O crime do ser humano contra o seu Criador
Hoje em
dia o assim chamado “progresso humano” é enaltecido de todas as formas
possíveis. Para onde quer que se olhe vemos decantadas solenemente as
capacitações humanas, que parecem mesmo ilimitadas.
Progresso
humano! Quanto orgulho mal contido não encerram essas palavras! A elas
associam-se imediatamente conceitos de progresso e bem estar material, técnica,
avanço da ciência, capacidade do raciocínio. Haverá alguns também que dirão não
se tratar de nada disso absolutamente, mas sim das descobertas no campo do
ocultismo, da magia e do misticismo, que possibilitam ao ser humano que se
desenvolveu de modo certo tornar-se um “mestre”.
Qualquer
que seja o modo de expressão, as opiniões não se afastarão muito dessas duas
correntes básicas.
E, no
entanto, o verdadeiro desenvolvimento humano nada tem a ver com computadores ou
bolas de cristal. O verdadeiro desenvolvimento humano é, unicamente, espiritual.
O ser
humano de hoje, porém, sequer consegue ainda imaginar o que seja espiritual.
Ele, que é constituído propriamente de espírito, zomba de toda a vida
espiritual como se essa atitude fosse a prova de que só existe aquilo que ele
pode perceber com os órgãos sensoriais do seu corpo terreno.
A simples
menção da palavra espírito já causa um certo mal-estar em quase todas as
pessoas. Basta que ouçam ou leiam esta palavra para seu intelecto entrar
imediatamente em ação, procurando fazê-las acreditar que provavelmente estão
frente a algo “não muito sério”.
O pequeno
grupo de pessoas que ainda, vez ou outra, se ocupa em meditar sobre sua
existência, imagina que o sentimento do “eu” provém de seus corpos materiais.
Alguns até identificam o cérebro como a origem do “eu”. Outros, mais poéticos,
preferem localizá-lo no coração… O sentimento do “eu”, porém, cada um percebe
durante toda a sua vida. Como poderia então estar associado a um corpo
perecível? Se assim fosse, este sentimento teria naturalmente de alterar-se
também com o passar dos anos. Teria de sofrer o efeito da velhice e mostrar-se
por fim debilitado e enrugado…
Mas o
sentimento do “eu” não muda durante a vida terrena. Não muda porque não provém
de parte alguma do corpo material terreno, mutável e perecível, e sim do espírito.
Se isso
não é hoje tão facilmente reconhecível, é porque a humanidade não se
desenvolveu absolutamente como fora previsto, apesar de naturalmente estar
convencida do contrário. A humanidade não se desenvolveu espiritualmente. Prova
disso é que justamente aqueles que são tidos como exemplos do desenvolvimento
humano, os assim chamados “luminares da ciência”, em sua maior parte sequer
admitem possuir um espírito.
Mas,
queira ou não, acredite ou não, a criatura humana é constituída de espírito. O
corpo terreno nada mais é do que um invólucro, uma capa que permite ao espírito
atuar na matéria. Da mesma forma, aquilo a que se acostumou denominar de “alma”
é também um invólucro do espírito, através do qual ele se movimenta num mundo
material mais fino, de espécie diferente da nossa, chamado temerosamente de “além”.
Sendo o
ser humano um ente espiritual, estava previsto logicamente que se
desenvolvesse espiritualmente. Desenvolvimento espiritual, porém, só é possível
através de vivências, do saber adquirido pelas vivências. Este saber, bem
entendido, não é o que se aprende nas escolas e universidades, mas sim o saber
da vida. O saber de como viver segundo as Leis que regem esta Criação.
O ser
humano, pois, deveria amadurecer, colhendo sabedoria através de vivências aqui
na Terra. E isso ao longo de um determinado número de vidas terrenas, isto é,
de reencarnações. E nessas peregrinações para o autodesenvolvimento, tão só
alegria e felicidade estavam previstos para ele…
Assim
estava na Vontade do Criador. Tudo sabiamente determinado. Ao espírito humano
bastava seguir o que dispunha essa Vontade, a qual Deus inseriu
indissoluvelmente, claramente reconhecível, em Sua obra, a Criação, onde se
encontrava então o ser humano para colher experiências.
Quando
contemplamos as obras de um grande artista, seja na música, na pintura ou em
trabalhos de escultura, percebemos nitidamente características específicas,
próprias de quem as criou. Assim, com um pouco de atenção e aplicação,
reconhecemos através da obra o seu autor.
Algo
semelhante ocorre na gigantesca obra da Criação. Quando Deus fez surgir a
Criação deixou impressas nela, na forma de Leis inflexíveis, as marcas de Sua
Vontade. E como Sua Vontade foi, é, e sempre será perfeita, assim também são
perfeitas, e por conseguinte imutáveis, as Leis que Ele inseriu em Sua obra.
Proveniente
da Criação e, portanto, como tudo o mais, também sujeito a essas mesmas Leis
primordiais inflexíveis, surgiu outrora o ser humano nesta Terra. Também ele se
desenvolvia maravilhosamente no início dos tempos. Como criatura puramente
intuitiva, obedecia incondicionalmente às Leis existentes, cumprindo assim,
automaticamente, a Vontade do seu Criador. Podia outrora reconhecer
essaVontade facilmente na obra da Criação e, com isso, reconhecia Deus, o
Senhor.
Assim
passaram-se milhares, centenas de milhares de anos. (1)
Tudo se desenvolvia com perfeição. O ser humano daquela época ainda era uma
peça útil na maravilhosa engrenagem da Criação.
Chegou
então a época prevista no curso do desenvolvimento em que o ser humano deveria
ter o intelecto despertado, o raciocínio que até então permanecera inativo. Com
a ajuda do seu raciocínio, ele deveria tornar mais bela e produtiva sua vida na
Terra. Deveria mostrar-se como um administrador leal do mundo a ele
presenteado, digno da grande confiança nele depositada. Isto era o que se
esperava dele…
E durante
certo tempo assim de fato aconteceu. A criatura humana sempre atentava à sua
voz interior, a intuição, que lhe mostrava o caminho a seguir em seu
desenvolvimento, servindo-se do raciocínio apenas para tornar realizável na
matéria grosseira da Terra aquilo que a intuição indicava. Tudo conforme fora
determinado em seus caminhos de desenvolvimento. A intuição, a voz do espírito,
era o leme; o raciocínio, o produto do cérebro terreno, era o executor na
matéria da vontade espiritual.
Mas então
chegou um tempo em que isso se modificou. Chegou um tempo em que o ser humano,
pela primeira vez, pecou, isto é, agiu conscientemente contra a Vontade
do seu Criador. Este pecado, conhecido como “pecado original”, consistiu em
elevar o raciocínio, que era um mero executor da vontade do espírito, ao lugar
da intuição, que sempre deveria ter permanecido como o leme da vida.
Ao provar
da árvore do conhecimento, o ser humano se inebriou. Julgou ser poderoso,
grande e forte. Nada lhe parecia impossível com as capacitações do seu
intelecto. Assim, o raciocínio, que deveria ser propriamente apenas um
instrumento do espírito, passou a dirigir o destino dos seres humanos.
O próprio
espírito não mais conseguia se fazer valer e, consequentemente, não mais se
desenvolvia. Ao contrário, atrofiava-se mais e mais em razão dessa inatividade
forçada. A sua voz, a intuição, tornava-se cada vez mais baixa, até virar um
sussurro, que mal podia ser percebido. Nada mais podia suplantar a força do
intelecto, colocado num trono de dirigente que não lhe pertencia.
A
humanidade pôde pecar dessa forma porque dispunha do livre-arbítrio. O
livre-arbítrio é uma característica inerente ao espírito humano e necessária
para o seu desenvolvimento. Por meio dele o ser humano tem a possibilidade de
tomar decisões próprias, e através dos efeitos retroativos decorrentes dessas
decisões, amadurecer no reconhecimento do que é certo e do que é errado. Em
outras palavras, ele vivencia as consequências de suas decisões,
angariando para si, de modo indissolúvel, o saber de como deve viver na
Criação, o saber da vida.
Certamente
muitos objetarão que bastaria Deus ter criado o espírito humano sem
livre-arbítrio para lhe estar assegurada de antemão a bem-aventurança. Isso,
porém, é coisa impossível, pois, como dito, o espírito humano só pode
amadurecer através de vivências, decorrentes de suas próprias resoluções. Não
existe outro caminho para o seu desenvolvimento. (2)
Na
verdade, o espírito humano é um ente bem pequeno no gigantesco conjunto da obra
da Criação. Tão pequeno, que só pode começar a se desenvolver conscientemente
em distâncias incomensuráveis da Fonte da Vida, de Deus, como é o caso desse
nosso mundo material. Aqui lhe é possível desenvolver uma vontade própria,
através do livre-arbítrio. E quanto mais sábio se tornar o ser humano nesse seu
processo de amadurecimento, tanto mais incondicionalmente adaptará sua vontade
no sentido da Vontade do Seu Criador, já que assim lhe fica assegurada a
alegria e a felicidade nos seus ulteriores caminhos de desenvolvimento.
Por parte
da Luz todos os esforços possíveis foram feitos para que os seres humanos
reconhecessem ainda em tempo o erro que estavam cometendo e se livrassem
rapidamente daquela situação insana, a qual, por fim, só poderia lhes causar
danos, já que era contrária à própria Vontade inamovível do Criador, expressa
nas Leis da Criação. Contudo, apesar de todos os auxílios, de todas as
exortações e advertências, a humanidade permaneceu obstinadamente nos seus
caminhos falsos, isto é, continuou pecando voluntária e conscientemente. E
assim foi durante outras centenas de milhares de anos.
Apegando-se
cada vez mais às coisas perecíveis desta Terra, esquecendo-se do espiritual,
afastando-se mais e mais do seu Criador, a humanidade acabou por ficar – como
consequência natural de sua vontade errada – presa de modo incondicional à
matéria. Os seres de espírito permaneciam um período no além de matéria fina e
retornavam à Terra de matéria grosseira, para novamente voltarem ao além e
depois se encarnarem outra vez na Terra, e assim sucessivamente. E nessas
tantas encarnações, não previstas, acabaram por sobrecarregar-se com novas
culpas, as quais, por sua vez, exigiam novas encarnações para serem remidas. Um
círculo aparentemente sem fim. (3)
Nesse processo, fecharam para si mesmos o caminho claro que os levaria até o
Paraíso, a meta final do verdadeiro desenvolvimento humano.
A Terra,
naturalmente, foi se enchendo mais e mais, até ficar superpovoada como se vê
nos dias de hoje. O verdadeiro desenvolvimento, o desenvolvimento espiritual,
não se efetivara…
Quanto
mais se prendia à matéria, tanto mais difícil se tornava à humanidade o
reconhecimento de seus erros. E assim pôde acontecer que quando sobrevieram os
efeitos retroativos de suas culpas, os seres humanos não compreendiam o que
estava acontecendo. Rebelavam-se contra o que lhes pareciam ser golpes
arbitrários do destino, pois não podiam mais reconhecer que a causa de seu
infortúnio provinha deles próprios. Haviam se esquecido da atuação
incontornável de uma lei universal básica: a Lei da Reciprocidade.
“O que
o ser humano semear, isso ele colherá!”
Este
ditame do Filho de Deus, Jesus, é uma indicação claríssima de uma Lei
fundamental da Criação: a Lei da Reciprocidade!
Essa Lei
estabelece que tudo aquilo que produzimos, seja por pensamentos, palavras ou
atos, retorna sempre a nós mesmos, aos geradores. Se semearmos coisas boas,
colheremos naturalmente frutos doces e suculentos. Se semearmos coisas ruins,
teremos de engolir frutos amargos e podres…
Uma
semeadura má é como uma pedra amarrada com um fio elástico e presa à mão de uma
pessoa, que a lança com maior ou menor força contra algo ou alguém. Atingindo
ou não seu objetivo, a pedra sempre se voltará contra a pessoa que a jogou,
também com maior ou menor intensidade, dependendo da força com que foi lançada.
A pessoa em questão pode representar a humanidade, um determinado povo, uma
comunidade ou ainda o próprio ser humano individual. A pedra representa a
vontade má: os maus pensamentos, as palavras maldosas e as ações erradas. O
elástico, por sua vez, é absolutamente indestrutível, ele representa essa
incontornável Lei da Reciprocidade.
Como foi
dito, a humanidade entrou, por sua própria culpa, num círculo aparentemente sem
fim de reencarnações sucessivas. E muitas pessoas hoje em dia imaginam que isso
seja certo e que estava realmente previsto assim. O ser humano poderia então
reencarnar-se quantas vezes fosse necessário, até finalmente amadurecer. Tal
concepção, porém, não corresponde à realidade. Tudo na Criação tem um prazo
estabelecido para se desenvolver. Mesmo na matéria tudo está exatamente
determinado. Depois da semeadura vem o desenvolvimento, a frutificação, e por
fim a colheita. Com o espírito humano, que como tudo na Criação também está
submetido às mesmas Leis, ocorre exatamente da mesma forma. Pode-se dizer que
foram espalhadas sementes de espíritos humanos por sobre a Terra, para que se
desenvolvessem e por fim dessem magníficos frutos por ocasião da colheita.
Agora, na época da seara, todos os espíritos humanos já deveriam estar
amadurecidos, prontos para retornar conscientemente à sua verdadeira Pátria, o
Paraíso.
O período
concedido outrora ao ser humano para o seu desenvolvimento nesta Terra expirou.
Tudo quanto ele inseriu na Criação no decorrer de sua existência em várias
vidas, tanto no aquém como no além, e que até então não havia retornado ao
ponto de partida e se efetivado visivelmente, volta agora para ele nessa época,
que corresponde ao fim do prazo concedido para o seu desenvolvimento. Daí o
acúmulo de tantas tragédias que acometem a humanidade no tempo presente, a qual
só consegue ainda manifestar apatia e incompreensão em relação a isso, e
ultimamente também um certo grau de perplexidade.
Encontramo-nos
em plena efetivação do Juízo Final. O acontecimento mais incisivo e decisivo de
toda a história humana. O acerto final de contas! Só subsistirá ao Juízo aquele
que, ainda em tempo, inserir-se integralmente nas Leis inflexíveis da Criação,
isto é, inserir-se de modo incondicional na sagrada Vontade de Deus.
O leitor
deve procurar entender que o Juízo Final é um acontecimento amplo, que atinge o
espírito humano, esteja ele ainda na Terra, como ser humano terreno, ou já no
além, como alma humana. Subsistir no Juízo significa poder continuar existindo
na Criação, seja em que parte dela o espírito humano se encontre. Não subsistir
no Juízo significa deixar de existir espiritualmente, isto é, fazer parte das
almas condenadas, ser riscado do Livro da Vida.
O ser
humano tem diante de si a última bifurcação no caminho de sua existência
inteira na Criação, desde a sua primeira encarnação nesta Terra. Um caminho
leva às alturas; o outro, às profundezas. Somente a ele cabe decidir seu
próprio destino…
- Ver a obra “Os Primeiros Seres Humanos”, de Roselis von Sass. Voltar
- Ver a dissertação “O Ser Humano e Seu Livre-Arbítrio”, na obra Na Luz da Verdade, Vol. II, de Abdruschin. Voltar
- Inicialmente estavam previstas cerca de dez encarnações para cada espírito humano, após o que cada qual já poderia estar plenamente desenvolvido espiritualmente para poder ingressar no Paraíso. Ver, a respeito, a obra Os Primeiros Seres Humanos, de Roselis von Sass. Voltar
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