sexta-feira, 22 de abril de 2022

CORRUPÇÃO...

 

Brasil

O polêmico prefeito da cidade de onde sai 81% do ouro ilegal do Brasil

  • Dono de garimpo, Valmir Climaco ajudou a transformar Itaituba, no Pará, na problemática capital nacional da mineração ilegal
  • Por Reynaldo Turollo Jr., João Pedroso de Campos e Adacioni Santos, de Itaituba

22 abr 2022, 07h52 - Publicado em 22 abr 2022, 06h00

Prefeito da cidade paraense de Itaituba, na região do Tapajós, o cearense Valmir Climaco de Aguiar (MDB) parece ser apenas uma daquelas típicas figuras folclóricas dos rincões do Brasil. O político, de 61 anos, ganhou quinze minutos de fama nacional em março ao surgir em uma festa, aparentemente embriagado, dizendo ao microfone que teria relações sexuais com mais de vinte “raparigas”. A gravação com a cena da grosseria viralizou na internet e lhe rendeu uma multa de 40 000 reais, aplicada pela Justiça estadual a partir de uma ação movida pelo Ministério Público, e a obrigação de se retratar nas redes sociais, o que fez na última quarta, 20. Antes de ganhar os holofotes no país pelo discurso sexista, Climaco já era figura conhecida entre procuradores do Ministério Público Federal e agentes do Ibama por crimes ainda mais graves, boa parte deles relacionada ao meio ambiente. Empresário, madeireiro, fazendeiro e dono de garimpo, assumiu o comando de Itaituba em 2017 e, graças a brechas oferecidas pela legislação estadual, foi peça essencial na transformação do município no epicentro de uma nova corrida pelo ouro, à custa de rasgos gigantescos no coração da Floresta Amazônica. A explosão da atividade veio acompanhada de suspeitas cabeludas de irregularidades, que se encontram sob investigação.

Sob a gestão de Climaco, prefeito em segundo mandato, o garimpo ganhou tamanho impulso que ocupa hoje por lá uma área pouco maior do que a de uma capital como Curitiba. “Concedi mais de 400 licenças para garimpeiros em meu governo”, disse ele a VEJA. A cidade tornou-se também a origem de 81% de todo o ouro classificado como ilegal no Brasil em 2019 e 2020 (6,3 toneladas de um total de 7,7). Os dados são de um estudo realizado pelos pesquisadores Raoni Rajão e Bruno Manzolli, da UFMG, em cooperação com o Ministério Público Federal. Segundo o trabalho, em nível nacional, o comércio do metal ilícito movimentou no mesmo período mais de 9 bilhões de reais. Não por caso, a mineração se transformou num dos principais motores da destruição da Amazônia.

 

 

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