Mutilação
genital feminina: o que é e por que ocorre a prática que afeta ao menos 200
milhões de mulheres
Mulher
conhecida como 'talhadora' no Quênia mostra a lâmina que usa para mutilar
diversas garotas
O
sofrimento da mutilação genital feminina é uma realidade para cerca de 200
milhões de meninas e mulheres que vivem hoje, de acordo com a Organização das
Nações Unidas (ONU).
Embora
a prática esteja concentrada principalmente em 30 países na África e no Oriente
Médio, ela ocorre também em alguns lugares da Ásia e da América Latina. E entre
populações imigrantes que vivem na Europa Ocidental, América do Norte,
Austrália e Nova Zelândia, dizem as Nações Unidas.
Para
marcar sua campanha permanente contra essa prática, a ONU definiu esta
quarta-feira (6) como Dia Internacional da Tolerância Zero para a Mutilação
Genital Feminina.
A
prática pode causar problemas físicos e mentais que afetam as mulheres ao longo
da vida, como explica Bishara Sheikh Hamo, da comunidade Borana no Quênia.
"Fui
submetida à mutilação quando tinha 11 anos. Minha avó me disse que era uma
exigência para todas as meninas, que nos tornaria puras."
Forças
sul-vietnamitas seguem crianças aterrorizadas, incluindo Kim Phuc, de 9 anos,
ao centro, enquanto elas correm pela Rota 1 perto de Trang Bang após um ataque
aéreo de napalm contra supostos esconderijos do Viet Cong, em 8 de junho de
1972.
A
polêmica por trás da autoria de uma das fotos mais famosas da história
Deborah
Mason
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Debbs': a avó que usou sua própria família para administrar um império de
drogas multimilionário
Exército
de Jesus: sobreviventes revelam como era a rotina de abusos de seita cristã que
aspirava a criar um céu na Terra
Mas o
que não disseram a Bishara era que ela passaria a ter ciclo menstrual
irregular, problemas na bexiga, infecções recorrentes e, quando chegasse a
hora, ela só poderia dar à luz por meio de uma cesárea.
O que é
a mutilação genital feminina? ONU estima que existam ao menos 200 milhões de
garotas e mulheres que sofreram mutilação
Mutilação
genital feminina, ou na sigla MGF, é o corte ou a remoção deliberada da
genitália feminina externa.
A
prática envolve a remoção ou o corte dos lábios e do clitóris, e a Organização
Mundial da Saúde a descreve como "um procedimento que fere os órgãos genitais
femininos sem justificativa médica".
Omnia
Ibrahim, blogueira e cineasta do Egito, afirma que a MGF é angustiante,
prejudica os relacionamentos das mulheres e como elas se sentem sobre si
mesmas.
"Você
é um cubo de gelo. Não sente nada, não ama, não tem desejo", afirma.
Omnia
diz ter lutado contra o impacto psicológico da mutilação genital durante toda a
sua vida adulta. Ela afirma que sua comunidade a ensinou "que um corpo
significa sexo e que sexo é pecado. Na minha opinião, meu corpo se tornou uma
maldição".
"Eu
costumava me perguntar sempre: eu odiava sexo porque eu fui ensinada a ter medo
dele ou realmente não importo com isso?"No Quênia, Bishara afirmou à BBC,
a mutilação genital feminina foi feita nela ao lado de outras quatro garotas:
"Eu estava vendada. Depois eles ataram minhas mãos para trás, minhas
pernas foram abertas e prenderam meus lábios vaginais".
"Depois
de alguns minutos, comecei a sentir uma dor aguda. Gritei, gritei, mas ninguém
podia me ouvir. Tentei me soltar, mas meu corpo estava preso."
Ela
afirmou que o procedimento é trágico. "É um dos tipos de procedimentos
médicos mais severos, e não há higiene. Eles usam o mesmo instrumento cortante
em todas as garotas."
O único
analgésico disponível era feito a partir de uma planta. "Há um buraco no
chão e uma planta nesse buraco. Então, eles amarraram minhas pernas como um
cabrito e esfregaram a planta em mim. E depois na próxima garota, e na
seguinte, e na seguinte..."
Prática
se baseia em motivos como aceitação social, religião e virginidade
Quatro
tipos de mutilação
Tipo 1:
Clitoridectomia. É a remoção parcial ou total do clitóris e da pele no entorno.
Tipo 2:
Excisão. É a remoção parcial ou total do clitóris e dos pequenos lábios.
Tipo 3:
Infibulação. O corte ou reposicionamento dos grandes e dos pequenos lábios. Em
geral inclui costura para deixar uma pequena abertura.
A
prática não é apenas extremamente dolorosa e estressante como também gera o
risco de infecção: o fechamento da vagina e da uretra deixa as mulheres com uma
pequena abertura pela qual passam o fluído menstrual e a urina.
De
fato, algumas vezes a abertura é tão apertada que é preciso abri-la para
permitir a penetração no sexo ou o parto - o que geralmente causa complicações
para mãe e filhos.
Tipo 4:
Abarca todos os outros tipos de mutilação, como perfuração, incisão, raspagem e
cauterização do clitóris ou da área genital.
Por que
isso ocorre?
Mulheres
no Quênia
Algumas
quenianas evitam se posicionar contra a mutilação genital feminina por medo de
não conseguirem casar ou serem consideradas promíscuas
A
maioria das razões apontadas para a mutilação genital feminina passa por
aceitação social, religião, desinformação sobre higiene, um modo de preservar a
virgindade, tornando a mulher "casável" e ampliando o prazer
masculino.
Em
algumas culturas, a MGF é considerada um rito de passagem à vida adulta e um
pré-requisito para o casamento.
Geralmente,
no entanto, o procedimento é feito contra a vontade da mulher.
Onde a
mutilação genital feminina é praticada?
Muitas
das mulheres entrevistadas pelo Unicef e pela Organização Mundial de Saúde
dizem que é um tabu discutir a mutilação em suas comunidades - logo, as
estatísticas são baseadas em estimativas.
Às
vezes, as mulheres não falam abertamente sobre o tema por medo de críticas do
entorno. Em outros casos, em países onde a prática é ilegal, é por medo de
processo contra familiares ou membros da comunidade.
Estatísticas
de MGF
O mapa
acima foi elaborado pela organização The Woman Stats Project, que combinou
informações sobre o assunto e dados da ONU e do Unicef.
Estima-se
que a mutilação genital feminina esteja concentrada em 30 países da África e do
Oriente Médico, e ocorra também em alguns países da África e da América Latina,
e em comunidades de imigrantes que vivem no Leste Europeu, na América do Norte,
na Austrália e na Nova Zelândia, afirma a ONU.
De
acordo com estudo do Unicef em 29 países da África e do Oriente Médio, a
prática ainda é adotada em larga escala, apesar de 24 desses países terem leis
ou outras formas de proibição contra a MGF.
Em
países como o Reino Unido, onde essa mutilação é ilegal, a jurista Charlotte
Proudman afirma que a prática tem crescido em bebês e crianças e é
"praticamente impossível de ser detectada", já que as crianças não
estão nas escolas ou não têm idade suficiente para denunciar isso.
Recentemente,
uma mãe - de Uganda - se tornou a primeira pessoa no Reino Unido a ser
condenada por ter mutilado sua filha de três anos. A sentença dela sairá em 08
de março.
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