Conheça o ingá – fruta conquista pelo sabor e poder curativo
Por Henrique Rodarte
12/08/2025
Nas matas brasileiras, das margens dos rios amazônicos às
áreas de cerrado, cresce silenciosamente uma das árvores mais generosas da
nossa flora: o ingazeiro. Com suas longas vagens verdes que podem atingir
impressionantes um metro de comprimento, esta árvore esconde um tesouro
gastronômico e medicinal que poucos conhecem em profundidade.
A polpa branca e adocicada do ingá, envolta em suas
características vagens retorcidas, é uma experiência sensorial única. Quem já
provou descreve o sabor como delicado, levemente adocicado, com textura que
lembra um algodão-doce natural. Mas comer ingá é mais que um simples ato de
alimentação – é uma conexão com saberes ancestrais. Populações tradicionais há
gerações utilizam não apenas o fruto, mas também as folhas e cascas da árvore
em preparos medicinais, desde xaropes para problemas respiratórios até chás com
propriedades anti-inflamatórias.
O ingazeiro se revela um verdadeiro aliado da natureza. Suas
flores brancas, ricas em néctar, são verdadeiros banquetes para abelhas e
outros polinizadores, desempenhando papel crucial na manutenção da
biodiversidade. Como leguminosa, a árvore tem a capacidade notável de fixar
nitrogênio no solo, enriquecendo a terra e permitindo que outras plantas
cresçam mais vigorosas ao seu redor. Não por acaso, agricultores que praticam a
agroecologia estão cada vez mais incorporando o ingazeiro em seus sistemas de
cultivo, especialmente em consórcio com plantas como o café.
Apesar de seu enorme potencial, o ingá permanece um fruto subutilizado
em nossa sociedade. Enquanto na Amazônia é comum encontrar crianças saboreando
a polpa doce diretamente da vagem, nas grandes cidades brasileiras este
alimento quase não chega.
Pesquisadores da Embrapa e de universidades como a ESALQ/USP
destacam que estamos perdendo a oportunidade de explorar comercialmente este
recurso natural, que poderia ser transformado em polpas, doces e até farinhas
nutritivas.
O desafio agora é dar ao ingá o reconhecimento que merece.
Seja através de políticas públicas que incentivem seu cultivo, seja pelo
trabalho de chefs que estão começando a explorar seu potencial gastronômico,
este fruto nativo tem muito a contribuir para uma alimentação mais sustentável
e conectada com nossos ecossistemas. Afinal, proteger e valorizar o ingazeiro
são também preservar um pedaço importante da identidade ambiental e cultural do
Brasil.
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