ESPAÇO XISTO BAHIA
Vamos
relembrar o compositor e cantor Xisto Bahia, uma dos maiores artistas que já
tivemos.
Xisto
de Paula Bahia nasceu em Salvador, na Freguesia de Além do Carmo, em 06 de
agosto de 1841. Era filho do major do Exército Francisco de Paula Bahia e de D.
Tereza de Jesus Maria do Sacramento Bahia. Era o caçula dos irmãos Soter,
Francisco bento, Horácio e Eulália.
Como
Xisto Bahia ele entraria para a história da MPB como o autor da primeira música
lançada em disco no Brasil, o lundu Isto é Bom, também conhecida como Yayá você
quer morrer?, composta por volta de 1857 e que foi levada à cera em 1902 pelo
cantor Bahiano (Manuel Pedro dos Santos), que também era baiano.
Porém,
o legado de Xisto Bahia foi bem maior. Além, de ator, compositor e cantor, ele
também era violinista, violonista e dramaturgo.
Em
1861, excursionou pelo norte e nordeste do Brasil, cantando modinhas, e lundus,
tocando violão.
O
dramaturgo Arthur Azevedo o considerava o ator mais nacional que tivemos.
Aliás, foi em uma peça de Arthur, Uma Véspera de Reis, que Xisto obteve um de
seus maiores êxitos como ator.
Em
1880, D. Pedro II o aplaudiu na peça Os perigos do coronel.
Durante
o ano de 1881, foi escrevente penitenciário em Niterói (RJ).
A peça
O Carioca, da autoria de Arthur Azevedo e Moreira Sampaio, estreou no Imperial
Theatro Dom Pedro II, em 31 de dezembro de 1886, sendo a revista desse mesmo
ano.
Para
quem não está familiarizado, a palavra revista, empregada nessa postagem, se
refere à peça de Teatro de Revista, às Revistas de Ano, que eram populares no
final do século XIX e que eram uma revisão através de uma peça dos acontecimentos
do ano que terminava. Quando formos nos referir à revistas de papel usaremos o
termo periódico, que também pode se referir a um jornal, assim evitaremos
maiores confusões.
No
elenco estavam Cinira Polônio, Francisco Correia Vasques, Rose Villiot, Antonio
Joaquim de Mattos, a célebre atriz do Alcazar Lyrico Delmary, a famosa Adelaide
do Amaral (que rivalizava nos palcos com Eugênia Câmara), Aurélia Delorme,
entre outros e, com destaque, Xisto Bahia.
Esse
elenco era formado por alguns dos maiores nomes do meio teatral da época.
Foi
casado com a atriz portuguesa Maria Vitorina de Lacerda Bahia, com quem teve
quatro filhos.
Durante
o Segundo Reinado, suas modinhas e lundus se tornaram célebres. Podemos
destacar o poema de Plínio de Lima, Ainda e Sempre (Quis debalde varrer-te da
memória), que ele musicou; bem como o excelente lundu A Mulata (Mulata
Vaidosa), Preta Mina.
Xisto
Bahia faleceu em Caxambu, em uma terça-feira, a 30 de outubro de 1894.
Em 1895
foi criado o periódico Xisto Bahia, provavelmente para ajudar a viúva e seus
filhos, que ficaram em extrema pobreza.
Obs. As
três imagens abaixo foram retiradas do artigo "Xisto Bahia: ilustre e
desconhecido", da autoria do Prof. Dr. Luciano Caroso. Disponível em:
https://antigo.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2006/CDROM/COM/04_Com_Musicologia/sessao04/04COM_MusHist_0403-162.pdf
ISTO É
BOM (YAYÁ VOCÊ QUER MORRER?)
Como já
dissemos, Isto é Bom foi a primeira música lançada em disco no Brasil, isso
porque no selo do disco a numeração vem como 10.001, no primeiro suplemento de
chapas para gramofones (discos 78 rpm) lançado ao mercado. A gravação foi feita
na Casa Edison, do Rio de Janeiro, de propriedade de Frederico (Fred) Figner,
em 1902 e o disco foi impresso na Alemanha sob o selo Zon-O-Phone. Coube ao
então cançonetista de sucesso, Bahiano (Manuel Pedro dos Santos) fazer uma
série de gravações para serem lançadas em discos, cabendo a Isto é Bom receber
a numeração 10.001. No ano seguinte, saia no mercado um novo lote de discos Zon
-O-Phone gravados por Bahiano; entre eles, o de número X-1.031, que foi gravado
em 1902, mas lançado em 1903. Pode ser uma nova gravação do lundu de Xisto
Bahia ou um relançamento da gravação original (a que saiu na chapa pioneira).
Chegou aos nossos dias, por enquanto, o disco X-1031, de 1903; ou seja, Bahiano
interpreta a primeira música gravada no Brasil, mas, pode ou não ser a gravação
pioneira. Ainda não surgiu provas que confirmem uma ou outra versão. Podemos
observar nessas gravações de 1902 e 1903 um constante acompanhamento de piano,
que era o instrumento indispensável onde se pensasse em fazer música. Dessa
forma, podemos ter uma boa ideia de como seriam os saraus de outrora, como era
a interpretação dos cantores, a forma de dizer as gírias, soltar os chistes e
cantar o lundu. Teremos uma outra forma de interpretar ao ouvirmos Eduardo das
Neves com seu violão.
Daí,
saímos dos salões para irmos às rodas de serenatas, onde o violão era o
destaque. A interpretação, mais solta, mais despreocupada, nos mostra como os
boêmios e chorões executavam suas músicas, atraindo a atenção dos presentes aos
lundus e modinhas dos tempos do Império e dos primeiros anos da República.
É uma
viagem no tempo, onde vozes, instrumentos e interpretações nos remetem a um tempo
onde se faziam choros nas calçadas, onde podíamos topar na rua com algum
célebre compositor de polcas ou cançonetas e a vida passava no compasso de um
chorinho dos velhos tempos. O convite está feito!
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