Como funciona o medicamento com proteína da placenta que
recupera tetraplégicos?
Estudo que levou 25 anos para desenvolver a inovação foi
encabeçado por pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
14/09/2025
Tatiana Coelho de Sampaio é professora e chefe do Laboratório de Biologia da Matriz Extracelular, do Instituto de Ciências Biomédicas (Foto: FAPERJ)
Uma equipe de cientistas brasileiros descobriu que é
possível reverter parte dos movimentos perdidos por uma lesão na medula
espinhal com uma proteína presente na placenta, a laminina. O tratamento está
em fase experimental, mas já mostrou eficácia.
O bancário Bruno Drummond de Freitas e outros participantes
ao longo do estudo receberam o medicamento criado a partir da proteína
laminina, chamado polilaminina.
No caso de Bruno, que obteve o tratamento 24 horas após um
acidente de carro que causou a lesão de uma grande parte da medula espinhal,
foi possível a recuperação completa dos movimentos.
“No início, os médicos disseram que eu ficaria em cadeira de
rodas para o resto da vida. Depois, que talvez conseguisse andar com muletas.
Mas eu nunca perdi a esperança. Um dia, ainda no hospital, mexi o dedão do pé e
aquilo foi um choque para todo mundo. A cada semana, eu evoluía mais.”
Os efeitos da polilaminina também foram testados em animais
que haviam sofrido graves leões. Em cães, por exemplo, dos seis que receberam a
aplicação,, quatro conseguiram recuperar seus movimentos.
Atualmente, os cientistas aguardam a aprovação da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que poderá autorizar ou não a
realização de novos testes clínicos que viabilizem um marco regulatório do
medicamento, que está sendo desenvolvido pela farmacêutica Cristália,
localizada em São Paulo.
A pesquisa, que levou 25 anos, foi encabeçada pela
pesquisadora brasileira Tatiana Sampaio, professora doutora da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), e contou com outros pesquisadores e
diversos especialistas da área da saúde, como neurocirurgiões e
fisioterapeutas.
Como funciona o medicamento polilaminina?
A medula espinhal é um ponto de comunicação crucial entre o
cérebro e o restante do corpo. Com um conjunto complexo de terminações
nervosas, ela é responsável pela troca de informações que torna a movimentação
do corpo possível.
Por isso, lesões sérias nessa região causadas por acidentes
como batida de carros, quedas e afogamentos com batida na cabeça podem levar à
perda dos movimentos das pernas, braços e pés, levando uma pessoa a ficar
tetraplégica.
Dessa forma, pesquisadores descobriram que a proteína
presente na placenta, a laminina, produzida pelo sistema nervoso, poderia ser a
chave para restabelecer a conexão entre cérebro e membros superiores e
inferiores nos casos de lesão na medula óssea.
Além disso, segundo Sampaio, ela poderia ser uma substituta
mais barata, fácil e segura ao uso de células-tronco para tentar reverter a
paraplegia.
“A proteína é uma opção mais simples, pois é produzida pelo
organismo naturalmente para ajudar no processo de regeneração do sistema
nervoso. O que estamos fazendo é apenas imitar a natureza.”
— afirma a pesquisadora da UFRJ em entrevista à Faperj
Dessa forma, a laminina ajuda os neurônios a conseguir
realizar uma nova passagem ou via atravessando o local onde ocorreu a lesão até
o neurônio mais próximo. Isso gera um impulso elétrico que viabiliza a
realização do movimento no local.
Quando o medicamento será vendido?
O medicamento só poderá ser vendido após a realização de
novos testes e um eventual aval dado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), que supervisiona a regulamentação de fármacos no Brasil.
“O que começou em laboratório e agora se confirma em humanos
mostra que a pesquisa pode transformar vidas”, conclui a a presidente da
FAPERJ, Caroline Alves.
Sem comentários:
Enviar um comentário