VIDA PASTORAL
Introdução ao livro do profeta Miquéias
Por Maria Antônia Marques
Miquéias, termo hebraico que pode ser traduzido por “quem como Javé?”,
uma espécie de aclamação litúrgica, nasceu em Morasti – aldeia situada no
interior de Judá, perto da cidade de Gat, a cerca de 30 km a sudoeste da
capital Jerusalém –, em meio à realidade conflitiva e sofrida dos camponeses,
vítimas dos grandes proprietários de terra e do exército.
Ao abrirmos o livro do profeta Miqueias, deparamo-nos com fortes denúncias e
julgamentos severos contra as autoridades do seu tempo. À luz de seu
sofrimento e de sua mística, o profeta acredita que Javé, o Deus da vida, não
compactua com a realidade de injustiça. No século VIII a.C., Judá passou por
momentos muito difíceis, como guerras constantes, expropriação de produtos e
de terras dos camponeses, recrutamento para os exércitos e para as obras
públicas.
A situação em que vivemos não mudou muito. Os conflitos em torno da posse da
terra continuam e muitas pessoas são assassinadas por defenderem o direito à
terra. Enfrentamos altas tributações no campo e na cidade, e as autoridades
políticas defendem seus próprios interesses. Cresce o desemprego e a
violência, o que faz o medo e a insegurança se tornarem parte do nosso
cotidiano. Impera a lógica do “salve-se quem puder”. Com os pés fincados no
século VIII a.C. e em nossa realidade, queremos reler a profecia de Miqueias,
buscando luzes para iluminar a nossa pastoral.
Como porta-voz da população camponesa, esmagada pelo sofrimento, Miquéias
grita:
Escutem bem, chefes de Jacó, governantes da casa de Israel! Por acaso, não é
obrigação de vocês conhecerem o direito? Inimigos do bem e amantes do mal,
vocês arrancam a pele das pessoas e a carne de seus ossos. Vocês é gente que
devora a carne do meu povo e arranca suas peles; quebra seus ossos e os faz
em pedaços, como um cozido no caldeirão. Depois, vocês gritarão a Javé, mas
ele não responderá. Nesse tempo, ele esconderá o rosto, por causa da maldade
que vocês praticaram (Mq 3,1-4).[1]
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