Você
conhece Deus como Criador?
Em Gênesis, em Apocalipse e por todas as
Escrituras ele é Deus que cria.
Por
Timóteo Carriker
Sabe
como Deus é mais conhecido nas Escrituras? Primeiramente, como todos nós, pelo
seu nome, acima de tudo o seu nome próprio, “yhwh” (geralmente pronunciado
“Javé”1). Depois, pelo seu nome genérico, “Deus”. Em seguida, por alguns
atributos, sendo os mais frequentes “Senhor”, “Todo-Poderoso” e “Altíssimo”.
Agora, curiosamente a palavra que mais descreve a função de Deus é a palavra
“Criador” ou “Deus que cria”.
Aliás,
a sua criação é o maior tema, logo, o foco do enredo, das Escrituras. Pois a
Bíblia abre com a criação de Gênesis 1 e 2 e fecha este mesmo enredo em
Apocalipse 21 e 22.
No
princípio, Deus criou os céus e a terra. (Gn 1.1)
E vi
novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar
já não existe. (Ap 21.1)
E o
SENHOR Deus plantou um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o
homem que havia formado. Do solo o SENHOR Deus fez brotar todo tipo de árvores
agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do
jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. (Gn 2.8-9)
Então o
anjo me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono
de Deus e do Cordeiro. No meio da praça da cidade, e de um e de outro lado do
rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em
mês. E as folhas da árvore são para a cura dos povos. (Ap 22.1-2)
Mas a
criação é também tema ao longo das Escrituras. Veja alguns exemplos.
A
primeira vez que a palavra “aliança” aparece na Bíblia não é com Abraão. É com
Noé (Gn 6.18). Inclusive, uma vez que Deus elabora a respeito desta aliança,
ela é feita não só com Noé e a sua família. Mas Deus fez esta aliança com toda
a criação. E fez sem prazo de validade! (Gn 8.21-22; 9.16). Sendo a primeira,
esta aliança marca o passo para todas as outras subsequentes, inclusive a nova
aliança estabelecida por Jesus na cruz (Cl 1.15-23):
Que,
havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse
consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus. (Cl 1.20)
A
plateia maior de aplausos a Deus nos salmos é a criação, a sua principal
missionária.
Os céus
proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. (Sl
19.1)
Os céus
proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. (Sl
104.5-6)
Os rios
batam palmas, e juntos cantem de júbilo os montes, na presença do SENHOR,
porque ele vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, com
retidão. (Sl 98.8-9)
Frequentemente
a afirmação bíblica é que Deus salva justamente por ser Criador. Os dois andam
juntos. E a ideia não é tanto que Deus sendo Criador tem o poder de salvar as pessoas
quanto que Deus sendo Criador tem o alvo de salvar a criação (Is 43.14-21;
45.8-19; 54.5).
A maior
e mais profunda elaboração a respeito da salvação e justificação em Cristo pela
graça (Rm 1-8) conclui com a libertação-redenção desta2 criação (Rm 8.18-25).
Pois a
criação está sujeita à vaidade, não por sua própria vontade, mas por causa
daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será libertada do
cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. (Rm
8.20-21)
Logo, a
primeira grande comissão (Gn 1.26) para a humanidade toda continua em vigor
para a igreja também (Ef 1.22-23).
E
[Deus] sujeitou todas as coisas debaixo dos pés de Cristo e, para ser o cabeça
sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude
daquele que a tudo enche em todas as coisas. (Ef 1.22)
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Assim,
somos os discípulos de Jesus que continuam tanto o ministério que ele deixou
aqui na terra (por exemplo, nos Evangelhos) quanto o ministério que ele ainda
exerce no céu, a reconciliação de todas as coisas, logo, o cuidado redentor da
criação.
Agora,
porém, ele os reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para
apresentá-los diante dele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que vocês
permanecem na fé, alicerçados e firmes, não se deixando afastar da esperança do
evangelho que vocês ouviram e que foi pregado a toda criatura/criação debaixo
do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro. (Cl 1.22-23)
Existe
uma conspiração verdadeiramente diabólica de que o cuidado da obra-mestra de
Deus, a criação, é assunto de gente liberal, da esquerda, dos hippies, e,
portanto, não deve e nem pode ser preocupação dos autênticos discípulos de
Jesus. Quem acredita em sola Scriptura não pode ser persuadido por nada menos
que a Palavra de Deus.
Infelizmente
pouco se fala e se ensina sobre o assunto na igreja mesmo sendo central ao
conteúdo bíblico. Este quadro precisa mudar e começar com duas coisas:
primeiro, a informação bíblica e até das ciências (que esclarece em que pé
estamos com o cuidado da criação de Deus), e segundo, pelo menos o início de
alguma ação prática (pessoal, da igreja, ou da comunidade).
Notas
1. A
maioria das versões da Bíblia traduz o nome próprio “yhwh” no Antigo Testamento
por “SENHOR”, em maiúsculos, diferente de “Senhor” que traduz o título “’ādon”
e “’adonāy”. Tabulamos o termo para “Senhor” no Novo Testamento, “kyrios”, como
uma referência a “yhwh” seguindo a sua tradução no Antigo Testamento em grego
(Septuaginta).
2.
“Desta” porque nesta passagem Paulo nunca usa a expressão “nova criação”. Usa
apenas “criação”.
Timóteo
Carriker, estadunidense naturalizado brasileiro, teólogo com Ph.D em Estudos Interculturais
e mestrado em missiologia, autor de O Propósito de Deus e a Nossa Vocação, O
Que é Igreja Missional, Trabalho, Descanso e Dinheiro e A Visão Missionária na
Bíblia, entre outros), professor em diversas escolas de teologia e missões,
editor geral da Bíblia Missionária de Estudo da Sociedade Bíblica do Brasil,
surfista e blogueiro (www.ultimato.com.br/sites/timcarriker).
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