quarta-feira, 28 de junho de 2023

REFLEXÃO...

 

  Paulo Henrique Araújo: Carta ao Leitor PHVox #32 |

 

A Rússia pós “golpe” do Wagner Group

 

Olá, Dionê Machado. Tudo bem contigo? Na carta de hoje, o tema é a tremenda confusão que aconteceu na Rússia neste final de semana, está acontecendo todo tipo de teoria e elocubrações que tem prejudicado muito um verdadeiro debate dos fatos. Então vou tentar auxiliar o entendimento deste processo aqui com vocês. Vamos lá? (acho que esta é a carta mais aprofundada que já lhe envie, encha a xícara de café)

 

A impressão da fraqueza Russa desde o início da sua guerra contra a Ucrânia sempre foi desmentida de maneira apaixonada por seus propagandistas. Hoje ficou provado que o blefe insistente nuclear era uma arma quase que única para demonstrar força.

 

Putin, segundo relatos, teve que recorrer ao socorro do homem que ele usava como um boneco: Aleksandr Lukashenko. Este ajudou Putin por saber que seu regime comunista, herança da União Soviética, ainda está de pé, única e exclusivamente graças a subserviência ao regime de Putin. Foi o abraço dos desesperados.

 

O que ficou escancarado para o mundo neste momento:

 

Putin não é mais o dono do poder interno.

Putin não tem a hegemonia das forças armadas.

A Rússia não tem capacidade de proteger o seu próprio território em um “assalto surpresa”.

Deu um péssimo exemplo para a cultura russa ao abandonar a capital (o que parece ser um fato).

Os parceiros da CSTO (Versão russa da OTAN), não se mostraram disponíveis para socorrê-lo, principalmente o Presidente Tokaiev do Cazaquistão.

Putin deverá entregar cabeças de seu alto escalão para tentar ficar no poder, sem a possibilidade de exercer ameaças ou distribuição de seu famoso chá.

Putin, se nada mudar, deve virar um fantoche da oligarquia russa, que usará sua imagem para exercer os seus desejos.

O papel do Wagner Group deve mudar a estrutura de poder principalmente na África, se assim o quiser Prigozhin.

 

 

Pontos que precisamos ficar atentos:

 

a) Como essa dinâmica irá interferir na relação com a China e como os Comunistas de Pequim irão tirar vantagem disto?

 

b) Como este enfraquecimento irá influenciar na dinâmica de relações com o Irã na América Latina?

 

c) Como este processo irá influenciar as ações do Foro de São Paulo na América Latina?

 

d) A elite “globalista” teria agido para, mais uma vez, socorrer Putin? (Se você desconhece este pontoe acha graça, está na hora de rever tudo o que conhece sobre as relações internacionais dos últimos 20 anos).

 

São muitas questões, muitas coisas que irão acontecer daqui para a frente. A dinâmica russa começou a mudar drasticamente e as perguntas principais são:

 

Putin conseguirá “dar a volta por cima”? Em um novo arranjo de poder, qual será a nova posição da estrutura oligárquica Russa?

 

Os próximos meses serão intensos e de estudos profundos.

 

Horas após a publicação deste artigo, o principal ideólogo dos apoiadores da Rússia no ocidente, Aleksandr Dugin, falou sobre a insurgência de ontem.

 

Dugin, aponta em outros termos, praticamente tudo o que foi apontado nas linhas acima.

 

Segue declaração publicada por Dugin:

 

“Para enfrentar um desafio direto à soberania do Comandante-em-Chefe Supremo [Putin, ed.], não havia uma única figura forte e corajosa o suficiente em sua comitiva. Apenas o Soberano Lukashenko, junto com o próprio Soberano Putin, o confrontou. Com o ocorrido, muitos podem incriminar o Presidente e o povo, agindo nas sombras e aparentemente em seu nome, mas salvar a Pátria em situação crítica não é sua especialidade. A deserção de ontem das elites é mais desprezível do que Upper Lars.

 

Existe apenas uma solução sistêmica: a ideologização imediata e genuinamente patriótica da classe dominante e a rotação das elites. Apenas uma elite bem treinada pode esperar ser heróica e se comportar adequadamente em uma situação de emergência. Precisamos de uma elite como a atual, precisamos de uma elite soberana, senão tudo se repetirá. As fraquezas do nosso sistema foram mostradas ontem em toda a sua glória, mas também vimos a vontade de Putin, a verdadeira amizade de Lukashenko e o apoio total e intransigente ao nosso presidente por todos os verdadeiros patriotas. Muitos deles pensam como Prigozhin, mas apoiaram Putin em uma situação crítica, e isso vale muito.”

 

-Alexander Dugin

 

AINDA NÃO ACABOU... Está circulando este mapa da imagem nas redes sociais como um grande plano oculto da Rússia, que explicaria a estratégia por trás da insurgência militar… será mesmo?

 

Vamos por pontos:

 

1. Custo ($): Um país em guerra precisa trabalhar muito bem seus recursos. O custo para mover 25 mil homens não é baixo, ainda mais se para fazer um plano você adicionar nisto (dados do que aconteceu):

 

a) Morte de soldados em alguns conflitos localizados

 

 b) Movimentação de tropas de defesa em Moscou.

 

c) Destruição de rodovias e gasto com barricadas.

 

d) destruição de helicópteros de defesa.

 

2. Propaganda: Vladimir Putin, desde o início da guerra, assumiu o papel de falar quase que exclusivamente para o público interno. Perceba que desde 02/2022 praticamente não há declarações dele para o mundo, somente declarações para os russos em mídias estatais, ou vídeos de recepções e reuniões no Kremlin, quase sempre informais. Todas as declarações diplomáticas. Toda comunicação diplomática é feita pelo porta voz Dimitri Peskov ou o chanceler Lavrov.

 

Este processo é feito, justamente para que Putin tenha a sua imagem fortalecida dentro da Rússia, mantendo um alinhamento com a propaganda de que o país é vítima do inimigo EXTERNO. Aqui precisamos fazer algumas perguntas:

 

a) Para fazer este plano, ele precisaria hackear a tv estatal russa e colocar um vídeo do Prigozhin desmascarando todas as mentiras criadas pela FSB (antiga KGB) que justificavam a guerra?

 

b) Seria necessário abrir para o público russo, que precisar continuar acreditando na propaganda de inimigo EXTERNO, que existe um exército de 25 mil homens infelizes com líder da nação?

c) Seria necessário Putin abandonar a capital?

 

d) Seria necessário Putin pedir ajudar militar para o Presidente Tokayev do Cazaquistão?

 

3. Todo líder russo, historicamente, precisa e deve passar uma visão de força e determinação. Todo líder fraco ao longo da história da Rússia ruiu…

a) O que Putin ganharia mostrando que seu exército não respeita o seu comando?

 

b) Qual a imagem que passa para o povo, dependendo da ajuda de Aleksandr Lukashenko?

 

4. Existe um forte sistema de repressão na Rússia, que impede qualquer cidadão de fazer críticas ao governo e ao exército. Desde 02/2022 vários veículos de mídia independente foram fechados. A internet possui controle total de discurso. Tendo isto em mente:

 

a) O que Putin ganharia entregando batalhões e cidades nas mãos de inimigos, sem resistência do exército?

 

b) Sabendo que precisa de repressão, ele não calcularia que boa parte da população iria apoiar alguém que queria derruba-lo? (Como o povo de Rostov apoiou abertamente)

 

5. A questão mais importante de todas: Qualquer tropa russa ou sob suas ordens, pode circular livremente dentro da Rússia e da Bielorrússia. O território russo não é campo de batalha. Com isso em mente:

 

a) Criar todo este trabalho logístico e teatral, para no final anunciar que o Prigozhin está indo para a Bielorrússia, garante qual elemento surpresa?

 

b) A inteligência Ucraniana é tão burra e despreparada que não perceberia este plano, se não fosse a visão libertadora do twittero putinista?

Creio que esse Xadrez 4D é dos mais incríveis que já vi...

😮💨 Ufa... que final de semana, não?

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