escola literária e era incompreendido pelos seus contemporâneos.

 

Incluindo emoções disfóricas e questões profundas sobre filosofia e ciência nos seus versos, Augusto dos Anjos misturava registros de linguagem eruditos e populares, algo inovador que era visto com desconfiança naquele tempo.

 

Psicologia de um vencido

 

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênese da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

 

Profundissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância…

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.

 

Já o verme — este operário das ruínas —

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

 

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há-de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!

 

Confira também os melhores poemas de Augusto dos Anjos.

 

21. Gregório de Matos (1636 – 1696)

 

Gregório de Matos foi um advogado e poeta baiano do período barroco, sendo considerado um dos maiores autores do movimento.

 

Conhecido como “Boca do Inferno”, o escritor é lembrado sobretudo pela sua poesia satírica que não poupava ninguém. Pelo contrário, as críticas se estendiam às diversas classes sociais e chegavam a nomear figuras da vida política.

 

As suas composições também tinham uma forte carga erótica, algo que fez com que Gregório de Matos provocasse o choque e chegasse a ser denunciado à inquisição.

 

Um homem cheio de dualidades, como todos nós, o poeta também escreveu composições de caráter religioso, nas quais confessava os seus pecados e a culpa que o atormentava.

 

A Jesus Cristo Nosso Senhor

 

Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,

Da vossa alta clemência me despido;

Antes, quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

 

Se basta a vos irar tanto pecado,

A abrandar-vos sobeja um só gemido:

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

 

Se uma ovelha perdida já cobrada,

Glória tal e prazer tão repentino

Vos deu, como afirmais na Sacra História:

 

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,

Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

 

Confira a nossa análise da obra Poemas Escolhidos de Gregório de Matos.

 

22. Gilka Machado (1893 – 1980)

 

Um nome talvez menos conhecido do público em geral, Gilka Machado foi uma importante escritora carioca ligada ao simbolismo. Nas últimas décadas, o seu trabalho tem sido mais explorado e valorizado pelos pesquisadores da literatura nacional.

 

Gilka começou a escrever durante a adolescência e fez história no nosso panorama literário, tendo sido uma das primeiras mulheres brasileiras a produzir versos de teor erótico.

 

Numa época de grande repressão, principalmente para as pessoas do sexo feminino, o trabalho da poeta era visto como escandaloso ou até mesmo imoral.

 

Escrevendo sobre o amor e o desejo feminino, a autora pretendia trazer as mulheres para o centro dos debates sociais e políticos, tendo também militado pelo direito ao voto e ajudado a fundar o Partido Republicano Feminino.

 

Saudade

 

De quem é esta saudade

que meus silêncios invade,

que de tão longe me vem?

De quem é esta saudade,

de quem?

Aquelas mãos só carícias,

Aqueles olhos de apelo,

aqueles lábios-desejo…

E estes dedos engelhados,

e este olhar de vã procura,

e esta boca sem um beijo…

De quem é esta saudade

que sinto quando me vejo?

 

23. Olavo Bilac (1865 – 1918)

 

Considerado um dos maiores poetas do parnasianismo, Olavo Bilac foi um escritor e jornalista nascido no Rio de Janeiro.

 

Lembrado muitas vezes pelos seus sonetos de amor (mágico e idealizado), a produção literária de Bilac foi múltipla e cobriu diversas temáticas.

 

Por exemplo, o autor escreveu várias obras destinadas ao público infantil. Outra característica da sua poesia é o fato de abordar a vida política e social brasileira, apelando à participação cívica, enquanto defensor dos ideais republicanos.

 

Vale a pena referir que o poeta também foi o criador da letra do Hino à Bandeira do Brasil, no ano de 1906.

 

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto …

 

E conversamos toda a noite, enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

 

Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”

 

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

 

Confira a nossa análise dos melhores poemas de Olavo Bilac.

 

24. Ariano Suassuna (1927 – 2014)

 

Ariano Suassuna foi um escritor e jornalista, nascido na Paraíba, com uma produção riquíssima: escreveu poesia, teatro, romances e ensaios.

 

A sua poesia é muitas vezes considerada complexa e de difícil compreensão para os leitores que não conhecem a sua obra, algo que se pode atribuir às influências da literatura barroca.

 

Os seus versos combinavam a tradição popular brasileira com elementos da cultura erudita e prestava especial atenção à realidade nordestina, narrando aos leitores o cotidiano e as singularidades do local onde nasceu.

 

A infância

 

Sem lei nem Rei, me vi arremessado

bem menino a um Planalto pedregoso.

Cambaleando, cego, ao Sol do Acaso,

vi o mundo rugir. Tigre maldoso.

 

O cantar do Sertão, Rifle apontado,

vinha malhar seu Corpo furioso.

Era o Canto demente, sufocado,

rugido nos Caminhos sem repouso.

 

E veio o Sonho: e foi despedaçado!

E veio o Sangue: o marco iluminado,

a luta extraviada e a minha grei!

 

Tudo apontava o Sol! Fiquei embaixo,

na Cadeia que estive e em que me acho,

a Sonhar e a cantar, sem lei nem Rei!

 

Confira os melhores poemas de Ariano Suassuna.

 

25. Conceição Evaristo (1946)

 

Conceição Evaristo é uma escritora contemporânea brasileira nascida em Belo Horizonte. Também conhecida pelas suas obras de ficção e romance, a poesia da autora é carregada de resistência e representatividade.

 

Os seus versos se focam nas experiências femininas e na valorização da cultura e história negra. Militante antirracista, a poeta traz reflexões sociais sobre etnia, classe e gênero na sociedade brasileira atual.

 

Além de expôr várias experiências muitas vezes silenciadas, Evaristo pensa também nas origens e consequências das várias formas de exclusão, tornando-se uma leitura fundamental para todos nós.

 

Vozes-mulheres

 

A voz de minha bisavó

ecoou criança

nos porões do navio.

ecoou lamentos

de uma infância perdida.

A voz de minha avó

ecoou obediência

aos brancos-donos de tudo.

A voz de minha mãe

ecoou baixinho revolta

no fundo das cozinhas alheias

debaixo das trouxas

roupagens sujas dos brancos

pelo caminho empoeirado

rumo à favela.

A minha voz ainda

ecoa versos perplexos

com rimas de sangue

e

fome.

A voz de minha filha

recolhe todas as nossas vozes

recolhe em si

as vozes mudas caladas

engasgadas nas gargantas.

A voz de minha filha

recolhe em si

a fala e o ato.

O ontem – o hoje – o agora.

Na voz de minha filha

se fará ouvir a ressonância

o eco da vida-liberdade.

 

*Carolina Marcello é mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes e licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

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