Vigília
das Mães
Nossos
filhos viajam pelos caminhos da vida,
pelas
águas salgadas de muito longe,
pelas
florestas que escondem os dias,
pelo
céu, pelas cidades, por dentro do mundo escuro
de seus
próprios silêncios.
Nossos
filhos não mandam mensagens de onde se encontram.
Este
vento que passa pode dar-lhes a morte.
A vaga
pode levá-los para o reino do oceano.
Podem
estar caindo em pedaços, como estrelas.
Podem
estar sendo despedaçados em amor e lágrima.
Nossos
filhos têm outro idioma, outros olhos, outra alma.
Não
sabem ainda os caminhos de voltar, somente os de ir.
Eles
vão para seus horizontes, sem memória ou saudade,
não
querem prisão, atraso, adeuses:
deixam-se
apenas gostar, apressados e inquietos.
Nossos
filhos passaram por nós, mas não são nossos,
querem
ir sozinhos, e não sabemos por onde andam.
Não
sabemos quando morrem, quando riem,
são
pássaros sem residência nem família
à
superfície da vida.
Nós
estamos aqui, nesta vigília inexplicável,
esperando
o que não vem, o rosto que já não conhecemos.
Nossos
filhos estão onde não vemos nem sabemos.
Nós
somos as doloridas do mal que talvez não sofram,
mas
suas alegrias não chegam nunca à solidão de que vivemos,
seu
único presente, abundante e sem fim.
Cecília
Meireles
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