segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

EMILY DICKINSON.



23 traduções para um poema de Emily Dickinson (1830-1886), por Matheus Mavericco

Com Emily Dickinson as coisas não funcionavam bem no sentido de sentar pra, digamos, escrever um livro de poemas ou entupir um com o que se tem à mão. Para quem publicou em vida só sete dos mais de dois mil que escreveu, é possível que a graça estivesse noutra coisa que não o amontoado retangular de celulose.
Tomemos o caso daquele que começa com “A word is dead”. Curiosamente, sua primeira aparição foi em prosa, na parte final de uma carta enviada em 1872 para Louisa e Fannie Norcross, duas parentes da autora:
Thank you for the passage. How long to live the truth is! A word is dead when it is said, some say. I say it just begins to live that day.
Thomas H. Johnson, um dos primeiros a tentar publicar Emily Dickinson mantendo a radicalidade de sua escrita, diz não saber ao certo se o trecho seria uma espécie de pós-escrito à carta ou se excerto de alguma outra. Dúvida que talvez explique o motivo do poema ter sido estampado em prosa quando era prática comum da autora transcrever poemas seus no corpo das cartas.
Uma segunda explicação reside, conforme informado por Adalberto Müller (nota abaixo), no fato de que o manuscrito da carta não existe. É quando entra uma segunda, escrita de Frances Norcross a Mabel Todd, onde a primeira transcreve o poema dispondo-o em quatro versos, exatamente como Adalberto traduz. Ora: se nossa amiga Frances o tratou como poema, e se ela era conhecida de Dickinson, então maravilha, tratemo-lo como tal.
O que ele tem a nos dizer? Sua simplicidade e concisão são admiráveis. Se por um lado tendemos a dizer que a palavra cai morta assim que sai da boca, quase como se a descartássemos,como
e a expelíssemos, por outro, seguindo o argumento do poema, é precisamente quando ela é dita que ela passa a viver. Mas que vida é essa a que Dickinson se refere? Todas as palavras do meu texto são assimiladas pela inteligência do leitor, passando, agora, a fazer parte de seu repertório. Ou seja: a partir do momento em que a palavra alcança o outro, a partir do momento em que ela é dita, ela passa a viver em outras pessoas. Não é o que acontece quando, numa briga de casal, um dos lados retira das cinzas uma única expressão ou um simples tom de voz de semanas atrás?
Segundo Richard Sewall, um dos seus melhores biógrafos, o métod
undo Richard Sewall, um dos seus melhores biógrafos, o método dickinsoniano consistia n“a intensificação, ou concentração, de significados nas palavras até que reluzissem ‘como nenhuma outra safira’ – ou seja, até que se tornassem, em mútuo suporte e combinação, a Palavra, um poema que pudesse ‘morar em nós’, vivo, uma fusão corpórea entre o significado e (como na vida humana) o mistério”. O autor compara o método a quando Emerson, no ensaio The Poet, diz que “Não há necessidade que um poema seja longo. Toda palavra já foi um poema.”
Matheus Mavericco* * *

A word is dead
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.

F278B / J1212

Uma palavra morre
Quando é dita –
Dir-se-ia –
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia

(Trad. Aíla de Olveira Gomes)
§
Uma palavra morre
Quando falada
Alguém dizia.
Eu digo que ela nasce
Exatamente
Nesse dia.

(Trad. Idelma Ribeiro Faria)
§

Palavra é morta
Quando está dita,
Dizem uns.
Digo: inicia
A só viver
Em tal dia.

(Trad. José Lino Grünewald)
§
Morre a palavra
quando é falada,
dirão.

Digo: – Só então
ela começa a
viver.

(Trad. Abgar Renault)
§
Uma palavra morre
ao ser pronunciada
é o que se diz

(flor que se cumpre sem pergunta)
Digo que é nesse ………….exato dia
que ela começa
………….a viver
(versão de José Lira)
§ 
A palavra morre
Quando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.

(Trad. Augusto de Campos)
§

Palavra expressa
Extingue e cessa,
Se dizia.
Mas se ela dá-se,
Digo que nasce
Em tal dia.

(Trad. Matheus Mavericco)
Quanto se expresse
— Dizem — perece
Depressa.
Eu — discordando —
Digo — isso é quando
Começa.

(Trad. Nelson Ascher, 1a versão)

A word is dead
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.
F278B / J1212
§

Uma palavra morre
Quando é dita –
Dir-se-ia –
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia
(Trad. Aíla de Olveira Gomes)
§

Uma palavra morre
Quando falada
Alguém dizia.
Eu digo que ela nasce
Exatamente
Nesse dia.
(Trad. Idelma Ribeiro Faria)
§

Palavra é morta
Quando está dita,
Dizem uns.
Digo: inicia
A só viver
Em tal dia.
(Trad. José Lino Grünewald)
§

Morre a palavra
quando é falada,
dirão.
Digo: – Só então
ela começa a
viver.
(Trad. Abgar Renault)
§

Uma palavra morre
ao ser pronunciada
é o que se diz
(flor que se cumpre
sem pergunta)
Digo que é nesse
………….exato dia
que ela começa
………….a viver
(versão de José Lira)
§

A palavra morre
Quando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.
(Trad. Augusto de Campos)
§

Palavra expressa
Extingue e cessa,
Se dizia.
Mas se ela dá-se,
Digo que nasce
Em tal dia.
(Trad. Matheus Mavericco)
§

Quanto se expresse
— Dizem — perece
Depressa.
Eu — discordando —
Digo — isso é quando
Começa.
(Trad. Nelson Ascher, 1a versão)
§

Palavra expressa
dizem que cessa
sem vida.
Dela, porém,
digo: é recém-
-nascida.
(Trad. Nelson Ascher, 2a versão)
§

Palavra expressa,
dizem que cessa
depressa.
Eu, discordando,
digo que é quando
começa.
(Trad. Nelson Ascher, 3a versão)
§

DAS PALAVRAS
“Morrem após
calar-se a voz”,
ouvi.
Penso, porém,
que nascem bem
ali.
(Trad. Pedro Mohallem, 1a versão)
§

DA PALAVRA
“Perece após
calar-se a voz”,
dizeis.
Digo, porém,
que viva enfim
se fez.
(Trad. Pedro Mohallem, 2a versão)
§

Palavra morre
Se lhe ocorre
Ser dita.
Eu não concordo,
Se desse modo
Se agita.
(Trad. Emmanuel Santiago, 1a versão)

A word is dead
When it is said,
Some say.
I say it just
Begins to live
That day.
F278B / J1212
§

Uma palavra morre
Quando é dita –
Dir-se-ia –
Pois eu digo
Que ela nasce
Nesse dia
(Trad. Aíla de Olveira Gomes)
§

Uma palavra morre
Quando falada
Alguém dizia.
Eu digo que ela nasce
Exatamente
Nesse dia.
(Trad. Idelma Ribeiro Faria)
§

Palavra é morta
Quando está dita,
Dizem uns.
Digo: inicia
A só viver
Em tal dia.
(Trad. José Lino Grünewald)
§

Morre a palavra
quando é falada,
dirão.
Digo: – Só então
ela começa a
viver.
(Trad. Abgar Renault)
§

Uma palavra morre
ao ser pronunciada
é o que se diz
(flor que se cumpre
sem pergunta)
Digo que é nesse
………….exato dia
que ela começa
………….a viver
(versão de José Lira)
§

A palavra morre
Quando ocorre,
Se dizia.
Eu digo que ela
Se revela
Nesse dia.
(Trad. Augusto de Campos)
§

Palavra expressa
Extingue e cessa,
Se dizia.
Mas se ela dá-se,
Digo que nasce
Em tal dia.
(Trad. Matheus Mavericco)
§

Quanto se expresse
— Dizem — perece
Depressa.
Eu — discordando —
Digo — isso é quando
Começa.
(Trad. Nelson Ascher, 1a versão)
§

Palavra expressa
dizem que cessa
sem vida.
Dela, porém,
digo: é recém-
-nascida.
(Trad. Nelson Ascher, 2a versão)
§

Palavra expressa,
dizem que cessa
depressa.
Eu, discordando,
digo que é quando
começa.
(Trad. Nelson Ascher, 3a versão)
§

DAS PALAVRAS
“Morrem após
calar-se a voz”,
ouvi.
Penso, porém,
que nascem bem
ali.
(Trad. Pedro Mohallem, 1a versão)
§

DA PALAVRA
“Perece após
calar-se a voz”,
dizeis.
Digo, porém,
que viva enfim
se fez.
(Trad. Pedro Mohallem, 2a versão)
§

Palavra morre
Se lhe ocorre
Ser dita.
Eu não concordo,
Se desse modo
Se agita.
(Trad. Emmanuel Santiago, 1a versão)
§

Palavra morre
Se, diz-se, ocorre
Ser dita.
Eu já diria

Que nesse dia
Se agita.

(Trad. Emmanuel Santiago, 2a versão)
§
Palavra morre
Se dita, alguém
Dizia.
Mas, para mim,
Só ganha vida
Tal dia.
(Trad. Emmanuel Santiago, 3a versão)
 

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