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LITERATURA
PORTUGUESA
Sermão
da Sexagésima
Daniela
Diana Professora licenciada em Letras
O
Sermão da Sexagésima é um dos mais conhecidos “Sermões” do escritor e orador
barroco Padre Antônio Vieira.
A obra
foi escrita em prosa no ano de 1655 e sua temática está pautada na
religiosidade. O Sermão da Sexagésima foi proferido na Capela Real de Lisboa,
em 1655.
Resumo
da Obra
De
temática religiosa, o Sermão da Sexagésima é uma prosa sacra que tem o intuito
de convencer as pessoas a se converterem à religião católica.
Dessa
forma, Vieira utiliza diversas passagens da Bíblia para escrever os sermões.
Menciona temas como Deus, os homens, o pregador e o evangelho.
Assim,
ele tenta mostrar que a culpa é do pregador e da veracidade de sua doutrina.
Ele critica, portanto, outros pregadores e a ineficácia de seus discursos.
Em
resumo, o Sermão da Sexagésima foca na própria forma de fazer sermões. O Padre
usa da metalinguagem para apresentar sua ideia central: pregar é semear.
Confira
a obra na íntegra, fazendo o download do PDF aqui: Sermão da Sexagésima.
Análise
da Obra
O
Sermão da Sexagésima está dividido em 10 partes. Antônio Vieira foi um dos mais
destacados escritores de estilo literário conceptista.
Ou
seja, ele tinha uma grande preocupação com o “jogo de ideias”. Assim, com uma
forte racionalidade (raciocínio lógico), a obra tem o intuito de convencer o
leitor.
A
partir de diversas analogias ele usa da argumentação para responder as
perguntas que ele mesmo faz.
É
notório o uso de figuras de linguagem, as quais oferecem maior expressividade
ao texto. As mais utilizadas são: metáfora, comparação, hipérbole, etc.
Vale
lembrar que com a Reforma Protestante a Igreja católica perdia cada vez mais
seus fiéis. Dessa maneira, Vieira tentou incutir na mente das pessoas os dogmas
da religião católica.
Trechos
da Obra
Para
conhecer melhor a linguagem utilizada no Sermão da Sexagésima, segue abaixo
alguns trechos.
I
E se
quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão
desenganado da pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o Evangelho,
e ouçamo-lo todo, que todo é do caso que me levou e trouxe de tão longe.
II
Semen
est verbum Dei.
O trigo
que semeou o pregador evangélico, diz Cristo que é a palavra de Deus. Os
espinhos, as pedras, o caminho e a terra boa em que o trigo caiu, são os
diversos corações dos homens. Os espinhos são os corações embaraçados com
cuidados, com riquezas, com delícias; e nestes afoga-se a palavra de Deus. As
pedras são os corações duros e obstinados; e nestes seca-se a palavra de Deus,
e se nasce, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e
perturbados com a passagem e tropel das coisas do Mundo, umas que vão, outras
que vêm, outras que atravessam, e todas passam; e nestes é pisada a palavra de
Deus, porque a desatendem ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os
corações bons ou os homens de bom coração; e nestes prende e frutifica a
palavra divina, com tanta fecundidade e abundância, que se colhe cento por um:
Et fructum fecit centuplum.
III
Fazer
pouco fruto a palavra de Deus no Mundo, pode proceder de um de três princípios:
ou da parte do pregador, ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus. Para uma
alma se converter por meio de um sermão, há-de haver três concursos: há-de
concorrer o pregador com a doutrina, persuadindo; há-de concorrer o ouvinte com
o entendimento, percebendo; há-de concorrer Deus com a graça, alumiando.
IV
Mas
como em um pregador há tantas qualidades, e em uma pregação tantas leis, e os
pregadores podem ser culpados em todas, em qual consistirá esta culpa? -- No
pregador podem-se considerar cinco circunstâncias: a pessoa, a ciência, a
matéria, o estilo, a voz. A pessoa que é, e ciência que tem, a matéria que
trata, o estilo que segue, a voz com que fala. Todas estas circunstâncias temos
no Evangelho.
V
Será
porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado, um
estilo tão dificultoso, um estilo tão afectado, um estilo tão encontrado a toda
a arte e a toda a natureza? Boa razão é também esta. O estilo há-de ser muito
fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear: Exiit, qui
seminat, seminare.
VI
Será
pela matéria ou matérias que tomam os pregadores? Usa-se hoje o modo que chamam
de apostilar o Evangelho, em que tomam muitas matérias, levantam muitos
assuntos e quem levanta muita caça e não segue nenhuma não é muito que se
recolha com as mãos vazias. Boa razão é também esta. O sermão há-de ter um só
assunto e uma só matéria. Por isso Cristo disse que o lavrador do Evangelho não
semeara muitos géneros de sementes, senão uma só: Exiit, qui seminat, seminare
semen. Semeou uma semente só, e não muitas, porque o sermão há-de ter uma só
matéria, e não muitas matérias.
VII
Será
porventura a falta de ciência que há em muitos pregadores? Muitos pregadores há
que vivem do que não colheram e semeiam o que não trabalharam. Depois da
sentença de Adão, a terra não costuma dar fruto, senão a quem come o seu pão
com o suor do seu rosto. Boa razão parece também esta. O pregador há-de pregar
o seu, e não o alheio. Por isso diz Cristo que semeou o lavrador do Evangelho o
trigo seu: Semen suum. Semeou o seu, e não o alheio, porque o alheio e, o
furtado não é bom para semear, ainda que o furto seja de ciência.
VIII
Será
finalmente a causa, que tanto há buscamos, a voz com que hoje falam os
pregadores? Antigamente pregavam bradando, hoje pregam conversando. Antigamente
a primeira parte do pregador era boa voz e bom peito. E verdadeiramente, como o
mundo se governa tanto pelos sentidos, podem às vezes mais os brados que a
razão. Boa era também esta, mas não a podemos provar com o semeador, porque já
dissemos que não era ofício de boca. Porém o que nos negou o Evangelho no
semeador metafórico, nos deu no semeador verdadeiro, que é Cristo.
IX
As
palavras que tomei por tema o dizem. Semen est verbum Dei. Sabeis, Cristãos, a
causa por que se faz hoje tão pouco fruto com tantas pregações? É porque as
palavras dos pregadores são palavras, mas não são palavras de Deus. Falo do que
ordinariamente se ouve. A palavra de Deus (como diria) é tão poderosa e tão
eficaz, que não só na boa terra faz fruto, mas até nas pedras e nos espinhos
nasce. Mas se as palavras dos pregadores não são palavras de Deus, que muito
que não tenham a eficácia e os efeitos da palavra de Deus?
X
Dir-me-eis
o que a mim me dizem, e o que já tenho experimentado, que, se pregamos assim,
zombam de nós os ouvintes, e não gostam de ouvir. Oh, boa razão para um servo
de Jesus Cristo! Zombem e não gostem embora, e façamos nós nosso ofício! A
doutrina de que eles zombam a doutrina que eles desestimam, essa é a que lhes
devemos pregar, e por isso mesmo, porque é mais proveitosa e a que mais hão
mister.
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