SONETO DOS DONATIVOS
Cristo
morreu há mil e tantos anos;
Foi descido da cruz, depois enterrado;
E ainda assim, a pedir não tem cessado
Para o sepulcro dele os franciscanos!
Foi descido da cruz, depois enterrado;
E ainda assim, a pedir não tem cessado
Para o sepulcro dele os franciscanos!
Tornou a
ressurgir dentre os humanos;
Subiu da terra ao céu, lá está sentado;
Subiu da terra ao céu, lá está sentado;
E à saúde dele sepultado
Comem à nossa custa estes maganos;
Comem à nossa custa estes maganos;
Pensam os
que lhes dão a sua esmola
Que ela se gasta na função mais pia…
Quanto vos enganais, oh gente tola!
Que ela se gasta na função mais pia…
Quanto vos enganais, oh gente tola!
O altar mor
com dois cotos (*) se alumia; (ilumina)
E o fradinho com a puta, que o consola,
Gasta de noite o que lhe dais de dia.
E o fradinho com a puta, que o consola,
Gasta de noite o que lhe dais de dia.
SONETO ASQUEROSO
Piolhos cria
o cabelo mais dourado;
Branca remela o olho mais vistoso;
Pelo nariz do rosto mais formoso
O monco se divisa pendurado.
Branca remela o olho mais vistoso;
Pelo nariz do rosto mais formoso
O monco se divisa pendurado.
Se estes poemas fossem escritos hoje, por um
escritor contemporâneo nacional, seriam seguramente parte de uma obra polémica.
Logo, imagine-se o impacto no tempo em que foi realizada. Numa época dum
puritanismo castrador, envolvido por uma moral católica limitadora, onde as
regras e leis estabelecidas eram ainda reféns do espectro da Inquisição, que
ainda governava as mentes das pessoas.
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