O que é
a escravidão e a sua história no mundo 05
Lucas
Pereira Professor de História
É considerada
escravidão o regime de trabalho no quais homens e mulheres são consideradas
propriedades de seus senhores, podendo ser vendidas ou trocadas como
mercadorias.
As
pessoas escravizadas têm suas liberdades tolhidas, além de forçadas a executar
tarefas sem receber qualquer tipo de remuneração.
Esse
tipo de mão de obra foi muito empregada no Brasil, mas também em diversas
partes do mundo durante períodos distintos.
Atualmente,
o regime escravista é ilegal, entretanto, ainda existem muitos trabalhadores e
trabalhadoras que vivem em condições semelhantes à escravidão.
Origem
do sistema escravista no mundo
O
trabalho escravo é uma prática que permeia a história mundial. Sua origem está
relacionada às guerras e conquistas de territórios, onde os povos vencidos eram
submetidos ao trabalho forçado pelos conquistadores.
Pelo
que se sabe, os primórdios da escravidão vêm do Oriente Médio (Antigo Oriente),
mas povos nas Américas como os maias também se serviram de cativos.
Tal
atividade fez parte de todas as civilizações da antiguidade, como os assírios,
hebreus, babilônios, egípcios, gregos e romanos, variando as suas
características dependendo do contexto de cada lugar.
O
último local a abolir a escravidão oficialmente no mundo foi a Mauritânia,
tornando a prática ilegal apenas em 1981.
Como
era a escravidão na antiguidade?
As
civilizações grega e romana são consideradas pilares fundantes das sociedades
ocidentais contemporâneas. Assim, para entender como a escravidão se deu na
antiguidade e no mundo, é necessário analisar como esse regime ocorria naqueles
locais.
As
origens da Grécia datam de cerca do ano 2 000 a.C., quando povos indo-europeus
fundam as primeiras cidades na Grécia. Com seu desenvolvimento, por volta de
700 a 500 anos a.C., são formadas as chamadas cidades-estados (ou polis)
clássicas. Atenas e Esparta foram as mais significativas polis gregas, onde o
trabalho forçado era uma realidade.
A
escravidão em Atenas
Em
Atenas, o sistema que imperava permitia que o poder de tomadas de decisões
ficasse nas mãos dos chamados cidadãos, isto é, homens livres, maiores de idade
e filhos de pai e mãe ateniense. Isso excluía boa parte da população, como
mulheres, escravos e estrangeiros.
Os
trabalhadores daquela sociedade eram prisioneiros de guerras que foram
transformados em escravizados. Também poderiam ser cativos aqueles que não
tinham condições de saldar suas dívidas. Ficava estabelecido que, em virtude de
seus débitos, o indivíduo prestaria serviços sem remuneração para sanar o valor
devido.
Em
Atenas, os escravos realizavam diversos tipos de trabalho, desde serviços
domésticos até profissões qualificadas e, no campo, exerciam tarefas agrícolas
e mineração.
No caso
dos trabalhadores da mineração e da terra, suas vidas eram consumidas em
extenuantes cargas de serviço braçal e as suas condições de vida eram bastante
precárias.
Os
escravizados domésticos, porém, viviam em circunstâncias um pouco melhores e
podiam comprar sua liberdade, se conseguissem.
Os
hilotas em Esparta
Esparta
foi uma cidade constituída por um regime militarista, onde os cidadãos
espartanos, tanto homens como mulheres, recebiam uma formação voltada para a
guerra.
Os
espartanos eram proibidos de trabalhar, pois dedicavam-se integralmente ao
exército. A força de trabalho era desempenhada pelos Hilotas, espécie de servos
de toda a cidade-estado. Eles descendiam de povos que habitavam a região e que
foram conquistados pelos espartanos, sendo então submetidos ao trabalho
forçado.
Os
hilotas não eram considerados exatamente escravos, já que não eram propriedade
de alguém. Contudo, assim como na escravidão, a vida dos hilotas era bastante
precária e o regime de trabalho extenuante.
Em
Esparta, os hilotas realizavam todo tipo de tarefas, desde as agrícolas até as
domésticas, e eram adquiridos também através de guerras ou do comércio.
A
escravidão na Roma Antiga
Roma
era uma potência na antiguidade, e por volta do século I a.C., já havia
conquistado diversos territórios.
A
sociedade romana estava dividida entre patrícios, clientes, plebeus e
escravizados. Os patrícios eram os detentores de poder e propriedades. Os
plebeus eram os trabalhadores da terra, pequenos comerciantes e artesãos. Os
clientes viviam de favores dos patrícios, realizando serviços diretamente para
este grupo.
Já os
escravizados eram pessoas adquiridas através de conquistas ou mesmo do comércio
humano.
Suas
funções estavam relacionadas ao trabalho agrário, mas havia também os
treinados, como gladiadores, músicos, malabaristas, escribas.
Os
gladiadores eram obrigados a lutar entre si até a morte ou enfrentar animais
ferozes. A vida desses homens não tinha valor para a sociedade, pois sua função
era garantir o entretenimento à população romana.
Um
desses lutadores foi Espártaco, homem que se rebelou com a situação a que os
escravizados eram submetidos e conseguiu reunir um exército de rebelados para
lutar pelo fim da escravidão. Após dois anos, a legião de cativos foi contida
pelos soldados romanos e massacrada.
Escravidão
nas Américas e no Brasil
O
sistema escravista estendeu-se para além da antiguidade e se desenvolveu em
diversas regiões.
A escravidão
moderna se inicia com a descoberta das Américas e colonização deste continente
por portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, holandeses e suecos.
Diferentemente da escravidão antiga, a prática moderna agora ganha também uma
motivação racial.
Assim,
nos territórios colonizados do continente americano, a escravidão foi uma
realidade independente do país europeu que o ocupou. Inicialmente com a
escravização dos povos originários e, posteriormente, com a vinda de milhares
de africanos, que foram arrancados à força de seus locais de origem.
Escravos
de várias etnias
Ilustração
de Johann Moritz Rugendas representando africanos de diversas etnias que foram
trazidos para serem escravizados nas Américas
A mão
de obra africana também foi utilizada nos EUA, na América do Norte, sobretudo
nas plantações de algodão, nos séculos XVIII e XIX, sendo abolida em 1865.
Escravidão
indígena em território brasileiro
No
Brasil, quando os portugueses desembarcaram, em 1500, iniciou-se um movimento
de aproximação e dominação dos povos indígenas que aqui viviam.
Dessa
forma, desde o século XVI até o século XVIII, a população indígena foi
subjugada e escravizada. Embora tenha sido substituída aos poucos como
principal força de trabalho pelos africanos, a escravidão indígena permaneceu
importante em várias regiões secundárias, como São Paulo e o Norte, por
exemplo.
Entretanto,
diversos fatores contribuíram para que essa força de trabalho fosse
substituída. Dentre eles a intensa mortalidade em decorrência de epidemias
adquiridas dos brancos e o fato dessas populações terem maior facilidades de
fuga, já que conheciam o território e as florestas.
Escravidão
africana no Brasil Colônia
A
escravização da população africana foi uma maneira lucrativa que Portugal
encontrou de suprir a mão de obra no Brasil.
Desse
modo, indivíduos de diversas etnias foram trazidos ao Brasil através do tráfico
negreiro, em navios abarrotados de pessoas em condições desumanas.
Escravidão
no Brasil
Chegando
aqui, essas pessoas eram vendidas com o objetivo de trabalharem nas mais
variadas funções.
Eles
trabalhavam tanto nas lavouras de cana-de-açúcar e café, quanto na mineração,
construções, serviços domésticos e urbanos. Além disso, os castigos eram
frequentes e faziam parte da estrutura de dominação.
Os
movimentos rebeldes e o fim da escravidão no Brasil
Houve
resistência da população escravizada no Brasil. Os negros e negras que
conseguiam fugir do cativeiro organizavam-se em quilombos.
Os
quilombos eram comunidades constituídas de africanos fugitivos, além de outras
pessoas marginalizadas. Lá era possível que eles exercessem suas crenças e
vivessem fora do controle das autoridades e de seus senhores. Organizações
semelhantes também ocorreram em regiões da América Espanhola e Inglesa.
No
Brasil, o agrupamento mais conhecido foi o Quilombo dos Palmares, que tinha na
liderança Zumbi dos Palmares.
Depois
de beneficiar-se da força de trabalho negra, o governo português foi
pressionado pela Inglaterra para abolir o tráfico de escravos de suas colônias.
Uma vez
proclamada a independência, os ingleses seguem insistindo na necessidade de se
abolir o comércio de escravos, ocorrida em 1850 com a Lei Eusébio de Queirós.
Em
seguida, internamente surgem movimentos rebeldes e abolicionistas e, ao longo
das décadas seguintes, algumas leis são criadas com o intuito de extinguir a
escravidão. Até que em 1888 é assinada a Lei Áurea, que proíbe a prática que
perdurou por cerca de 4 séculos.
De
qualquer forma, mesmo libertos, os trabalhadores negros permaneceram em
condições precárias e sem oportunidades de emprego, pois foram substituídos
pela mão de obra imigrante.
Escravidão
contemporânea: os trabalhos análogos à escravidão
Mesmo
sendo uma atividade ilegal, atualmente ainda persistem modelos de trabalho
semelhantes à escravidão em muitas partes do mundo. Ela ocorre quando os
trabalhadores são colocados em situações em que têm sua liberdade retirada,
seja por coerção, violência ou supostas dívidas.
Podemos
citar Índia, China, Paquistão, Bangladesh e Uzbequistão como países que têm
grande contingente de pessoas nessa situação. O trabalho nas indústrias têxteis
é um exemplo de onde a escravidão é empregada nesses locais.
Entretanto,
essa realidade está presente no mundo todo, inclusive em países europeus, com a
exploração sexual, por exemplo.
No
Brasil, o trabalho análogo à escravidão concentra-se em áreas rurais, mas
também ocorre em grandes centros urbanos e na construção civil.
O
triste legado da escravidão no Brasil
Hoje em
dia, o Brasil colhe os frutos da escravidão, a principal delas é a
desigualdade.
Infelizmente,
há ainda um comportamento opressor contra os negros, consequência do racismo
estrutural - outra herança da escravidão. Além disso, é possível constatar que
é negra a maior parte das pessoas que integram as classes menos favorecidas.
Segundo
o IBGE, entre 2005 e 2015, a população negra compunha apenas 17% do total dos
mais ricos. Em contrapartida, integrava 3/4 da população mais pobre.
O
racismo é evidente em muitas situações, são os jovens negros as maiores vítimas
de assassinatos, por exemplo.
A
população carcerária é também em sua maioria negra, assim como o contingente de
pessoas desempregadas ou em sub-empregos no país. Além disso, segundo pesquisa
do Mapa do Encarceramento, essa porcentagem segue aumentando nas últimas
décadas.
São as
mulheres negras as que mais morrem vítimas de abortos malsucedidos ou são
encarceradas devido à criminalização da prática. São elas também as que mais
sofrem a violência obstétrica, aquela cometida durante o parto.
Portanto,
é dever da sociedade brasileira observar e compreender seu passado a fim de
organizar-se em busca de uma convivência e coletividade harmônica, onde todas
as pessoas tenham iguais oportunidades.
O
Estado também tem um importante papel, devendo criar políticas públicas que
possam favorecer o fim da desigualdade e sanar essa dívida histórica com o povo
negro.
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