quarta-feira, 5 de junho de 2024

REFLEXÃO...02

 

Irmão, Irmãos

Cada irmão é diferente.

Sozinho acoplado a outros sozinhos.

A linguagem sobe escadas, do mais moço,

ao mais velho e seu castelo de importância.

A linguagem desce escadas, do mais velho

ao mísero caçula.

 

São seis ou são seiscentas

distâncias que se cruzam, se dilatam

no gesto, no calar, no pensamento?

Que léguas de um a outro irmão.

Entretanto, o campo aberto,

os mesmos copos,

 

o mesmo vinhático das camas iguais.

A casa é a mesma. Igual,

vista por olhos diferentes?

 

São estranhos próximos, atentos

à área de domínio, indevassáveis.

Guardar o seu segredo, sua alma,

seus objetos de toalete. Ninguém ouse

indevida cópia de outra vida.

 

Ser irmão é ser o quê? Uma presença

a decifrar mais tarde, com saudade?

Com saudade de quê? De uma pueril

vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre?

Carlos Drummond de Andrade  Boitempo I. Rio de Janeiro: Record, 2023.

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