C. S. Lewis, 126 anos
Uma jornada filosófica e religiosa fascinante, marcada pela
honestidade e integridade intelectual
Por Paulo Ribeiro
Cinquenta anos atrás, peguei meu primeiro livro de C. S.
Lewis e fiquei imediatamente cativado por sua capacidade de escrever com tanta
clareza e elegância
persuasiva. Suas palavras ressoaram profundamente dentro de
mim, tecendo ideias complexas em uma narrativa que era acessível e
profundamente atraente.
Dez anos depois, como aluno de doutorado no Reino Unido,
minha admiração por seu trabalho se aprofundou. Embora eu dedicasse a maior
parte do meu tempo à pesquisa em engenharia elétrica, também me aprofundei em
seus escritos mais acadêmicos e literários, descobrindo camadas de percepção
que se estendiam muito além de suas obras populares. Suas reflexões me
ofereceram não apenas estímulo intelectual, mas também uma compreensão mais
rica da experiência humana.
Na sexta-feira, dia 29 de novembro, ao celebrarmos o 126º
aniversário de seu nascimento, me pego refletindo mais uma vez sobre sua
profunda influência. Devo confessar que grande parte da minha maturidade
intelectual se deve às suas reflexões sobre a vida, a fé e a condição humana. A
capacidade de Lewis de abordar questões atemporais com honestidade e
consistência continua a moldar como penso e me envolvo com o mundo.
Alguns dos meus amigos me provocam gentilmente por citá-lo
com muita frequência – e talvez eles estejam certos – mas espero que suas
palavras tragam valor às nossas discussões. Afinal, não é sem razão que C. S.
Lewis é considerado um dos maiores escritores da língua inglesa do século 20.
Sua jornada filosófica e religiosa foi tão rigorosa quanto fascinante, marcada
por um firme compromisso com a honestidade e integridade intelectual.
Em Surpreendido Pela Alegria, Lewis conta como a leitura do
romance de fantasia Phantastes, de George MacDonald, transformou sua visão de
mundo. Ele escreve:
O que ele realmente fez comigo foi batizar... minha
imaginação. Não me moveu a acreditar em Deus. Mas me fez sentir que o que eu
anteriormente chamava de "beleza" não era uma qualidade subjetiva em
mim, nem um efeito colateral de certos processos psicológicos, mas uma
qualidade real fora de mim, e que foi somente estando em contato com ela que me
tornei verdadeiramente eu mesmo.
Finalmente, Lewis disse uma vez sobre George MacDonald o que
eu agora digo sobre o próprio Lewis:
Eu nunca escondi o fato de que o considerava meu mestre; na
verdade, imagino que nunca escrevi um livro em que não o citasse.
E então, hoje, senhoras e senhores, eu faço um brinde
silencioso ao legado de um homem cujo trabalho continua a inspirar gerações.
Aqui vai para C .S. Lewis – autor, pensador e guia. SAÚDE.
UM RESUMO DA JORNADA DE C. S. LEWIS
Abaixo está um resumo de sua trajetória por fases-chave:
A jornada de vida de C.S. Lewis reflete uma complexa
evolução filosófica e espiritual, moldada por experiências pessoais profundas e
pelos escritos de diversos pensadores.
1. Nascido no Cristianismo
Aspecto Filosófico-Religioso: Enraizado na tradição cristã
através de sua família.
Influência: A exposição inicial à fé e aos valores
familiares formou sua compreensão fundamental da religião.
2. Desilusão com a Igreja
Aspecto Filosófico-Religioso: Suas experiências despertaram
sentimentos de saudade e um engajamento com a imaginação.
Influência: Escritores como Beatrix Potter e os contos de
fadas estimularam sua imaginação e senso de maravilha.
3. Ateísmo e Rejeição do Cristianismo - Fases:
Morte da Mãe e Educação Secular: Aprofundaram seu ceticismo
em relação à crença religiosa.
Epicurismo: Influenciado por Lucrécio, abraçando explicações
materiais para a existência.
Realismo Popular: Inspirado por H.G. Wells, explorando uma
visão científica e racional do mundo.
Idealismo Filosófico: Influenciado por G.F.W. Hegel e, mais
tarde, por George MacDonald, que plantou as sementes da transcendência.
Racionalismo: Sob a influência de René Descartes e G.K.
Chesterton, explorou lógica e razão.
Dualismo: Envolvimento com ideias maniqueístas de conflito
espiritual.
Materialismo: Inspirado por Karl Marx e T.H. Huxley,
adotando uma visão materialista da existência.
Idealismo Subjetivo: Explorou as ideias de George Berkeley
sobre a realidade como percepção.
Materialismo Estóico: Influenciado por Marco Aurélio,
investigando uma visão disciplinada e material da vida.
4. Caminho para a Transcendência - Fases:
Erotismo Platônico: Influenciado por Platão e Dante
Alighieri, focando no amor como um anseio pelo eterno.
Romantismo: Inspirado por William Wordsworth e John Milton,
descobrindo beleza e reverência no mito e na natureza.
Numinoso: Sob a influência de Rudolf Otto, reconhecendo o
mistério e a reverência do divino.
Sehnsucht (Alegria): Influenciado por George MacDonald e
pela mitologia nórdica, despertando seu anseio por algo transcendente.
Esperança: Inspirado por Boécio e G.K. Chesterton,
introduzindo a ideia de providência divina e esperança.
Dialética do Desejo: Influenciado por Agostinho de Hipona,
compreendendo o desejo como um anseio por Deus.
Panteísmo: Explorou ideias de Baruch Spinoza e William
Wordsworth, considerando a presença divina na natureza.
5. Conversão ao Teísmo e ao Cristianismo - Fases:
Teísmo: Influenciado por Tomás de Aquino e Aristóteles,
reconhecendo uma base racional para a crença em Deus.
Cristianismo: Abraçado plenamente sob a influência da
Bíblia, G.K. Chesterton, George MacDonald e J.R.R. Tolkien, integrando sua
imaginação, intelecto e fé em uma visão de mundo coerente.
A jornada de C.S. Lewis do ceticismo à fé foi marcada por
uma profunda exploração intelectual, imaginação artística e despertar
espiritual. Seu caminho exemplifica a interação entre razão, desejo e crença,
culminando em suas poderosas obras literárias e legado duradouro.
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