Fwd: Dionê Machado viu essa? Acredite se puder: Putin quer
ressuscitar a União Soviética
De: Paulo Henrique Araújo | PHVox <paulo@phvox.com.br>
Date: ter. 27 de mai. de 2025 às 00:23.
A manobra final de Putin: restaurar a União Soviética pela
“via jurídica”
Enquanto os olhos do mundo se voltam para os drones, tanques
e reuniões diplomáticas, Vladimir Putin pode estar preparando sua jogada mais
ousada: declarar, pela “via jurídica”, que a União Soviética nunca deixou de
existir.
A frase, pronunciada por um de seus principais assessores,
Anton Kobyakov, durante o XIII Fórum Jurídico Internacional em São Petersburgo,
foi direta: “Se a União Soviética não foi legalmente dissolvida, a crise
ucraniana pode ser considerada uma questão interna.”
A proposta é simples — e assustadora: reclassificar a guerra
da Ucrânia como uma operação doméstica, e não como um conflito entre nações.
Reescrever os mapas. Redefinir fronteiras. E talvez, abrir caminho para novas
invasões.
A tese: “A URSS nunca acabou”
Segundo Kobyakov, a dissolução de 1991 foi juridicamente
inválida. O argumento? O Congresso dos Deputados do Povo, órgão máximo
soviético, não teria sido consultado conforme exigido pela Constituição de
1922. A assinatura dos Acordos de Belavezha, entre Rússia, Ucrânia e
Bielorrússia, teria ultrapassado sua autoridade.
Nas palavras dele: “A
União Soviética continua a existir em sentido jurídico. Especialistas
ocidentais reconhecem isso. A dissolução foi conduzida de forma irregular.”
Com base nessa tese, tudo o que foi construído a partir de
1991 — soberania de repúblicas como Ucrânia, Moldávia, Geórgia, Lituânia,
Estônia e Letônia — estaria em aberto.
De Lenin a Stalin, passando por Putin
Para alguns, pode parecer apenas retórica. Mas a retórica
tem peso quando vem acompanhada de tanques, deportações forçadas e símbolos
cuidadosamente reabilitados.
Desde o início da guerra, a Rússia vem se utilizando de
elementos soviéticos:
Tanques com bandeiras da União Soviética, estátuas de Lênin
reinstaladas, centros culturais dedicados ao ditador comunista Stálin, e
milhares de crianças sequestradas das regiões ocupadas para serem russificadas
em território russo.
Esse movimento simbólico é sustentado por uma visão de mundo
expressa pelo próprio Putin em 2005, durante seu discurso à Assembleia Federal
da Rússia (mensagem anual à nação), em que declarou:
“O colapso da União Soviética foi a maior catástrofe
geopolítica do século XX.”
Não foi uma metáfora, mas uma lamentação do que trabalharia
para corrigir, segundo sua ótica.
O mapa da ameaça: Geórgia, Moldávia e os países bálticos
Não se trata de uma ameaça hipotética. Putin já mantém
presença militar em territórios estratégicos do antigo espaço soviético. Essa
presença, muitas vezes silenciosa, foi se estabelecendo ao longo das últimas
duas décadas — sempre em nome da “proteção de russos étnicos” ou da
“estabilidade regional”.
•Geórgia: invadida em 2008, teve parte de seu território
dividido pelas autoproclamadas repúblicas da Abecásia e Ossétia do Sul, hoje
protegidas por tropas russas.
•Moldávia: no território da Transnístria, Moscou mantém um
contingente armado e o maior depósito de munição da era soviética ainda em
operação.
•Ucrânia: a lista é conhecida — Crimeia anexada, Donetsk e
Lugansk sob controle russo, além da ocupação parcial de Zaporíjia e Kherson.
•Lituânia: país que liderou a dissidência do bloco
soviético, restaurou sua independência ainda em 1990 e integrou-se à OTAN em
2004.
No entanto, em 2022, um membro da Duma Russa declarou:
“Os lituanos só estão fora da Rússia porque nós permitimos.
Podemos revogar essa lei.”
A Lituânia representa, para Moscou, um caso simbólico de
“separação injusta” — por ter sido a primeira a romper com Moscou e por estar
hoje sob proteção direta da OTAN.
OTAN em xeque, ONU em colapso
A tentativa de ressuscitar juridicamente a URSS coloca a
OTAN diante de um impasse: se Putin afirma que países como Estônia, Letônia e
Lituânia ainda pertencem ao território soviético, qualquer defesa da Aliança
Atlântica poderá ser enquadrada por Moscou como interferência “interna”.
Com isso, o Artigo 5º da OTAN (de defesa mútua) fica
ameaçado por brechas discursivas.
Na ONU, o cenário é ainda mais grave. A Rússia tem poder de
veto no Conselho de Segurança. Se ela declarar que parte do Leste Europeu
pertence à URSS, quem poderá contestar legalmente — sem que Moscou bloqueie a
discussão?
Estamos diante do esvaziamento do direito internacional — e
da corrosão simbólica da ordem mundial.
O império contra-atacaPotencialmente estamos diante da maior
cambalhota geopolítica do século XXI.
Putin não lança essa tese diretamente. Ele envia um assessor
com aparência técnica, tom frio e retórica legalista. A proposta é testada. Se
houver resistência, recua. Se houver silêncio, avança.
É o mesmo método usado por Xi Jinping em relação a Taiwan:
negar sua existência como Estado e classificá-lo como território sublevado. A
diferença é que Putin aplica isso sobre quinze repúblicas independentes,
reconhecidas pela ONU, com representação diplomática, tratados e governos
soberanos.
É a restauração do império pela via jurídica. A violência
vem depois.
Conclusão
Ao alegar que a União Soviética ainda existe, Putin reativa
um projeto histórico, ideológico e militar que nunca morreu — apenas se
adaptou.
Enquanto o Ocidente discute “narrativas”, ele desenha novas
fronteiras.
Enquanto democracias buscam consenso, ele cria fato
consumado.
E enquanto juristas se perguntam sobre legitimidade, os
agentes da “extinta” KGB reescrevem a história.
Encerro com uma frase que resume o movimento de Moscou:
“A história segundo Putin não é sobre o que foi. É sobre o
que se impõe como se sempre tivesse sido.”
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