Nada de incêndio na fábrica! Esta é a verdadeira
história do 8 de março
á
séculos, alimenta-se a ideia de que o 8 de março, Dia Internacional da Mulher,
teria surgido por causa da morte de 130 operárias carbonizadas em um incêndio
em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911.
Intelectuais
feministas, contudo, afirmam que essa versão trágica do surgimento da data, em
que mulheres morreram de forma passiva enquanto trabalhavam, abafa a história
de luta e mobilização das mulheres operárias do final do século 19, que se
organizavam contra governos e patrões por melhores condições de trabalho.
A versão mais aceita diz que, segundo Eva Blay, em 1910, a
militante Clara Zetkin propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher, sem
definir uma data precisa, no II Congresso Internacional de Mulheres
Socialistas, em Copenhagem
Essa
greve de mulheres teria sido reconhecida por Trotsky como o primeiro momento da
Revolução de Outubro, que resultou na Revolução Russa de 1917.
Em 1975,
a ONU oficializou o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher por meio
de um decreto.
A exploração das mulheres e a formação do
capitalismo
Segundo
especialistas, a divisão sexual do trabalho, desde sempre, teve uma função
social que ultrapassa os fatores econômicos e trabalhistas: garantir a
dominação dos homens na sociedade.
Para a
cientista política Flávia Biroli, professora da Universidade de Brasília, a
importância de se associar o 8 de março às lutas de trabalhadoras contra seus
patrões é a de reconhecer que o capitalismo industrial foi estruturado sobre a
subordinação das mulheres.
“A
desvalorização do trabalho das mulheres e o controle sobre elas tanto no âmbito
familiar quando no público, isto é, na política e no trabalho, são elementos
organizadores do capitalismo industrial e permanecem fundamentais para se
explicar as conexões entre gênero, trabalho e desigualdades hoje”, afirma
Birolli.
O trabalho e a mulher
A
socióloga Rios explica que desde a sua origem, o movimento feminista foi
organizado sobre três pontos sociais, sendo um deles relacionado à situação de
exploração da mulher no mercado de trabalho.
“O
movimento feminista sempre esteve fortemente envolvido com o tema da igualdade.
Isto é, igualdade nos direitos políticos (direito ao voto), direitos civis (ao
divórcio) e direitos sociais (igualdade no mercado de trabalho, como direito à
equidade salarial)”, pontua Rios.
A
socióloga afirma que, apesar de intelectuais, acadêmicas e até burguesas
integrarem o início da mobilização de mulheres no mundo, a situação de
desigualdade salarial entre operários homens e mulheres foi um dos principais
motores para o movimento feminista no início do século 20.
Mais que
isso, o tema da mulher e o trabalho é tão antigo que aparece um século antes
das lutas que resultaram no 8 de março. “A divisão sexual do trabalho pode ser
encontrada como problema nas precursoras no século 18, como Mary Wolstonecraft.
Mas é entre intelectuais socialistas como Clara Zetkin e, mais tarde, Alexandra
Kollontai, que essa crítica passou a abranger as relações de classe”, explica
Biroli. Mary Wolstonecraft foi uma escritora inglesa nascida em 1759. Ela é
considerada a fundadora do feminismo no mundo por causa da sua obra
“Reivindicação dos direitos das mulheres”, publicada em 1792.
A
cientista política Avelar ressalta, contudo, que as feministas operárias e
trabalhadoras sofreram grandes injustiças por não serem consideradas
intelectuais ou por não pertencerem a classes sociais privilegiadas.
“O
sufrágio foi uma pauta unificadora desses movimentos, mas os temas relacionados
às condições de trabalho e de proteção social, eram prioridade das mulheres
trabalhadoras e sindicalizadas”.
Para
Avelar, a mulher da periferia, assim como a trabalhadora das camadas mais
pobres e marginalizadas, ainda são as mais silenciadas e as menos favorecidas.
“As
divisões de classe social, de raça e etnia, separam as mulheres em suas
condições objetivas de vida”, explica. “Existe a convicção de que os movimentos
feministas e as organizações sindicais caminham juntos, o que é não é
completamente verdade. Mas se não fosse a adesão de mulheres de classe média,
secundaristas e universitárias às causas das mulheres de periferia, questões
como creches, custo de vida, saúde reprodutiva, jamais ganhariam força e
visibilidade.”
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Sobre @ autor@: Lais Modelli
Laís é
ativista, jornalista e mestre em Comunicação Midiática, especializada em
feminismo e cibercultura. É criadora da página Nem Uma Mulher Mais e escreve grandes
reportagens sobre gênero e política para a revista Caros Amigos desde 2012. Foi
correspondente internacional no México e tem muito apreço pela história das
mulheres latinas. Sonha em ser escritora um dia.
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