A Crise
dos Sentidos na Medicina Contemporânea
Por
Política e Resenha postado em 25 de outubro de 2024 às 15:06
facebook sharing buttontwitter sharing buttonmessenger
sharing buttonwhatsapp sharing button
No
cotidiano da medicina moderna, uma verdade desconcertante se revela: os médicos
parecem ter perdido os cinco sentidos. Vivemos em um tempo em que a tecnologia
domina a prática médica, o que poderia ser positivo, mas, em muitos casos,
trouxe consequências desastrosas para a relação médico-paciente. Os sentidos
que, outrora, eram o alicerce de um diagnóstico preciso e sensível – visão,
audição, tato, paladar e olfato – parecem ter sido abandonados, sufocados pela
dependência quase total dos exames e máquinas.
Nos
idos anos cinquenta, médicos como meu amigo Dr. Antonio Sturaro, ainda em
atuação aos 93 anos, baseavam-se não em uma tela de computador ou em uma série
de exames complexos, mas em suas próprias habilidades sensoriais. O médico de
outrora enxergava o paciente como um todo, usava o olhar atento, o toque
cuidadoso, o ouvido perspicaz para captar a essência da doença. Ele sabia que
um diagnóstico eficaz podia ser sentido, cheirado, ouvido, e até visto – como
no caso do diabético, cujo hálito apresenta um odor suave de maçã, ou do
hepático, cuja pele amarelada denuncia um problema de bilirrubina.
Dr.
Sturaro é uma prova viva da medicina humanista, aquela que não se limita a
números e imagens, mas que investiga a história do paciente, respeitando suas
experiências e ouvindo com atenção suas queixas. Esta prática, que gera vínculo
e confiança, é um dom que se afasta, substituído pela frieza dos diagnósticos
prontos e das prescrições impessoais.
O uso
excessivo de exames em detrimento do toque humano cria uma medicina
automatizada, desprovida de sensibilidade. O médico hoje, ao ouvir “dor
abdominal,” muitas vezes já encaminha o paciente para tomografias e
ressonâncias, sem mesmo ouvir os detalhes da história clínica. Essa inversão
não só desumaniza a prática, como retira do paciente a chance de ser compreendido
em sua totalidade.
Os
diagnósticos, hoje, são complementares aos exames de laboratório, mas é preciso
lembrar que a base da medicina é a relação humana. Quando a escuta cuidadosa e
a análise minuciosa da pessoa desaparecem, a essência do diagnóstico clínico
também desaparece. Médicos como Dr. Sturaro nos lembram que a experiência e a
sabedoria, acumuladas por décadas, trazem uma visão única e indispensável.
Nossa
medicina precisa redescobrir os cinco sentidos e o valor de ouvir. É hora de
buscar o equilíbrio entre o que a tecnologia nos oferece e o que a humanização
da prática ainda pode e deve proporcionar. Que possamos aprender com a
sabedoria dos médicos de outras gerações, para que a medicina retorne a um
lugar onde o paciente é mais do que um número ou um exame, mas um ser humano
que precisa ser compreendido em sua complexidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário