Estudo sugere que Alzheimer
talvez seja transmissível por transfusão de sangue
Experimento
com camundongos fez animal sadio ‘contrair’ a doença
Dois ratos foram cirurgicamente reunidos no
experimento sobre Alzheimer feito pela Universidade da Colúmbia Britânica
(Foto: University of British Columbia)
O
processo de desenvolvimento do Alzheimer ainda não é completamente conhecido
pela ciência e um novo estudo, publicado nesta terça-feira (31) no periódico
“Molecular Psychiatry”, sugere que um tipo de proteína produzida em todo o
corpo é capaz de ultrapassar a barreira protetora do cérebro, provocando a
doença. Além disso, o experimento realizado com camundongos demonstrou que a
condição talvez possa ser transmitida pela transfusão de sangue.
"A
barreira entre o sangue e o cérebro enfraquece com a idade", explicou
Weihong Song, professor da Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver, no
Canadá, e coautor do estudo. "Isso deve permitir que mais beta amiloides
se infiltrem no cérebro, complementando as que são produzidas pelo próprio
cérebro e acelerando a deterioração."
A beta
amiloide é a principal constituinte das placas de amiloide, que provocam a
deterioração das atividades cerebrais em pacientes com demência. A proteína é
produzida naturalmente pelo cérebro, mas também em outras partes do organismo,
como nas plaquetas, nos vasos sanguíneos e nos músculos.
No
experimento, Song e seu colega Yan-Jiang Wang, da Terceira Universidade Médica
Militar da China, em Chongqing, conectaram um camundongo normal, que não
desenvolve o Alzheimer naturalmente, a outro que carrega um gene humano mutante
que produz altos níveis de beta amiloide, fazendo com que os dois animais
compartilhassem o mesmo sangue.
Segundo
Song, após um ano, o camundongo normal “contraiu” a doença de Alzheimer pelo
sangue carregado com a proteína do animal mutante. A beta amiloide entrou na
corrente sanguínea do roedor sadio e foi capaz de ultrapassar as barreiras que
protegem o cérebro e formar placas de amiloide, provocando a doença.
Entre os
sinais do Alzheimer, o camundongo “contaminado” apresentou degeneração das
células neurais, inflamação e pequenas hemorragias. E a capacidade de transmitir
sinais elétricos envolvidos no aprendizado e na memória também foi afetada.
"A
doença de Alzheimer é claramente uma doença do cérebro, mas nós precisamos
prestar atenção a todo o corpo para compreender de onde ela vem e como
pará-la", disse Song, sugerindo que drogas podem ser criadas para destruir
a beta amiloide antes que ela consiga alcançar o cérebro.
Para Tara
Spires-Jones, da Universidade de Edimburgo, o estudo tem seu valor pode
demonstrar que a proteína beta amiloide pode se espalhar por todo o corpo, mas
ressalta que “não existem dados que indicam que as pessoas devem se preocupar
em pegar Alzheimer por transfusão de sangue”.
"Não
existe evidência de que o Alzheimer seja uma doença transmissível",
comentou a pesquisadora, não envolvida no estudo.
Essa é a
mesma posição de James Pickett, diretor de pesquisas da Sociedade do Alzheimer
do Reino Unido. Estudos que acompanharam pessoas que receberam transfusões de
doadores que desenvolveram Alzheimer não encontraram evidências de aumento no
risco da doença.
"Ver
a transferência da beta amiloide do sangue de um camundongo para o cérebro numa
situação extremamente artificial num laboratório não nos diz que isso acontece
com pessoas na vida real", disse Pickett. "As pessoas não devem ser
alarmadas."
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