ANÁLISE
Alexandre Garcia: Escolhas de Lula
"Lula vai se isolando não apenas de seus mais
confiáveis amigos, mas dos tradicionais amigos do Brasil no mundo",
observa o jornalista
Lula na entrevista: "Se depender do meu esforço físico,
da minha consciência política, a extrema-direita não volta a governar este
país" - (crédito: Ricardo Stuckert / PR)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sancionou a lei
aprovada no Congresso que cria o Dia da Amizade Israel-Brasil. Mas não a vetou,
como fizera a ex-presidente Dilma Rousseff há 10 anos. Vencido o prazo para o
Palácio do Planalto se pronunciar, a lei voltou para o Congresso promulgar e
terá a assinatura de um judeu — o presidente e senador Davi Alcolumbre (União
Brasil-AP). Lula escolheu não adotar um gesto simpático para com o Estado cujo
governo o considera persona non grata por suas afinidades com o grupo
terrorista Hamas. Escolheu a emoção e a ideologia.
Na política externa, a despeito das tradições do Itamaraty,
Lula impõe ação ideológica, alinhando-se a Cuba, Nicarágua, Venezuela, China,
Rússia e Irã, como se os brasileiros não vivessem a cultura judaico-cristã do
Ocidente. Na guerra, faz declarações claramente favoráveis ao Irã e seus
filiados Hamas e Hezbollah, ainda que isso tenha que exigir olhos e narizes
fechados das feministas e dos movimentos LGBTQIA+ brasileiros. Na guerra das
Malvinas/Falklands, que cobri em 1982, perguntei ao então presidente João
Figueiredo por que o Brasil estava ajudando logisticamente a Argentina. Ele
respondeu que a Inglaterra está a 10 mil quilômetros e a Argentina continuará
na nossa fronteira quando a guerra acabar. O Irã está a 12 mil quilômetros e os
Estados Unidos continuarão no mesmo continente que o Brasil. E as afinidades
entre esses povos estão na razão direta da geografia. Lula, no entanto, provoca
o presidente norte-americano, Donald Trump, dizendo não ter medo de cara feia.
Mas para defender a Constituição, como jurou perante o Congresso, escolhe o
silêncio do medo.
Escolhas ensejam comparações. Por exemplo: entre a atual
política externa ideológica e a diplomacia de resultados, do pragmatismo
responsável. Assim como comparar Paulo Guedes com Fernando Haddad, Lula e Jair
Bolsonaro são responsáveis por suas escolhas. Bolsonaro escolheu Guedes com a
humildade de quem não entende de economia e seu ministro seria o "Posto
Ipiranga". Os resultados são diferentes, a favor de Guedes, em menos
impostos, menos gastos, mais investimentos, e superavits em estatais e nas
contas públicas. Bolsonaro não se metia na economia e Guedes pôde aplicar o que
dá certo, como Javier Milei hoje demonstra na Argentina. Lula se impõe a Haddad
e acha que todo gasto do governo é investimento. Por isso, o Brasil sobe e
desce. E desce rápido. O que se esperava que arrebentaria nas mãos do próximo
presidente, agora economistas preveem para no ano que vem. Que, para a desgraça
da atual administração federal, é ano eleitoral.
O culpado
Haddad voltou das férias de uma semana e o hiato serviu para
que especialistas concluíssem que a culpa pela irresponsabilidade fiscal não é
de Haddad, mas de Lula. Assim como os 15% de taxa Selic não são sabotagem do
Roberto Campos Neto e muito menos do Gabriel Galípolo, indicado por Lula. As
altas da taxa básica são para amortizar prejuízos da gastança comandada pelo
presidente da República, porque a missão do Banco Central é proteger a moeda e
o crédito — isto é, garantir a estabilidade do Real. Lula disse num podcast que
mais IOF é para garantir o arcabouço — que foi a forma de a nova administração
federal derrubar o saudável teto de gastos instituído no período do presidente
Michel Temer.
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Cérebro brilhante da esquerda, José Dirceu percebeu e se
manifestou. Antes, por seu amigo, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro,
o Kakai, que expressou sua queixa por Lula já não ouvir seus companheiros mais
confiáveis, estando isolado — no que pareceu uma crítica a Janja, que
influencia e evita outros conselheiros. Depois, o próprio Dirceu disse que a
esquerda não se atualizou, perdeu o protagonismo no mundo digital e fala para
um Brasil que já não existe.
Lula vai se isolando não apenas de seus mais confiáveis
amigos, mas dos tradicionais amigos do Brasil no mundo, como o aliado histórico
Estados Unidos e o país que um brasileiro, Oswaldo Aranha, ajudou a criar na
ONU — Israel. Escolhas de Lula. Que prosperam também porque representantes do
povo escolheram a omissão no Congresso.
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