quarta-feira, 22 de março de 2017

Crime contra o Criador



O crime do ser humano contra o seu Criador
Hoje em dia o assim chamado “progresso humano” é enaltecido de todas as formas possíveis. Para onde quer que se olhe vemos decantadas solenemente as capacitações humanas, que parecem mesmo ilimitadas.
Progresso humano! Quanto orgulho mal contido não encerram essas palavras! A elas associam-se imediatamente conceitos de progresso e bem estar material, técnica, avanço da ciência, capacidade do raciocínio. Haverá alguns também que dirão não se tratar de nada disso absolutamente, mas sim das descobertas no campo do ocultismo, da magia e do misticismo, que possibilitam ao ser humano que se desenvolveu de modo certo tornar-se um “mestre”.
Qualquer que seja o modo de expressão, as opiniões não se afastarão muito dessas duas correntes básicas.
E, no entanto, o verdadeiro desenvolvimento humano nada tem a ver com computadores ou bolas de cristal. O verdadeiro desenvolvimento humano é, unicamente, espiritual.
O ser humano de hoje, porém, sequer consegue ainda imaginar o que seja espiritual. Ele, que é constituído propriamente de espírito, zomba de toda a vida espiritual como se essa atitude fosse a prova de que só existe aquilo que ele pode perceber com os órgãos sensoriais do seu corpo terreno.
A simples menção da palavra espírito já causa um certo mal-estar em quase todas as pessoas. Basta que ouçam ou leiam esta palavra para seu intelecto entrar imediatamente em ação, procurando fazê-las acreditar que provavelmente estão frente a algo “não muito sério”.
O pequeno grupo de pessoas que ainda, vez ou outra, se ocupa em meditar sobre sua existência, imagina que o sentimento do “eu” provém de seus corpos materiais. Alguns até identificam o cérebro como a origem do “eu”. Outros, mais poéticos, preferem localizá-lo no coração… O sentimento do “eu”, porém, cada um percebe durante toda a sua vida. Como poderia então estar associado a um corpo perecível? Se assim fosse, este sentimento teria naturalmente de alterar-se também com o passar dos anos. Teria de sofrer o efeito da velhice e mostrar-se por fim debilitado e enrugado…
Mas o sentimento do “eu” não muda durante a vida terrena. Não muda porque não provém de parte alguma do corpo material terreno, mutável e perecível, e sim do espírito.
Se isso não é hoje tão facilmente reconhecível, é porque a humanidade não se desenvolveu absolutamente como fora previsto, apesar de naturalmente estar convencida do contrário. A humanidade não se desenvolveu espiritualmente. Prova disso é que justamente aqueles que são tidos como exemplos do desenvolvimento humano, os assim chamados “luminares da ciência”, em sua maior parte sequer admitem possuir um espírito.
Mas, queira ou não, acredite ou não, a criatura humana é constituída de espírito. O corpo terreno nada mais é do que um invólucro, uma capa que permite ao espírito atuar na matéria. Da mesma forma, aquilo a que se acostumou denominar de “alma” é também um invólucro do espírito, através do qual ele se movimenta num mundo material mais fino, de espécie diferente da nossa, chamado temerosamente de “além”.
Sendo o ser humano um ente espiritual, estava previsto logicamente que se desenvolvesse espiritualmente. Desenvolvimento espiritual, porém, só é possível através de vivências, do saber adquirido pelas vivências. Este saber, bem entendido, não é o que se aprende nas escolas e universidades, mas sim o saber da vida. O saber de como viver segundo as Leis que regem esta Criação.
O ser humano, pois, deveria amadurecer, colhendo sabedoria através de vivências aqui na Terra. E isso ao longo de um determinado número de vidas terrenas, isto é, de reencarnações. E nessas peregrinações para o autodesenvolvimento, tão só alegria e felicidade estavam previstos para ele…
Assim estava na Vontade do Criador. Tudo sabiamente determinado. Ao espírito humano bastava seguir o que dispunha essa Vontade, a qual Deus inseriu indissoluvelmente, claramente reconhecível, em Sua obra, a Criação, onde se encontrava então o ser humano para colher experiências.

Quando contemplamos as obras de um grande artista, seja na música, na pintura ou em trabalhos de escultura, percebemos nitidamente características específicas, próprias de quem as criou. Assim, com um pouco de atenção e aplicação, reconhecemos através da obra o seu autor.
Algo semelhante ocorre na gigantesca obra da Criação. Quando Deus fez surgir a Criação deixou impressas nela, na forma de Leis inflexíveis, as marcas de Sua Vontade. E como Sua Vontade foi, é, e sempre será perfeita, assim também são perfeitas, e por conseguinte imutáveis, as Leis que Ele inseriu em Sua obra.
Proveniente da Criação e, portanto, como tudo o mais, também sujeito a essas mesmas Leis primordiais inflexíveis, surgiu outrora o ser humano nesta Terra. Também ele se desenvolvia maravilhosamente no início dos tempos. Como criatura puramente intuitiva, obedecia incondicionalmente às Leis existentes, cumprindo assim, automaticamente, a Vontade do seu Criador. Podia outrora reconhecer essaVontade facilmente na obra da Criação e, com isso, reconhecia Deus, o Senhor.
Assim passaram-se milhares, centenas de milhares de anos. (1) Tudo se desenvolvia com perfeição. O ser humano daquela época ainda era uma peça útil na maravilhosa engrenagem da Criação.
Chegou então a época prevista no curso do desenvolvimento em que o ser humano deveria ter o intelecto despertado, o raciocínio que até então permanecera inativo. Com a ajuda do seu raciocínio, ele deveria tornar mais bela e produtiva sua vida na Terra. Deveria mostrar-se como um administrador leal do mundo a ele presenteado, digno da grande confiança nele depositada. Isto era o que se esperava dele…
E durante certo tempo assim de fato aconteceu. A criatura humana sempre atentava à sua voz interior, a intuição, que lhe mostrava o caminho a seguir em seu desenvolvimento, servindo-se do raciocínio apenas para tornar realizável na matéria grosseira da Terra aquilo que a intuição indicava. Tudo conforme fora determinado em seus caminhos de desenvolvimento. A intuição, a voz do espírito, era o leme; o raciocínio, o produto do cérebro terreno, era o executor na matéria da vontade espiritual.
Mas então chegou um tempo em que isso se modificou. Chegou um tempo em que o ser humano, pela primeira vez, pecou, isto é, agiu conscientemente contra a Vontade do seu Criador. Este pecado, conhecido como “pecado original”, consistiu em elevar o raciocínio, que era um mero executor da vontade do espírito, ao lugar da intuição, que sempre deveria ter permanecido como o leme da vida.
Ao provar da árvore do conhecimento, o ser humano se inebriou. Julgou ser poderoso, grande e forte. Nada lhe parecia impossível com as capacitações do seu intelecto. Assim, o raciocínio, que deveria ser propriamente apenas um instrumento do espírito, passou a dirigir o destino dos seres humanos.
O próprio espírito não mais conseguia se fazer valer e, consequentemente, não mais se desenvolvia. Ao contrário, atrofiava-se mais e mais em razão dessa inatividade forçada. A sua voz, a intuição, tornava-se cada vez mais baixa, até virar um sussurro, que mal podia ser percebido. Nada mais podia suplantar a força do intelecto, colocado num trono de dirigente que não lhe pertencia.
A humanidade pôde pecar dessa forma porque dispunha do livre-arbítrio. O livre-arbítrio é uma característica inerente ao espírito humano e necessária para o seu desenvolvimento. Por meio dele o ser humano tem a possibilidade de tomar decisões próprias, e através dos efeitos retroativos decorrentes dessas decisões, amadurecer no reconhecimento do que é certo e do que é errado. Em outras palavras, ele vivencia as consequências de suas decisões, angariando para si, de modo indissolúvel, o saber de como deve viver na Criação, o saber da vida.
Certamente muitos objetarão que bastaria Deus ter criado o espírito humano sem livre-arbítrio para lhe estar assegurada de antemão a bem-aventurança. Isso, porém, é coisa impossível, pois, como dito, o espírito humano só pode amadurecer através de vivências, decorrentes de suas próprias resoluções. Não existe outro caminho para o seu desenvolvimento. (2)
Na verdade, o espírito humano é um ente bem pequeno no gigantesco conjunto da obra da Criação. Tão pequeno, que só pode começar a se desenvolver conscientemente em distâncias incomensuráveis da Fonte da Vida, de Deus, como é o caso desse nosso mundo material. Aqui lhe é possível desenvolver uma vontade própria, através do livre-arbítrio. E quanto mais sábio se tornar o ser humano nesse seu processo de amadurecimento, tanto mais incondicionalmente adaptará sua vontade no sentido da Vontade do Seu Criador, já que assim lhe fica assegurada a alegria e a felicidade nos seus ulteriores caminhos de desenvolvimento.
Por parte da Luz todos os esforços possíveis foram feitos para que os seres humanos reconhecessem ainda em tempo o erro que estavam cometendo e se livrassem rapidamente daquela situação insana, a qual, por fim, só poderia lhes causar danos, já que era contrária à própria Vontade inamovível do Criador, expressa nas Leis da Criação. Contudo, apesar de todos os auxílios, de todas as exortações e advertências, a humanidade permaneceu obstinadamente nos seus caminhos falsos, isto é, continuou pecando voluntária e conscientemente. E assim foi durante outras centenas de milhares de anos.
Apegando-se cada vez mais às coisas perecíveis desta Terra, esquecendo-se do espiritual, afastando-se mais e mais do seu Criador, a humanidade acabou por ficar – como consequência natural de sua vontade errada – presa de modo incondicional à matéria. Os seres de espírito permaneciam um período no além de matéria fina e retornavam à Terra de matéria grosseira, para novamente voltarem ao além e depois se encarnarem outra vez na Terra, e assim sucessivamente. E nessas tantas encarnações, não previstas, acabaram por sobrecarregar-se com novas culpas, as quais, por sua vez, exigiam novas encarnações para serem remidas. Um círculo aparentemente sem fim. (3) Nesse processo, fecharam para si mesmos o caminho claro que os levaria até o Paraíso, a meta final do verdadeiro desenvolvimento humano.
A Terra, naturalmente, foi se enchendo mais e mais, até ficar superpovoada como se vê nos dias de hoje. O verdadeiro desenvolvimento, o desenvolvimento espiritual, não se efetivara…
Quanto mais se prendia à matéria, tanto mais difícil se tornava à humanidade o reconhecimento de seus erros. E assim pôde acontecer que quando sobrevieram os efeitos retroativos de suas culpas, os seres humanos não compreendiam o que estava acontecendo. Rebelavam-se contra o que lhes pareciam ser golpes arbitrários do destino, pois não podiam mais reconhecer que a causa de seu infortúnio provinha deles próprios. Haviam se esquecido da atuação incontornável de uma lei universal básica: a Lei da Reciprocidade.
O que o ser humano semear, isso ele colherá!
Este ditame do Filho de Deus, Jesus, é uma indicação claríssima de uma Lei fundamental da Criação: a Lei da Reciprocidade!
Essa Lei estabelece que tudo aquilo que produzimos, seja por pensamentos, palavras ou atos, retorna sempre a nós mesmos, aos geradores. Se semearmos coisas boas, colheremos naturalmente frutos doces e suculentos. Se semearmos coisas ruins, teremos de engolir frutos amargos e podres…
Uma semeadura má é como uma pedra amarrada com um fio elástico e presa à mão de uma pessoa, que a lança com maior ou menor força contra algo ou alguém. Atingindo ou não seu objetivo, a pedra sempre se voltará contra a pessoa que a jogou, também com maior ou menor intensidade, dependendo da força com que foi lançada. A pessoa em questão pode representar a humanidade, um determinado povo, uma comunidade ou ainda o próprio ser humano individual. A pedra representa a vontade má: os maus pensamentos, as palavras maldosas e as ações erradas. O elástico, por sua vez, é absolutamente indestrutível, ele representa essa incontornável Lei da Reciprocidade.
Como foi dito, a humanidade entrou, por sua própria culpa, num círculo aparentemente sem fim de reencarnações sucessivas. E muitas pessoas hoje em dia imaginam que isso seja certo e que estava realmente previsto assim. O ser humano poderia então reencarnar-se quantas vezes fosse necessário, até finalmente amadurecer. Tal concepção, porém, não corresponde à realidade. Tudo na Criação tem um prazo estabelecido para se desenvolver. Mesmo na matéria tudo está exatamente determinado. Depois da semeadura vem o desenvolvimento, a frutificação, e por fim a colheita. Com o espírito humano, que como tudo na Criação também está submetido às mesmas Leis, ocorre exatamente da mesma forma. Pode-se dizer que foram espalhadas sementes de espíritos humanos por sobre a Terra, para que se desenvolvessem e por fim dessem magníficos frutos por ocasião da colheita. Agora, na época da seara, todos os espíritos humanos já deveriam estar amadurecidos, prontos para retornar conscientemente à sua verdadeira Pátria, o Paraíso.
O período concedido outrora ao ser humano para o seu desenvolvimento nesta Terra expirou. Tudo quanto ele inseriu na Criação no decorrer de sua existência em várias vidas, tanto no aquém como no além, e que até então não havia retornado ao ponto de partida e se efetivado visivelmente, volta agora para ele nessa época, que corresponde ao fim do prazo concedido para o seu desenvolvimento. Daí o acúmulo de tantas tragédias que acometem a humanidade no tempo presente, a qual só consegue ainda manifestar apatia e incompreensão em relação a isso, e ultimamente também um certo grau de perplexidade.
Encontramo-nos em plena efetivação do Juízo Final. O acontecimento mais incisivo e decisivo de toda a história humana. O acerto final de contas! Só subsistirá ao Juízo aquele que, ainda em tempo, inserir-se integralmente nas Leis inflexíveis da Criação, isto é, inserir-se de modo incondicional na sagrada Vontade de Deus.
O leitor deve procurar entender que o Juízo Final é um acontecimento amplo, que atinge o espírito humano, esteja ele ainda na Terra, como ser humano terreno, ou já no além, como alma humana. Subsistir no Juízo significa poder continuar existindo na Criação, seja em que parte dela o espírito humano se encontre. Não subsistir no Juízo significa deixar de existir espiritualmente, isto é, fazer parte das almas condenadas, ser riscado do Livro da Vida.
O ser humano tem diante de si a última bifurcação no caminho de sua existência inteira na Criação, desde a sua primeira encarnação nesta Terra. Um caminho leva às alturas; o outro, às profundezas. Somente a ele cabe decidir seu próprio destino…
  1. Ver a obra “Os Primeiros Seres Humanos”, de Roselis von Sass. Voltar
  2. Ver a dissertação “O Ser Humano e Seu Livre-Arbítrio”, na obra Na Luz da Verdade, Vol. II, de Abdruschin. Voltar
  3. Inicialmente estavam previstas cerca de dez encarnações para cada espírito humano, após o que cada qual já poderia estar plenamente desenvolvido espiritualmente para poder ingressar no Paraíso. Ver, a respeito, a obra Os Primeiros Seres Humanos, de Roselis von Sass. Voltar

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