sábado, 18 de novembro de 2017

MEU BAÚ!



Pretendo utilizar esse blog para exteriorizar minhas até então silenciosas reflexões acerca de sociedade,cultura,psicologia, filosofia,feminismo,música e assuntos contemporâneos. Prometo que este não será mais um espaço narcisista – como muitos outros blogs - para se postar as últimas fotos da “balada” e para falar sobre o que comi no almoço. Busco, aqui, lançar reflexões sobre assuntos que julgo de extrema importância serem debatidos. Let the show begin.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Porque sou contra o silicone
O erro de muitas pessoas é se posicionar perante a moda do silicone com um olhar sobre ser bonito ou feio. Se alguém não gosta de silicone, justifica dizendo que é “porque acha feio” ou “porque acha artificial”. A questão que coloco, no entanto, é a de que existe algo muito mais complexo (e invisível) fundamentando a moda do silicone. Minha posição contrária ao silicone é, portanto, muito mais sócio-cultural do que uma mera opinião sobre achar feio ou bonito.

Eu poderia julgar as mulheres que se sujeitaram e as que desejam se sujeitar a essa cirurgia como fúteis. De fato, eu acho que elas o são. Mas essa é apenas a percepção mais imediata do problema. Percebo, além do motivo da futilidade, variáveis sócio-culturais muito mais complexas que determinam essa vontade nas mulheres. E como esse tipo de percepção é de mais difícil acesso às pessoas, vou focar minha crítica neste ponto.

O silicone é o símbolo moderno do machismo, da subjugação das mulheres, da alienação, do consumismo, da falta de opinião própria, de bom senso e de questionamento. Sou contra o silicone porque me dói. Após a árdua luta pela emancipação que nossas antecessoras fizeram nos anos 60, me dói ver as mulheres procurando a independência financeira com o intuito de poder pagar a cirurgia plástica que a mídia as fez acreditar que precisavam, ou pra gastar metade do salário no salão de beleza.
Me dói ver as mulheres continuarem profundamente subjugadas, porém agora não mais aos homens em específico, mas subjugadas, fundamentalmente, à qualquer pessoa ou instituição que as diga como devem ser (e, para isso, muitas vezes, negar a si mesmas), para agradar a sociedade. Me dói ver que após todo o avanço que fizemos pela busca de sermos indivíduos plenamente ativos socialmente (coisa que não éramos há pouquíssimas décadas), as mulheres hoje acreditam que a beleza é a maior e/ou única fonte de aceitação social. Me dói ver que as mulheres são alienadas por um padrão de beleza imposto, que as fazem se olhar no espelho e se sentirem inadequadas consigo mesmas. Me dói ver que o sonho de muitas mulheres é se adequar a esse padrão imposto, nem que pra isso tenham que fazer cirurgias plásticas totalmente desnecessárias, enquanto os homens mais horrorosos não fazem questão nem ao menos de fazer um regime ou se vestir com roupas mais bonitas.

Me dói ver que as mulheres, desde crianças, têm seu desenvolvimento físico, intelectual e psicológico prejudicado pelas imposições que a sociedade em geral nos faz para atendermos aos requisitos estéticos que julgam serem essenciais às mulheres. Me dói ver mulheres acreditando que a feminilidade se mede pelo tamanho do peito ou da bunda. Me dói ver mulheres acreditando que quanto mais peito se tem, mais mulher se é (Para ilustrar isso, notem como é freqüente ver mulheres saindo nas fotos ou nas ruas usando mega decotes após colocar silicone, quase que dizendo: “olhe o QUANTO eu sou mulher agora”). Me dói ver mulheres, portanto, que não fazem a menor idéia do que é ser mulher.

Faço um apelo, portanto, para que as pessoas não mais se limitem a julgar o silicone como uma questão de “ser bonito ou feio”, mas que se atentem às diversas variáveis que estão implicadas nele: o machismo, a valorização das mulheres apenas através da beleza, as imposições que fazem com que as mulheres se sintam um ser eternamente faltante e as impele a se sentirem mal consigo mesmas, a alienação pela mídia e por modismos, o consumismo desenfreado, que sugere sutilmente que sempre precisamos comprar alguma coisa para nos sentirmos felizes e satisfeitos; e a falta de senso crítico e de questionamento.

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