Quem
foi Anália Franco, a educadora que criou a escola maternal no Brasil.
Professora
fluminense dedicou boa parte da vida ao acolhimento de crianças e na promoção
da educação como ferramenta de libertação
Heloísa
Noronha, colaboração para a CNN.
Anália
chegou a fundar mais de 100 creches-escolas no estado de São Paulo.
Nascida
em Resende (RJ), em 1º de fevereiro de 1853, em uma família católica, Anália
Emília Franco Bastos fez história no Brasil ao ir além do papel
tradicionalmente reservado às professoras no século XIX.
Mais do
que ensinar as primeiras letras e noções básicas de história e geografia, ela
lutou pela inclusão educacional de mulheres e crianças — a maioria em situação
de vulnerabilidade social. Anália também foi precursora da escola maternal —
conceito que hoje corresponde à educação infantil, primeira etapa da educação
básica, destinada a crianças de 0 a 5 anos.
Embora
tenha nascido no Rio de Janeiro, mudou-se ainda pequena com a família para o
estado de São Paulo, onde viveu em várias cidades do interior. Aos 15 anos, já
dava aulas.
Após
formar-se professora pelo Curso Normal, passou a militar em favor das crianças
negras, especialmente após a promulgação da Lei do Ventre Livre, em 28 de
setembro de 1871. Apesar de a lei, em tese, garantir liberdade a todos os
filhos de mulheres escravizadas nascidos a partir daquela data, as crianças
permaneciam sob o controle dos senhores de suas mães até os oito anos — o que
frequentemente resultava em abusos e negligência.
Enquanto
buscava mobilizar mulheres fazendeiras para amparar essas crianças — muitas das
quais, sem apoio, recorriam à mendicância —, Anália criou a Casa Maternal, um
espaço de acolhimento.
Mais
tarde, expulsa do local onde a Casa havia sido instalada, decidiu mudar-se para
a capital paulista. Lá, fundou uma escola pública e um abrigo para crianças,
dando início ao seu legado na área da educação.
Luta
pelo acesso à educação
Além da
atuação abolicionista, Anália desenvolveu projetos voltados a mulheres e mães
trabalhadoras, pobres ou marginalizadas, ampliando suas ações também para
órfãos e crianças em situação de risco. A educação e a capacitação profissional
sempre estiveram no centro de seu trabalho, como formas de oferecer
instrumentos de desenvolvimento pessoal e transformação social.
Em
1901, fundou a Associação Feminina Beneficente e Instrutiva, voltada ao apoio
de mulheres e crianças. Dois anos depois, lançou a revista mensal A Voz
Maternal, com tiragem de 6 mil exemplares, impressos em oficinas próprias.
Anália
criou creches, bibliotecas, escolas noturnas, oficinas profissionalizantes,
asilos, liceus, abrigos, centros de atendimento médico e oficinas de trabalho.
Também atuou como jornalista, poetisa e escritora.
Fundou
mais de 100 creches-escolas no estado de São Paulo. Para manter suas
instituições, organizou um grupo de teatro e uma banda compostos apenas por
meninas adolescentes e jovens, com os quais viajava pelo interior realizando
apresentações. Escreveu diversas obras didáticas e manuais que incentivavam o
ensino escolar e domiciliar para meninas com acesso restrito à educação formal.
Preocupava-se
não apenas com o acesso à educação, mas também com a metodologia de ensino.
Inspirada por educadores europeus, como o suíço Johann Heinrich Pestalozzi
(1746-1827) e a francesa Marie Pape-Carpantier (1815-1878), buscava aplicar
práticas pedagógicas inovadoras voltadas à aprendizagem significativa.
Anália
Franco faleceu em 1919, vítima da gripe espanhola, enquanto se preparava para
fundar uma nova instituição no Rio de Janeiro — posteriormente inaugurada por
seu marido, Francisco Antônio Bastos. Embora não tenha tido filhos, lutou por
toda a vida por ações que beneficiassem mães e crianças.
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