quarta-feira, 24 de julho de 2024

REFLEXÃO...01

 

Contribuições da teologia para a igreja – crescendo em maturidade e testemunho

 

A prática saudável do Evangelho depende do verdadeiro conhecimento que vem somente de Deus

 

Por Fernanda M. Terra Azevedo

 

Pode uma igreja ser saudável e madura sem um conhecimento profundo sobre Deus e sua Palavra? As Escrituras nos oferecem diversas respostas de que isso não é possível. Começando pelo texto de Oseias 4.6: “O meu povo está sendo destruído por falta de conhecimento”.1 Nesse contexto, vemos que o povo de Israel se afastou do conhecimento e da sabedoria de Deus, aproximando-se das práticas abomináveis dos demais povos. Podemos perceber que há uma lógica no comportamento dos israelitas que começa no campo do conhecimento e se desdobra em suas práticas.

 

“É melhor a prática do que a teologia vazia” é uma expressão comum que, certamente um cristão com um pouco mais de tempo de igreja, já ouviu. Entretanto, assim como o conhecimento sem prática é vazio, a prática sem conhecimento também é. No Antigo Testamento, o povo de Israel se afastava dos princípios de Deus quando deixava de observar seus mandamentos. Aproximavam-se do conhecimento dos deuses de outros povos e passavam a praticar a mesma coisa que eles.

 

Partindo para o Novo Testamento, temos outros exemplos claros sobre essa questão, como a Igreja de Coríntios. A partir dela, podemos tirar ensinamentos importantes sobre a vida comunitária e o caminho para o amadurecimento na fé.

 

Uma igreja com dons, mas sem sabedoria

No início da Carta, é possível notar, no verso 7, do capítulo 1, que a igreja possuía dons (...) “não lhes faltam nenhum dom espiritual (...)”. Ou seja, os irmãos daquela comunidade possuíam uma prática fé. Porém, na sequência, o apóstolo Paulo inicia sua exortação sobre a divisão e os demais pecados cometidos. Quando analisamos o contexto, percebemos que os membros não estavam respeitando a importância da comunhão em torno da pessoa de Jesus Cristo, pecando contra Deus e uns com os outros.

 

A falta de conhecimento e sabedoria podem levar ao uso errado dos dons que Deus deu ao seu povo de forma específica. O que leva a um exercício equivocado do ministério, gerando confusão, divisão, brigas e mau testemunho do povo de Deus.

 

Paulo condena a sabedoria humana que rejeita a Deus

Na tentativa de justificar a prática sem teologia, alguns utilizam o texto de 1 Coríntios 1.18-31, principalmente com ênfase na parte “Onde está o sábio? Onde está o erudito? Onde está o questionador desta era? (...)”. Entretanto, Paulo não está rejeitando a sabedoria ou o conhecimento em si, mas a tentativa humana de querer colocar a própria inteligência acima de Deus. O ponto em questão é que os sábios daquela época queriam colocar Cristo em sua própria perspectiva, enquanto a Cruz é a verdadeira mensagem que confronta a suposta sabedoria humana. Como Gordon Fee expôs: “O Cristo crucificado como poder de Deus e, portanto, como sabedoria no mundo é a contradição suprema para maneiras meramente humanas para perceber a realidade”. 2 É a sabedoria de Deus que importa e deve conduzir a vida de todos os cristãos.

 

 

 

Estejam preparados para explicar a razão de vossa fé

Saber a razão da nossa fé, implica em saber explicá-la. Logo, precisamos conhecer o que cremos e o porquê. Em Atos 17.13 encontramos o exemplo dos bereanos, que com interesse examinavam as Escrituras para conferir se a pregação era verdadeira. Perceba, que esses exemplos demonstram que a prática saudável do Evangelho tanto no sentido individual quanto em comunidade depende do verdadeiro conhecimento que vem somente de Deus.

 

A teologia tem o papel de contribuir com os estudos dos cristãos, primeiramente, para aprofundar o conhecimento e o relacionamento com Deus de forma individual e que se reflete no coletivo, que é a vida em comunidade. Assim, uma comunidade que se aprofunda nas Escrituras, torna-se uma comunidade que:

Usa corretamente os dons: quando os cristãos se voltam para a sabedoria da mensagem da Cruz, eles entendem que o exercício do ministério não é para a vanglória, mas para a adoração em torno da pessoa de Jesus Cristo, a edificação do corpo, a santidade e proclamação do Evangelho, preservando a unidade da igreja.

 

Amadurece no ensino da Palavra: o estudo teológico se torna uma ferramenta para a compreensão mais profunda de Deus e de seu propósito para a humanidade. Levando os cristãos a se dedicarem ao estudo, ajudarem uns aos outros na caminhada da fé e a viver o ensino de forma natural da vida da igreja.

 

Discipula com maturidade: o discipulado se torna uma consequência natural da vida cristã, uma vez que a profundidade dos estudos nos leva a caminhar uns com os outros e a entender a importância dos relacionamentos para glorificar a Cristo.

 

Protege-se dos ensinamentos errados: quando uma igreja entende o valor da teologia, ela tem a oportunidade de agir como os bereanos, sempre consultam as Escrituras para validar se o que está sendo dito é a verdade de Deus. O que ajuda a igreja a se proteger dos falsos profetas e não se deixar levar por qualquer vento de doutrina.

 

Explica a razão da sua fé com temperança e amor: um dos desafios dos cristãos de todas as eras é a defesa da fé diante dos questionamentos humanos. O estudo teológico contribui para que a igreja saiba discernir o que está acontecendo no mundo e como o Evangelho responde a isso com maturidade e temperança.

 

Age com coragem nos tempos mais desafiadores: sabiamente, A.W. Tozer disse: “um mundo assustado precisa de uma igreja corajosa”. Por diversos momentos de sofrimento humanitário ao longo da história, os cristãos foram para a linha de frente cuidar dos necessitados e pregar a mensagem da Cruz. Uma igreja madura não se abala facilmente com as dores e o sofrimento deste tempo presente, mas entende que a missão de Deus está seguindo o seu curso e devemos responder com firmeza e amor, sabendo que a nossa esperança está firmada na glória futura em Cristo.

 

O estudo teológico tem muito a contribuir com a maturidade da igreja e o exercício de sua fé com alegria. Lembrando de que, em todo tempo, precisamos do Espírito Santo para nos revelar a vontade de Deus e trazer maturidade. Diante dos desafios que vivemos, sem dúvida, o mundo anseio por uma igreja corajosa, que tem sua esperança na glorificação e vive verdadeiramente a unidade da fé para que o mundo saiba que Cristo foi enviado.

Fernanda M. Terra Azevedo é formada em teologia pelo Seminário Evangélico do Betel Brasileiro, mestranda em Estudos Bíblicos e Pastorais pelo Seminário Servos de Cristo e mestre em Ciências Sociais pela PUC | SP. Fernanda colaborou para o painel A diferença que a teologia faz, publicado na edição 408 da Ultimato.

 

Notas

1. Nova Almeida Atualizada, 2017

2. GORDON, D. Fee. Comentário exegético 1 Coríntios. 1ª ed. Vida Nova. São Paulo, 2019.

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