Advento em casa de Marta e Maria de Betânia
Por Maria Luiza Rückert
As mulheres tiveram um papel essencial no ministério de
Jesus de Nazaré (Lc 8.1-3). Elas têm, portanto, uma história e uma tradição que
não podem ser ignoradas.
Os textos dos Evangelhos nos mostram que as mulheres que
estiveram em contato com Jesus preenchem os critérios formulados por Lucas (At
1.21) e por Paulo (1Co 9.4; Rm 16.7) para serem discípulas: estiveram com Jesus
desde a gênese de seu ministério na Galileia e foram testemunhas da sua
ressurreição (Mt 28.8; Jo 20.11-18).
As mulheres que tiveram um encontro com Jesus vivenciaram
uma experiência transformadora por meio de seu relacionamento com o Mestre.
Aquelas que tiveram a oportunidade de se relacionar com o Senhor tornaram-se
“novas criaturas”. Restauradas, dignificadas, descobriram o seu potencial e
colocaram-no a serviço do reino de Deus com alegria, esperança, paixão.
Os rejeitados, os doentes, as crianças, os pecadores, as
mulheres – todos aqueles e aquelas que parecem não ter futuro – são os
prediletos de Jesus. Os textos bíblicos nos apresentam mulheres que seguem a
Jesus e o servem. Nesta experiência elas descobrem quem é Jesus e captam a sua
identidade. A samaritana descobre-o como profeta, como Messias, como Cristo.
Marta, na ressurreição de Lázaro, encontra Jesus como sendo o Cristo, o Filho
de Deus, o Senhor da Vida, que tem poder sobre a morte. Maria de Betânia
proclama-o Senhor, ungindo-o (Jo 12.1-8). Enquanto Marta é autora do primeiro
enunciado de fé cristológica da comunidade (Jo 11.27), Maria, sua irmã, ungindo
os pés de Jesus (Jo 12.3), ilustra a práxis da verdadeira discípula.
No relato de Lucas 10.38-42, as duas irmãs de Betânia
vivenciam o advento: Jesus vem!
>> Marta e Maria: duas irmãs, duas atitudes <<
Jesus vem, e Maria de Betânia senta-se aos pés do Mestre,
como discípula, escutando os seus ensinamentos. Essa era a atitude própria dos
discípulos dos rabis – Paulo costumava sentar-se aos pés de Gamaliel (At 22.3).
Lucas nos conta que Jesus não apenas aceita a atitude de
Maria, mas também a elogia, dizendo: “Marta, Marta, você se inquieta e agita
por muitas coisas. Uma só é necessária: Maria escolheu a melhor parte, que não
lhe será tirada” (10.42). Essa parte, que é a melhor, é escutar a Palavra e
colocá-la em prática; é participar na vida de Jesus, naquilo que é o definitivo
e que ninguém pode tirar. A atitude de Maria está ligada àqueles que consagram
seu tempo e suas forças ao estudo da Palavra de Deus. Esta Palavra, que Maria
escuta, é comprometedora! Ela exige que Maria saia de si e se coloque a serviço
dos outros.
Esta Palavra leva-a a ungir os pés do Senhor (Jo 12.3),
gesto que expressa, de forma radical, o seu amor por Jesus e a sua humildade;
gesto que ilustra a práxis do “agape”, que deve ser a prática de todo
verdadeiro discípulo.
Marta e Maria vivenciaram o advento quando Jesus as visitou
em sua casa. Celebremos o primeiro Advento, que anuncia a vinda de Cristo, o
Verbo que se fez carne e veio habitar entre nós (Jo 1.14).
Em meio à correria que costuma preceder o nosso Natal,
Jesus, que vem nos visitar, fala conosco assim como falou à Marta: “[...] você
se inquieta e se agita por muitas coisas. Uma só é necessária”.
Advento
O Calendário Eclesiástico principia no primeiro domingo de
Advento. A palavra latina adventus significa “chegada”. Os quatro domingos de
Advento antecedem o Natal e cada um deles tem o seu significado:
Primeiro domingo – Cristo vem.
Segundo domingo – Cristo vem de novo, para juízo.
Terceiro domingo – Preparai o caminho do Senhor.
Quarto domingo – Perto está o Senhor.
Somente a partir do ano 500 é que se começou a festejar o
período de Advento, na Gália francesa. Os primeiros cristãos também
caracterizaram os domingos festivos com cores. Cor litúrgica do Advento:
violeta.
• Maria Luiza Rückert, autora de Capelania Hospitalar e
Ética do Cuidado, cursou teologia na Escola Superior de Teologia (EST), em São
Leopoldo, RS, e aprofundou seus estudos em clínica pastoral no hospital da
Universidade de Minnesota, Estados Unidos. Pós-graduada em ética, subjetividade
e cidadania, atuou como capelã no Hospital Evangélico de Vila Velha, ES,
durante vinte anos. Maria Luiza também preparou mais de uma centena de
voluntários para o ministério de visitação em hospitais e capacitou agentes da
Pastoral da Saúde.
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