Menino salvo de ataque de ariranhas em 1977 é alvo de operação da PF
Menino salvo de ariranhas no Zoológico de Brasília se tornou alvo de investigação da Polícia Federal. Ele é suspeito causar um rombo de R$ 6 bilhões no fundo de pensão dos funcionários dos Correios
Um
dos alvos da Polícia Federal na investigação que apura um rombo de R$ 6
bilhões no fundo de pensão dos funcionários dos Correios é Adilson
Florêncio da Costa ; o menino resgatado aos 13 anos pelo sargento Sílvio
Delmar Hollenbach, que, em 27 de agosto de 1977, se jogou no tanque das
ariranhas para salvá-lo no Jardim Zoológico de Brasília.
Essa
é a segunda vez que os investigadores miram em Adilson. Ele foi preso
em junho de 2016, por supostamente integrar um esquema que desviou R$ 90
milhões do Postalis e da Petros, os fundos de pensão dos funcionários
dos Correios e da Petrobras. Adilson é ex-diretor financeiro da
Postalis.
Há 40 anos, Brasília ficou em choque
pela morte do sargento do Exército Sílvio Delmar Holenbach, então com 33
anos. Após três dias de agonia no Hospital das Forças Armadas (HFA), o
militar não resistiu às mais de 100 mordidas que levou das ariranhas do
zoológico. Os animais o atacaram enquanto ele tentava salvar o menino
Adilson, à época com 13 anos.
CPI dos Correios
O
garoto salvo das ariranhas tornou-se importante interlocutor político.
Apadrinhado de caciques do PMDB, Adilson, 54 anos, chegou à direção
financeira do Postalis. Após aprovar o investimento do Postalis em
debêntures do falido grupo Galileo Educacional ; instituição mantenedora
da Universidade Gama Filho (UGF) e do Centro Universitário da Cidade
(UniverCidade), ambas no Rio de Janeiro ;, tornou-se alvo de
investigação.
O negócio ocorreu em abril de
2011. Até 2012, Adilson comandou o fundo de pensão. Ao deixar o cargo,
ganhou emprego no conselho administrativo do grupo educacional. No ano
seguinte, ele foi multado por má gestão no Postalis. Em 2014, a
administração de Adilson novamente se tornou alvo de investigação, desta
vez na Operação Lava-Jato.
Na
última quinta-feira (2/2), a história do menino voltou às manchetes. A
Polícia Federal voltou a casa de Adilson, no Lago Sul, um dos metros
quadrados mais caros da capital federal. O imóvel foi alvo de polêmica
durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Fundos de Pensão,
em 2015, por supostamente ter sido comprado por R$ 1,1 milhão do
ex-presidente do Postalis, Alexei Predtechensky. Em 2006, Adilson chegou
a depor na CPI dos Correios para explicar um investimento de R$ 20
milhões do Postalis em bancos mineiros.
Adilson
nunca comentou o fato de ter sido salvo pelo sargento aos 13 anos.
Tampouco quis conhecer a família Hollenbach. Nas últimas quatro décadas,
sempre que questionado sobre o assunto, manteve o silêncio ou mandou
dizer que não falaria sobre o assunto.
Família se reconstrói
Os
gaúchos Sílvio Delmar Hollenbach e Eni Teresinha tinham quatro filhos, à
época, com idades entre 1 e 7 anos. A família presenciou toda o
acidente quando visitava o Zoológico, em 1977. Semanas depois, Eni
Teresinha decidiu voltar a Porto Alegre, para refazer a vida com as
crianças. Hoje, a família voltou à Brasília, vive de maneira reservada e
evita comentar o assunto.
Mas o filho mais
velho do sargento, o médico otorrinolaringologista, Sílvio Delmar
Hollenbach Júnior, 48 anos, carrega o nome do pai herói. Paulo Henrique,
46 anos, é analista de sistemas no Banco Regional de Brasília (BRB).
Bárbara Cristine, 44, é advogada em Porto Alegre. Débora Cristina, 41,
dá aulas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Em
homenagem ao sargento, o zoo passou a se chamar oficialmente Jardim
Zoológico Sílvio Delmar Hollenbach. Além disso, o gesto de coragem ficou
eternizado com a construção de um busto de bronze com o rosto do
militar.
As lembranças daquele 27 de setembro
de 1977 ainda estão vivas na memória de Sílvio Jr.. ;Lembro de tudo. Do
meu pai saindo do carro, pulando no fosso e retirando o menino. Não fui
ao enterro por ser pequeno. Na verdade, soube da morte dele pelo Jornal
Nacional;, contou, em entrevista publicada em junho de 2016. Sílvio
formou-se em Porto Alegre e fez residência no Hospital das Forças Armas
(HFA) ; unidade médica onde seu pai ficou internado antes de morrer.
Na
primeira prisão de Adilson, em junho de 2016, Sílvio Jr. contou ao
Correio que sua mãe chorou ao saber do desfecho de Adilson. ;Ela não
quis fazer nenhum comentário a respeito do assunto;, detalhou. ;Estava
atendendo uma consulta quando me ligaram. Depois, vi a notícia nas redes
sociais;, contou. ;Cada um faz suas escolhas. A gente cabe lamentar,
mas o que importa é a mensagem que meu pai deixou de amor ao próximo;,
completou.
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