O tremoço
é uma leguminosa da mesma família da ervilha e da fava e bastante rico
nutricionalmente: possui três vezes mais proteínas e duas vezes mais fósforo do
que o leite de vaca, uma quantidade elevada de cálcio, vitaminas E e do
complexo B, fósforo, potássio, ácidos gordos insaturados (ómega 3 e 6), ferro e
fibras. Em regra, a composição nutricional é a seguinte: 36 a 52% de proteína,
5 a 20% de gordura, 30 a 40% de fibra alimentar.
No
que diz respeito à gordura, a sua composição é, na sua grande maioria, ácido
oleico e linoleico (gordura presente no azeite), constituindo 86% da gordura
total. Acresce que o tremoço possui três vezes mais fibra do que a aveia e o
trigo e, dessa fibra, a sua grande maioria tem a capacidade de reter o
colesterol LDL no intestino e facilitar a sua eliminação nas fezes. O teor em
amido também é reduzido, o que explica o papel deste alimento no controlo do
índice glicémico (teor de açúcar no sangue) e consequentemente, na redução da
incidência da obesidade na população; também é um alimento indicado para quem
sofre de problemas ósseos e reduz o apetite. Além disso, as suas propriedades
emolientes, diuréticas e cicatrizantes favorecem a renovação das células.
Todavia,
desde há cerca de três mil anos atrás, o tremoço tem igualmente outras
aplicações: a farinha de tremoço é utilizada na produção de bolachas, pão,
biscoitos, massas; alimentação para animais não-humanos; indústria
farmacêutica; melhoramento dos solos (é denominado “adubo verde” pois evita a
utilização de adubos convencionais e prepara os solos em particular para o
cultivo do milho, melão e trigo), etc.
Em 2005,
a produção mundial de tremoço foi de 1,2 milhões de toneladas (FAO, 2005), das
quais Portugal produziu onze toneladas. O maior produtor mundial de tremoço, que
se pode cultivar desde o fim do Outono até ao início de Verão, é a Austrália
com cerca de 82% do total, seguida do Chile (6%), Federação Russa (3%), a
Polónia (2%) e França (2%).
O grão
seco é tóxico - contém a substância alcalóide lupanina que lhe confere um sabor
amargo. Só depois de cozido e demolhado em água salgada se torna comestível e
um aperitivo bastante apreciado no nosso país especialmente no Verão em cafés e
esplanadas típicos, geralmente acompanhados por cerveja e apelidado “marisco
dos pobres”. Os tremoços têm, em média, 1/6 das calorias, por peso em relação a
outros aperitivos como amendoins ou batatas fritas. O único senão é o sal que
lhe é acrescentado, mas isso pode ser corrigido lavando bem os tremoços ou
demolhando-os.
São
comummente consumidos como aperitivos também na América Latina e outros países
da Bacia do Mediterrâneo para além de Portugal, onde em 2009 se realizou a VI
Feira do Tremoço em Cadima, freguesia pertencente a Cantanhede. Desde 1980
existe a International Lupin Association, fundada no Peru e dedicada a
representar o interesse biológico e agrícola desta leguminosa.
Para os
vegetarianos, o tremoço apresenta-se como mais uma leguminosa de opção,
aumentado o leque de escolha dos fornecedores de proteína de alto valor biológico
na dieta humana.
Em casa
podem preparar-se da seguinte forma: comprar os “feijões” de tremoço secos (em
mercearias tradicionais, como por exemplo na Casa Chinesa situada na Baixa da
cidade do Porto) e colocá-los de molho em água de um dia para o outro. Depois
fervem-se numa nova água durante vinte minutos. Arrefecendo, colocam-se num
alguidar em água limpa que deve ser mudada duas a três vezes por dia durante
cinco ou mais dias. Quando já não estiverem amargos podem ser conservados
durante bastante tempo (no frigorífico) em água temperada com sal regularmente
renovada e, opcionalmente, adicionando-lhes alho e/ou ervas aromáticas tais
como orégãos ou louro.
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