sábado, 20 de junho de 2020

A EDUCAÇÃO PEDE SOCORRO...


José Maria Trindade: Os motivos que provocaram a queda de um ministro incendiário

Como um ministro abriu as entranhas do poder e mostrou que os interesses rondam a antes calma pasta da Educação

  • Por José Maria Trindade*
  • 18/06/2020 18h11
O ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, que anunciou a saída da pasta nesta quinta-feira, 18

O ex-ministro Abraham Weintraub lutou até o último cartucho e resistiu a inimigos poderosos, mas caiu de maneira estrondosa. Em conversa há poucos dias, o ministro me disse que era minoria. Estavam contra ele influentes no Congresso. Weintraub estava brigado com o presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia. O motivo era nobre: demitiu um indicado de Maia, o advogado Roberto Dias, da presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Neste caso, não é preocupação com o desenvolvimento da educação, mas com a verba de R$ 50 bilhões. E não era só interesse de Maia, mas de um grupo de parlamentares que faziam o rateio do poder. Pronto, caiu em desgraça na Câmara.

Para parte do governo, Weintraub se transformou no herói que peitou Maia e seus poderes, mas, para os deputados insaciáveis, o muro que precisava ser derrubado. Nunca houve tanto cerco. Weintraub não pode discutir o orçamento da Educação e projetos de interesse da pasta e o kit constrangimento foi sacado: convocações, comissões que concluíram no pedido de impeachment do ministro e em pedidos de demissão. O presidente Jair Bolsonaro resistiu.

Com força nos círculos mais próximos do presidente, o economista que dirigia a Educação seguiu colecionando disputas. Internamente brigou com os poderosos reitores das federais. Mostrou número de salários acima de mercado. Entenda mercado como salários pagos a professores e trabalhadores das faculdades e universidades particulares. Chegou a dizer que o Ministério da Educação é uma folha de pagamento. Verdade, o chamado orçamento da Educação vai 95% para salários. Pode faltar tudo, mas os salários estão em dia e integrais, mesmo nos tempos da pandemia do coronavírus, que faz o mundo se ajoelhar. Como se não bastasse, chamou os “donos do ensino privado”, os empresários e leu a cartilha: “Nada de favores especiais nem concessões. Só a lei e a regulamentação que deveria beneficiar as escolas e abrir a competitividade e mercado regulado”. Os profissionais da educação privada não gostaram. O ministro pensou que agradaria ao cortar o pagamento de propinas, mas descobriu que os favores ficam mais baratos do que o mercado aberto que ele defendeu.

Internamente, em setores da economia e da agricultura, o mercado chinês é um paraíso do Brasil e não deve ser questionado. Foi enfrentado por Weintraub e o grupo que tem a mesma orientação contra este tipo de relação ideológica. Nova briga pesada com setores da economia e do Ministério da Agricultura.

No Judiciário, a briga foi explosiva. A abertura da reunião ministerial atingiu em cheio Abraham Weintraub quando ele mostra que por ele “botava esses vagabundos todos na cadeia começando pelo Supremo”. Estava aí uma guerra pesada que não acabou. Esta fica no currículo e na luta judicial que trava a partir de agora. Os processos são como ele diz, no CPF e não no cargo de ministro.

Ficou difícil manter o incendiador na Esplanada. Ele me disse, num certo momento, que por ser minoria tinha que apresentar esta cara de mau. “É preciso agir como fundamentalista, como se estivesse com uma granada sem pino nas mãos pronto para explodir a todos.” Os adversários sempre recuam diante de uma ameaça assim. Os inimigos do grupo de Weintraub foram para cima e explodiram o ministro. Um líder de partido traduz: “Ele é correto, mas tem a certeza de que só ele está com a razão e isso torna tudo muito tenso e perigoso”. No Congresso, a disputa pelos cargos de segundo escalão e as representações nos estados já começou há muito tempo. O novo ministro terá um terreno fértil para os acertos internos e externos ao importantíssimo Ministério da Educação

*José Maria Trindade é repórter e comentarista de política da Jovem Pan.

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