Brasília,
março de 2002
APRESENTAÇÃO
ENTRE O
SILÊNCIO E A MORTE
Deputado
Marcos Rolim
É difícil
saber quantos são os idosos institucionalizados no Brasil. Pelos dados do
governo, existem hoje em torno de 19 mil idosos atendidos em instituições
asilares. O número pode ser muito maior se levarmos em conta que muitas das
instituições do tipo não estão cadastradas e outras tantas funcionam,
efetivamente, na clandestinidade. Durante uma semana, em outubro de 2001,
estivemos visitando casas de internação de idosos em quatro estados
brasileiros. Ao todo, foram 28 instituições visitadas das quais apenas 6 nos
pareceram adequadas ou em boas condições. Pelo que pudemos perceber, há um
modelo largamente hegemônico no Brasil quando falamos em instituições para
idosos: trata-se do modelo asilar. Poderíamos definir esse modelo afirmando que
os asilos são aquelas instituições onde se verifica, primeiramente, uma
segregação dos idosos diante da comunidade de entorno. Como regra, os idosos
estão apartados de qualquer convivência comunitária; não saem do asilo ou,
quando o fazem, realizam apenas breves e vigiadas incursões. Além desta
apartação, tão típica das "instituições totais" (Goffmann), deveríamos
agregar outra característica fundamental, a saber: o abandono. Os idosos
internados em asilos estão abandonados duplamente. Primeiro, pela família;
segundo, pela própria instituição. Esse duplo esquecimento os condena a uma
realidade sempre idêntica, não raras vezes definida por eles mesmos como um
cotidiano onde se "come e dorme". Aos idosos vitimados por esse
modelo asilar não se oferece atividades. Para todos os efeitos, eles estão
internados em um espaço cuja realidade se situa entre o silêncio e a morte. O
silêncio incontornável da vida que resta e o silêncio futuro que resultará do
fim da vida.
Nos
asilos, os idosos não são concebidos como cidadãos. São resquícios, lembranças
avulsas, lamentos. Pessoas tratadas como absolutamente incapazes, mesmo quando
no gozo pleno de suas faculdades mentais ou independentes fisicamente. Não
podem decidir o que quer que seja, devem responder prontamente às normas
internas definidas sempre por outros, comer a comida que outros preparam,
dormir e acordar nas horas de praxe, tomar a medicação que lhes é dada e
aguardar. Aguardar, indefinidamente, por nada. Em grande parte das
instituições, não possuem sequer o direito ao nome próprio. Aqueles que
interagem com eles, não sabem seus nomes. O espaço que habitam não é o seu espaço.
Dormem em quartos onde as camas quase se tocam, junto com outros idosos que
jamais viram antes. Não possuem privacidade, nem contam com mobiliário próprio
que lhes permitam guardar seus pertences e ter a eles acesso. Nesses espaços
onde se estranham, não contam, em regra, com uma estrutura física adaptada a
sua condição física ou às dificuldades que passam a experimentar para locomoção
e outras atividades da vida diária (AVD). Os asilos onde foram deixados
costumam lhes construir armadilhas perigosas: às vezes, uma escada íngreme, sem
corrimões; às vezes, um banheiro úmido e escorregadio, sem amparos. Por conta
disso, caem freqüentemente e se machucam.
Muitas
dessas casas de idosos são, apenas, pequenos e modestos empreendimentos
privados pelos quais seus proprietários auferem renda. Para isso, apropriam-se
das aposentadorias, pensões e outros benefícios dos internos; muitas vezes,
manipulando diretamente os cartões bancários de seus "clientes" e a
generosidade da comunidade envolvidas em campanhas beneficentes. Outras
instituições manifestam o resultado de um "espírito filantrópico" que
se imaginou auto-suficiente. Nesses casos, a boa intenção costuma ser
rapidamente ultrapassada pelas carências e dificuldades oferecidas aos próprios
internos por conta da ausência absoluta de qualquer profissionalismo, seja na
administração das Casas, seja no cuidado com os idosos. Tanto numa quanto
noutra situação, o que temos são depósitos de pessoas desassistidas.
Nossa
Caravana permitiu conhecer um tanto dessas instituições e nosso compromisso,
com o presente relatório, além de compartilhar a experiência que tivemos, é
oferecer uma contribuição para o desenvolvimento de políticas públicas que
enfrentem, no Brasil, o desafio de assegurar o envelhecimento com dignidade a todos.
Deveríamos
dedicar mais atenção ao tema, senão por outro motivo pelo fato de que ele tende
a ser um dos grandes desafios das próximas décadas. Todos os estudos
demográficos em nosso país atestam um fato inconteste: nossa população está
envelhecendo proporcionalmente. De um lado, pelo aumento da expectativa de
vida; de outro, pela redução abrupta das taxas de natalidade, o que se observa
é o crescimento proporcional da população com 60 anos ou mais. Em 1900, a
expectativa de vida no Brasil não ultrapassava os 33,7 anos; em 1940 alcançou
os 39 anos e, em 1950, os 43,2 anos. Em 1960 já era de 55,9 anos e entre as
décadas de 60 e 80, alcançou os 63,4 anos. Atualmente, está em 68 anos e em
2025 será de 80 anos. Hoje, as pessoas com mais de 60 anos já são 14,1 milhões
de brasileiros, o que significa 9,1% da população. Dentro de 20 anos, os idosos
em nosso país serão 32 milhões e representarão 15% do conjunto da população.
Ocuparemos, então, o sexto lugar no ranking mundial de populações idosas. Em
2025, calcula-se, 2/3 dos idosos do mundo estarão em países da
"periferia": 284 milhões na China, 145 milhões na Índia, 32 milhões
no Brasil e na Indonésia, 18 milhões no Paquistão, 17 milhões no México e em
Bangladesh e 16 milhões na Nigéria.
No caso
brasileiro, essa evolução assinala uma radical mudança no perfil demográfico e
será a responsável pela duplicação da população de idosos em 20 anos. O
processo já tem registrado um impacto considerável sobre as demandas por saúde
e deverá alterar, também, as políticas sociais. Na área da saúde, tem-se,
atualmente, por exemplo, um peso muito maior nas doenças crônicas
degenerativas, o que tem implicado em custos crescentes de internação,
tratamento e medicação. Toda essa mudança, não se fez acompanhar, ainda, seja
por uma legislação moderna e garantidora dos direitos dos idosos, seja por uma
rede institucional que lhes assegure proteção e amparo. A Política Nacional do
Idoso (PNI), resultante da Lei 8.842 de 04 de janeiro de 1994, ofereceu
diretrizes importantes que, não obstante, jamais constituíram algo mais do que
uma promessa. No âmbito governamental, observa-se a importância conferida aos
idosos quando se descobre o que os orçamentos públicos realizam em programas
destinados a eles.
Será
preciso alterar esse quadro se quisermos nos preparar para o desenvolvimento de
políticas públicas na área nas próximas décadas. Além de recursos e atenção das
diferentes instâncias de governo, será preciso assegurar algumas mudanças de
ordem cultural em nosso país. Entre nós, normalmente, a velhice é vista como o
equivalente a um conjunto progressivo de perdas. Ela seria, então,
primeiramente, uma lenta e inexorável "subtração de humanidade". Um
olhar mais atento sobre o processo de envelhecimento, todavia, haverá de
concluir que este olhar assinala um estereótipo cultural. Envelhecer é, ao
largo das naturais mudanças físicas e sensoriais, também um processo de
crescimento. O envelhecimento é, em primeiro lugar, uma das condições para a
conquista da sabedoria. Apenas a experiência acumulada e a reflexão madura
podem nos conduzir a esse lugar especial, tão valorizado, por exemplo, nas
tradições orientais. O vigor físico e a beleza do corpo, aliás, só podem
adquirir um status equivalente à felicidade em uma sociedade que se esvazia de
significações morais e que, por decorrência, despreza a cultura. De outra
parte, há que se questionar, também, a postura daqueles que, diante das
necessidades de cuidado a serem dispensados a um idoso no âmbito de sua
família, optam pela sua internação em um asilo. Essa prática, encontrada não
apenas entre as famílias mais carentes, mas também entre famílias de classe
média e alta, estrutura-se sobre a noção de que aquele idoso transformou-se em
um "estorvo". É preciso, então, "livrar-se dele". Ora,
parece evidente o quanto tal posição revela a respeito de determinada
insensibilidade moderna. Nos asilos que visitamos, recolhemos dezenas de
histórias que dão conta dessa maldade que nossas tradições parecem amparar. Os
idosos com quem conversamos desejavam, acima de tudo, estar no convívio dos
seus, repartir com seus filhos e netos a vida que ainda pulsa e, quando falavam
neles, era possível notar que seus olhos brilhavam. Por que razão vamos
continuar admitindo que os mais jovens privem os idosos desse brilho?
RELATÓRIO:
I - SÃO
PAULO
A V
Caravana Nacional de Direitos Humanos iniciou seus trabalhos na cidade de São
Paulo, segunda-feira, dia 15 de outubro. Além dos Deputados Federais Padre
Roque (PT/PR) e Marcos Rolim (PT/RS) , da jornalista Janete Lemos, assessora da
CDH e da assistente social Jurilza Mendonça, representante da Comissão Especial
do Idoso, do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da
Justiça, somaram-se aos trabalhos o Deputado Federal Arnaldo Faria de Sá
(PL/SP) , o Dr. João Estevan da Silva, coordenador do Grupo de Atuação e
Proteção ao Idoso do Ministério Público de São Paulo e a Dra. Tomiko Born,
assistente social, representando a Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia.
Na
Secretaria estadual de Assistência e Desenvolvimento Social (SADS), há 525
Instituições beneficentes/filantrópicas ou estatais para internação de idosos
regularmente inscritas. Desse total, há 194 asilos que integram a rede de
instituições conveniadas. Não se conhece o total de Casas de Repouso ou Casas
Geriátricas com fins lucrativos, mas sabe-se que elas estão concentradas na
cidade de São Paulo e nos municípios de maior porte. Não há registros exatos
sobre a demanda reprimida nos asilos de São Paulo, mas, em 1999, a SADS
estimava em 130 mil pessoas o número dos que aguardavam vagas nas instituições
asilares existentes.
A
realidade das instituições asilares de São Paulo tem experimentado um forte
impacto nos últimos anos por conta da atuação do Ministério Público Estadual.
Em apenas 7 anos, a fiscalização sistemática do MP fez com que 48 asilos fossem
fechados e mais de 200 prisões de proprietários e funcionários de instituições
irregulares fossem decretadas. Tais medidas projetaram seus efeitos em toda a
rede permitindo que a maioria das instituições realizassem investimentos para a
melhoria dos serviços prestados e adaptação de suas instalações. Como
resultado, alcançou-se avanços consideráveis em itens importantes como
alimentação, higiene e eliminação de barreiras arquitetônicas. Muito entretanto,
ainda resta por fazer, conforme nossa inspeção demonstrou.
1)
ASSOCIAÇÃO "O RAIAR DO SOL" - o primeiro depósito de idosos
A
primeira visita da Caravana foi à Associação "O Raiar do Sol" no
Cambuci , em São Paulo (Rua Luís Gama 500). A entidade funciona muito
precariamente em um antigo prédio do INSS e se mantém graças a doações e
promoções beneficentes. No dia de nossa visita havia 93 idosos internados,
cerca de 20% deles apresentando um quadro de dependência. Do total de internos,
36 &mdashsegundo nos informou o diretor — contribuem com as despesas de
manutenção do asilo com suas pensões ou aposentadorias. Como regra, os internos
permanecem todo o dia sem atividades. Não desfrutam, também, de privacidade e
seu acesso aos meios de comunicação é precário.
O prédio
é absolutamente inadequado para uma instituição de internação de idosos, a
começar pelo fato de possuir 4 andares com acessos exclusivos por escadas. Essa
característica dificulta em muito o deslocamento dos internos e faz com que
alguns deles permaneçam confinados aos seus quartos, sem condições de acesso ao
pátio interno. Essa é, por exemplo, a situação do Sr. João Coelho da Costa, 61
anos, corinthiano, ex-sapateiro ortopédico, portador de deficiência física, que
se arrasta para ir ao banheiro, mas que não pode descer sozinho as escadas.
Observamos
uma carência de pessoal técnico especializado. O responsável pela instituição,
Sr. Djalma Batista de Oliveira, é enfermeiro e trabalha no "Raiar do
Sol" como voluntário. Em que pese o esforço e a atenção que parecem
caracterizar sua postura na relação com os idosos, o fato é que a população ali
residente encontra-se em situação de abandono. A maior parte dos internos não
recebe visita de familiares nem desenvolve qualquer atividade externa. Muitos
parecem, inclusive, conformados com essa situação, como se não restasse mesmo
outro destino aos velhos. Seu Milton, por exemplo, 72 anos, que veio de Minas
Gerais para São Paulo em 1935, aposentado pela construção civil, nos disse que
vive de suas recordações e que já não se importa com nada: "- A gente luta
tanto para educar e criar os filhos que quando fica velho já não tem mais
nada....Fica só a recordação, eu fui..."
Trabalham
no estabelecimento 22 pessoas, sendo 12 cuidadores, 4 auxiliares de enfermagem,
4 auxiliares de serviços gerais e 1 assistente social, além do diretor. Não
recolhemos qualquer relato indicando situações de maus tratos ou de violência
contra os internos na instituição.
A
associação "O Raiar do Sol" não está com sua documentação legal
regularizada, não dispondo, por isso, do registro de utilidade pública. Segundo
seu diretor, as despesas gerais com a instituição alcançam a média de 22 mil
reais/mês.
Pudemos
perceber que pelo menos alguns dos internos que pagam pela internação não
possuem informações a respeito desse custo, nem sabem situar ao certo o que foi
feito de suas pensões e/ou aposentadorias. Seu Américo, por exemplo, 71 anos,
que morou 18 anos em Portugal, que serviu ao Exército e que trabalhou muito
tempo em restaurantes e hotéis de São Paulo, afirma dispor de uma aposentadoria
de "mais ou menos 400 reais", mas não sabe o que é feito dela, nem
quanto daquele total é utilizado para pagar sua internação. Dona Charlotte, 88
anos, húngara de nascimento e ex-professora de francês, nos deu a entender que
possuía propriedades e uma renda que lhe permitiria viver uma outra situação ao
final de sua vida.
2)
CLÍNICA GERIÁTRICA JOÃO TONIOLO - O asilo na sua versão rica
A
Caravana tomou a decisão de visitar uma das inúmeras Clínicas em São Paulo que
abriga idosos das camadas mais privilegiadas da sociedade. Nos interessava,
sobretudo, o contraste com o tipo de instituição de cuidados precários que
acabávamos de conhecer. Aleatoriamente, chegamos, então, à Clínica Geriátrica
João Toniolo no bairro da Aclimação (Rua Espírito Santo, 273).
A
instituição, de natureza privada, é dirigida por médicos geriatras e contava,
no dia de nossa visita, com 23 internos. A maioria dos internos apresentava um
quadro de dependência. A equipe de funcionários perfaz 14 profissionais,
incluindo psicólogo, terapeuta ocupacional, nutricionista e fisioterapeuta. A
Clínica funciona em uma casa com 10 quartos, mais 4 em uma área anexa, aos
fundos.
O custo
médio de uma internação aqui fica em torno de 1.500 a 2.500 reais/mês.
A Clínica
oferece musicoterapia aos internos e, tanto quanto nos foi possível, constatar,
dispõe dos recursos técnicos necessários e indispensáveis aos cuidados dos
idosos dependentes. Os internos não dispõem de atividades externas.
Seja como
for, o quadro geral nos pareceu guardar semelhanças surpreendentes com outras
instituições de natureza asilar, destacadamente no que se refere à ausência de
sentido que parece revestir o cotidiano dos idosos ali internados. Nos chamou a
atenção, também, as limitações de espaço em toda a unidade e, especialmente, a
ausência de uma área maior para a permanência dos internos ao ar livre.
3) CASA
DO ANCIÃO - ociosidade, demência e abandono
A
Caravana deslocou-se para a periferia de São Paulo chegando até uma instituição
chamada de "Centro de Cidadania de São Miguel Paulista (Avenida Coca, 85)
onde funciona a "Casa do Ancião". Ali, quando de nossa visita,
estavam, depositados 57 idosos, muitos deles com um quadro de dependência e,
alguns, com problemas graves de saúde mental. O responsável pela instituição,
Sr. Ivo Tadeu Ribeiro, é administrador e trabalha há 6 anos na área. Segundo
nos informou, possui uma despesa mensal de 24 mil reais, suportada com as
contribuições dos próprios idosos, com verbas públicas e com doações.
Há
carência de pessoal técnico e os serviços médicos são assegurados por trabalho
voluntário. Também é voluntário o trabalho de um profissional em nutrição. Na
área de fisioterapia, há uma estagiária, apenas. Os 9 funcionários que cuidam
dos internos se revezam em funções de limpeza e recebem, em média, 200 reais
por mês.
O espaço
físico da unidade é absolutamente inadequado. Inúmeras são as barreiras
arquitetônicas para o deslocamento dos internos. O quadro geral constatado no
que se refere às condições de higiene também é bastante precário.
Não há
qualquer tipo de programa envolvendo atividades com os idosos pelo que não se
estimula sua autonomia. Aqui, passa-se o tempo todo sentado, tomando sol ou
assistindo televisão. Na palavra de uma das internas: "A vida aqui é comer
e dormir".
O
isolamento social vai produzindo um quadro geral de apatia e conformismo entre
os internos. Dona Dirce, por exemplo, 62 anos, passa suas tardes sentada sem
ter o que fazer, mas afirma: "Estou bem no pedaço"; dona Maria
Deonízia, 71 anos, diz, apenas: "Estou mais perto do céu... a idade vem,
entende? E a gente vai baixando até que um dia abaixa e não levanta
mais..."
Na
instituição, encontramos casos de pessoas não idosas com um quadro de demência
e abandono.
4)
"LAR DAS MÃEZINHAS" — aqui se aprende o valor do silêncio
Nossa
quarta e última visita em São Paulo foi ao "Lar das Mãezinhas", na
Penha ( Rua Júlio Collaço, 179). A instituição abrigava na data de nossa
inspeção 40 idosas sendo que, desse total, 25 apresentavam um quadro de
dependência. A responsável pela unidade, dona Ivani Milani de Almeida, trabalha
há 12 anos na área e nos informou que a despesa mensal do asilo fica em torno
de 14 mil reais. A instituição recebe verbas públicas, arrecada cerca de 50%
das internas o correspondente a um salário mínimo por mês (20X180 reais,
portanto) obtendo os valores restantes com doações junto à comunidade.
O Lar das
Mãezinhas é, do ponto de vista arquitetônico, quase uma armadilha. As condições
de acessibilidade e deslocamento são, mais do que precárias, perigosas. Em
alguns pontos da instituição, uma queda pode ser fatal. O asilo não dispõe de
refeitório o que obriga as internas a fazerem as refeições em suas camas.
Um dos
alojamentos coletivos possui, exatamente, 23 camas o que faz lembrar um
hospital improvisado em um campo de batalha. Outro quarto possui 9 camas. Essa
característica, além de outras repercussões negativas, praticamente elimina
qualquer chance de privacidade das internas.
Também
aqui não há um corpo técnico mínimo e os recursos humanos disponíveis são muito
precários. A casa conta com a boa vontade de um assistente social e um
psicólogo, ambos em trabalho voluntário.
Logo no
corredor de entrada da instituição, pode-se ler um cartaz onde se escreveu:
"Feliz de ti que já conheces o valor do silêncio" , uma frase que
parece resumir bem o destino que se pretende reservar àquelas idosas e a tantos
outros que, por infelicidade, terminarão seus dias em um asilo.
Tanto
quanto nos foi possível constatar, a relação das cuidadoras com as internas é,
em regra, bastante impessoal e desprovida de um investimento afetivo, o que,
muito facilmente, pode pavimentar o terreno para práticas de maus tratos. Dona
Adelina, por exemplo, que não pode caminhar — nem se deslocar pela casa porque
não há cadeiras de rodas disponíveis — estava com dois grandes hematomas nos
seus antebraços. Uma das atendentes, perguntada pelo deputado Marcos Rolim
sobre a razão de uma daquelas marcas, respondeu rapidamente que aquela
"mãezinha" tinha se machucado batendo o braço no criado mudo. Quando
o deputado mostrou a outra marca no outro braço da idosa, a explicação não pôde
ser mantida. Como as cuidadoras banham dona Adelina em seu próprio leito, é bem
provável que as marcas nos braços sejam o resultado de uma manipulação diária
feita às pressas ou impacientemente.
Chamou
nossa atenção o fato de que as cuidadoras, ao se referirem às internas sob sua
guarda como "mãezinhas", desobrigam-se mais facilmente da tarefa de
tratá-las pelos seus nomes próprios. Ora, alguém reduzido a um epípeto é também
alguém a quem se nega o direito à individualização. Há, com efeito, uma
epitetomania no trato com idosos e expressões tão comuns do tipo
"vovozinhas" ou "mãezinhas" só aparentemente insinuam
carinho. Como regra, elas são apenas o sinal de uma distância.
A
ociosidade nesse asilo é, também, a regra. Por ela, todo um potencial criativo
e produtivo de muitas daquelas idosas é desprezado. Dona Josemira, por exemplo,
tem apenas 59 anos mas foi internada por conta de seqüelas de um AVC. Como não
tem o que fazer, passa o dia todo rabiscando poemas em um muito caprichado
caderno que exibe orgulhosamente. Ali escreveu coisas como: "a juventude é
a vitória da coragem" Ou, "Os anos enrugam o rosto. Renunciar ao ideal,
entretanto, enruga a alma". Ou , ainda: "Jovem é aquele que se
admira, que se maravilha..."
II - RIO
DE JANEIRO
A
Caravana, no Rio de Janeiro, trabalhou durante toda a terça-feira, dia 16 de
outubro e contou com a presença dos deputados federais Padre Roque (PT/(PR) e
Marcos Rolim (PT/RS); da jornalista e assessora da CDH Janete Lemos; da
assistente social Jurilza Mendonça, representante da Comissão Especial do
Idoso, do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da
Justiça; da Dra, Elizabeth Viana Freitas, presidente da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia (SBGG); de Isabel Monteiro Lopes, Presidente do
Conselho Estadual do Idoso; da deputada estadual Tânia Rodrigues (PSB),
relatora da CPI do Idoso da AL/RJ; Leila Cerqueira, assessora parlamentar da
Alerj; Sara Nigri, vice-presidente da Associação Nacional de Gerontologia. No
Rio de Janeiro, o trabalho desenvolvido pela Assembléia Legislativa, através da
CPI do Idoso, presidida pelo deputado estadual Sérgio Cabral e relatada pela
deputada estadual Tânia Rodrigues, permitiu um levantamento sistemático da
situação da qual teríamos, com nossa visita, uma pequena mostra. Instalada em 7
de março de 2001, a CPI , a partir de um conjunto de denúncias de maus tratos a
idosos, providenciou na inspeção de 129 Asilos, Casas de Repouso e congêneres,
cada uma delas com termo registrado de inspeção. Seu serviço de
"Disque-Idoso" recebeu 358 denúncias de maus tratos, violência ou
discriminação a idosos no RJ. O relatório final da CPI, ao qual tivemos acesso
antes mesmo de sua apresentação oficial, impressiona pela gravidade das
denúncias e amplitude do trabalho realizado. No decorrer das inspeções, 11
instituições foram interditadas; alguns dos seus responsáveis foram presos ou
indiciados por "Apropriação Indébita" (art. 168 do Decreto Lei
2.848/40, Código Penal), ou por "Abandono de Incapaz" (art. 133) , ou
por "Omissão de Socorro" (art. 135) , "Maus Tratos"
(art.136), "Constrangimento Ilegal" (art. 146), "Cárcere
Privado" (art. 148), "Tortura" (Lei 9.455/97) ou por
"Propaganda Enganosa" (art.37 da Lei 8.078/90 do Código de Proteção
ao Consumidor). De todas as instituições vistoriadas, verificou-se que 75 delas
não possuíam Alvará de Funcionamento, o que caracteriza uma situação de
clandestinidade e demonstra a inexistência de fiscalização. Para que se tenha
uma idéia aproximada do estado das instituições inspecionadas, 2 delas não
possuíam piso antiderrapante; 86 não possuíam escadas com corrimão; 76 não
contavam com barras de apoio nos banheiros e 77 estavam superlotadas. Para a
CPI, 101 das instituições inspecionadas estavam em situação irregular
infringindo a legislação e a portaria 819/89 do Ministério da Saúde que
regulamenta o funcionamento desse tipo de instituição. Entre as instituições
visitadas, a CPI concluiu que apenas 11 ofereciam bons serviços e uma atenção
digna aos idosos.
5) ABRIGO
EVANGÉLICO "RAZÃO DE VIVER" - religião e solidão
A
primeira instituição visitada no Rio de Janeiro foi o Abrigo "Razão de
Viver", em Realengo, Zona Oeste do Rio (Av. Terterituba, 450, Jardim Novo
Realengo). Trata-se de uma instituição asilar de inspiração religiosa, dirigida
pela senhora Lourdes Ferreira da Silva, esposa de um pastor da comunidade
(Abdias de Araújo Ferreira). Quando de nossa visita havia 31 idosos internados.
A
situação aqui, como que num espelho da realidade social circundante, é de
absoluta precariedade. A instituição funciona em uma casa inadequada para a
internação de idosos, com barreiras arquitetônicas e ausência de adaptações como
corrimões ou camas protegidas. Há uma rampa que dá acesso a um pavimento
superior, mas a sua inclinação está muito além dos 10 graus preconizados pelas
normas técnicas de forma que ela mesma passa a oferecer riscos. Não há técnicos
disponíveis para o trabalho com os idosos, nem cuidados médicos ou de outros
profissionais da área de saúde para com os internos dependentes. Ao todo,
apenas 7 pessoas trabalham no asilo, sem carteira assinada e ganhando, em
média, 200 reais por mês. Não foi possível recolher informações sobre o
orçamento da instituição, nem sobre as suas fontes de financiamento.
Quanto à
medicação, constatamos que cada um dos internos possui um vidro com seu nome,
no interior do qual estão, misturados e fora de suas embalagens, todos os
remédios que ele deve tomar. A medicação é distribuída sem qualquer controle ou
supervisão especializada e manipulada por "práticos".
Não há
dieta específica aos internos que apresentam problemas como a diabete ou
hipertensão. Os idosos encontram-se em total ociosidade, sem qualquer tipo de
atividade que estimule sua independência e em uma situação de isolamento
social.
O
abandono e a solidão são suportados pela maioria dos internos como partes
naturais de um desígnio divino. Dona Laura, por exemplo, têm 4 filhos que não a
visitam. Logo quando da nossa entrada na instituição, iniciou uma longa
conversa como deputado Marcos Rolim a quem solicitou um favor muito especial:
enquanto caminhavam pelo asilo, dona Laura pediu ao deputado assentimento para
que ela lhe apresentasse as suas amigas como seu filho, o que fez, alegremente,
o tempo todo. Dona Augusta, 81 anos e completamente lúcida, também sabe o que é
a solidão. Ainda jovem perdeu as duas pernas quando foi atropelada e vive, por
isso, em uma cadeira de rodas. Sua história é mais triste porque perdeu seus 4
filhos em um acidente no interior de São Paulo. As crianças se deslocavam em
uma Kombi para passar suas férias na casa de uma amiga de dona Augusta quando o
veículo chocou-se com um caminhão. Morreram todos. O marido de dona Augusta a
culpou pelo trágico desfecho e , depois disso, só lhe cumprimentava dizendo:
" -Bom dia, criminosa.." Dona Augusta termina essa história com os
olhos úmidos e com a expressão: "- Se sofrimento matasse..." Dona Augusta
é crente da Assembléia de Deus. Além de não ter as duas pernas é seqüelada de
AVC, o que lhe retirou também o movimento da mão direita, mas se considera uma
mulher feliz: " — Não posso andar, mas tem gente que tem as duas pernas e
não anda. É pior, não é?"
Essa
instituição havia sido inspecionada pela CPI do Idoso da AL/RJ em 19 de abril
de 2001. As constatações feitas à época (Anexo II do Relatório da CPI) foram as
mesmas. Segundo a CPI, o abrigo Razão de Viver "não tem a menor condição
de funcionamento" (p. 22)
6) ABRIGO
SÃO JOSÉ - mais abandono
A Segunda
instituição visitada pela Caravana no Rio de Janeiro foi o Abrigo São José, no
Kosmos (Rua dos Caquizeiros, 851). O diretor , Sr. Américo Sobral, era
comerciante mas já atua na área há 6 anos. No dia de nossa visita havia 55
idosos no asilo. Ao todo, 13 pessoas trabalham na instituição e as despesas do
asilo costumam alcançar valores entre 8 a 10 mil reais/mês. A maioria dos
internos aqui, senão todos, pagam por suas internações com importâncias que,
segundo nos foi possível apurar, variam de 180 a 400 reais.
Essa
instituição fica localizada em um terreno privilegiado (10 mil metros
quadrados) com espaços amplos de circulação externa. A área faz lembrar um
pequeno sítio, ou uma casa de campo. Todo o terreno, entretanto, é cercado por
muros altos o que isola os internos do mundo exterior. Logo na entrada, há um
cartaz onde se lê: "Visitas às quintas e domingos — das 14 às 16
horas." Ora, não há como se justificar tamanha limitação. Uma casa de
internação de idosos não precisaria, aliás, de qualquer restrição ao direito
que os internos possuem de privarem com seus familiares.
Os
prédios onde os idosos estão alojados é todo marcado por barreiras
arquitetônicas. Os banheiros e os demais espaços de circulação interna não possuem
pisos anti-derrapantes e a higiene deixa muito a desejar. Em alguns dos
quartos, janelas e portas estavam sem os vidros e havia infiltrações nas
paredes. Os banheiros necessitam de adaptações para que se tornem espaços
seguros e confortáveis. Dona Elisa experimentou, de uma forma muito dolorosa, a
insegurança nos banheiros: alguns dias antes de nossa visita, havia sofrido uma
queda, à noite, no banheiro contíguo ao seu quarto. Por conta disso, quebrou o
braço. Dona Elisa só foi atendida por um profissional da instituição um dia
após a queda. Na hora mais difícil quem a ajudou foram suas colegas de quarto.
Todos os
internos estão submetidos a mesma dieta. Isso é um problema não apenas para
aqueles que precisariam de uma dieta especial por conta de problemas de saúde,
mas também para gente como a dona Zilá, por exemplo. Aos 86 anos, dona Zilá
fala bem baixinho, mas impressiona pelo raciocínio rápido e pela forma
detalhada como relata episódios de sua vida. Sofre, entretanto, com a comida
porque não a aprecia. Segundo suas palavras, tem "fastio" e, por
isso, não come quase nada. Dona Zilá nos contou que gostaria mesmo é de comer
caranguejo, mas que ali já havia perdido a esperança de voltar a sentir o gosto
de seu prato preferido...
Os
internos não possuem privacidade e permanecem todo o tempo ociosos. Na área
externa há uma piscina que, entretanto, permanecia cercada e, aparentemente,
fora de uso. Os internos não realizam atividades externas.
A CPI do
Idoso da AL/RJ também inspecionou esse abrigo no dia 18 de maio de 2001.
Constatou as mesmas limitações e irregularidades. Segundo o informe do anexo II
da CPI, apurou-se que o dono do estabelecimento manipulava o cartão magnético
bancário de alguns dos idosos internados que recebiam benefícios do INSS. ( p.36)
7) CASA
DE REPOUSO SANTA ROSA - O asilo misterioso da Tijuca
Nossa
última visita no Rio quase não se realizou. O responsável pela Casa de Repouso
Santa Rosa, na Tijuca ( Rua Antônio Salema, 63) Sr. Paulo Carvalho, fez o que
pode para impedir nossa entrada em sua instituição. Primeiro, atrás de uma
grade do portão de entrada, afirmou que não permitiria a entrada da Caravana.
Depois, tentou negociar a entrada de um grupo pequeno de participantes e, por
fim, a contragosto, aceitou a entrada de um grupo excluindo terminantemente a
imprensa. O Sr. Paulo argumentava temer os resultados da visita sobre a saúde
dos próprios idosos ali internados que, segundo ele, poderiam "ficar
agitados". A única pessoa que ficou "agitada" com a nossa
visita, entretanto, foi o Sr. Paulo Carvalho que revelou-se um cidadão
despreparado para as funções que desempenha e dono de um comportamento
agressivo e autoritário. Talvez, de qualquer forma, houvesse outros motivos
para que o administrador temesse a nossa visita.
O
responsável nos informou que o asilo mantinha 5 idosos internados. Durante a
nossa inspeção, entretanto, só foi possível encontrar 4. Tentamos ter acesso a
um segundo pavimento que, segundo o Sr. Paulo, estava em obras. Não foi
possível porque o administrador não o permitiu. Segundo afirmou, o espaço
estaria interditado por laudo específico da vigilância sanitária. Também não
nos foi permitido acesso a qualquer documento da instituição e o Sr. Paulo
recusou-se a responder a maioria das perguntas feitas pelos integrantes da
Caravana. Tudo aqui parecia estar envolto pelas sombras...
Conforme
pudemos constatar, não havia alimentos suficientes, seja na geladeira, seja nos
armários utilizados como dispensa. Os banheiros da Casa são inadequados, o
mesmo se podendo dizer das rampas. Os quartos estavam com o piso encerado, o
que constitui uma ameaça aos internos.
Os
internos não tem o que fazer na misteriosa Casa da Tijuca. Dona Henriqueta, 93
anos, o afirma taxativamente: "Aqui é só comer e dormir".
A CPI do
Idoso da AL/RS esteve nessa instituição em 04 de maio de 2001. Constatou
inadequação completa das instalações arquitetônicas, desnível de piso, buracos,
etc. banheiros não adaptados, distância não regular entre as camas, péssimas
condições de higiene, desorganização, ausência de registro de evolução dos
pacientes nos prontuários, condições precárias de conservação dos alimentos,
etc. Também quando da visita dos técnicos da CPI, o dono da instituição
mostrou-se "muito irritado" (sic). (p. 119, Anexo II do Relatório da
CPI do Idoso)
III -
PERNAMBUCO
A
Caravana trabalhou, durante os dias 17 e 18 de outubro, em Pernambuco, na
cidade do Recife e em alguns municípios da região metropolitana. Além dos
deputados federais Padre Roque (PT/PR), Marcos Rolim (PT/RS) , da jornalista e
assessora da CDH Janete Lemos e da assistente social Jurilza Mendonça ,
representante da Comissão Especial do Idoso, do Conselho Nacional dos Direitos
da Pessoa Humana do Ministério da Justiça, acompanharam a Caravana Paula Regina
Machado, presidente do Conselho Estadual do Idoso; Eliane Moura, da Prefeitura
Municipal; Carolina Marinho, assessora da Comissão de Defesa da Cidadania da
Assembléia Legislativa; Gilson Roberto de Melo Barbosa, Promotor de Justiça;
Margarida Santos, enfermeira da Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco.
Além das
visitas às instituições, a Caravana realizou uma audiência pública com a
participação de cerca de 50 pessoas representando autoridades governamentais e
entidades da sociedade civil com atuação na área de atenção aos idosos, além de
profissionais do setor.
A
Prefeitura de Recife, através da Secretaria Municipal de Saúde, conjuntamente
com a vigilância sanitária e como Ministério Público, tem realizado um processo
de fiscalização sistemática sobre os abrigos da capital. Durante o ano 2001,
até o mês de agosto, 157 inspeções já haviam sido realizadas. Segundo o
"Relatório das Inspeções das Instituições de Longa Permanência para Idosos
no Recife", datado de setembro de 2001, constatou-se que apenas 11% das
Instituições estavam com licença atualizada. Do total de unidades
inspecionadas, 67% delas foram autuadas. 33% encontravam-se de acordo com a
legislação. Realizada a coleta de amostras de água em 12 instituições de longa
permanência de idosos, sete apresentaram presença de coliformes fecais na água;
ou seja: a água era imprópria para o consumo humano.
8) ABRIGO
CRISTO REDENTOR - Aqui pode-se amarrar idosos
O
primeiro asilo visitado pela Caravana em Pernambuco foi o Abrigo Cristo
Redentor, na periferia de Recife em Jaboatão dos Guararapes (Av. Agamenon
Magalhães, s/n), criado em 1944 e administrado com o auxílio de irmãs e membros
da Igreja católica.
O
responsável pela instituição, Sr. Felipe do Rosário é administrador de empresas
e atua na área há 25 anos. No dia de nossa visita, havia 150 idosos internados.
O asilo possui 300 vagas.
Segundo o
Sr. Felipe, cerca de 90 dos idosos ali internados são dependentes. A despesa
com a instituição fica em torno dos 25 mil reais/ mês. O Abrigo Cristo Redentor
recebe verbas federais — 12.500 reais/ mês. O administrador relatou aos
deputados que a instituição funciona com um déficit mensal o que motiva uma
série de campanhas junto à comunidade para doações e auxílios. Após conversar
com os idosos, os deputados souberam que a norma da Casa é a cobrança de uma
taxa mínima de 180 reais / mês de cada idoso. Ora, 150 internos recolhendo
mensalmente 180 reais assegurariam à instituição uma renda de 27 mil reais.
Importância que somada às verbas do governo federal totalizaria uma receita de
39,5 mil reais. A instituição teria lucro, então? Perguntado diretamente sobre
isso pelo deputado Marcos Rolim, o Sr. Felipe do Rosário não ofereceu uma
explicação convincente nem mostrou a contabilidade da instituição. Como a
instituição recebe verbas públicas, seria interessante a realização de uma
auditoria.
O Abrigo
Cristo Redentor ocupa uma grande área com espaços amplos de circulação externa
e pavilhões onde ficam os alojamentos dos idosos. A área externa, entretanto, é
muito mal aproveitada. Os alojamentos são imensos. Em um deles contamos 120
camas. Com essa estrutura física, os idosos não possuem qualquer chance de
privacidade. Toda a instituição precisaria de reformas estruturais básicas para
um mínimo de segurança e conforto para os internos. Não há piso anti-derrapante
nas áreas internas de circulação e nos banheiros; não há assentos nos vasos
sanitários, nem apoios para facilitar seu uso; a higiene dos banheiros deixa a
desejar, as camas e os colchões são de péssima qualidade, não contam com grades
protetoras e são, em regra, muito baixas.
Foi
possível perceber um tratamento despersonalizado das cuidadoras aos idosos;
como regra, os internos não são tratados pelo nome próprio. Há restrição às
visitas que só podem ocorrer duas vezes por semana e pelo período de duas
horas. Não se assegura a eles, também, qualquer tipo de programação de
atividades. Dona Joana, 91 anos, por exemplo, queixa-se de que não tem nada o
que fazer e de que gostaria que lhe fosse permitido, pelo menos, lavar suas
próprias roupas. Dona Joana já teve duas quedas, uma da cama e outra, no
banheiro. Ela e o marido estão internados ao custo de duas aposentadorias. Tudo
o que deseja é voltar para sua casa.
Pelo
número de idosos internados, fica evidente a carência de recursos humanos no
asilo. Segundo o administrador, a instituição conta com 1 psicólogo, 1
assistente social, 1 fisioterapeuta, 1 biomédico, 12 auxiliares de enfermagem e
uma recreadora. Segundo depoimento de alguns idosos, a recreadora já não
trabalhava na instituição. O manejo diário dos idosos acaba sendo feito pelas
65 auxiliares de serviços gerais, supervisionadas pelo trabalho voluntário de 6
irmãs.
Vários
dos idosos se queixaram de que são proibidos de se deitar durante o dia e que
só podem retornar aos alojamentos ao final da tarde. Essa, por exemplo, é uma
das queixas de dona Maria do Rosário, 71 anos, professora aposentada. Dona
Maria foi descoberta pelo deputado Marcos Rolim amarrada em uma cadeira de
balanço. Segundo a interna, ela era amarrada na cadeira para que não fizesse
"traquinagens". Perguntada sobre o tipo de traquinagens que ela
gostava de fazer, respondeu que todo o problema é que ela gostava muito de
fumar. Para que não fumasse, era presa à cadeira, todos os dias.
9) LAR
FRATERNAL LÍRIOS DO AMOR - nem fraternidade, nem lírios, nem amor.
A segunda
instituição visitada foi o "Lar Fraternal Lírios do Amor", na cidade
vizinha de Camaragibe (Estrada da Aldeia s/n). Quando de nossa visita havia 52
pessoas internadas; quase todos, idosos. A instituição "atende",
também pessoas com problemas de saúde mental e, como pudemos observar, um jovem
autista. O asilo é uma casa velha a qual se acrescentou algumas peças aos
fundos. Nessa instituição não se oferece, rigorosamente, qualquer cuidado aos
idosos. O lugar é, tipicamente, um depósito de velhos.
A
responsável pelo asilo, dona Eronita Figueiredo de Farias, é cabeleireira e
atua na área há 15 anos. Do total de idosos internados no asilo, 38 pagam pela
internação. Há apenas 5 pessoas trabalhando ali e nenhum recurso técnico ou
especializado disponível. Aos idosos não é oferecida qualquer atividade. Pelas
péssimas condições de alojamento, não se lhes permite, também, qualquer
privacidade. Os internos não saem da instituição e recebem raras visitas de familiares.
Estão, portanto, em situação de isolamento social.
Aqui
falta tudo. Higiene, por exemplo, ou forro nos colchões, ou janelas nos
quartos, ou cadeiras de rodas. A casa toda é cheia de barreiras arquitetônicas
e não dispõe das adaptações necessárias para a segurança e conforto mínimos aos
internados. Falta assistência médica, faltam medicamentos, falta comida. O
cenário não evoca apenas miséria, mas negligência e maus tratos.
Durante a
visita, vimos um senhor com uma grave ferida no pé. Esse idoso dormia sentado
em uma cadeira em uma área coberta aos fundos da unidade. Sua ferida estava
coberta de moscas e o pé inteiro mostrava sinais de necrose. Ao lado dele, há
um metro de distância, um pequeno cercado — desses utilizados por bebês — era ocupado
por um jovem autista que permanecia ajoelhado no centro daquele espaço
movimentando ritimadamente e com rapidez seu tronco para um lado e para o
outro. No mesmo espaço, outros idosos com sinais de demência vegetam sentados.
Há sujeira por toda a parte. Um cão feroz está amarrado a uma coleira ali perto
e, na mesma área onde os idosos estão, há um buraco de uns 6 metros quadrados
por dois de profundidade cercado por um único fio de arame farpado. Uma queda
ali pode ser fatal. Em diagonal ao buraco e na parte posterior da casa, em
frente ao galpão onde está o menino autista e alguns dos homens velhos, há um
outro "cercado". O espaço, dessa vez, é maior - talvez 9 metros
quadrados , demarcado por móveis e restos de madeira. Ali dentro, numa espécie
de varanda, vive Rita Maria da Conceição, uma senhora aparentando 60 anos, há
dez anos no asilo, que não fala e que apresenta sinais de doença mental. Por
não saberem lidar com ela, delimitaram seu espaço, como se estivesse presa. Já
o cão é solto à noite.
10)
ASSOCIAÇÃO FILANTRÓPICA NOSSA SENHORA DE LOURDES — isolamento social e abandono
Este
asilo está localizado em Olinda (Rua José Alves de Araújo, 299) e é
administrado pela senhora Maria de Lourdes Oliveira de Almeida, uma
"prática" sem qualquer formação profissional que atua há 11 anos na
área.
Quando de
nossa visita, havia 63 idosos internados (30 homens e 35 mulheres) . Desse
total, 40 idosos apresentavam um quadro de dependência.
O asilo é
mantido pelas próprias contribuições dos internos. !5 pessoas trabalham na
instituição, sendo que há a visita de um médico uma vez por semana.
Todo o
espaço físico da instituição é inadequado com inúmeras barreiras arquitetônicas
ao deslocamento dos internos. Para piorar o quadro, muitos idosos estão
alojados no segundo pavimento do prédio. O próprio prédio localiza-se muito
perto de um "lixão", com esgoto próximo.
Os
recurso humanos disponíveis são totalmente desqualificados e os internos
permanecem em ociosidade absoluta. A vigilância sanitária já determinou à
proprietária a necessidade de realização de inúmeras obras de adaptação, desde
a colocação de barras e corrimões até portas nos banheiros. Pelo que foi
possível perceber, a higiene é precária e muitos quartos enfrentam sérios
problemas de infiltração.
Aqui a
atenção dispensada aos internos resume-se à alimentação e aos leitos
oferecidos.
11)
NÚCLEO DE APOIO AO DOENTE DO INTERIOR - condições subumanas
Essa
Instituição, também em Olinda (Av. Correia de Brito, 360) , é, na verdade, uma
"casa de passagem" que se propõe a auxiliar pessoas doentes que vêm
do interior para tratamento na capital. A grande maioria dos que estão aqui
abrigados, não obstante é de idosos. Quando de nossa visita, havia 40 idosos no
asilo. Os responsáveis pela instituição são Maria da Conceição de Santana e
Miguel Andrade da Silva. O asilo vive de doações e recebe apoio de um Padre.
Apenas 4
pessoas trabalham no asilo, o que dá uma idéia da precariedade da situação. Num
único cômodo contamos 16 camas. Há camas espalhadas pelos corredores e na varanda.
Por decorrência, não se oferece aos internos qualquer chance de privacidade. Os
quartos, 4 ao todo, são pequenos e há apenas dois banheiros. As condições de
habitabilidade são, verdadeiramente, subumanas.
O pessoal
que lida com os internos é totalmente desqualificado e as condições de higiene
da instituição são as piores possíveis.
Encontramos
frutas estragadas e alimentos mal acondicionados.
12)
CLÍNICA DE REPOUSO GERIÁTRICO DE RECIFE — I — O mesmo modelo, os mesmos
problemas
"Clínica
de Repouso Geriátrico" é o nome dado a duas instituições asilares, de um
mesmo proprietário, situadas na mesma rua (Ana Xavier 104 e 117) na Casa
Amarela, em Recife. Para descrever minimamente a situação que encontramos em
cada uma delas, chamaremos de Clínica I a situada no número 104 e Clínica II a
situada no número 117.
A Clínica
I é administrada por Judith Alves que atua na área há 20 anos. Quando de nossa
visita havia 34 idosos internados na instituição, sendo que a grande maioria
deles — cerca de 90% - era de idosos dependentes. Os funcionários aqui, num
total de 16 pessoas são todos registrados e pagos pela Igreja.
As
atividades desenvolvidas com os idosos possuem, comumente, um sentido
religiosos.
Duas
vezes por semana um médico visita a instituição atendendo aos internos. A Casa
dispõe de uma enfermeira, uma nutricionista e 4 auxiliares de enfermagem. Há,
por certo carência de pessoal.
Seria
necessário, também, realizar algumas adequações na estrutura física do prédio.
Os
atendentes estavam participando de um curso de "cuidadores de
idosos", o que nos pareceu importante Percebemos um certo nervosismo entre
as pessoas que trabalham na instituição diante de nossa visita e,
especialmente, a postura assumida por alguns que pareciam empenhados em não
permitir que conversássemos isoladamente com os internos.
Mesmo
diante das limitações evidentes vividas pela instituição, os internos
manifestaram, no fundamental, determinada satisfação com a atenção que recebem
ali.
13)
CLÍNICA DE REPOUSO GERIÁTRICO DE RECIFE — II - de novo a ociosidade
A Clínica
II é administrada pela Sra. Rosilda de Araújo que atua na área há 30 anos. No
dia de nossa visita havia 25 idosos internados, sendo 20 deles dependentes. Os
internos contribuem com um mínimo de 180 reais, mas alguns chegam a pagar 350
reais por mês. Segundo a informação que recebemos, a instituição é deficitária.
O Asilo
possui 10 quartos para os homens aos fundos, espaço onde há um único banheiro e
5 quartos para as mulheres na frente, com dois banheiros. Tanto quanto foi
possível observar, a higiene é precária.
12
pessoas trabalham aqui, entre elas uma enfermeira, um nutricionista, um médico
e dois auxiliares de enfermagem. O médico comparece três vezes por semana.
Os idosos
vivem em ociosidade máxima. Aqui, como em tantos outros asilos visitados,
tem-se a impressão de que tudo o que se espera daqueles idosos é que aguardem
silenciosamente por suas mortes.
14)
CONVIVER GERIÁTRICO - Enfim, uma instituição modelo
Nossa
visita ao "Conviver Geriátrico" mostrou aos integrantes da Caravana o
quanto uma instituição de tratamento de idosos pode oferecer condições dignas
aos internos. A instituição; localizada no bairro de Boa Viagem, no Recife (
Rua José Lopes, 95) é administrada por Solange Beltrão que é administradora de
empresas.
No dia de
nossa visita, havia 25 idosos internados, sendo cerca de 80% deles dependentes.
Pela
proposta da instituição exige-se que todos os internos tenham plano de saúde e
que suas famílias responsabilizem-se pela contratação e remuneração dos
cuidadores do usuário. Além dos cuidadores, trabalham na instituição 17
pessoas: uma enfermeira, uma nutricionista, um fisioterapeuta, um médico, um
terapeuta ocupacional, 8 auxiliares de enfermagem e 4 auxiliares de serviços
gerais.
O espaço
físico está plenamente adaptado ao perfil dos internos e possui 10 suítes e 6
apartamentos duplos, o que garante, além do conforto e da segurança, a
privacidade dos idosos. Todos os internos tem acesso aos meios de comunicação,
recebem visitas com freqüência e costumam realizar atividades externas, com
acompanhamento. Há um programa de atividades físicas, recreativas e
fisioterápicas. Os recursos humanos disponíveis são qualificados.
IV -
PARANÁ
A
Caravana esteve no Paraná durante os dias 19 e 20 de outubro visitando
instituições asilares em Curitiba e em Londrina. Além dos Deputados Federais
Padre Roque (PT/PR) e Marcos Rolim (PT/RS), da jornalista e assessora da CDH
Janete Lemos e da assistente social e representante da Comissão Especial do
Idoso, do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Humana do Ministério da
Justiça, Jurilza Mendonça, acompanharam a Caravana, na capital Rosana Beraldi
Bevervanço, promotora de Justiça do Centro de Apoio Operacional das Promotorias
de Defesa dos Direitos do Idoso; Maurílio Pinto, representante da Sociedade
Brasileira de Gerontologia e Geriatria; Heloise Elaine Pereira e Rosilene de
Fátima Pollis, assistentes sociais do Ministério Público; Glaucia Kishida;
Lucinéia Benckl de Macedo; Joanna Alekissandra Kantikas, representantes da
Secretaria de Vigilância Sanitária e em Londrina Maria Ãngela Santine; Genilda
Pozzeti Stabile, representantes da Secretaria Municipal do Idoso; Marcelo Viana
de Castro da Vigilância Sanitária.
IV -a)
Curitiba:
15)
RECANTO TARUMÃ - uma experiência de cuidado
O
"Recanto Tarumã - Sociedade Socorro aos Necessitados" (rua Konrad
Adenauer, 295) é uma instituição tradicional de Curitiba, fundada em 1921. No
dia de nossa visita abrigava 120 idosos. Desse total, pelo menos 32
apresentavam um quadro de dependência.
Mantido
através de doações da comunidade e da contribuição de 2/3 do valor das
aposentadorias dos internos, o asilo tem uma despesa mensal da ordem de 50 mil
reais. Segundo as informações colhidas junto à direção da casa administrada
pelo Sr. Mário Pelatto, 36 pessoas trabalham na instituição, entre elas 1
assistente social, 1 psicólogo, 1 enfermeira, 1 fisioterapeuta, 1 terapeuta
ocupacional e 4 auxiliares de enfermagem.
As
instalações, amplas e bem cuidadas, integram vários pavilhões numa área
construída 492 metros quadrados atravessada por espaços de circulação externa
ajardinados e gramados. Dentro da unidade muitas atividades são desenvolvidas
sendo que os idosos têm acesso à marcenaria, horta, artesanato, jardinagem e
jogos variados.
A
instituição conta com consultório médico, farmácia, espaço para banho de
paraplégicos, sala para curativos, sala de fisioterapia, sala de jogos, etc.
Embora algumas pequenas adaptações sejam ainda necessárias, observamos a
existência de piso antiderrapante nas principais vias de circulação interna,
corrimões, anteparos e outros equipamentos fundamentais para a segurança e o
conforto dos idosos.
Mais
importante ainda do que as boas condições físicas da instituição foi perceber,
na conversa com os internos, a existência de um grau de satisfação incomum com
os serviços prestados resultado que costuma ser alcançado sempre que o cuidado
é a regra.
16)
ASSOCIAÇÃO DE PROTEÇÃO AO IDOSO VOVÓ JOANA - outro caso de isolamento social
Esse
asilo (rua Piauí, 1.224) nos oferece um novo exemplo do modelo de isolamento
social dos idosos que deve ser superado urgentemente no Brasil. No dia de nossa
visita, havia 24 idosos internados. Para "cuidar" desses seres
humanos - alguns precisando de cuidados intensivos - trabalham na instituição
apenas 3 pessoas.
Os idosos
não possuem qualquer programa de atividades que estimulem sua autonomia. Não
possuem privacidade alguma e, em um dos quartos, contamos 17 camas. Todas as
instalações físicas são inadequadas e a higiene é bastante precária.
Não foi
possível obter informações confiáveis e detalhadas da responsável pela
instituição a respeito do orçamento da unidade e de seu financiamento. As
únicas informações dão conta de que o aluguel pago pela casa é de 1.400 reais e
de que a instituição arrecada recursos junto à comunidade com bingos, rifas,
jantares beneficentes, etc. Sabe-se que a instituição é considerada de
utilidade pública.
17) VOVÔ
JUQUINHA - um espaço de negligência
O asilo
Vovô Juquinha (Rua Mem de Sá, 491) é uma instituição não regularizada dirigida
pela senhora Madalena Dias Ferreira . No dia de nossa visita havia 14 idosos
internados sendo dois deles dependentes.
A
Instituição é absolutamente inadequada para a internação de idosos e lhes oferece,
tão somente, o leito onde dormem e as refeições.
O espaço
físico é formado por 4 quartos (2,3 e 5 camas), mas sala de estar e cozinha. O
banheiro não recebeu qualquer das adaptações necessárias à segurança e conforto
dos idosos. Verificamos infiltrações de água em várias peças.
Os
internos não dispõem de qualquer programa de atividades que estimulem sua
independência; há carência de recursos humanos e um estado geral de negligência
na atenção aos idosos. Alguns idosos afirmaram que se sentem bem e que são bem
tratados.
18)
ASSOCIAÇÃO CASA DE REPOUSO VOVÓ SABINA - outro depósito
O asilo
"Vovó Sabina" (Rua Joaquim Manuel de Carvalho, 481) em Curitiba,
administrado pela Sra. Benita da Silva, é apenas outro depósito de idosos. No
dia de nossa visita eram 12 os internos sendo que, desse total, pelo menos 4
apresentavam um quadro de dependência. A instituição não conta com
funcionários. Todo o serviço é feito pela responsável e por sua filha.
Uma vez
por mês, um médico oferece seus serviços à instituição em trabalho voluntário.
Os
internos não desenvolvem qualquer tipo de atividade e não têm privacidade.
As
instalações são inadequadas e não oferecem segurança ou conforto aos internos.
O asilo é
sustentado com as contribuições dos próprios idosos que variam de 180 a 575
reais/ mês.
19) LAR
AFAGO - um lugar de pouco carinho
O asilo
denominado "Lar Afago" (Rua Joaquim Manoel de Carvalho, 466) de
Curitiba enfrenta inúmeras dificuldades e termina por reproduzir, exatamente, o
modelo asilar que se pretende superar.
A
responsável pela instituição, dona Clarisse Maria Antunes, é atendente de
enfermagem e atua na área há dois anos.
No dia de
nossa visita, havia 17 idosos internados, sendo que pelo menos 7 deles
apresentavam um quadro de dependência.
Também
aqui os idosos passam seus dias sem qualquer tipo de atividade que estimule sua
independência. As limitações que encontramos repetem as mesmas situações já
observadas na maioria das instituições visitadas pela V Caravana. Observamos a
falta de recursos humanos qualificados e constatamos um quadro geral de
negligência na atenção dispensada aos internos, destacadamente quanto aos
necessários cuidados de saúde. Também no Lar Afago há a visita de um médico uma
única vez ao mês.
Segundo
fomos informados, 6 pessoas trabalham na instituição e outras três prestam
serviços voluntários.
As
despesas do asilo são custeadas com as aposentadorias e pensões dos idosos
internados. Alguns deles chegam a pagar 400 reais/mês.
Pelo que
pudemos observar, os idosos recebem na instituição o mínimo necessário para que
prolonguem sua existência. O Lar Afago, em verdade, não é propriamente um lugar
de carinho.
20)
CLÍNICA DE REPOUSO SANTA MARIA - necessidade de adaptações
A Clínica
de Repouso Santa Maria (Rua Rockfeller, 1.287) ainda não dispunha de licença da
vigilância sanitária quando de nossa visita. Para que funcione regularmente
será necessário implementar algumas reformas na estrutura física e adaptar
melhor seus espaços internos.
Os
responsáveis pela instituição são Hilda Pereira Leite e Carlos Augusto Leite
que atuam na área há 13 anos.
O aluguel
da casa custa 3.300 reais/mês e os internos contribuem, em média, com 300
reais.
Havia 45
idosos internados na Clínica quando a visitamos. Não nos foi possível estimar o
número de dependentes.
9 pessoas
trabalham na instituição sendo duas delas fisioterapeutas e uma terapeuta
ocupacional. Um psicólogo, uma nutricionista e um médico prestam serviços
eventuais em regime de voluntariado.
A cada 15
dias, a instituição organiza atividades esportivas e de lazer com os idosos.
A Clínica
conta com farmácia, refeitório, sala de estar, quartos com 2,3 e 4 camas e uma
área externa.
Aqui as
visitas de familiares acontecem três vezes por semana (quartas, sábados e
domingos) das 14 às 17 horas.
A
medicação e alguns equipamentos como fraldas são adquiridos pelos familiares.
Os remédios, de qualquer forma, estavam bem acondicionados. A instituição
possui um esterilizador e seus prontuários estavam dentro dos padrões técnicos
exigidos.
21) LAR
DE UBERABA DE CIMA - sub-nutrição e desidratação
O
"Lar de Uberaba de Cima" (Rua Gabriel Passos Filho, 74) em Curitiba é
uma instituição clandestina administrado pela senhora Maria Sandoval que atua
na área há pouco mais de um ano. Quando de nossa visita, havia 6 idosos
internados ali, todos dependentes. Para cuidar deles, há apenas uma pessoa.
Examinando
os idosos, o Dr. Maurílio Pinto, médico geriatra, que acompanhou a Caravana em
Curitiba representando a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
(SBGG), constatou sub-nutrição e desidratação dos internos.
As
condições gerais da instituição, de fato, são subumanas.
Os idosos
não realizam qualquer atividade e estão em regime de isolamento social. Toda a
parte física da instituição é inadequada, há casos de infiltração e a higiene é
precária. Faltam recursos humanos elementares para a devida atenção a idosos
dependentes. O quadro geral é de negligência e abandono.
LAR BOM
SOSSEGO - Um bom exemplo de casa-lar
A última
visita em Curitiba nos reservou a agradável surpresa de descobrir um modelo de
"Casa- Lar" , uma das formas alternativas ao modelo asilar,
funcionando - e muito bem. O Lar Bom Sossego, situado no Jardim Paranaense (Rua
Campo Mourão, 200) é uma boa instituição.
A
responsável, dona Rita de Cássia de Paula, possui curso de cuidadores de idosos
e atua na área há 9 anos.
A
instituição é uma Casa onde estão internados 6 idosos convivendo em um regime
que faz lembrar um tipo de estrutura familiar. Três pessoas trabalham ali.
Quando de nossa visita, foi possível perceber que algumas crianças da família
da responsável interagem positivamente com os idosos o que possibilitou o
desenvolvimento de relações afetuosas bastante sensíveis e importantes tanto
para os idosos quanto para as crianças.
O Lar Bom
Sossego recusa-se a abrigar mais idosos, embora tivesse espaço físico para
tanto. A responsável afirma que se aceitasse novas internações não teria mais
condições de cuidar bem de todos, consciência que atesta uma notável diferença
diante daqueles administradores que fazem questão de superlotar suas casas como
forma de aumentar sua receita.
IV -b)
Londrina:
Em
Londrina, após um processo de fiscalização iniciado em fevereiro de 2001 pela
Prefeitura Municipal, através da Secretaria Municipal do Idoso, foram
vistoriadas 18 instituições — casas de repouso e asilos. Como resultado,
obteve-se a transferência de 94 idosos, para outras instituições ou para suas
famílias. Em março de 2001, o prefeito de Londrina assinou o Decreto 096/2001
que fixou normas de funcionamento de asilos, casas de repouso, clínicas
geriátricas e estabelecimentos congêneres destinados ao atendimento de idosos
em Londrina. O mesmo instrumento legal determinou que novos estabelecimentos só
serão autorizados após parecer técnico da Vigilância Sanitária e da Secretaria
Municipal do Idoso.
LONDRISAÚDE
- no aguardo das adaptações necessárias
O asilo
"Londrisaúde" (Rua Lucila Balalaí, 149) opera sem o alvará de
funcionamento. A vigilância sanitária já determinou a necessidade de várias
adaptações como, por exemplo, na farmácia da instituição.
4 pessoas
trabalham no asilo, nenhuma com carteira assinada. Há um médico que presta seus
serviços no asilo três vezes por mês ou "quando necessário".
O
Londrisaúde funciona em uma casa (alugada por 650 reais/mês) de 240 metros
quadrados. Além de 6 quartos, dispõe de sala de estar, sala de jantar, cozinha
e banheiros. Há algumas barreira arquitetônicas a serem eliminadas, os
banheiros não contam com os amparos necessários ao uso dos vasos sanitários e
estes não possuem assento. Observamos algumas infiltrações e necessidade de uma
higiene mais cuidadosa nos quartos.
A
responsável, Lídia de Souza e Silva, atua há 4 meses na área e cobra 300 reais
por interno. Quando de nossa visita, havia 12 idosos internados, sendo que dois
deles apresentando um quadro de dependência.
Constatamos
um quadro de isolamento social e de ausência de um programa de atividades que
estimulem a independência dos idosos; o padrão asilar, portanto.
Os
Deputados Marcos Rolim e Padre Roque conversaram demoradamente com um dos
internos, senhor Geraldo Gütschow, 77 anos. Seu Geraldo que luta tenazmente
contra o câncer, não tem metade de sua orelha direita e chama a atenção seja
pelo seu porte físico, seja por sua lucidez e determinação. Filho de alemães,
aprendeu a lidar com ervas medicinais e guarda em seu quarto uma impressionante
quantidade de misturas, chás, ungüentos e receitas naturais. Falando português
com um forte sotaque germânico, seu Geraldo nos contou que está escrevendo a
história de sua vida. Foi buscar o seu trabalho embaixo do travesseiro de onde
retirou uma grossa agenda enrolada em panos. Ali constatamos um minucioso
trabalho autobiográfico escrito em frente e verso de centenas de páginas à
caneta, com uma letra miúda e firme. Um trabalho que, possivelmente, conte
muito da saga dos imigrantes no Paraná. Seu Geraldo se emocionou muito quando o
Deputado Padre Roque começou a falar com ele em alemão. Levantou-se, abraçou o
deputado e chorou. Talvez tenha se emocionado, também, pelo fato de alguém
tê-lo escutado.
24) CASA
DE REPOUSO IRACEMA - outra casa clandestina
Esse
asilo funciona irregularmente no Conjunto Antares (Rua Iracema, 67). A
responsável , dona Marlene Oliveira Monteiro , auxiliar de enfermagem, atua há
11 meses na área e se queixou muito das dificuldades financeiras da
instituição. Dona Marlene demorou muito para abrir o portão de ferro que dá
acesso ao seu asilo. Os deputados, após uma espera de 20 minutos, precisaram
ameaçar que chamariam a polícia se o portão não fosse aberto.
A
Caravana constatou que estavam internados nessa instituição 8 idosos.
Trabalham
na casa um auxiliar de enfermagem e dois auxiliares de serviços gerais.
Os
internos não realizam qualquer tipo de atividade e encontram-se em situação de
isolamento social.
Há três
quartos na casa (alugada por 430 reais). Um deles com duas camas, outro com
três e outro com seis.
A
farmácia da instituição encontra-se absolutamente fora dos padrões da
vigilância sanitária e não há prontuários.
Há
barreiras arquitetônicas a serem superadas e necessidade de várias adaptações
físicas.
Os
internos sustentam a instituição pagando valores entre 180 e 250 reais.
LAR
OLIVEIRA PARA IDOSOS - histórico de interdição
O Lar
Oliveira para idosos é uma instituição clandestina. Mais do que isso: a
responsável, dona Cida Pereira, auxiliar de enfermagem com 4 anos de atuação na
área, já teve uma outra casa que administrava interditada pela vigilância
sanitária. Após a interdição, mudou-se de lugar abrindo um novo asilo e
repetindo o mesmo padrão de depósito de idosos.
Quando da
nossa visita, havia 12 idosos internados, todos com algum tipo de dependência.
Cinco
pessoas trabalham no asilo, todas da mesma família da responsável.
Os
internos sustentam a instituição com valores de 200 reais/mês, em média. O
aluguel da casa é de 400 reais e o total das despesas é de 2 mil reais/mês.
A casa
possui três quartos (com 3 e 4 camas) e as condições de higiene são precárias.
Nenhuma
atividade é desenvolvida com os idosos e os recursos humanos disponíveis não
são qualificados.
CASA DE
REPOUSO MARANATA - uma casa em boas condições
A Casa de
Repouso Maranata (Rua júlio Cesar Ribeiro,190) , administrada por Lígia Ivone
Critóvão, é, na verdade, uma Casa Lar.
Quando de
nossa visita, havia nove idosos internados, todos dependentes.
Cada um
dos internos aqui contribui com valores entre 400 e 600 reais/ mês. 90% deles
possuem algum plano de saúde e a grande maioria usufrui de serviços de
fisioterapia.
A
instituição conta com quatro auxiliares de enfermagem, uma nutricionista, um
auxiliar de serviços gerais e uma cozinheira.
De
maneira geral, pode-se afirmar que a instituição encontra-se plenamente
adequada no que diz respeito a sua estrutura física e que as condições de
higiene são boas.
Cada
idoso possui uma pasta onde estão todos os registros relevantes e os
medicamentos estão bem acondicionados.
ASILO SÃO
VICENTE DE PAULA - um bom padrão
O asilo
São Vicente de Paula ( Rua Maria Leonia Milito, 499) foi fundado em 1952. Nossa
visita pôde perceber um bom padrão de atendimento aos idosos nessa tradicional
instituição londrinense.
O asilo
recebe verbas públicas (5 mil reais da prefeitura) e recolhe dos internos 126
reais/mês. O total de suas despesas mensais fica em torno dos 20 mil reais.
Quando de
nossa visita havia 120 idosos internados, sendo que, desse total, cerca de 70
apresentavam um quadro de dependência.
Trabalham
na instituição 24 pessoas. O asilo é campo de estágio para a Universidade do
Norte do Paraná (Unopar), o que lhe assegura a presença de vários formandos em
múltiplas disciplinas.
Há um
programa consistente de atividades com os internos envolvendo trabalhos
manuais, música e dança, jardinagem, etc.
CENTRO DE
APOIO GERIÁTRICO - padrão médico de qualidade
O Centro
de Apoio Geriátrico de Londrina (Rua Santos Dumont, 975) funciona desde 1987.
Seu atendimento pode ser considerado padrão, especialmente pelos cuidados à
saúde do idoso.
Quando de
nossa visita, havia 20 idosos internados. Cerca de 70% deles com um quadro de
dependência.
O centro
possui 1800 metros quadrados de área e 1000 metros quadrados de área
construída. O aluguel é de 3.300 reais. Sua despesa fica em torno dos 17 mil
reais/ mês. Os internos pagam um valor básico de 920 reais e arcam com os
custos de fraldas e medicamentos, entre outras despesas.
15
pessoas trabalham aqui e os recursos humanos disponíveis são de alta qualidade.
Há um
programa consistente de atividades para os internos envolvendo terapia
ocupacional, fisioterapia, atividades recreativas, etc.
O espaço
físico é bom e está completamente adaptado; há cuidados com a higiene.
Alguns
dos idosos recebem visitas diariamente.
c)
RECOMENDAÇÕES:
I - Que
seja instalado, imediatamente, o Conselho Nacional do Idoso.
II - Que
o governo federal crie, imediatamente, a Coordenação Nacional da Política do
Idoso.
III - Que
o Programa Nacional de Cuidadores de Idosos, instituído pela portaria
interministerial 5.153/99, que prevê a formação de recursos humanos para
tratamento domiciliar e institucional de idosos seja, finalmente, executado.
IV - Que
as instituições tipicamente asilares sejam, progressivamente, desativadas em
favor de uma política pública que privilegie o atendimento domiciliar, as Casas
Lares , os Hospitais-Dia e os Centros de Convivência, conforme diretrizes da
Política Nacional do Idoso.
V - Que,
em caráter emergencial, o governo federal, os governos estaduais e as
prefeituras, assegurem o deslocamento para instituição de natureza hospitalar
de todos os idosos portadores de doenças infecciosas ou que necessitem de
assistência médica permanente ou de cuidados intensivos de enfermagem que
estejam internados em instituições asilares de caráter social, garantindo,
desta forma, o disposto pelo parágrafo único do inciso IX do artigo 4 da Lei
8.842/94.
VI - Que
o Poder Público assegure, através da fiscalização sistemática, que as
instituições destinadas ao cuidado e tratamento de idosos atendam, além do
disposto pela legislação e normas municipais ( Plano Diretor, Código de
Edificações, Normas de Prevenção de Incêndio, entre outras) , pelo menos, as
seguintes necessidades físico-espaciais, mantidas as proporções de acordo com
as diferentes modalidades de tratamento:
1)
Programa para uma casa com 20 idosos Dimensão mínima (m2 )
Sala para
direção administrativa
......................................................12,00
Sala
atendimento multiprofissional..................................................12,00
Sala de
convivência..........................................................................30.00
Sala de
enfermagem.........................................................................10,00
Almoxarifado...................................................................................10,00
Refeitório.........................................................................................30,00
Cozinha............................................................................................16,00
Área de
serviço/lavanderia (com tanque)........................................04,00
Depósito
.......................................................................................04,00
Banheiros
p/func.com armários (masc e fem.)................................06,00
Dormitórios
(máximo para 4 pessoas e 5 m2 por .........................100,00
Banheiros
( pelo menos 1 vaso para cada 5 idosos e 1 chuveiro para 10)
Áreas
externas p/atividades (no mínimo 1 m2 por idoso)................20,00
2) As
instituições de cuidado e tratamento de idosos devem estar situadas em locais
com facilidade de acesso ao transporte coletivo e, preferencialmente, próximas
aos serviços de saúde do município, serviços de comércio e espaços de lazer e
cultura, favorecendo a integração do idoso, independente e mesmo o dependente,
à comunidade do entorno.
3) As
instituições de cuidado e tratamento de idosos devem ser compreendidas como
locais de moradia prevendo, portanto, a participação dos usuários na definição
das rotinas e normas de convivência bem como na qualificação individualizada
dos ambientes, destacadamente aqueles mais íntimos e reservados como os quartos
. Deve-se estimular, que nesses espaços, os idosos possam ter acesso a uma série
de elementos que atuem sobre sua memória física e afetiva.
4) As
instituições de cuidado e tratamento de idosos devem ser, preferencialmente, de
um único pavimento térreo. Todas os desníveis externos ou internos devem ser
dotados de rampas e escadas, de fácil limpeza e conservação, antiderrapantes,
uniformes e contínuos.
5) Nos
caminhos, nas áreas de circulação e em locais específicos onde os idosos
precisam de apoio (banheiros, rampas, escadas, etc.) as instituições devem
contar com corrimões conforme especificado pela NBR 9050/ABNT.
6) Rampas
e escadas devem ser executadas segundo as mesmas normas da ABNT, observadas as
exigências de corrimão e guarda-corpo. Complementarmente, destacam-se a
necessidade de:
No
primeiro e último degrau da escada dotá-los de luz de vigília permanente;
Executar
o corrimão de forma a torná-lo contrastante em relação à parede onde for fixado
para fácil e rápida identificação e utilização;
No caso
de acesso à edificação, a escada e a rampa deverão Ter, no mínimo, 1,50m de
largura;
No início
e no término das escadas deve ser instalada uma cancela, para controle de
fechamento e/ou abertura.
7)
Corredores devem ter a largura mínima de 1,50m e ser dotados de corrimãos de
ambos os lados. Pisos, paredes e portas devem ser bem visualizados através de
variações de revestimento ou cor. Os corredores e demais áreas de circulação
devem estar livres de qualquer obstáculo (como móveis, vasos, etc.)
8) Os
espaços de circulação externa devem contar com áreas verdes, com caminhos e
bancos para descanso à sombra, solarium protegido dos ventos e locais para
jardinagem e outras atividades ao ar livre. Os locais destinados à jardinagem e
hortas devem ser providos de canteiros elevados (como se fossem mesas, com
altura indicada da parte superior de 0,70m) para possibilitar seu manuseio por
pessoas sentadas.
9) A área
de circulação de veículos deve ser isolada da área de circulação externa de
idosos.
10) As
áreas internas devem ser dotadas de boa ventilação e contar com condições
ideais de iluminação natural e artificial. Os interruptores devem ser
luminosos.
11) Todas
as áreas internas devem ser dotadas de campainhas para emergência (nos
dormitórios, esse equipamento deve se situar junto à cabeceira das camas) e
sistemas de segurança/prevenção de incêndio com previsão de rápido e seguro
escoamento de todos os residentes.
12) As
portas que separam as diferentes peças da instituição devem possuir um vão
livre igual ou maior que 0,80m. As portas devem ser preferencialmente de
correr, com trilhos embutidos no piso, ou de abrir com dobradiças verticais,
dotada de comando de abertura de alavanca. Deve ser previsto 0,60m , contíguo
ao vão da porta, para facilitar o alcance da maçaneta.
13) As
janelas devem ter peitoris de 0,70m para melhorar a visibilidade, corrimão
suplementar com 0,90m do piso para maior segurança e comando de abertura de
alavanca, quando se tratar de novas construções.
14) Os
assentos de poltronas e cadeiras, com uma altura recomendada de 0,42 a 0,46m,
devem ser revestidos por material impermeável. É indicada a altura de 0,46 a
0,51m para as camas.
15) É
expressamente vedado o uso de beliches e de camas de armar bem como a
instalação de divisórias improvisadas.
16) Os
banheiros devem ser dotados de campainha de alarme. Não deve se utilizar
revestimentos que produzam brilhos e reflexos para evitar desorientação ou
confusão visual. Os boxes para vaso sanitário e chuveiro devem ter a largura
mínima de 0,80m, além do espaço para o cuidador auxiliar o idoso. Deve ser
previsto, no mínimo, um box para chuveiro e um para vaso sanitário que permita
o uso de uma pessoa em cadeira de rodas, conforme especificações da NBR
9050/ABNT, excetuada a altura da borda dos vasos sanitários que deve ser de
0,43m do chão.
17) Nos
chuveiros não é permitido qualquer desnível em forma de degrau para conter a
água. Indica-se o uso de grelhas contínuas, desde que respeitada a largura
máxima entre os vãos de 1,5m. Deve ser evitado o uso de cortinas de plástico e
portas de acrílico ou vidro para o fechamento do box de chuveiro. As barras de
apoio devem ser instaladas e ter dimensões conforme a NBR 9050/ABNT, além de
se, preferencialmente, em cortes contrastantes com a parede.
VII - Que
seja aprovado o projeto de Lei n ......./2002, de autoria dos Deputados Marcos
Rolim (PT/RS) e Padre Roque (PT/PR) que estabelece normas básicas para o
funcionamento dos estabelecimentos que prestam atendimento integral
institucional a idosos como Asilos, Casas de Repouso, Clínicas Geriátricas e
congêneres e dá outras providências.
PROJETO
DE LEI Nº 6.163 DE 2002
(Dos Srs.
Marcos Rolim - PT/RS e Padre Roque - PT/PR )
Estabelece
normas básicas para o funcionamento de estabelecimentos que prestam atendimento
integral institucional a idosos como Asilos, Casas de Repouso, Clínicas
Geriátricas e congêneres e dá outras providências.
Art. 1)
Considera-se estabelecimentos que prestam atendimento integral institucional a
idosos aqueles que, com denominações diversas, abrigam em caráter asilar
pessoas com 60 anos ou mais, sob regime de internato ou não, mediante pagamento
ou não, durante um período indeterminado.
Parágrafo
único — Para efeitos dessa lei, não se consideram os estabelecimentos do tipo
"República de Idosos", "Centros de Convivência",
"Centro-Dia" e "Casas Lares" com até 8 idosos.
Art. 2)
Antes de iniciada a construção, reforma ou instalação de qualquer
estabelecimento destinado ao atendimento integral institucional a idosos, a
Autoridade Sanitária deverá ser consultada emitindo parecer quanto ao local e
ao projeto.
Parágrafo
primeiro - O habite-se será fornecido, após vistoria feita pela Autoridade
Sanitária.
Parágrafo
segundo - O alvará de funcionamento só será fornecido após aprovação pela
Autoridade Sanitária do projeto de atendimento aos idosos onde deverá constar,
obrigatoriamente, a equipe técnica a ser contratada, a grade de atividades a
ser oferecida aos internos e o plano de viabilidade financeira da instituição.
Art. 3)
Os responsáveis pelos estabelecimentos de atendimento integral institucional a
idosos ficam obrigados a repassar, no ato de ingresso do idoso na instituição,
cópia da presente Lei aos familiares e a fixá-la no interior da instituição, em
local visível e de fácil acesso a todos os internos.
Art. 4)
Os estabelecimentos de atendimento integral institucional a idosos serão
cadastrados pela Autoridade Sanitária em três modalidades distintas: Modalidade
I, destinada a idosos independentes ; Modalidade II, destinada a idosos
independentes e a idosos com dependência moderada e Modalidade III, destinada a
idosos com dependência total em pelo menos uma atividade de vida diária (AVD).
Art. 5)
Os estabelecimentos de atendimento integral institucional a idosos cadastrados
na modalidade I terão capacidade máxima de 40 internos; os cadastrados na
modalidade II terão capacidade máxima de 22 internos e os cadastrados na
modalidade III terão capacidade máxima de 20 internos.
Art. 6 )
Além do já disposto pela Legislação Municipal (Plano Diretor, Normas de
Edificação, Normas de Prevenção de Incêndio, entre outras) , os
estabelecimentos de atendimento integral institucional de idosos devem
observar, pelo menos, as seguintes necessidades físico-espaciais, mantidas as
proporções de acordo com as diferentes modalidade de tratamento:
Programa
para uma casa com 20 idosos Dimensão Mínima (m2)
Sala para
direção administrativa............................................... 12,00
Sala de atendimento
multiprofissional..................................... 12,00
Sala de
convivência..................................................................
30,00
Sala de
Enfermagem.................................................................
10,00
Almoxarifado............................................................................
10,00
Refeitório..................................................................................
30,00
Cozinha.....................................................................................
16,00
Área de
Serviço/lavanderia (com tanque)................................. 04,00
Depósito
Geral..........................................................................
04,00
Banheiros
para funcionários com armários............................... 06,00
Dormitórios
(máximo para 4 pessoas e 5 m2 por leito)........... 100,00
Banheiros
(pelo menos um vaso para cada 5 idosos e 1 chuveiro
c/água
quente para cada 10 idosos)
Áreas
externas p/atividades (com um mínimo de 1 m2 por idoso) 20,00
Art. 7)
As instituições de cuidado e tratamento de idosos devem estar situadas em
locais com facilidade de acesso ao transporte coletivo e, preferencialmente,
próximas aos serviços de saúde do município, serviços de comércio e espaços de
lazer e cultura, favorecendo a integração do idoso independente e, mesmo, do
dependente à comunidade.
Art. 8)
As instituições de cuidado e tratamento de idosos devem ser compreendidas, para
todos os efeitos, como locais de moradia prevendo, portanto, a participação dos
usuários na definição das rotinas e normas de convivência, bem como na
qualificação individualizada dos ambientes, destacadamente aqueles mais íntimos
e reservados como os quartos. Deverão estimular que, nesses espaços, os idosos
possam ter acesso a uma série de elementos que atuem sobre sua memória física e
afetiva.
Art. 9)
As instituições de cuidado e tratamento de idosos devem ser, preferencialmente,
de um único pavimento térreo. Todos os desníveis externos ou internos devem ser
dotados de rampas e escadas, de fácil limpeza e conservação, antiderrapantes,
uniformes e contínuos.
Parágrafo
único - as rampas devem possuir declividade máxima de 5 %, piso antiderrapante
e proteção lateral. Se externas, deverão ser cobertas.
Art. 10)
Nos caminhos, nas áreas de circulação e em locais específicos onde os idosos
precisam de apoio (banheiros, rampas, escadas, etc.) as instituições devem
contar com corrimões conforme as especificações da ABNT.
Art. 11)
Rampas e escadas devem ser executadas segundo as mesmas normas da ABNT,
observadas as exigências de corrimão e guarda-corpo. Complementarmente,
destaca-se a necessidade de:
No
primeiro e último degrau da escada dotá-los de luz de vigília permanente;
Executar
o corrimão de forma a torná-lo contrastante em relação à parede onde for fixado
para fácil e rápida identificação e utilização;
No caso
de acesso à edificação, a escada e a rampa deverão ter, no mínimo, 1,50m de
largura.
No início
e término das escadas deve ser instalada uma cancela, para controle de
fechamento e/ou abertura.
Art. 12)
Os corredores devem ter a largura mínima de 1,50m e ser dotados de corrimãos de
ambos os lados. Pisos, paredes e portas devem ser bem visualizados através de
variações de revestimento e cor. Os corredores e demais áreas de circulação
devem estar livres de qualquer obstáculo (como móveis, vasos, etc.)
Art. 13)
Os espaços de circulação externa devem contar com áreas verdes, com caminhos e
bancos para descanso à sombra , solarium protegido dos ventos e locais para
jardinagem e outras atividades ao ar livre. Os locais destinados à jardinagem e
hortas devem ser providos de canteiros elevados para possibilitar o manuseio
por pessoas sentadas.
Art. 14)
A área de circulação de veículos deve ser isolada da área de circulação externa
dos idosos.
Art. 15)
Todas as áreas internas devem ser dotadas de campainhas para emergência e
sistema de segurança/prevenção contra incêndios, com previsão de rápido e
seguro escoamento de todos os residentes. Nos dormitórios, haverá campainha em
cada cabeceira de cama.
Art. 16)
As portas devem ter um vão livre igual ou maior que 0,80m sendo,
preferencialmente, de correr (com trilhos embutidos no piso) ou de abrir com
dobradiças verticais, dotadas de comando de abertura e alavanca.
Art. 17)
Cadeiras, poltronas e sofás devem ser revestidos por material impermeável e a
altura dos assentos deve ser entre 0,42 e 0,46m.
Art. 18)
Nos dormitórios, cada interno disporá de espaço próprio e móveis para uso
particular de tal forma que possa guardar seus pertences e ter a eles acesso
privado.
Art. 19)
As camas terão altura entre 0,46 e 0,51m sendo expressamente vedado o uso de
beliches e de camas de armar, bem como a instalação de divisórias improvisadas.
Art. 20)
Os banheiros contarão com, pelo menos, um box para vaso sanitário e chuveiro
que permita o uso por uma pessoa em cadeira de rodas conforme especificações da
ABNT, excetuada a altura dos vasos sanitários que deve ser de 0,43m do chão.
Art. 21)
Os banheiros deverão contar com piso antiderrapante , campainha de alarme, e
barras de apoio em cores contrastantes com a parede.
Art. 22)
É expressamente vedada a permanência de qualquer pessoa portadora de doença que
exija assistência médica permanente ou cuidados intensivos de enfermagem em
instituições asilares de caráter social.
Art. 23)
As instituições deverão proceder a separação do lixo contaminado,
acondicionando-o em sacos plásticos diferenciados por cor e sinalização não
permitindo o seu transporte por áreas de cozinha e/ou armazenagem de alimentos.
Parágrafo
único — compreende-se, para os efeitos dessa lei, como lixo contaminado
resíduos como curativos, seringas e agulhas, caixas ou recipientes usados de
medicamentos e restos de alimentos.
Art. 24)
Todos os idosos, ao serem admitidos na instituição, deverão ser registrados em
ficha cadastral própria, de acordo com norma própria da Autoridade Sanitária.
Cada um deles terá prontuário próprio para registro de sua evolução e controle
de medicação.
Art. 25)
Não serão admitidas restrições de horários ou de dias da semana às visitas aos
idosos. Os internos têm o direito de receberem familiares e amigos a qualquer
momento, bastando para isso a sua vontade.
Art. 26 )
Cada instituição de atendimento aos idosos colocará um telefone à disposição
dos internos, permanentemente, definindo com eles as normas para seu uso
racional.
Art. 27)
Cada instituição deve possibilitar aos internos condições de deslocamento para
atividades externas e visitações a Igrejas, museus, praças, cinemas, teatros,
praças esportivas, mercados, etc.
Art. 28)
Essa lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 29)
As instituições já existentes de atendimento de idosos deverão encaminhar à
Autoridade Sanitária, no prazo de 9 0 (noventa) dias a contar da publicação
desse Lei, seu cronograma de adaptação às normas aqui definidas.
Parágrafo
primeiro - O cronograma de adaptação de que trata o caput desse artigo deverá
prever uma primeira fase de reformas para o primeiro ano de vigência da Lei e
uma Segunda fase de adaptação final até o final do segundo ano de vigência.
Parágrafo
segundo - As entidades que, após o prazo de dois anos de vigência da Lei, não
tiverem realizado as adaptações necessárias ao cumprimento das normas aqui
definidas, serão interditadas.
JUSTIFICATIVA
Em
outubro do ano de 2001, realizamos, pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara
Federal, a "V Caravana Nacional de Direitos Humanos" que escolheu
como tema a realidade das instituições asilares que prestam atendimento a
idosos. Estivemos em 4 estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro,
Pernambuco e Paraná. Visitamos um total de 28 instituições e pudemos recolher
uma amostra significativa de uma realidade dramática e, ainda hoje, pouco
conhecida em nosso país.
O que
vimos consta do relatório específico da Caravana que, a exemplo do que ocorreu
com todas as demais, alinhavou, também, recomendações e medidas para o
enfrentamento do problema. O presente projeto de Lei procura enfrentar um dos
aspectos mais agudos da questão: a realidade das instituições asilares que vêm
se multiplicando à margem de qualquer legislação específica de âmbito nacional.
Registre-se
a relevância do tema em um país que envelhece rapidamente. Segundo todos os
levantamentos e estudos sobre o perfil demográfico brasileiro, temos que nossa
população vem envelhecendo proporcionalmente desde os anos 60. Esse processo
está largamente condicionado, de um lado, pela redução abrupta, nas últimas
décadas, da natalidade no Brasil e, de outro, pelo aumento da expectativa de
vida dos brasileiros. Atualmente, temos cerca de 14 milhões de pessoas com 60
anos ou mais, o que perfaz 9,1% da população. Dentro de 20 anos, os idosos
brasileiros serão 32 milhões e representarão cerca de 18% do total da
população. Essas estimativas deverão situar o Brasil em sexto lugar no ranking
das populações idosas no mundo (!)
Essa
mudança de perfil demográfico no Brasil repercute largamente sobre as políticas
sociais e já altera as demandas dos serviços de saúde, por exemplo. Do total de
idosos no Brasil, estima-se que cerca de um milhão e setecentos mil deles vivem
abaixo da linha de pobreza. Desse universo de idosos em situação de
miserabilidade, cerca de 450 mil passaram a receber benefícios de prestação
continuada previstos pela LOAS. Temos, portanto, seguramente, mais de um milhão
de idosos desamparados em nosso país. Uma parte significativa desses idosos
encontra-se, hoje, em instituições do tipo asilar. Nas próximas décadas, o
problema tende a se agravar substancialmente.
Desde a
aprovação da Política Nacional do Idoso — Lei 8.842 de 04 de janeiro de 1994 e
do Decreto1.948 de 03 de julho de 1996 — abriu-se no país uma nova fase para a
elaboração de políticas públicas de proteção e amparo ao idoso. Esse processo,
que poderá ter com a aprovação do Estatuto do Idoso um passo ainda mais
significativo, não foi capaz, até agora, de regrar efetivamente as instituições
que prestam serviços na área de atenção aos idosos. Os únicos instrumentos de
que dispomos são duas portarias regulamentadoras: a primeira, de número 810 de
22 de setembro de 1989, do Ministério da Saúde e a segunda, de número 73 de
maio de 2001, do Ministério da Previdência Social. Independentemente da
qualidade desses dois documentos, o fato é que eles tem servido muito mais como
uma referência técnica ou um padrão ideal do que como um conjunto de regras
operantes e delineadoras de uma política capaz de alterar o perfil atual dos
asilos e instituições congêneres.
Que
perfil é esse? Pelo que pudemos observar em nossa viagem, a grande maioria das
instituições asilares no Brasil não dispõem das mínimas condições de
funcionamento e, por decorrência, estão incapacitadas de oferecer aos idosos
que abrigam um padrão de vida digno. Como regra, os Asilos, Abrigos, Casas de
Repouso, Lares de Idosos ou mesmo Clínicas Geriátricas, são , na verdade,
depósitos de seres humanos que aguardam silenciosamente pela morte.
As
instituições que visitamos, com honrosas exceções, estavam superlotadas. Alguns
dos alojamentos funcionavam como se fossem enfermarias de campanha em condições
deploráveis de higiene, sem o necessário apoio técnico e, rigorosamente, sem
oferecer qualquer cuidado aos internos. Em várias instituições vimos pessoas
sem qualquer formação manipulando medicamentos acondicionados fora de suas
embalagens em vidros rotulados com os nomes dos idosos. Em outros, constatamos
falta de comida e alimentos em estado avançado de putrefação. Normalmente,
essas instituições são verdadeiras armadilhas para os idosos. Algumas são
escuras e cheias de obstáculos arquitetônicos; muitas funcionam em prédios com
mais de um andar, possuem escadas perigosas ou rampas íngremes. Seus pisos não
contam com adaptações antiderrapantes, seus banheiros, além de fétidos não oferecem
amparos ou adaptações indispensáveis à segurança dos internos. Como
decorrência, as quedas fazem parte do cotidiano dessas instituições e vitimam
idosos a todo momento. Dificilmente tais estabelecimentos contam com serviços
de profissionais habilitados na área de saúde. Quando muito, há a prestação de
serviços dessa natureza, em caráter esporádico, como trabalho voluntário. Os
internos não contam com qualquer estímulo a sua autonomia. Permanecem todo o
dia, em regra, sem qualquer tipo de atividade. Muitos deles descrevem essa
rotina afirmando que nos lugares onde foram abandonados o que se faz é
"comer e dormir". Boa parte dessas instituições recebem idosos
independentes e idosos com uma situação de dependência grave. Outras, terminam
por ser, também, depósitos de doentes mentais, idosos ou não. Não raro, há
casos de maus tratos e denúncias de violências praticadas contra os idosos por
aqueles que deveriam lhes estar oferecendo cuidados. Em Recife, por exemplo, em
uma das instituições que visitamos, encontramos uma senhora, perfeitamente
lúcida e saudável, que era amarrada em uma cadeira de balanço, todos os dias.
Seus "cuidadores" adotaram esse procedimento para que ela não fumasse
(!)
O quadro
mais grave, não obstante, é mesmo o do abandono dos idosos nessas instituições.
Se sabemos que muitos dos estabelecimentos de atenção a idosos no Brasil
funcionam, efetivamente, como pequenas empresas lucrativas onde, inclusive,
proprietários manipulam cartões bancários dos internos se apropriando de suas
aposentadorias, pensões ou benefícios de prestação continuada, também é
necessário registrar que a maioria das instituições enfrenta toda a sorte de
dificuldades financeiras e sobrevive graças à caridade pública. Há, de fato, da
parte de vários dos administradores e proprietários desses estabelecimentos,
uma genuína disposição filantrópica e, em alguns casos, uma dedicação elogiável
aos internos. Estabelecimentos com essas características devem receber, então,
de parte do poder público, o apoio necessário e, através de convênios, também
os recursos financeiros indispensáveis. Para isso, entretanto, devem se adaptar
a normas elementares de funcionamento pelas quais se pretende, a um só tempo,
revitalizar a rede filantrópica de assistência e superar, paulatinamente, as
características mais marcantes de um modelo asilar que tem sido, antes de tudo,
responsável pela produção de sofrimento.
As
disposições que apresentamos nesse projeto de lei procuram recolher algumas das
orientações centrais das portarias técnicas já citadas — precisamente as que
possuem uma natureza básica de caráter permanente - concentrando as atenções
nas instituições definidas como prestadoras de "atendimento integral
institucional" , tema cuja urgência dispensa maiores comentários. Recolhemos,
igualmente, algumas das sugestões oferecidas pela SBGG (Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia) — seção São Paulo e algumas das normas do decreto
regulamentador dos asilos promulgado pela Prefeitura Municipal de Londrina
(PR), recentemente. Introduzimos algumas disposições de conteúdo garantista que
expressam nossa sensibilidade após a realização da V Caravana e nos inspiramos,
também, nos esforços realizados pela CPI do Idoso da AL/RJ.
A
aprovação desse projeto de lei, para o qual solicitamos a atenção dos nobres
pares, é fundamental para que tenhamos a força legal capaz de impulsionar uma
verdadeira mudança no perfil institucional dos estabelecimentos que prestam
cuidados aos idosos no Brasil. Com uma Lei dessa natureza, estados e municípios
poderão dispor de uma referência para o desenvolvimento de políticas públicas
humanistas que se somem aos esforços que devemos realizar para a garantia de um
envelhecimento com qualidade de vida para todos os brasileiros.
Deputado
Marcos Rolim — PT/RS Deputado Padre Roque - PT/PR
d)
ANEXOS:
d-1) -
TERMINOLOGIA
Listamos,
a seguir, algumas expressões e conceitos bastante empregados quando tratamos de
políticas públicas com relação aos idosos, definindo-as sumariamente com base
nos documentos oficiais.
1) Ação
terapêutica - processo de tratamento de um agravo à saúde por intermédio de
medidas farmacológicas e não farmacológicas, tais como: mudanças no estilo de
vida, abandono de hábitos nocivos, psicoterapia, entre outros.
2) AIH
(Autorização de Internação Hospitalar) - documento de autorização e fatura de
serviços hospitalares do SUS, que engloba o conjunto de procedimentos
realizados em regime de internação.
3)
Assistência domiciliar - assistência realizada na residência do idoso mediante
o fornecimento de equipamento e desenvolvimento de ações terapêuticas mais
complexas, implicando em orientação e supervisão sistemática do cuidador
domiciliar.
4)
Autodeterminação - capacidade do indivíduo exercer sua autonomia, de decidir
sobre sua vida.
5)
Cuidador - pessoa, membro ou não da família, que cuida do idoso dependente ou
doente, com ou sem remuneração. Suas tarefas envolvem o acompanhamento das
atividades diárias do idoso e seu auxílio na alimentação, higiene pessoal,
medicação de rotina e outros serviços necessários excluídos aqueles para os
quais sejam requeridos técnicas ou procedimentos identificados com profissões
legalmente estabelecidas, particularmente na área de enfermagem.
6)
Deficiência - expressão de processo patológico, como uma alteração de função de
sistemas, órgãos e membros do corpo, que podem ou não gerar incapacidade.
7)
Demência - síndrome progressiva e irreversível, composta de múltiplas perdas
cognitivas adquiridas e pela presença de um estado de confusão mental aguda (de
uma desorganização súbita do pensamento). As funções cognitivas a serem
afetadas pela demência incluem a memória, a orientação, a linguagem, a práxis,
a agnosia (incapacidade de reconhecer informações sensoriais), as construções,
a prosódia (boa pronúncia) e o controle executivo.
8)
Geriatria - ramo da ciência médica voltado à promoção da saúde e o tratamento
das doenças e incapacidades da velhice.
9 )
Gerontologia - área do conhecimento científico voltado para o estudo do
envelhecimento em sua perspectiva mais ampla, em que são levados em conta não
somente os aspectos clínicos e biológicos, mas também as condições
psicológicas, sociais, econômicas e históricas.
10)
Dependência - é a condição daquele que requer o auxílio de outras pessoas para
realização de atividades da vida diária.
11) Idoso
- A Organização das Nações Unidas (ONU) , desde 1962, considera idoso o
indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos. O Brasil, no texto da Lei
8.842/94 adota esse mesma definição. (Art. 2 do capítulo I)
12)
Incapacidade - deficiência no desempenho de determinada função na extensão,
amplitude e intensidade consideradas normais.
13)
Iatrogenia - qualquer agravo à saúde causado por uma intervenção médica.
d-2) -
DOENÇAS MAIS COMUNS NA VELHICE E CUIDADOS BÁSICOS
Em 1999,
o Ministério da Previdência e Assistência Social — MPAS e a Secretaria de
Estado de Assistência Social — SEAS, editaram um documento com informações
básicas sobre o cuidado com os idosos. ("Idosos, Problemas e Cuidados
Básicos") Trata-se de um trabalho muito útil aos idosos, em primeiro
lugar, mas, notadamente àqueles que convivem com idosos ou que atuam
profissionalmente como cuidadores. Selecionamos, para esse registro em anexo,
as observações do documento citado, elaboradas por uma qualificada equipe de
profissionais, a respeito das doenças mais comuns na velhice. Pela linguagem
simples e acessível, julgamos que a reprodução desse capítulo pode interessar a
todos.
(....)
"Preliminarmente temos que lembrar que velhice não significa doença. Todos
nós podemos chegar a idades mais avançadas "vendendo saúde" se nos
prepararmos para isso com hábitos de vida saudáveis: alimentação correta,
exercícios físicos, trabalho e alegria de viver. Estudos realizados em nosso
país mostram que grande número de idosos têm boa saúde e só 18% apresentam
problemas importantes.
Mas se
prestarmos atenção aos idosos que têm problemas de saúde, poderemos observar
que há algumas doenças que são mais comuns entre eles. Temos certeza que todos
já encontraram idosos com hipertensão, diabetes, doenças dos ossos ou das
juntas, doenças do coração, ressecamento do intestino, depressão e, em menor
número, com câncer, doenças do pulmão, como bronquite ou enfisema, ou com
doenças infecciosas, como pneumonia ou infecção urinária.
Os idosos
freqüentemente apresentam várias doenças ao mesmo tempo e geralmente elas são
de longa duração, sendo que muitas não tem cura, mas têm tratamento para controlá-las
e permitir que a pessoa continue vivendo normalmente, igual aos outros.
Por outro
lado, em alguns casos as doenças podem levar à imobilidade, às quedas, à
confusão mental, à incontinência (perda involuntária da urina ou fezes) ou a
várias alterações causadas pela falta, excesso ou erro na medicação ou na
dieta.
Faremos
algumas considerações à respeito das doenças mais freqüentes:
Hipertensão
arterial
É sem
dúvida, uma das doenças mais comuns entre os idosos. A Organização Mundial de
Saúde considerou os valores de 140/90 mmHg como sendo os níveis limítrofes,
acima dos quais o indivíduo é considerado hipertenso. No idoso, porém, os
valores são de 160 mmHg ou mais para pressão sistólica e 95 mmHg ou mais para
pressão diastólica.
A
hipertensão é muito importante, porque, quando não controlada, pode ser a causa
de várias doenças, principalmente o derrame, a angina (dor no coração) e o
infarto.
Quase
nunca a causa da hipertensão é conhecida, no entanto, existem fatores
considerados de risco que podem favorecer o seu aparecimento. Assim, são
considerados os fatores constitucionais e os ambientais.
Fatores
constitucionais entre os quais alguns são da própria pessoa, não se podendo
fazer nada para evitá-los, como:
· Idade:
a média da pressão arterial é maior quanto maior for a faixa etária;
· Sexo: é
mais freqüente em mulheres;
· Fatores
genéticos: é mais comum na raça negra e nos descendentes de hipertenso.
Fatores
ambientais são dependentes da vontade da pessoa, como:
·
Ingestão excessiva de sal;
· Álcool:
a ingestão de três doses de bebida diariamente favorece a hipertensão;
·
Gordura: principalmente a animal;
·
Tabagismo;
· Fatores
ligados ao trabalho: estresse, ruído, calor excessivo;
· Excesso
de peso.
A
hipertensão pode ser uma doença leve, moderada ou grave e é o médico que vai
verificar isso para poder tratar o paciente, sendo por vezes necessário tomar
remédios e outras vezes não.
Independente
da gravidade da doença algumas medidas sempre deverão ser tomadas e são tão
importantes quanto os remédios. São elas:
· Redução
da ingestão de sal;
· Redução
do peso corporal para os pacientes obesos;
· Redução
da ingestão de gordura;
·
Eliminação do consumo de bebidas alcoólicas;
· Prática
de exercícios físicos aeróbicos (caminhada, natação, dança);
·
Abandono do fumo;
· Aumento
do teor de alimentos com fibras na alimentação.
O
paciente hipertenso deverá ser acompanhado sempre pelo médico e é este
profissional que indicará a freqüência das consultas. Quando o paciente puder
pertencer a uma "liga de hipertensos" ou outro serviço de saúde
específico para hipertensos, será atendido por uma equipe de vários
profissionais que lhe ajudarão de uma forma muito mais completa a controlar a
sua doença.
Diabetes
Mellitus
O
diabetes mellitus é uma doença causada pelo aumento de açúcar (glicose) no
sangue. O pâncreas produz a insulina que controla a entrada de glicose nas
células do corpo para que possam produzir energia. Todas as vezes são ingeridos
açúcares (massas e doces), o pâncreas lança no sangue determinada quantidade de
insulina necessária para o aproveitamento desses alimentos.
No
diabetes, tal mecanismo não funciona convenientemente. Em conseqüência, os
açúcares ingeridos não são aproveitados e o teor de glicose aumenta no sangue
causando os sintomas da doença. Por exemplo, a glicose em excesso é eliminada
pelos rins carreando grande quantidade de água e o paciente começa a urinar
muito e ter muita sede; além disso, não sendo produzida energia pelo
aproveitamento da glicose, o organismo retira essa energia das gorduras
ocasionando emagrecimento.
Para que
uma pessoa fique diabética, em geral, é preciso que seja predisposta ao
diabetes, sendo que vários fatores podem favorecer o aparecimento da doença,
tais como: obesidade, sedentarismo, infecção, trauma emocional ou determinados
medicamentos.
O
diabetes no jovem se manifesta principalmente pelos seguintes sintomas: urina
muito, sente muita sede, come muito e perde peso. Pode sentir também fraqueza e
prurido vulvar (coceira nos genitais da mulher). Estes pacientes geralmente não
produzem insulina e, por isso, precisam fazer uso diário desta substância.
As
pessoas que apresentam diabetes em idades mais avançadas (quase sempre após os
40 anos), geralmente não precisam usar insulina porque elas produzem um pouco,
só que ela não funciona adequadamente. Estes pacientes muitas vezes têm que
tomar remédios orais para ajudar no controle da doença. A forma clínica pode
ser atípica, diferente dos sintomas dos jovens.
Perda de
peso, fadiga, prurido vulvar, infecção do trato urinário ou incontinência
urinária, são alguns sinais e sintomas presentes no idoso com diabetes
mellitus. Vários pacientes se apresentam ao médico já com complicações da
doença, tais como: catarata, alterações nos rins, redução da visão ou
ulcerações crônicas nos pés. Isto se deve ao fato de muitos permanecerem sem
sintomas por um período prolongado de suas vidas.
As vezes
o idoso com diabetes pode ter dormências nos pés, o que facilita que a pessoa
se machuque e não perceba, facilitando as infecções. As deformidades nos pés, o
uso de cigarro, a obesidade, a hipertensão arterial e o aumento de gorduras no
sangue favorecem o aparecimento de úlceras nos pés. Toda pessoa com diabetes
deve observar os pés diariamente.
O
paciente com diabetes também pode apresentar hipoglicemia, que é a diminuição
do açúcar
no sangue. Nos pacientes que usam insulina pode ser conseqüente de dose
indevidamente elevada, administração em horário impróprio, falta ou
insuficiência de uma
refeição
ou exercício físico intenso fora da rotina do indivíduo. Os pacientes que tomam
remédios
orais podem ter hipoglicemia quando associam bebida alcóolica em grande
quantidade ou permanecem em jejum prolongado. A hipoglecia no idoso pode se
manifestar como confusão mental ou dormências transitórias ou, às vezes, como
nos jovens, com sudorese, tremores, sensação de fraqueza e fome, palpitações e
tontura. Nas hipoglecemias prolongadas e freqüentes as funções renal e
cardiovascular podem ser afetadas e aumenta a predisposição aos derrames e
quedas.
Os
objetivos do tratamento do diabetes mellitus são: prevenir hiperglicemia após a
pessoa ter se alimentado (prevenir o aparecimento dos sintomas de perda da
glicose como perda da glicose, como perda excessiva de urina e desidratação),
prevenir a hipoglicemia quando o paciente estiver usando insulina ou remédio
oral (confusão mental, sudorese, queda), atingir e manter o peso corpóreo
ideal, manter as gorduras do sangue (triglicerídeos e colesterol) em níveis
normais e prevenir ou retardar complicações vasculares, alterações da retina,
dos nervos e dos rins.
Independente
da idade de aparecimento do diabetes, além da insulina ou do remédio oral
(quando necessário) a dieta e o exercício físico fazem parte do tratamento e
são importantes quanto os remédios.
O
tratamento dietético consiste, basicamente, em reduzir e equilibrar a ingestão
de açúcar (doces e massas) para sobrecarregar o mínimo possível o mecanismo
regulador deficiente da glicose sangüínea, pois a alimentação de um diabético é
uma dieta normal que contém calorias suficientes para sua atividade e
manutenção do peso e é adequada em proteínas, minerais e vitaminas. Os
alimentos devem ser distribuídos em 5 ou 6 refeições durante o dia, com
horários regulares.
De modo
geral, devem ser excluídos da dieta: açúcar e qualquer preparação que o
contenha sobremesas constituídas por doces, geléias, gelatinas, bombons, frutas
adoçadas, refrigerantes, bolos), mel, melado e rapadura. Usar adoçantes
artificiais. Deve-se evitar bebidas alcoólicas, carnes gordurosas, frituras,
salame, toucinho, bacon, salsicha e pele de aves. Os vegetais folhosos em
geral, tomate, pimentão e jiló podem ser ingeridos à vontade e os demais devem
obedecer prescrição individual de quantidades, haja vista não ter restrição a
nenhum.
Incluir
alimentos protéicos de alta qualidade, como carne e leite em quantidade
moderada.
O consumo
de frutas deve ser estimulado, observando-se as limitações, principalmente para
a banana ( 1 unidade/dia), caqui (1 unidade/dia), uva (15 unidades/dia) e manga
(1 unidade/dia).
Outro
ponto fundamental no tratamento é o exercício físico, pois ele contribui para a
redução do peso corporal, melhora o controle da glicose no organismo, permite
mais liberdade na dieta e diminui a dose do remédio oral ou da insulina.
Melhora também, o estado circulatório, psíquico e físico em geral. São
recomendados os exercícios aeróbicos, como a caminhada, por períodos de 20 a 30
minutos. Deve-se realizar uma avaliação cardiovascular adequada inicialmente. A
quantidade de exercícios deverá ser incrementada progressivamente.
Doenças
músculo-esqueléticas
As
queixas mais freqüentes entre os pacientes idosos relacionada com
"reumatismos" são dores nas cadeiras (coluna lombar ou lombalgia),
dores nas costas, dores nas pequenas e grandes juntas do corpo (articulações do
ombro, quadril, joelhos e mãos) e dores musculares. Essas dores podem ser
causadas por diversas doenças que recebem o nome geral de
"reumatismo".
Entre
elas a mais comum é a osteoartrose, ou simplesmente artrose. A artrose é uma
doença que poderíamos dizer, típica do envelhecimento, pois ela é causada pelo
envelhecimento das cartilagens articulares, fato que determina o "desgaste
das juntas" e causam dor. É nesta doença que aparecem os bicos de papagaio
nas radiografias. Outras doenças músculo-esqueléticas que determinam dores e
alterações nas pessoas idosas são: osteoporose ("ossos frágeis e
quebradiços"), artrite reumatóide ("reumatismo deformante das mãos e
punhos"), gota ("alteração devido aos níveis sangüíneos elevados do
ácido úrico"), cânceres ósseos, entre outras.
É claro
que sendo doenças diferentes, devem ser prevenidas e tratadas de modo
diferente. Entretanto, existem alguns pontos comuns que podem ser observados no
sentido de ajudar e orientar a pessoa idosa para uma busca correta de tratamento
e/ou melhora de sua qualidade de vida. Entre esses pontos podemos citar:
1. Toda
pessoa que tem dor óssea, articular ou muscular intensa, que piora dia-a-dia,
que não melhora com analgésicos comuns, que são acompanhadas de outros
sintomas, como febre e emagrecimento, devem ser orientadas no sentido de
procurar assistência médica.
2. As
pessoas obesas devem ser orientadas para perder peso, pois este é um fator
agravante de dores articulares.
3. Os
idosos que se recolhem a vida sedentária, devem ser estimulados a se expor ao
sol e fazer exercícios, como a caminhada, por exemplo, desde que o façam com
segurança e de preferência antes das 10h. da manhã. A dança também é um bom
exercício físico, pois além da atividade física, ajuda na socialização do idoso.
4. A
dieta baseada em leite e derivados é útil na prevenção da osteoporose. Deve-se
dar preferência ao leite desnatado, queijo branco, ricota e coalhadas, para não
elevar os níveis sangüíneos de colesterol. Peixe é uma excelente fonte de
vitamina D, que ajuda absorver o cálcio.
5. Evitar
pegar pesos além dos limites para idade.
6. Evitar
situações que possam propiciar quedas.
7. Evitar
esforços repetitivos.
8. Abolir
ou reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, fumo e café.
9. Para
as pessoas da terceira idade que têm dores articulares por algum tipo de
"reumatismo", do tipo "inflamatório", nos períodos sem dor,
estão muito bem indicados a hidroginástica e natação, que são excelentes meios
para ampliar os movimentos da juntas (articulações), uma vez que a água anula a
força da gravidade e auxilia nos exercícios. Também exercícios específicos para
as juntas das mãos e pendulares para os ombros ajudam o idoso a se libertarem
de rigidez e melhoram sua qualidade de vida.
Uma queixa
muito comum entre os idosos é a dor lombar e a melhor maneira de preveni-la ou
não permitir que ela piore, é adotar bons hábitos posturais. Entre estes
podemos destacar os seguintes:
1. Para
dormir deve-se adotar posições corretas, isto é, não dormir em decúbito ventral
("de barriga para baixo"). Se dormir sobre os ombros, o melhor é usar
travesseiro alto. Se dormir em decúbito dorsal ("barriga para cima"),
pode-se usar travesseiro baixo. Deve-se escolher um colchão firme, de consistência
não tão dura como solo e nem irregular e mole. Ele deve ter a elasticidade
necessária para modelar e apoiar o corpo.
2.
Procurar não ficar muito tempo sentado, e se o fizer, nunca sentar-se em bancos
baixos sem encosto, pois isso aumenta a curvatura da coluna lombar e piora ou
desencadeia
dor.
Evitar sentar-se em sofás e poltronas. Se tiver de permanecer sentado, não
fazê-lo por muito tempo e escolher cadeiras mais altas, com apoios dorso-lombar
e para os braços.
3. Ao
assistir televisão, colocar o aparelho de TV na altura dos olhos, nunca acima,
para evitar dores no pescoço.
4. Quando
for apanhar um objeto do solo ou levantar algum peso, sempre flexionar o joelho
e aproximar o peso do corpo. Se a dor lombar já estiver instalada ou se
instalar agudamente, enquanto se procura ajuda médica, deve-se proceder da
seguinte maneira:
· Repouso
no leito é o principal item no tratamento da dor na coluna. Esse repouso deve
ser feito com as pernas encolhidas se o paciente deitar-se de lado ou com um
apoio sob as pernas se estiver em decúbito dorsal ("de barriga para
cima").
· O uso
de calor, como bolsa de água quente durante 20 minutos, por duas vezes ao dia,
no local da dor, também é um ótimo início de tratamento.
· Além
disso, pode ser instituído também, o tratamento com medicamentos e/ou
fisioterapia.
Entretanto, estes só devem ser prescritos por médicos.
· Nunca
permitam que sejam feitas manipulações em pacientes idosos sem a orientação
médica, principalmente sem fazer radiografias, pois isto pode levar a
conseqüências desastrosas. Muito cuidado com massagistas não habilitados!
Osteoporose
A
osteoporose é uma doença muito comum nos idosos, principalmente entre as
mulheres depois da menopausa. Com a osteoporose os ossos vão se tornando
frágeis e quebradiços. Embora não exista a cura para a osteoporose, ela pode
ser controlada e muitas vezes prevenida. As principais medidas na prevenção
e/ou tratamento da osteoporose são:
·
Exercícios: os exercícios que colocam o pé no solo, como caminhada, corrida e
dança, são os melhores. Eles devem ser feitos de 3 a 5 vezes por semana e de
acordo com o
equilíbrio
e capacidade de cada um, sem se expor a esforços exagerados. Também é útil que
esses exercícios sejam feitos nas primeiras horas da manhã, pois o sol, nesse
horário contém mais raios ultravioleta que fabricam vitamina D na pele, a qual
é indispensável para a melhor absorção do cálcio que favorece a fabricação do
osso.
· Dieta
rica em cálcio: esta é conseguida com leite e derivados, como já foi
mencionado. Entretanto, idosos, as vezes têm intolerância ao leite. Nesses
casos recomenda-se o uso de cálcio medicamentoso. O uso de farelo de casca de
ovo proporciona cálcio à alimentação de modo barato, entretanto a quantidade de
casca de ovos requeridas para fornecer a quantidade de cálcio é tão grande, que
só esse método se torna impraticável
(em torno
de 40 cascas de ovos para 800 mg de cálcio, que é a dose mínima diária).
· Terapia
de Reposição Hormonal: é o melhor meio de se evitar e tratar a osteoporose na
mulher, onde ela é mais freqüente, na proporção de 10 para um homem. Na
menopausa há, normalmente, uma diminuição de produção do hormônio feminino, o
estrogênio e com isso, inicia-se um processo de perda óssea. Isso ocorre, em
torno dos 50 anos. Se nessa fase a mulher procurar um ginecologista e se
submeter a um tratamento com
hormônios,
certamente terá muito menor chance de desenvolver a doença.
Alterações
dos órgãos dos sentidos
Os
sentidos são partes do nosso organismo que servem para receber e sentir as
mudanças no meio ambiente em que nos encontramos. Existem nos seres humanos
cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato.
Tato
Todos os
órgãos dos sentidos podem sofrer alterações durante a velhice, menos o tato.
Este somente é prejudicado em presença de doenças e, mesmo assim, só em regiões
especificas. Isto é muito importante, pois nos permite perceber que sempre
poderemos dar a mão amiga e o braço carinhoso à pessoa querida, independente da
sua idade.
Visão
A visão
sofre várias alterações, o que leva a maioria dos idosos à necessidade de usar
óculos para enxergar as coisas de perto. Existem alterações importantes como,
por exemplo, dificuldade de distinguir as cores e/ou a profundidade, pois estes
fatos contribuem para a queda. Algumas doenças dos olhos são mais freqüentes em
idades mais avançadas como o glaucoma e a catarata. Estas são doenças crônicas
e o paciente geralmente não sente nada por muito tempo, mas que se não forem
tratadas, podem levar à cegueira. Por essa razão todo o idoso deve ir ao
oftalmologista (médico de olhos) anualmente. Importante salientar que não há
contra-indicação à cirurgia de catarata por causa da idade. Em qualquer etapa
da vida, mesmo com mais de 90 anos, a pessoa pode se beneficiar com esta
cirurgia. Somente a presença de doenças e não a idade pode contra-indicar esse
tipo de cirurgia.
Audição
A audição
está diminuída em aproximadamente 30% nos idosos. Essa alteração, na
maioria
das vezes, ocorre em razão do envelhecimento do sistema auditivo. Quando existe
mais de
duas pessoas falando ou se a televisão estiver ligada e conversamos com um
idoso,
mesmo
saudável, haverá certamente dificuldade de comunicação. Outra causa
relativamente fácil de ser diagnosticada e tratada é o acúmulo de cera dentro
dos ouvidos. Se há dificuldade de audição, nem sempre adianta gritar. O idoso
tem dificuldade com sons muito agudos, vozes muito finas.
Se a
pessoa tem dificuldade de audição o melhor a fazer é:
·
verificar se há cera acumulada e providenciar a sua retirada por profissional
competente (não use cotonete ou qualquer outro objeto, pois ele empurra ainda
mais o cerume para dentro do ouvido);
· não
gritar ao tentar se comunicar com o idoso; fique diante dele, reduza as outras
fontes de ruído (televisão, rádio etc.), de modo que ele possa ler seus lábios
ou entender seus gestos;
· lembrar
que existem outras alterações menos comuns que também afetam a audição, como
tumores ou inflamações. Por isso é necessário levar o idoso ao
otorrinolaringologista (médico que examina os ouvidos, garganta e nariz) sempre
que houver diminuição de audição.
Paladar e
olfato
O paladar
e o olfato também podem estar diminuídos. Isso faz com que o idoso perca,
muitas vezes, o interesse pela comida. É importante temperar bem os alimentos,
não com muito sal, mas com cebola, alho, cheiro verde e outros temperos, para
evitar que o idoso fique desnutrido.
É bom
lembrar que a alteração de qualquer órgão dos sentidos afeta muito a qualidade
de vida do idoso, trazendo conseqüências como isolamento e até depressão.
Deve-se, portanto, estar atento para pedir ajuda ao médico e poder corrigir, da
maneira possível, o problema.
Considerações
sobre alimentação no idoso
A
alimentação é uma atividade básica para a sobrevivência e é influenciada por
inúmeros fatores: os aspectos sócio-culturais, a idade, o estado físico e
mental, a situação econômica e o estado geral de saúde. A forma de comer, os
tipos de alimentos, a reunião em torno das refeições refletem aspectos sociais
e culturais importantes para interação e convivência comunitária.
Para o
idoso essa atividade de vida diária assume papel relevante, uma vez que as
doenças que os idosos apresentam (doenças do coração, demência, artrites etc.)
podem influenciar e alterar sua habilidade e independência para alimentação.
Como a população idosa está aumentando, também cresce a freqüência de problemas
relacionados à alimentação e nutrição.
Em vista
disso, um dos primeiros cuidados com os alimentos está relacionado com a
limpeza das mãos e boca (incluindo a prótese dentária, se houver) antes e após
as refeições.
É
importante que as refeições sigam uma rotina regular, mantendo constantes os
horários pré-estabelecidos, os locais das refeições, os utensílios (pratos,
talheres e copos). O horário, sempre que possível, deve ser o mesmo da família
do idoso, possibilitando-se assim a interação e o contato das gerações. Mas, se
o idoso apresentar um estado de grande confusão mental, recomenda-se fazer
refeições em ambiente tranqüilo, sem muito barulho. O cuidador deve anunciar a
atividade que fará ("Vamos começar a almoçar", "O cardápio de
hoje é…", "Vou partir o frango") e estimular o idoso a
participar da atividade ("Poderia pegar o guardanapo, por favor"). Na
medida do possível é interessante que as refeições contenham os mesmos
alimentos dos demais membros da família. No entanto, em virtude da
sensibilidade digestiva, cuidar, em especial, da higiene dos utensílios e dos
alimentos, evitando o uso de restos alimentares, de alimentos mal conservados,
de enlatados e embutidos. O local para as refeições deve ser bem iluminado
(muitos idosos apresentam diminuição da visão), arejado e tranqüilo. Os
utensílios (pratos, talheres e copos) devem ser resistentes e inquebráveis,
colocando na frente do idoso apenas o que for realmente necessário, evitando-se
distrair sua atenção durante a alimentação. Caso ele seja muito confuso ou
apresente grande tremor nas mãos, sugere-se a utilização de toalhas
antiderrapantes ou pratos com ventosas de borracha que se fixam às mesas e,
também, pratos com as laterais elevadas, evitando-se que a comida seja
derramada. Os copos e as xícaras podem ser adaptados, caso o idoso tenha
dificuldade em fechar os dedos ou pouca força muscular para levá-los à boca. A
adaptação de alças de diferentes tipos, o uso de tampas e canudos plásticos
também ajudam. Quanto aos talheres, esses podem ter seus cabos aumentados ou
engrossados, dependendo da limitação de movimentos do idoso. Para
aquele
com grande tremor nas mãos indica-se aumentar o peso dos talheres contribuindo
para controlar ou modificar os tremores.
Os
utensílios visam sempre aumentar a independência e a participação do idoso nas
atividades de vida diária. Mas é fundamental utilizar os adequados à idade e
não infantizá-lo durante a alimentação (por exemplo, caso ele apresente grande
confusão mental ou limitação física que o impeça de cortar a carne, esta deve
ser colocada em seu prato já cortada em pequenos pedaços).
O
cuidador deverá ser orientado pelo nutricionista e/ou médico, respeitando
sempre possível as preferências alimentares do idoso, e seguir com disciplina
as dietas especiais nos casos de doenças como, por exemplo, diabetes,
hipertensão, obesidade etc. Essas dietas devem ser nutritivas, equilibradas e
conter os tipos de alimentos adequados, conforme o gráfico da página seguinte.
Com a
diminuição da sensibilidade do paladar e do olfato, indica-se usar na
alimentação mais temperos naturais como cebola, alho, tempero verde, ervas
aromáticas, evitando pimenta e usando moderadamente o sal.
Requer
especial atenção a temperatura dos alimentos para se evitar acidentes. Em
relação aos idosos confusos procurar não misturar alimentos com consistência
diferentes numa mesma refeição (quando líquidos e sólidos são administrados
juntos, o idoso tenderá a engolir os sólidos sem a mastigação necessária).
Deve-se, também, promover contraste de cor entre os alimentos e o prato, e
entre o prato e a toalha, visando facilitar a orientação e percepção visual.
A
alimentação de idosos dependentes ou em estágios avançados de doenças é uma
atividade que requer tempo, tranqüilidade e habilidade. O cuidador deve
utilizar palavras claras, frases curtas e objetivas, e anunciar o que irá
fazer, solicitando a colaboração do idoso, por menor que seja, e utilizar
palavras de estímulo e incentivo.
Quando a
alimentação for via sonda enteral ou gástrica, deve ser feita sempre com o
idoso sentado, com calma e paciência, em consistência líquida e em pequenas
porções. Após a administração da dieta pela sonda é indispensável injetar água
para mantê-la limpa, evitando o risco de entupimento.
Para
finalizar deve-se enfatizar que as adaptações sugeridas visam facilitar a
alimentação e aumentar a independência do idoso, devendo ser propostas segundo
o grau de confusão mental, incapacidades físicas e distúrbios de conduta que
eventualmente poderão fazer parte do quadro clínico do doente idoso.
Adaptações
ambientais
O idoso
para mover-se em sua casa com independência e segurança precisa de um ambiente
adaptado às suas necessidades. Este ambiente deve ser modificado para prevenir
acidentes, aumentar a funcionalidade dos diferentes cômodos, simplificar e
tornar mais seguras as atividades do dia-a-dia sem, contudo, perder as características
próprias da residência.
Alguns
objetos verdadeiramente significativos (fotografias, quadros, enfeites) devem
ser mantidos desde que não ofereçam perigo. No caso de idosos que apresentam
grande confusão mental, objetos supérfluos, cortantes, de vidro ou muito
pequenos devem ser retirados do acesso fácil.
Os móveis
devem estar dispostos de maneira a aumentar os espaços livres e a circulação.
Sofás e cadeiras podem ser cobertos com tecidos laváveis para facilitar a
limpeza e evitar odores, no caso de idosos com incontinência urinária. As mesas
podem ter as quinas protegidas com pontas plásticas e devem ter os tampos bem
afixados aos pés. As camas, caso seja necessário, podem ser adaptadas com
grades a noite.
O piso
deve ser antiderrapante, de cor única e sem mudanças de nível. Os tapetes
pequenos devem ser retirados ou afixados ao assoalho com fitas adesivas
apropriadas. O brilho no assoalho deve ser evitado, pois aumenta a
desorientação de idosos confusos.
As
janelas devem possibilitar boa ventilação do ambiente e ter dispositivos de
proteção (telas, grades e trincos), no caso de idosos confusos, deprimidos etc.
As portas devem ser amplas para facilitar, caso seja necessário, a passagem de
cadeiras de rodas. Devem ter maçanetas retas nos cômodos onde se quer facilitar
o acesso e maçanetas redondas onde se quer dificultá-lo. As portas de vidro
devem ter uma faixa colorida na altura dos olhos para facilitar a discriminação
para idosos com diminuição da visão e confusão mental.
As
escadas devem ter corrimão de cor contrastante com a parede e o piso deve ser
antiderrapante.
Os degraus podem ter uma faixa de sinalização (no final de cada degrau) de cor
forte para facilitar a orientação, no caso de confusão mental ou diminuição da
visão. Caso o idoso seja agitado ou confuso, as escadas devem ser fechadas por
portões para dificultar-lhe a utilização e possíveis acidentes.
A
iluminação deve ser adequada (sem sombras e reflexos) e presente em todos os
cômodos, com intuito de evitar o aumento da confusão ao entardecer. Os
interruptores de luz devem ser distribuídos por vários lugares no mesmo cômodo,
visando aumentar e facilitar a utilização pelo idoso. Durante a noite, caso
este queira ir, por exemplo, ao banheiro, deve ser mantida uma luz acesa para
sua orientação.
Os
banheiros são os locais onde as quedas ocorrem com maior freqüência,
necessitando, portanto, de adaptações que sejam práticas e aumentem a
segurança. Nos boxes devem ser instaladas barras laterais de apoio e deve-se
colocar piso antiderrapante ou tapetes de borracha afixados ao chão por
ventosas. Barras laterais também devem ser instaladas no vaso sanitário, que
poderá ter a altura da tampa elevada, através de um dispositivo adaptado. As
torneiras do chuveiro e pias devem ter a forma reta para facilitar o manuseio
pelos idosos com limitações físicas e confusão mental. Os espelhos devem ser
retirados, evitando-se aumentar a desorientação no caso de idosos confusos.
Visando-se evitar as freqüentes quedas de sabonete, pode-se prendê-lo com um
cordão às torneiras ou utilizar sabonete líquido. A temperatura da água também
deve ser motivo de preocupação do cuidador, pois idosos com alteração da
sensibilidade tátil e/ou confusos podem se queimar no banho. Os aparelhos
elétricos (barbeadores, secadores) devem se guardados em locais seguros, assim
como todos os medicamentos.
A cozinha
é outra dependência da casa que oferece grande perigo para os idosos. O fogão
com panelas quentes, o gás e os produtos tóxicos de limpeza podem causar
inúmeros acidentes com variadas conseqüências. Deve-se dificultar o acesso dos
idosos mais confusos a essa dependência sem a companhia do cuidador. Os objetos
cortantes e produtos tóxicos devem ser acondicionados em prateleiras altas ou
em armários com chaves.
As
alterações e adaptações do ambiente devem ser feitas de forma simples, com
consentimento e participação, quando possível, do idoso, objetivando facilitar
sua rotina e aumentar a segurança.
Higiene,
vestuário e cuidados com a pele
Com o
envelhecimento podem ocorrer várias mudanças no organismo do idoso e interferir
na capacidade da pessoa cuidar-se sozinha. Dentre as atividades do dia-a-dia, a
higiene pessoal e a troca de roupas são necessidades inerentes ao ser humano.
Entretanto, quando essas necessidades estão afetadas nos idosos, isso pode
torná-los dependentes de outras pessoas.
Os
cuidados de higiene constituem momento de muita intimidade em qualquer idade,
mas nunca é demais lembrar que muito de nossos idosos e idosas nunca mostraram
seus corpos. Eles podem ter dificuldades de se despir diante de estranhos e
mesmo de familiares. Por isso o banho e todos os cuidados de higiene devem ser
feitos num clima de máxima tranqüilidade e discrição.
Devem ser
lembrados, portanto, os aspectos sócio-culturais individuais de maneira a adequar
os cuidados relacionados à higiene, vestuário e com a pele. Acrescente-se que
se deve utilizar o momento do banho para observar as condições do idoso,
comunicando-se com ele e estimulando todos os movimentos e tarefas que o idoso
possa realizar sozinho.
O que
observar na pele do idoso
Ao
comentar sobre higiene corporal é preciso ficar claro que a pele do idoso é
mais seca, com menor elasticidade, com alterações da circulação e da
hidratação, o que pode torná-la mais frágil, gerando complicações.
Algumas
doenças ou infecções podem elevar a temperatura do corpo, aumentando a
transpiração
(suor). Além disso, deve-se considerar a nutrição da pessoa, pois esta pode
influenciar o estado geral da pele, pelos e unhas. No exame da pele devem ser
observados:
· cor:
pálida, rosada, roxa ou azulada (cianótica);
·
textura: áspera, lisa, macia, gordurosa, seca, úmida;
·
alterações: vermelhidão (rubor), brilho, áreas roxas (hematomas), equimoses
(sangue por baixo da pele), cicatrizes, úlceras de decúbito (ulceração da pele
devida à prolongada permanência no leito);
· lesões:
localização, distribuição, dimensão, forma, consistência e temperatura. Além
disso, observar as unhas, pois estas podem se apresentar quebradiças e
espessas; e o cabelos podem se apresentar mais ralos e esbranquiçados. Deve-se
também levar em consideração que, na higiene corporal, algumas condições
comprometem a integridade da pele do idoso como imobilização, redução da
sensibilidade, alterações nutricionais, secreções (substâncias secretadas por uma
glândula), excreções (eliminação de material desnecessário e nocivo),
insuficiência da circulação e alguns dispositivos como gessos e ataduras.
Abordaremos
a seguir os cuidados com a pele, a higiene e a troca de vestuário.
Cuidados
com a pele, higiene e troca de vestuário
Higiene
matinal e da boca
A higiene
matinal consta da lavagem das mãos e higiene da boca, incluindo as próteses
dentárias (dentaduras). A higiene oral é o primeiro procedimento a ser
mencionado. Objetiva evitar acúmulo de alimentos entre os dentes e a infecção,
oferecendo ao idoso uma sensação de bem-estar. Ensinar o idoso a escovação
correta, utilizando escova dental, creme e o fio dental, água limpa e toalha.
Cuidados
com as próteses dentárias, acentuando que elas devem estar firmes na boca do
idoso, devendo serem limpas com a mesma freqüência que seriam os dentes. Outras
práticas de higiene oral deverão ser estimuladas de acordo com experiências
regionais como o uso de raspa de juá para esfregação nos dentes e o uso do
palito. Além disso, as medidas de higiene corporal como banho de chuveiro e de
cama também são necessidades básicas visando o conforto e o bem-estar do idoso,
de acordo com o seu nível de dependência. A necessidade de banho diário deve
ser avaliada pelo cuidador e pelo idoso. Em regiões mais frias o banho completo
pode se limitar apenas à higiene das mãos, pés, rosto e partes íntimas.
Banho de
chuveiro
O banho
de chuveiro é ideal, pois oferece maior conforto e uma higiene mais completa,
no entanto, algumas medidas de segurança precisam ser tomadas para evitar
acidentes. São sugeridas algumas recomendações:
·
colocação de uma cadeira ou banco no interior do boxe;
· uso de
espelho inclinável ou levar o espelho até o idoso para que ele possa se
observar;
·
instalar um apoio fixo ao lado do vaso sanitário;
·
preferir um chuveiro que possa ter a altura ajustável ou permitir ao menos que
o idoso use o chuveirinho e a esponja para que ele participe, enquanto puder,
do seu próprio
cuidado;
· colocar
alças de apoio nas laterais do boxe;
· ter
suporte de sabonete ao alcance do idoso;
· piso
não escorregadio (uso de tapete antiderrapante);
· boa
iluminação;
· sempre
que possível ter um espaço livre de l,5 m, para facilitar a movimentação do
idoso dentro do banheiro;
·
torneira tipo alavanca ou com abertura fácil para o paciente;
· altura
adequada do vaso sanitário, nem muito alta nem muito baixa;
· trilho
de apoio para as toalhas;
·
eliminar degraus no acesso ao banheiro.
Todos os
dispositivos de apoio e segurança deverão ser adequados às condições físicas do
idoso em questão. Além disso, deve ser tomado cuidado com a porta do banheiro,
devendo esta estar sempre destrancada, pois, se o idoso tiver algum problema, o
familiar poderá ter livre acesso.
Após
avaliação da pele, esta deve ser higienizada com água morna e sabão neutro,
lembrando sempre que a pele do idoso é sensível e mais fácil de apresentar
lesões e irritações. Para enxugar a pele deve-se utilizar toalha suave e
movimentos leves. Após o banho, recomendam-se massagens com cremes ou óleos com
movimentos firmes, propiciando melhora da circulação e da circulação. As roupas
devem ser confortáveis, de acordo com o clima. Além disso, recomenda-se o uso
de chinelos (sempre com fechamento adaptado atrás para evitar quedas) ou
sapatos confortáveis, não apertados, com solas de borracha, promovendo maior
segurança ao idoso, evitando quedas.
Banho no
leito
O banho
no leito deve ser realizado quando o idoso é dependente. Pacientes com grande
dificuldade de se mover (por exemplo, após derrame, fratura de perna etc.)
podem precisar de banho no leito. Se o idoso é muito pesado ou sofre muita dor
ao mudar de posição, deve-se preferir o banho de leito e contar, sempre que
possível, com ajuda de outra pessoa para evitar acidentes e cansaço excessivo
do cuidador, além de oferecer mais cuidados, segurança e conforto ao doente.
Esse é também o momento do cuidador avaliar a integridade da pele, dos cabelos,
das unhas e da higiene oral.
O
primeiro passo importante é organizar todo o material necessário tais como:
bacias, comadre, água morna, sabão suave, toalhas, escova de dente, pasta
dental, lençóis, forros plásticos e roupas, evitando assim a interrupção do
banho.
A higiene
dos cabelos é outro aspecto a ser mencionado. Muitos idosos têm um tabu de
lavar com pouca freqüência os cabelos. Explicar a eles a importância dessa
higiene, que serve também como um estímulo para a circulação sanguínea do couro
cabeludo. Auxiliá-los a secar bem. O idoso acamado transpira muito,
necessitando higiene mais constante.
A higiene
deve sempre iniciar pela seqüência cabeça-pés: primeiro os olhos, rosto,
ouvidos, pescoço. Lavar os braços, o tórax e a barriga, secando-os e
cobrindo-os. Especial cuidado na região sob as mamas nas mulheres, enxugando
bem para evitar assaduras e micoses. Usar pomada de óxido de zinco. A seguir
passa-se às pernas, secando-as e cobrindo-as.
No
decorrer do banho colocar um forro plástico e apoiar a bacia com água morna
sobre a cama, lavando os pés com água e sabão, realizando a higiene entre os
dedos. Observar as alterações físicas na pele e na área entre os dedos dos pés,
e as condições das unhas. A secagem deve ser rigorosa, procurando, se possível,
colocar talco nos pés, porém não entre os dedos. As costas são lavadas, secas e
massageadas com óleos ou cremes hidratantes para ativar a circulação. A higiene
dos genitais e região anal deve acontecer diariamente e após as eliminações
urinária e fecal, procurando evitar umidade e assaduras.
Durante a
higiene corporal no paciente acamado deve-se fazer movimentação ativa e passiva
do corpo para facilitar a circulação sanguínea e evitar a atrofia dos músculos.
As regiões de proeminências ósseas (ossos mais salientes) devem ser examinadas
para observação dos pontos de pressão com presença de vermelhidão,
endurecimento, bolhas ou hematomas, ou mesmo estágios mais avançados de úlcera
de pressão (feridas). Essas regiões precisam ser protegidas do excesso de
pressão com uso de travesseiros, almofadas ou colchões especiais (de ar, água
ou espuma tipo "caixa de ovo"). Mudanças de posição precisam ser
feitas com freqüência pelo menos duas em duas horas e com rodízio de posições,
evitando manter o paciente sobre a região afetada.
Se você
perceber que o momento do banho é difícil para seu paciente (gemidos, dor,
testa franzida ou agressividade), peça ao médico para avaliar a necessidade de
usar um medicamento analgésico, para facilitar o cuidado e diminuir o
sofrimento e as contraturas do paciente.
Tipos de
roupas
O idoso
deve escolher o seu vestuário, respeitando-se o estilo de cada um. As roupas
devem ser de fácil manuseio, evitando assim dificuldades para a colocação da
mesma. Favorecer a independência, deixando-o ajudar no que for possível.
Considerações
finais
O
profissional e/ou cuidador deve avaliar os problemas específicos da pele, unhas
e boca do idoso para implementar o cuidado de higiene corporal e oral. O
objetivo é melhorar o conforto, manter a integridade e limpeza da pele, da
cavidade oral, do couro cabeludo, cabelos e unhas. Tais estratégias devem ser
recomendadas aos idosos independentes e aos dependentes, entretanto, a técnica
deve ser adaptada a cada situação.
Tente
descobrir e respeite as dificuldades do doente, esclareça-o enquanto você
realiza os gestos mesmo os mais banais, esteja disposto a ouvi-lo.
Transtornos
do sono: insônia e sonolência excessiva
As
queixas relacionadas ao sono são extremamente freqüentes, tanto no idoso sadio
quanto no doente. Independente da etiologia constituem causas importantes de
comprometimento da qualidade de vida. O envelhecimento, ao contrário da doença,
não provoca grandes alterações no ciclo sono/vigília. Assim, transtornos do
tipo insônia ou sonolência devem ser considerados como alterações que devem,
tanto quanto possível, serem aliviadas.
Insônia
Insônia é
um termo que comporta diversas situações: pode significar demora para
adormecer, despertares noturnos e despertar precoce (acordar muito cedo), e
sensação de "sono que não descansa". Pode ser uma manifestação de uma
doença orgânica, psiquiátrica, uso ou suspensão de medicamentos e também reação
a uma situação de natureza psicossocial. Pacientes com demência tendem, com a
evolução do quadro, a apresentar alteração do sono, agitação noturna. Esta
situação, contudo, está presente em outras condições tais como:
·
insuficiência cardíaca (coração deficiente quanto a função de bombear sangue);
· asma ou
falta de ar;
· desejo
de urinar várias vezes no período noturno;
· dor
devido a várias causas, inclusive a artrite;
·
regurgitação de "suco gástrico", manifestando-se como tosse noturna;
·
depressão;
·
ansiedade.
Estas
condições devem ser do conhecimento do médico assistente, posto que representam
risco para o paciente. A administração de hipnóticos (remédios para dormir) é
nestes casos desaconselhável e até mesmo perigosa. Grande parte dos quadros de
insônia está relacionada ao uso ou retirada de medicamentos ou substâncias
estimulantes contidas nos alimentos. Neste caso sobressai a cafeína. O uso de
bebidas alcoólicas é também uma causa importante desta alteração. Entre os
medicamentos que podem causar transtorno do sono merecem destaque os
antidepressivos, medicamentos usados na asma e mesmo hipnóticos. O uso de
diuréticos deve ser considerado causa de insônia quando determina aumento da
freqüência de micções no período noturno.
Sonolência
A
sonolência diurna pode constituir uma evidência de insônia. Pacientes que não
dormem bem no período noturno podem apresentar sonolência diurna. É também
compatível com doenças, tal como depressão, ou ser conseqüente ao uso de
medicamentos, entre os quais hipnóticos e tranqüilizantes.
Pacientes
que tenham sofrido queda ou acidentes de outra natureza podem evoluir com
sonolência, fato que demanda avaliação médica imediata.
Muitos
idosos apresentam um nível de apatia que pode associar-se à sonolência. Nestes
casos pode haver acometimento da glândula tiróide ou reação ao uso de
medicamentos como diuréticos, por serem estes possíveis causadores de perda de
alguns minerais pela urina, notadamente o potássio.
O que
deve ser observado
A
observação e mesmo a anotação em diário das alterações do sono apresentadas
pelo idoso doente podem constituir a chave diagnóstica que possibilita a adoção
de terapêutica adequada. É fundamental tratar a causa da insônia e não apenas
induzir o sono com medicamentos.
Identificar
a dificuldade do paciente relativa ao sono
Como já
se mencionou, o termo insônia comporta diversas conotações, devendo estas serem
identificadas corretamente. O paciente tem dificuldade para conciliar o sono ou
após adormecer acorda e não mais adormece. Veja se existe um fator que possa
estar relacionado a dificuldade de adormecer. O paciente queixa-se de dor ou
cãimbras nas pernas? Tem pesadelos noturnos e acorda assustado? No primeiro
caso o médico pode ajudar com a administração de fármacos (medicamentos). No
caso de cãimbras tente água tônica de quinino. Se o paciente sob seus cuidados
é portador de doença do coração ou do pulmão, comunique ao médico as
dificuldades do sono, posto que podem ser indicativas de piora ou
desestabilização do quadro básico.
Sendo a
dificuldade para dormir ocasionada por freqüentes despertares com intuito de
urinar, verifique se o paciente usa diurético (medicamentos). A dose pode ser
exagerada ou horário da administração inadequado. Este grupo de medicamentos
não deve ser administrado no período noturno.
Se o
paciente apresenta insônia e tosse noturna, mas não no período diurno,
suspeitar de regurgitação do conteúdo do estômago. Neste caso existe um refluxo
do "suco gástrico" que, estando o paciente deitado, este é drenado
para as vias respiratórias, sendo a tosse uma reação a esta situação.
Despertar
precoce, acordar cada vez mais cedo e não voltar a dormir pode ser um sintoma
de depressão. Discuta com o médico esta possibilidade.
Identificar
as condições correlatas, uso de medicamentos ou substâncias
Grande
parte dos distúrbios do sono está asssociada ao consumo de cafeína e álcool.
Bebidas como café, chá e refrigerantes do tipo "cola" contêm elevadas
quantidades de cafeína e, dependendo da sensibilidade do paciente, podem causar
insônia. Nenhuma destas bebidas deve ser consumida após as l6 horas por
pacientes que sofrem de insônia. Alguns idosos não devem consumi-las em nenhuma
circunstância. Verifique se na bula de medicamentos que o paciente está usando
existe cafeína na fórmula. Alguns analgésicos e fortificantes podem conter esta
substância e assim contribuir para insônia.
Tenha em
mente que o alcoolismo nos idosos pode se apresentar de forma camuflada. As
doenças que cursam com dor podem interferir no sono. Dores no sistema
osteoarticular são importantes fatores causais e requerem tratamento
específico.
Outra
situação relevante é a ocorrência de prurido (coceira) que é suportado durante
o dia, mas causa desconforto a noite. Neste caso a causa mais comum é a
xerodermia (pele seca) que pode ser tratada com cremes hidratantes. Alguns
pacientes podem apresentar incontinência (perda de urina) e sentirem-se
incomodados pela umidade resultante. É desejável que nenhum idoso tome líquidos
após as 18 horas e que seja estimulado a urinar antes de dormir. O uso de
fraldas pode trazer conforto e melhorar o sono.
Avalie as
condições ambientais
O quarto
no qual o paciente dorme deve ser tanto quanto possível silencioso, com
temperatura agradável. Estas condições estão sendo atendidas? Considerando-se
que os velhos têm maior dificuldade na escuridão, existe alguma luz acesa que a
noite possa servir de referência no caso de despertar, posto que a escuridão
pode gerar pânico e induzir insônia? O quarto onde o paciente dorme conta com
aparelho de televisão para uso dele ou do cuidador? Esta é uma situação que
deve ser evitada. A pessoa deve "ir para a cama" com o objetivo de
dormir e não para assistir televisão ou ler.
Existe
algum fator psicossocial relacionado?
A insônia
pode ser transitória, circunstancial. Pode aparecer em períodos de agravamento
de doença ou morte do cônjuge ou outro familiar. Muitos idosos são sensíveis a
acontecimentos tais como notícias de morte, acidentes e catástrofes. Pacientes
com demência podem alterar seu padrão de sono quando internados em hospital ou
transferidos de domicílio ou cidade. Até mesmo a mudança da disposição do
mobiliário pode gerar insegurança e agitação noturna.
Conduta
Muitas
condutas já foram apresentadas nos itens anteriores. No conjunto as ações devem
levar em consideração os itens que serão expostos a seguir.
Caracterize
bem o tipo de alteração do sono
Esta
caracterização é fundamental para correção do transtorno. Descreva o que
considera insônia ou as situações nas quais se verifica sonolência.
Mantenha
um ambiente adequado para o sono
Verifique
os itens relacionados ao conforto térmico e ao silêncio. Mantenha uma luz
indireta acesa com o objetivo de servir como referência ao idoso doente caso
este acorde no período noturno. Retire o aparelho de televisão do quarto. Este
ambiente deve estar associado a idéia de dormir.
Estabeleça
uma rotina para dormir
Procure
ter um horário para encaminhar o paciente ao leito. Se, contudo, este
permanecer inquieto, com dificuldade para adormecer, não insista. Melhor
retirá-lo do quarto e considerar alternativas que possam relaxar o paciente.
Uma pequena caminhada no próprio domicílio, ouvir música ou mesmo a ingestão de
uma xícara de leite quente podem auxiliar o sono.
Evite
administrar líquidos no período noturno
Não
administre líquidos após as 18 horas. Atenda às necessidades de hidratação no
período diurno. Chás e cafés são tolerados até as l6 horas, portanto, estas
bebidas deverão ser evitadas após este horário.
Informe
ao médico assistente a medicação em uso
Muitos
idosos têm vários médicos e consomem uma quantidade maior de medicamentos.
Mantenha um lista desses fármacos e informe o consumo. Medicações adquiridas
sem receita médica devem ser relatadas.
Seja
prudente no uso de medicação
Muitos
casos de insônia só serão aliviados com o uso de hipnóticos (medicamentos para
dormir). Esta é uma situação que envolve obrigatoriamente o médico. Procure
informá-lo do resultado terapêutico. Verifique se a medicação está causando
sonolência diurna, o que pode ser indicativo de efeito prolongado. Alguns
idosos desenvolvem reações paradoxais com estas drogas, podendo apresentar
agitação e exacerbação do transtorno do sono. Sugere-se que os idosos sejam
medicados quando já no leito, pois alguns medicamentos têm ação muito rápida e
podem provocar o sono no momento em que o paciente vai ao banheiro ou mesmo
permanece circulando pelo interior do domicílio. Medicamentos tranqüilizantes
ou indutores do sono podem ocasionar quedas. Esteja atento a queixas de tontura
ou desequilíbrio.
Considerações
finais
Transtornos
do sono no idoso doente ou mesmo sadio são causados por um grande número de
condições. A opção de tratar somente o sintoma pode não ser a mais adequada. O
problema, como já foi enfaticamente exposto, deve ser corretamente
caracterizado. Muitas das ações corretivas podem ser adotadas pelo cuidador. O
uso de hipnóticos deve ser reservado para casos selecionados e deverão ser
administrados com cautela e somente por indicação do médico assistente.
Alterações
do comportamento: irritação, agitação e agressividade
No
dia-a-dia com idosos é possível que aconteçam alterações no seu comportamento
habitual, que podem gerar grande impacto nas relações com os parentes e
cuidadores. Problemas de comportamento por vezes serão motivos pelos quais os
familiares colocarão os idosos em uma instituição. Estes problemas representam
também um fator de risco para os próprios idosos doentes, uma vez que podem
causar acidentes tais como ferimentos resultantes de fragmentos de vidro ou
espelho que ele próprio quebrou, além de agressões e quedas. Estamos com este
material tentando esclarecer algumas dúvidas e erros comuns, bem como dar
sugestões com intuito de enfrentar estas situações difíceis.
Causas de
alteração do comportamento
Preliminarmente
cumpre esclarecer que a alteração do comportamento não é culpa da idade. Assim,
mudanças súbitas do comportamento não devem ser atribuídas ao envelhecimento ou
a manifestações obscuras tal como, por exemplo, "esclerose". Elas costumam
estar relacionadas: a alterações no cérebro, como é o caso das demências; ao
uso de medicamentos; ou, ainda, a causas psicossociais, tais como perda de
familiares, mudanças ou situações conflituosas na família.
Como
acontece
Irritação
e agressividade podem se expressar sob a forma verbal com comentários
impróprios, acusações indevidas, suspeitas de infidelidade ou roubo. O cuidador
por ser a pessoa mais próxima do paciente pode se constituir no alvo principal
deste comportamento.
Atitudes
violentas e agressão física não são freqüentes nos idosos doentes, porém têm
muita importância porque implicam em risco para quem cuida ou até mesmo para
pessoas estranhas. Podem até provocar um ruptura entre o cuidador e o doente.
Quando acontecem, em geral apresentam-se sob a forma de "unhadas" ou
bofetadas. Uma forma menos agressiva sob o ponto de vista físico, mas altamente
desmoralizante, é o ato de "cuspir" na pessoa mais próxima, seja no
momento de administrar medicamentos ou na alimentação.
O que se
pode fazer
As
alterações de comportamento, principalmente quando súbitas ou agudas, devem ser
prontamente relatadas ao médico que cuida do idoso. Ainda que represente uma
manifestação psíquica pode significar a existência de outras doenças como
infecções (pneumonia, infecção urinária), problemas de coração (infarto ou
arritmia) ou mesmo acidente vascular cerebral ("derrame"). Muitas
vezes, como nos casos de demência, o comportamento se torna permanentemente
alterado, o que evidencia a necessidade do cuidador aprender a conviver com o
problema e também procurar não responder às provocações ou questionamentos do
paciente, mesmo que os mais absurdos. O limite de tolerância é o limite de
segurança do paciente. Estas alterações, apesar de seus aspectos negativos, têm
que ser encaradas pelo cuidador sem ressentimentos ou vergonha.
O que
observar
A
observação e o ulterior relato ao médico das condições relacionadas a agitação
e agressividade podem constituir pontos importantes para o diagnóstico e
tratamento da situação.
Quando acontece?
A
agitação, irritação ou agressividade está relacionada a algum período do dia ou
ao uso de alguma medicação? Muitos idosos ficam confusos ou agitados no
"pôr do sol" ou então no período noturno. As causas desta alteração
não são conhecidas, mas devem ser abordadas com ações preventivas como colocar
mais luz nos ambientes e condutas que reforcem o sentimento de segurança dos
pacientes, tais como sentar-se ao lado e mesmo segurar a mão. Por vezes o
horário da agitação coincide com a administração de medicamentos. Os idosos são
muito sensíveis a remédios, sendo que os sintomas comportamentais podem indicar
efeito indesejado dos mesmos. Mesmo medicamentos tranqüilizantes podem causar
agitação e irritabilidade.
O
comportamento agressivo é permanentemente direcionado a uma pessoa?
O
comportamento agressivo direcionado a uma pessoa em particular pode estar
relacionado a experiências prévias do paciente ou mesmo a idéias delirantes em
relação ao alvo de seu comportamento. Não raramente o marido ou a esposa são
pessoas para as quais as manifestações de irritação e agressividade são
dirigidas, principalmente quando estes forem autores de repetidos
questionamentos em relação às afirmações ou condutas confusas dos pacientes.
O idoso
tem prisão de ventre?
Já se mencionou
que alterações súbitas do comportamento costumam estar associadas a doenças.
Mesmo um idoso com diagnóstico de demência pode no curso da doença desenvolver
ou aumentar agitação e irritabilidade devido, por exemplo, a uma pneumonia ou
mesmo dificuldade para evacuar. Uma situação que, pelo potencial de
recuperação, demanda vigilância é a associação de imobilidade, desidratação,
constipação intestinal (prisão de ventre) e agitação. Idosos em pós-operatório
(após cirurgia), imobilizados por fraturas ou acidentes vasculares tendem a
desenvolver desidratação e constipação intestinal. Esta situação pode
desencadear quadro dramático de agitação, que será prontamente resolvida com a
evacuação e reidratação. Um fator de confusão é que alguns idosos nesta condição
eliminam fezes pastosas em pequena quantidade, o que leva o cuidador a
acreditar que o paciente evacuou. Trata-se de falsa diarréia, manifestação na
qual uma verdadeira "rolha de fezes" (fecaloma) impede a passagem das
fezes. As repetidas contrações do intestino podem amolecê-las e assim facilitar
a eliminação destas pequenas quantidades de fezes, confundindo a pessoa que
cuida.
Aconteceu
mais alguma coisa?
O idoso
doente pode desenvolver agitação e irritabilidade devido a situações de caráter
psicossocial, tais como mudança de domicílio, internação em hospital, alteração
de rotinas e morte ou doença de pessoa por quem tenha grande afeto. Uma vez
mais lembramos a importância de medicamentos como fator desencadeante de
agitação. É importante informar o médico todos os medicamentos em uso, mesmo
aqueles que são adquiridos sem receita médica.
O
paciente sofreu alguma queda ou trauma nos últimos meses?
Quedas e
traumas cranianos podem apresentar complicações tardias. Nesta situação ocorre
o hematoma subdural (presença de coágulo no cérebro). Os sintomas dependem do
volume de sangue, podendo acontecer até 90 dias depois do acidente. Por isso,
diante de um idoso agitado, tente se lembrar se não houve nenhuma queda
recente. O médico deve ter conhecimento de todos os acidentes e particularmente
quedas que o paciente possa ter apresentado.
Como agir
Toda ação
relacionada ao velho doente, agitado ou mesmo agressivo deve se pautar no
conceito de que não é culpa do paciente. Este comportamento foge ao controle do
próprio paciente, constituindo manifestação de transtorno orgânico ou psíquico.
Algumas sugestões são apresentadas a seguir que ajudarão a lidar com o
problema.
Compartilhe
o problema
Sendo
esta uma situação de grave repercussão na família, todos devem estar cientes da
ocorrência e preparados para conviver com as possíveis manifestações.
Freqüentar grupos de apoio e auto-ajuda (Associação de Alzheimer, Associação de
Parkinson) pode facilitar o papel do cuidador, seja pela convivência com
pessoas em igual situação ou pelo aprendizado de condutas adotadas em casos
semelhantes.
Peça
ajuda, procure auxílio médico, discuta todos os aspectos que julgar importantes
Agitação,
irritabilidade e agressividade são situações complexas que podem ser tratadas
ou atenuadas com recurso médico. A suspensão de um determinado medicamento,
hidratação e evacuação de fezes podem reverter completamente o quadro de
agitação. Existem medicamentos que permitem controle dos sintomas, mas só devem
ser usados com a orientação do médico. O cuidador não deve aumentar a dose de
medicamentos tranqüilizantes na tentativa de conter um paciente agitado ou
agressivo, salvo por orientação médica.
Identifique
os riscos domésticos
Pacientes
agitados, irritados têm risco aumentado de trauma e acidentes. Alguns com
doença de Alzheimer podem não identificar a imagem refletida no espelho como
sendo sua e quebrar o espelho. Instrumentos de corte e pontiagudos devem ser
retirados da visão do paciente; as armas de fogo, eliminadas; tapetes
escorregadios e escadas constituem um fator de risco para quedas.
Crie
estratégias para distrair o paciente
Idosos
agitados, com irritação ou agressivos são pouco receptivos a argumentos
racionais, mas podem responder a ações como música, mudar de assunto, contato
com animais, caminhada, passeios de automóveis ou pequeno lanche. Identifique
se uma dessas ou outra altenativa pode ajudá-lo a tranqüilizar o paciente.
Proteja-se
O papel
do cuidador de um idoso agitado ou agressivo não é gritar, reagir com fúria ou
de descontrole diante de situações dramáticas. Tampouco se recomenda
passividade tendo em visita o desgaste emocional e o risco de lesão física. Não
tente conter ou amarrar o paciente, pois isso costuma deixá-lo ainda mais
nervoso, angustiado, além de ser um atentado à sua dignidade. Em todos os casos
a imobilização do idoso no leito ou cadeira tem resultados conflitantes, sendo
considerada medida extrema. Evite discussões desnecessárias, não altere o tom
de voz e peça ajuda a outras pessoas que tenham relação com o paciente. Não
esgote sua capacidade emocional, não deixe de dormir um número mínimo de horas.
Aqui lembramos a necessidade de envolvimento de outras pessoas da família ou
cuidadores suplementares.
Cuide-se
muito bem
Também
você cuidador pode desenvolver problemas de saúde. Não hesite em procurar um
médico quando se sentir cansado, esgotado ou ficar muito triste. Tente ter seus
momentos de lazer, tenha boas relações de amizade e não se sinta só. Peça ajuda
a alguém quando o cansaço for muito acentuado. Ninguém, nem você é de ferro…
Lembre-se que para que você cuide bem é importante que você também esteja bem
cuidado.
Instabilidade
e quedas
Os
episódios de instabilidade do andar e as quedas são muito freqüentes nos dois
extremos da vida: infância e velhice. A incidência de quedas entre os idosos é
alta e muitas vezes elas não são devidamente valorizadas, sendo consideradas
como próprias da idade.
O que é e
quais as conseqüências da queda
Queda é
uma perda total e involuntária do equilíbrio do corpo. As quedas constituem
causa importante de enfermidade e mortalidade pelas suas conseqüências. Em
alguns casos, determinam um estado de incapacidade importante ou invalidez. As
conseqüências podem ser:
· lesões
(ferimentos, cortes, fraturas, contusões, entorses, hematomas);
·
problemas psicológicos (medo de cair, insegurança, ansiedade);
· perda
da auto-estima, da auto-confiança, superproteção da família;
·
imobilidade;
· isolamento;
·
depressão;
·
internação em hospital ou asilo.
· morte;
Porque o
idoso cai mais?
Apesar de
ser difícil evitar todas as quedas e suas complicações, é muito importante
identificar
o que está ocasionando as quedas no idoso.O esquema abaixo representa o círculo
vicioso que demonstra por si só, sem a necessidade de qualquer explicação
adicional, o motivo pelo qual as quedas são mais freqüentes em idosos.
Fatores
de risco de quedas
Nos
episódios de queda freqüentemente estão presentes fatores considerados de
risco. Tais fatores são os extrínsecos (ambientais), os intrínsecos (próprios
da pessoa) e a possível associação de ambos.
Conseqüências
leva a novas quedas
QUEDA
Insegurança
Medo de
cair
Instabilidade
Desvantagens
Depressão
Superproteção
familiar
Isolamento
Perda da
auto-estima
Lesões
Fatores
ambientais
Entre os
fatores relacionados ao ambiente deve-se considerar os seguintes:
· pisos
escorregadios, móveis, tapetes, pequenos animais de estimação:
· locais
mal iluminados (quarto, banheiro);
· escadas
(principalmente o primeiro e o último degrau);
· fios de
extensão, objetos espalhados pelo chão.
Fatores
intrínsecos
Os
fatores intrínsecos, ou seja, os relacionados com a saúde do idoso são:
· doenças
cardiovasculares (desmaio, infarto do miocárdio, arritmia cardíaca);
·
distúrbio do sistema nervoso (tonturas, vertigens, labirintopatias, seqüela de
derrame, doença de Parkinson, demência, alteração do andar e do equilíbrio,
alterações sensoriais);
·
desnutrição;
·
alcoolismo;
· doenças
dos ossos e das articulações (artrose, artrites, reumatismo), principalmente as
localizadas em toda extensão da coluna e nas extremidades inferiores;
·
anormalidades e deformidades dos pés (joanetes), calosidades, dedos em garra;
·
problemas da audição e da visão, como catarata, glaucoma, cegueira, diplopia
(visão dupla), que acabam diminuindo ou confundindo as pistas ambientais;
·
imobilidade e fraqueza muscular;
· uso
inadequado de medicamentos (sedativos, antipsicóticos, antidepressivos,
antihipertensivos), polifarmácia (uso concomitante de várias medicações);
·
depressão, alterações emocionais.
Associação
de fatores intrínsecos e extrínsecos
A
associação de fatores ambientais e os relacionados à saúde do idoso acabam
dando origem a outros fatores, que podem ser causas importantes de episódios de
queda.
É melhor
prevenir do que remediar
Os idosos
que relatam uma ou mais quedas deverão ser cuidadosamente avaliados mesmo que
as quedas não tenham resultado em ferimentos graves. Deverão ser feitas
perguntas sobre a seqüência dos eventos que levaram ao episódio, quais os
fatores que antecederam a queda, o que aconteceu no decorrer do episódio e o
que ocorreu após ele, procurando esclarecer a causa da queda. Assim, são
fundamentais perguntas como: O que a pessoa estava fazendo ao cair? Quando foi
a queda? A que horas ocorreu? Onde? Como foi? Tropeçou? Escorregou? O que
sentiu? Quais as conseqüências? Estava tomando algum remédio? Se estava tomando
alguma medicação, este deverá ser anotado. Como foram as quedas anteriores? O
ideal seria obter um relato de uma testemunha da queda. Uma vez conhecidas as
circunstâncias da queda pode-se saber se foi ocasionada por problemas de saúde,
por fatores ambientais ou por associação de ambos.
O que se
deve fazer depois da queda
Certificar-se
que o paciente respira bem, que não houve perda dos sentidos; perguntar se sabe
o que aconteceu, se sabe onde está; verificar se a pressão está boa (se for
possível, medi-la), se não houve fratura. É prudente não tentar levantar o
idoso se houver suspeita fratura de algum osso. É preciso ter clareza que o
idoso pode ser mobilizado.
Como
evitar novas quedas
As
informações obtidas orientarão a elaboração de um plano de prevenção de
episódios futuros, a escolha de medidas que devem ser tomadas para evitar novas
quedas e para amenizar os efeitos das que já ocorreram. As medidas a serem
adotadas são as que se seguem:
· medidas
sob orientação médica;
· medidas
de apoio psicológico, destacando-se aquelas que não criam no idoso e na família
receio exagerado de novas quedas;
· medidas
de terapia física, orientadas e prescritas por profissionais (fisioterapeuta e
terapeuta ocupacional), visando conservação e aumento da força muscular,
redução da dor, aumento da mobilidade articular, correção das deformidades
articulares e dos vícios de postura corporal, e melhora do equilíbrio;
·
treinamento do andar, reforço dos músculos e uso adequado de instrumentos de
auxílio (bengalas, andadores, muletas), que constituem medidas úteis na
prevenção;
· medidas
educativas visando a maior capacidade do idoso para enfrentar problemas de
saúde e para conquistar melhores condições de vida junto aos familiares, à
comunidade e à sociedade. Nos pacientes muito confusos e agitados, a contenção
no leito ou na cadeira não assegura a ausência de quedas. Esta situação piora a
agitação, cansa o paciente e lhe dá a sensação de tortura e desrespeito, além
de piorar a confusão mental (ele acha que está preso num manicômio, que querem
a sua ruína, etc.). Pode favorecer a ocorrência de fraturas costais, de
osteoporose e mesmo de imobilidade, podendo acarretar ulceração de decúbito,
além de piorar a aceitação de dieta e de líquidos e comprometer a respiração do
paciente. A contenção, além disso, não substitui a supervisão adequada nem
oferece conforto ao paciente.
Perda
involuntária de urina e de fezes. Constipação intestinal
Os idosos
podem apresentar vários problemas de saúde. Entre eles destacam-se a
incontinência urinária (perda involuntária de urina), fecal e a constipação
intestinal (intestino "preso").
Incontinência
urinária
A
incontinência urinária é mais freqüente que a fecal, entretanto, as duas podem
ocorrer ao mesmo tempo, podendo acarretar problemas físicos, psicológicos e de
mal-estar.
Tipos
A
incontinência urinária constitui um problema social ou higiênico e pode ser de
dois tipos:
· Aguda:
que está relacionada a uma situação clínica ou cirúrgica e pode ser resolvida
quando essa situação desaparecer. Este tipo de incontinência pode aparecer
também quando o idoso apresenta infecções, quando se apresenta confuso ou no
caso de restrição da mobilidade (de caminhar);
·
Persistente: classificada em quatro tipos, de acordo com vários estudiosos,
cujas
caracterizações
encontram-se abaixo.
1 —
Incontinência por transbordamento. Neste caso o paciente costuma urinar
pequenas quantidades, não associadas à sensação de urgência de urinar. Na
verdade há um esvaziamento incompleto da bexiga e a pessoa urina por
transbordamento. Tende ocorrer mais a noite, caracterizando a noctúria.
2 —
"Urge" incontinência. É a perda involuntária de urina associada à
vontade de urinar. A pessoa é obrigada a correr para o banheiro quando sente
vontade e nem sempre dá
tempo de
evitar a perda de urina. Pode ser observada em pacientes com doença de
Parkinson, escleroses, derrames e quando ocorrem infecções no trato urinário, e
em mulheres na menopausa por falta de hormônio (estrógeno).
3 —
Incontinência de estresse. É caracterizada por perda involuntária de urina
quando a pressão da bexiga é maior que a da uretra, devido a elevação da pressão
da barriga. Este tipo aparece com mais freqüência durante atividades físicas
tais como andar, fazer exercícios, curvar-se, levantar peso, tossir, rir e
espirrar.
4 —
Incontinência funcional. A perda de urina está associada à dificuldade de
encontrar o banheiro ou um local adequado para urinar. Pode acontecer em
pacientes com dificuldades para caminhar, com falhas de memória (esquece que
tem que urinar ou onde fica o banheiro), com distúrbios visuais ou em uso de
medicamentos que pioram a capacidade de caminhar (lentidão, insegurança,
instabilidade, desequilíbrio). Ocorre também quando há barreiras ambientais que
impedem o acesso da pessoa ao banheiro (banheiro fora de casa, mal iluminado,
com degraus, porta pesada, porta que não permite a passagem de andadores,
bengalas ou cadeira de rodas).
Avaliação
do tipo de incontinência urinária
Para
definir o tipo de incontinência urinária deve-se realizar uma avaliação médica
e de enfermagem, cujo objetivo são:
·
Caracterizar bem o problema quanto a:
—
duração, freqüência e hábitos de urinar;
—
sensações apresentadas durante e após urinar;
—
repercussão dos episódios de incontinência na vida do idoso (vergonha,
tristeza,
indiferença);
— hábitos
higiênicos;
—
líquidos ingeridos;
— fatores
do ambiente do idoso;
—
mobilidade do idoso;
—
capacidade de atenção, aprendizagem e memória.
· Avaliar
o tipo de incontinência e, a partir daí, traçar a conduta para idosos
incontinentes, baseando-se no controle urinário. Tal conduta exige suporte
familiar e de enfermagem. Após esta etapa, definir os resultados a serem
alcançados, bem como as estratégias de intervenção.
Estratégias
de intervenção
As
estratégias variam de acordo com a exata definição da conduta a ser adotada, ou
seja, o tratamento será medicamentoso e/ou por meio de procedimentos para
controle urinário. A incontinência pode ter tratamento com medicamentos,
devendo-se nestes casos instruir o idoso e/ou cuidador quanto ao uso dos
medicamentos, horários, dosagens, vias de administração e efeitos colaterais, registrando
mudanças na pressão arterial e estado mental. Entre os procedimentos de
treinamento para o controle urinário destacam-se:
—
treinamento da bexiga e do hábito de urinar, através do qual o idoso
incontinente
gradualmente
estende seu intervalo de micção (urinar) para o padrão normal, objetivando
modificar a função da bexiga para manter o idoso seco;
—
biofeedback, consiste em ensinar ao paciente a inibir voluntariamente as
contrações da bexiga ou contrair os músculos do assoalho pélvico de forma a manter
a continência, diminuindo os episódios de incontinência urinária;
—
utilização de coletores externos (sistema de coletor externo e fraldões), que
também oferecem vantagem para o controle urinário. Em todos os casos deve-se
proceder a uma avaliação do ambiente, dando atenção especial às barreiras
ambientais tais como: espaço livre para andar, degraus, luz suficiente e a não
colocação de materiais em excesso no banheiro.
Incontinência
fecal
A
incontinência fecal é um dos problemas de saúde que afeta a qualidade de vida
dos idosos. Com o envelhecimento o controle da defecação vai se alterando pela
hipotonia muscular (fraqueza), pela diminuição ou perda da sensibilidade da
ampola retal ou, ainda, devido à perda do reflexo anal (contração do esfíncter
anal). A incontinência fecal é a alteração da necessidade de eliminação de
fezes, na qual há perda do controle do esfíncter, com conseqüente perda de
fezes sem que a pessoa perceba, levando a um distúrbio na eliminação do
conteúdo intestinal. A incontinência fecal costuma vir associada à
incontinência urinária e é mais freqüente em pacientes com problemas mais
acentuados de memória.
Tipos
A
incontinência fecal pode ser dividida em quatro grupos de acordo com as causas
precipitantes:
—
relacionada aos problemas de cólon (parte do intestino grosso), reto e ânus
como, por exemplo, tumores, inflamações e outras;
—
constipação crônica (intestino "preso"), com episódios de diarréia e,
as vezes, de
incontinência
fecal;
— lesões
neurológicas diversas tais como demências, derrames e outras;
—
ingestão de medicamentos tais como laxantes, analgésicos, opiáceos.
Avaliação
da incontinência fecal
A falta
de controle da defecação pode representar uma perda da independência da pessoa.
Deve-se tentar descobrir sua causa, corrigir a dieta, ingerir bastante líquido,
favorecer horários regulares de ida ao banheiro para treinar um novo horário
para o intestino, não ridicularizar o paciente, proceder a uma higiene
cuidadosa e eliminar odores no quarto para limitar o constrangimento criado
pela situação. É importante também que os cuidadores fiquem atentos para:
—
observação das características das fezes (quantidade, coloração, consistência e
freqüência);
—
eliminação de gases, presença de distensão abdominal (a presença de barriga
muito inchada pode ser sinal de obstrução intestinal, o que pode levar o idoso
à morte);
—
higiene, cor da pele na região do ânus;
— evitar
períodos muito longos sem defecar (quanto mais tempo ficam as fezes retidas
mais difícil é eliminá-las, criando um círculo vicioso);
— não
confundir eliminação de fezes pastosas em pequenas quantidades com diarréia, o
que leva o cuidador a acreditar que o paciente evacuou. Trata-se de
"diarréia espúria", manifestação na qual uma verdadeira "rolha
de fezes" (fecaloma) impede a passagem das fezes. As repetidas contrações
do intestino podem amolecê-las e assim facilitar a eliminação destas pequenas
quantidades de fezes, confundindo a pessoa que cuida.
Constipação
intestinal
A
constipação intestinal ("intestino preso", "prisão de
ventre") é a dificuldade e passagem irregular de pequena quantidade de
material fecal na parte grossa do intestino, devido a uma redução na freqüência
das evacuações e dificuldade na eliminação de fezes endurecidas. Não é um
problema normal com as mudanças do envelhecimento, entretanto, é mais freqüente
em idosos quando comparado com os adultos.
Causas
As causas
da constipação podem ser:
—
primárias, referem-se ao trânsito intestinal lento, à diminuição do tônus
intestinal (ligeiro grau de contração nos músculos) e da força muscular
abdominal, pouca ingestão de
líquidos
e de alimentos ricos em fibras, má dentição, inatividade física e perda do
reflexo da evacuação;
—
secundárias, devido ao uso inadequado de drogas, problemas do cólon, ânus e
reto, doenças diversas, inclusive as neurológicas e psiquiátricas.
O que
fazer
No caso
do idoso apresentar problema de constipação tente levantar dados sobre a
condição do idoso e hábitos alimentares e outros. Frente a isso estabelecer um
padrão de re-treinamento de horários para ingestão de líquidos, de alimentos e
de atividades do cotidiano. A intervenção deve ser natural com alimentos tais
como administração de farelos nas alimentações, ameixas ou outras frutas secas
e também as frescas. Estimular o idoso para maior ingestão de líquidos. O uso
do banheiro deve ser individual, oferecendo apoio ao idoso quanto ao tempo e
estimulação para a evacuação. Além disso, esclarecer quanto às crenças
culturais de que os movimentos intestinais regulares devem ser diários. A orientação
aos idosos deve ser de manter a regularidade intestinal, pelo menos três vezes
por semana. Caso a intervenção não seja adequada ou se o idoso apresentar
problemas relacionados às causas secundárias, é conveniente encaminhá-lo a um
serviço médico. Não tome condutas como uso de laxantes ou enemas (clister) por
conta própria. É recomendável consultar um especialista.
Considerações
finais
As
incontinências urinária e fecal, e a constipação intestinal são problemas de
saúde muito freqüentes entre os idosos. Cabe à equipe de profissionais e ao
cuidador avaliar o tipo de incontinência e a constipação para traçar as
condutas. O objetivo da atenção é resgatar o equilíbrio das eliminações e
facilitar o dia-a-dia do idoso e de sua família, poupando-o, sempre que
possível, do constrangimento da incontinência.
Sobre a
demência
O que é
demência?
É uma
doença em que as células do cérebro morrem mais rapidamente do que no
envelhecimento normal. Isto leva a um declínio geral da capacidade e das
habilidades da pessoa. Produz perda de memória, confusão, comportamentos
estranhos e mudanças na personalidade. É uma doença desconcertante. Não se
conhece ainda as causas, não há cura, e o tratamento que pode ser oferecido é
pouco. Como os mesmos sintomas podem resultar de outras causas, possivelmente
tratáveis, é importante fazer um diagnóstico correto. A demência, por si,
geralmente não é causa de morte e a pessoa pode sofrer da doença durante vários
anos antes de falecer de outra causa.
Sintomas
da demência:
·
tornar-se muito esquecido, principalmente com relação a acontecimentos recentes
e nomes;
· estar
confuso quanto a hora, dia e local, e perder-se em lugares conhecidos;
· ter
dificuldade em falar e passar a repetir as mesmas coisas várias vezes;
· não
conseguir compreender o que lhe é dito;
· ter
dificuldade em executar tarefas domésticas e negligenciar a higiene pessoal;
·
comportar-se na cozinha de maneira perigosa, deixando que os alimentos se
queimem ou abrindo o gás esquecendo de acender o fogão;
·
comportar-se de maneira inadequada, por exemplo, saindo de pijama ou vagando
pelas ruas a noite;
·
esconder ou perder as coisas e acusar os outros de tê-las roubado;
· ver ou
ouvir algo que não existe;
· ficar
facilmente zangado, chateado ou agressivo
A medida
que a doença progride, os sintomas tornam-se mais óbvios e incapacitantes
Porque é
necessário um diagnóstico correto?
É muito
importante obter-se um diagnóstico médico, caso uma pessoa de meia idade ou
idade avançada desenvolva alguns destes sintomas. Muitas condições confundem-se
com sintomas de demência, mas podem ser reversíveis, por exemplo, a perda da
memória e confusão são sintomas da demência incurável, mas podem ter outras
causas, especialmente se o aparecimento foi repentino. São causas comuns de
sintomas semelhantes aos da demências:
· quadros
infeciosos, como a pneumonia e ou infecção renal. O tratamento da infecção
acabará com os sintomas;
·
deficiência da glândula tireóide ou deficiência vitamínica, que são
completamente tratáveis;
· deficiência
química, como na doença de Parkinson, que é controlável;
· outros
distúrbios cerebrais, tumores, derrames ou ferimento na cabeça podem temporária
ou permanentemente, afetar parte do cérebro, levando à confusão e a outros
sintomas da demência. Estas condições, as vezes, podem ser tratadas e curadas;
·
medicamentos - os idosos geralmente não necessitam de doses tão altas de
medicamentos como as pessoas mais jovens. Mesmo os efeitos de drogas comuns,
como soníferos, duram muito mais tempo no idoso. Eles podem também estar
tomando remédios que em combinação, poderiam causar sintomas parecidos com os
da demência.
·
depressão profunda- é comum no idoso e geralmente tratável;
·
mudanças nos relacionamentos- por exemplo, doença ou morte do parceiro ou de amigo
próximo;
·
mudanças nos hábitos da pessoa, ou do ambiente, como mudar de casa.
Dez
sinais de alerta
1.
problemas com a memória- que NÃO seja causado por abuso de álcool ou ferimento
na cabeça, e que piora com o tempo;
2.
problemas de linguagem- dificuldade para dar nomes aos objetos, achar a palavra
certa
para usar numa frase, e muitas vezes, dizer palavras sem nexo;
3. fechos
e botões são difíceis de fechar- a pessoa tem dificuldade para se vestir;
4. falta
de higiene- podem não se importar com a aparência e podem não querer tomar
banho;
5.
mudança brusca de humor, muitas vezes sem razão aparente. Podem estar calmo e
de repente se tornar amedrontado, furioso ou agressivo;
6.
raciocínio deficiente- comportamento estranho, vestir a roupa na ordem errada ou
tirar a
roupa em público;
7. podem
se perder em lugares conhecidos, até no próprio bairro;
8.
reconhecer a família e amigos fica progressivamente difícil;
9. as
vezes tem recordações da infância, mas não se lembra de nada que aconteceu no
mesmo dia;
10. desconfiado
dos outros, podendo acusá-los de roubar ou esconder suas coisas, seu dinheiro e
outros objetos pessoais.
Mudança
brusca de humor na demência
O
cuidador, pode sentir que as vezes a pessoa demenciada se comporta de maneira
muito agressiva. Isto pode tomar a forma de abuso verbal ou ameaças, destruição
ou danificação de propriedades, ou violência física. Tal comportamento pode
assustar e gerar ansiedade sobre como melhor lidar com isto. O demenciado é,
logicamente, uma pessoa, e vai reagir às circunstâncias de maneira particular.
Mas se observar bem as situações nas quais ocorre a agressividade e os eventos
que levaram a estes incidentes agressivos, o cuidador poderá talvez identificar
o que desencadeia o comportamento e tentar evitá-lo.
Causas
comuns da mudança de humor
1.
comportamento defensivo: a pessoa pode se sentir humilhada porque é forçada a
aceitar assistência para executar tarefas íntimas como se lavar. Mesmo que ela
não consiga
fazer só,
pode parecer que sua independência e privacidade estão sendo ameaçadas;
2. falta
de competência: a pessoa pode estar se sentindo pressionada porque não consegue
mais enfrentar as solicitações do diárias como fazia há pouco. Pode se sentir
fracassada se não conseguir fazer coisas simples ou responder perguntas fáceis;
3. má
compreensão: pode estar confusa porque não compreende mais o que está
acontecendo ou estar aflita ao perceber um declínio em suas habilidades.
Acusações de que alguém roubou algo seu que não está encontrando pode ser
apenas uma maneira dela se proteger contra a realidade de suas habilidades
deficientes;
4. medo:
esta é outra razão para a agressividade. Ela pode estar com medo porque não
reconhece mais certos lugares ou pessoas. Pode estar convencida de que deveria
estar em outro lugar, ou muito ansiosa porque acredita que a pessoa veio
visitá-la é um estranho que entrou a força em sua casa. Um ruído súbito ou
pessoa se aproximando por trás de repente, pode aterrorizá-la e causar uma
reação agressiva;
5. reação
exagerada: a pessoa pode ficar ansiosa por causa de mudanças na rotina, da
presença de muitas pessoas, de um acontecimento especial, de barulho ou outras
distrações, e poderá se agitar porque não consegue se conter na situação;
6. defesa
e manipulação da atenção: a agressividade da pessoa pode também ser uma reação
defensiva á tentativa do cuidador de conter ou controlar o "andar sem
rumo" ou mesmo uma atitude para chamar a atenção. Se isto acontecer
deve-se tentar outra maneira de tratar do assunto, em vez de se concentrar na
reação que a situação causou.
Medidas
Preventivas
· reduzir
as exigências feitas à pessoa e assegurar que há uma rotina tranqüila sem
estresse e sem distrações que confundem;
· tentar
gastar mais tempo explicando o que está acontecendo, passo a passo, em frases
simples e dando tempo para que ela reaja. Mesmo que não possa sempre entender
as
palavras,
a atenção plena e o tom de voz calmo do cuidador podem tranquilizar a pessoa;
·
estimular a independência e permitir que a pessoa faça tudo que puder, mesmo
que isto leve mais tempo;
· evitar
confrontação com a pessoa sempre que possível, distraindo sua atenção ou
sugerindo
uma alternativa;
· elogiar
conquistas e evitar críticas. Focalizar as habilidades remanescentes da pessoa;
·
explicar aos amigos e parentes que a pessoa não os reconhece e que precisará
ser
tranquilizada.
Vozes agudas e movimentos bruscos, especialmente vindos por trás da pessoa,
podem perturbá-la;
· ficar
alerta para os sinais de ansiedade ou agitação e reassegurar ou distrair a
pessoa de maneira mais apropriada;
·
encontrar atividades adequadas para estimular o interesse e aumentar a
confiança;
·
assegurar que a pessoa faça exercícios suficientes, especialmente se ela tem
tendência a "andar sem rumo";
·
consultar o médico se achar que a pessoa pode estar sofrendo algum desconforto,
pois o aparecimento de problemas orgânicos podem ocasionar grandes mudanças de
humor.
O que o
cuidador não deve fazer com a pessoa demenciada
· não
confrontar, nem discutir;
· não
tomar como ofensa pessoal as atitudes agressivas momentâneas da pessoa;
· não
levantar o tom de voz;
· não
tentar conduzir ou iniciar qualquer forma de contato físico,
"encurralando" a pessoa ou se aproximando por trás;
· não
provocar, caçoar ou rir dela;
· não
usar punições ou castigos para tentar corrigir mudanças de humor.
É comum a
pessoa com demência sofrer mudanças súbitas de humor. Pode ser que inicie um
dia aparentemente normal e tranqüilo e de repente a pessoa se torna agressiva,
grita, cospe, bate em quem estiver mais próximo, joga o que encontra à mão e se
torna extremamente abusiva. Um adulto confuso, agressivo ou violento pode
chocar toda família, mas assusta especialmente as crianças e os adolescentes
que não compreendem o que está acontecendo. É importante lembrar que esta agressividade
não é consciente, mas faz parte da doença. Resulta de danos cerebrais e de algo
que engatilhou uma resposta comportamental anormal. Este "algo" pode
ser uma má interpretação do que está acontecendo ao seu redor, ou do excesso de
estímulos causados por muitas pessoas no ambiente, muito barulho, crianças
agitadas ou por outras razões. O mais importante nesta hora é procurar manter a
calma. O ideal é afastar pelo menos dois metros, e se possível retirar-se do
ambiente por algum tempo, certificando-se de que não haverá perigo para a
pessoa ficar só. Não se deve tentar ou "encurralar" esta pessoa
agressiva, pois tornaria pior a situação. A pessoa demente necessita de um
ambiente de rotina, sem rádio ou televisão em volume alto o dia inteiro, sem
muitas visitas, e não se deve esperar dela mais do que ele dá conta no momento.
Não importa como era o seu passado, esta pessoa está perdendo gradativamente as
suas habilidades e isto muitas vezes lhe é extremamente frustrante.
Emergências
no domicílio
Os idosos
costumam ter várias doenças ao mesmo tempo. São doenças crônicas, isto é,
enfermidades que não têm cura e, assim, é preciso conviver com elas, não
levando o idoso à morte rapidamente. As doenças crônicas podem causar
complicações, principalmente se não forem bem controladas. As pessoas idosas
que necessitam de cuidados são, em geral, mais frágeis, mais debilitadas. São
pessoas que apresentaram seqüelas e complicações de suas doenças crônicas. Por
isso necessitam de cuidados diários de alguém que as ajude em diversas
atividades.
O que são
situações de emergência
Com os
idosos, de uma hora para outra, pode ocorrer uma piora súbita, repentina ou um
acidente, alterando por completo a rotina diária. São as emergências. Por esse
motivo, o cuidador deve estar atento, pois uma emergência precisa de ação
imediata, firme, segura, caso contrário o idoso pode morrer. Qualquer alteração
na rotina, como sonolência excessiva, apatia, confusão mental, agitação,
agressividade etc., pode ser um sinal de que algo novo, diferente que aconteceu
no quadro clínico, precisando de avaliação imediata. Não deixar para depois.
Quais são
as emergências mais comuns
As
emergências mais comuns são as que se seguem e que serão expostas de maneira
sucinta.
Confusão
mental (delirium)
É
particularmente comum em pacientes idosos. A pessoa fica desorientada, sem
saber se localizar no tempo (dia, hora, ano etc.) e no espaço (local), muita
agitada, irritada e falando coisas sem sentido. O nível de consciência varia
muito, uma hora a pessoa está ativa, outra hora, sonolenta e a atenção fica
prejudicada. Para quem está cuidando, é causa de muita aflição, pois a
comunicação fica difícil. O cuidador perde o controle da situação. É um quadro
que necessita de avaliação médica imediata, pois pode ser ocasionado por
pneumonia, infecção nos rins, desidratação, infarto do coração, traumatismo de
crânio, pressão baixa, derrame e muitas outras doenças graves. O tratamento de
qualquer dessas causas é a melhor forma de tirar o paciente do estado de
confusão. Com o tratamento certo, a confusão costuma desaparecer em poucos
dias. É importante estar sempre ao lado do paciente, numa atitude calma, de
apoio. Não dê calmantes por conta própria.
Quedas
Quedas
são freqüentes em pessoas frágeis. Podem ter como conseqüência uma fratura de
fêmur, de costela, da coluna, da bacia, do braço ou mesmo um trauma de crânio.
Vários problemas de saúde podem predispor a cair. Toda queda, portanto, merece
uma avaliação para se descobrir a causa e, assim, prevenir outra queda. Se foi
um problema de saúde, chamar o médico do paciente. Se foi um acidente ou um
problema do ambiente (tropeçar, escorregar, trombar, pisar em falso), discutir
maneiras de tornar o ambiente mais seguro. Ficar de olho no estado de
consciência, caso tenha batido a cabeça. Peça ajuda a outra pessoa para
levantar o idoso que caiu. Transmita segurança. Não ridicularize e não culpe o
idoso.
Falta de
ar
Em um
episódio de falta de ar, o idoso apresenta dificuldade para respirar, a
respiração é rápida e curta, muitas vezes ofegante e, em geral, apresenta
tosse, que pode ser seca ou com catarro. A causa pode ser uma infecção nos
pulmões (pneumonia), uma crise de bronquite ou alguma doença cardíaca (infarto
ou insuficiência cardíaca aguda). Geralmente vem acompanhada de confusão mental.
Sonolência e arroxeamento de lábios e dedos são sinais de gravidade.
Atenção:
pessoas idosas podem apresentar pneumonia sem ter febre. Procurar avaliação
médica urgente.
Engasgos
Ocorrem
quando o alimento não desce para o estômago, caindo nas vias aéreas
respiratórias. Se a pessoa engasgar com alimento sólido de tamanho grande (um
pedaço de carne, por exemplo), pode morrer sufocada. Tente retirá-lo com o dedo
ou abraçando a pessoa pelas costas e apertando na altura da boca do estômago.
Uma complicação mais freqüente é a pneumonia de repetição. Em geral, os idosos
engasgam mais com líquidos. É importante ter presente que o idoso não deve ser
alimentado na posição deitada. Sentá-lo muito bem. Comida de consistência
pastosa (gelatina, mingau mais grosso, purê de batata etc.) é melhor nesses
casos. Não insistir em alimentar em caso de engasgo.
Vômitos
Um grande
perigo é a ocorrência de vômitos com a pessoa deitada de barriga para cima,
pois, assim, há grande possibilidade de ocorrer a aspiração do vômito para
dentro dos pulmões, levando a uma pneumonia sempre grave. Se os vômitos forem
freqüentes, poderá acontecer desidratação. Um idoso desidratado pode apresentar
outros sinais: piora do estado geral, confusão mental, pressão baixa,
funcionamento prejudicado dos rins, além de estar mais sujeito a morrer. Na
maioria das vezes não é possível dar água pela boca, havendo necessidade de
aplicar soro na veia até que um remédio para vômito seja utilizado e,
principalmente, até que se trate a causa. Procure o médico, caso necessite.
Diarréia
Diarréia
é o aumento do número de evacuações, sendo que as fezes são mais líquidas. O
idoso com diarréia freqüente fica desidratado com facilidade. Quando ocorrer
diarréia, os alimentos com fibras (verduras, legumes, frutas, feijão) e os
alimentos concentrados (rapadura, doces etc.) deverão ser suspensos. Oferecer
líquidos em grande quantidade. É difícil saber quando é necessário chamar um
médico para um problema que é tão comum e temporário. Como uma regra, procurar
ajuda quando a diarréia durar mais de dois dias ou ocorrer em associação com
febre e calafrios, com vermelhidão na pele ou se tiver sangue nas fezes.
Diabéticos e aqueles doentes que estão tomando medicamentos para o coração
podem apresentar complicações mais cedo.
Desmaio
É a perda
de consciência mesmo que seja por segundos. É necessário investigar a causa,
pois há muitas doenças que produzem desmaio: convulsões, pressão baixa, doenças
do coração, pouco açúcar no sangue (hipoglicemia), derrame e outras. Procurar
manter o indivíduo deitado, com a cabeça baixa. Verificar se bateu a cabeça ou
se fraturou algum osso. Se for possível, medir a pressão e sentir os batimentos
do pulso.
Convulsões
São os
"ataques" epilépticos. Podem ser parciais, com as convulsões
acontecendo apenas em uma parte do corpo ou podem ser generalizados (em todo
corpo). Ao se presenciar uma convulsão, colocar a pessoa deitada, cercá-la de
almofadas para que não se machuque, coloque um pano ou toalha dentro da boca,
para que não morda a própria língua. Ao final da crise a pessoa acorda um pouco
confusa, sem saber onde está e o que aconteceu. Pode sentir dor no corpo e
também perder o controle da urina e das fezes. Tranqüilize-o (a). Não precisa
ter medo porque a convulsão não é doença contagiosa. Deve ser procurado cuidado
médico o mais rápido possível.
Sangramentos
Se o
sangramento for de uma ferida ou corte, procure estancá-lo com uma forte
compressão (aperto), de preferência com alguma coisa gelada, sobre a área,
elevando, além disso, o segmento machucado. Se o sangramento não parar, pode-se
garrotear (passar um laço apertado) acima do local que está sangrando. Quando o
sangramento for interno ele pode se exteriorizar através de vômitos, pelo ânus
ou, ainda, vindo dos pulmões com a tosse. O sangramento pode ser procedente do
nariz. Esses tipos de sangramento necessitam de avaliação médica imediata,
mesmo se for em pequena quantidade. É importante salientar que fezes escuras,
amolecidas e com mau cheiro, parecendo borra de café, é um tipo de sangramento
intestinal, apesar de não ter sangue vivo. É importante comunicar ao médico
este tipo de sangramento, informar sobre a palidez da pele, se o paciente sua
frio, se a pressão cai muito rápida. Seguir as orientações médicas e, se for o
caso, levar o paciente imediatamente para um hospital, para que sejam tomadas
medidas necessárias. Lembrar que um sangramento, até prova em contrário, é um
fato sério e urgente.
Mudança
de comportamento
Muitas
doenças no idoso podem levar a mudança do comportamento: agitação, delírio,
irritação, agressividade, insônia confusão mental. Da mesma forma a mudança de
comportamento por apatia e desinteresse também pode significar uma situação de
emergência. Nesses episódios os idosos podem falar sem parar, ficar andando
pela casa o tempo todo, xingar, arrancar sondas, cateteres e curativos,
ferir-se, acidentar-se; podem partir, inclusive, para agressão física. Idosos
com demência ("esclerose") apresentam este quadro mais
freqüentemente. É preciso uma avaliação médica urgente.
Sonda de
alimentação entupida
Mesmo
naqueles casos em que a dieta por sonda é dada de forma correta, pode acontecer
o entupimento da mesma. Em geral, os pacientes com sonda não conseguem engolir
pela boca e, nessa situação, poderão ficar desidratados, com grande
possibilidade de apresentar queda de pressão, problemas nos rins, entre outros.
Chame a enfermeira para avaliar a situação. Se não conseguir desentupir, haverá
necessidade de trocá-la o mais rápido possível.
Hipertermia
É o
aumento da temperatura corporal em dias de muito calor. A conduta será levar o
idoso a um lugar fresco, retirar as cobertas, dar líquidos se estiver
consciente, colocar compressas frias em cada lado do pescoço, debaixo dos
braços, nas virilhas e nas dobras das pernas.
Considerações
finais
As
emergências podem acontecer a qualquer pessoa. O melhor é estar sempre muito
bem informado e sempre atento à evolução do paciente. Quando ocorrer uma
emergência deve-se tentar manter a calma. Para isto o ideal é ter um
planejamento prévio, detalhando o que fazer em cada situação, a quem procurar e
pedir socorro e com quais recursos pode contar na comunidade. Numa consulta de
rotina solicitar ao médico que oriente o que fazer em caso de dor, febre e
pressão alta. Se possível pedir que prescreva medicamentos. Tenha o número dos
telefones de ajuda e socorro em lugar de fácil lembrança e acesso. Ao se
dirigir ao hospital leve documentos da pessoa (carteira de identidade ou
profissional e, se tiver, do plano de saúde). É muito importante levar também
todos os remédios que o idoso estiver usando, mesmo os que podem ser comprados
sem receita.
Uso de
medicamentos
Uso de
remédios em idosos
Com o
avançar da idade produzem-se modificações no nosso organismo que podem alterar
as respostas aos medicamentos. Esse é motivo pelo qual as dosagens dos remédios
para os idosos podem ser diferentes. A polifarmácia, ou seja, o uso de muitos
remédios, implica em custo elevado do tratamento, assim como aumenta a
possibilidade de reações entre os medicamentos (interação medicamentosa) e de
reações não desejadas (efeitos colaterais). Essas são três mais freqüentes em
idosos do que nos jovens.
Uso da
denominação comum (nome genérico)
A
Organização Mundial de Saúde (OMS) instaurou na década de 50 um programa para
identificar cada droga mediante um nome único, nome genérico — Denominação
Comum Internacional (DCI). Segundo este nome genérico, um medicamento tem a
mesma composição qualitativa e quantitativa, mesma forma farmacêutica que outro
remédio com outro nome fantasia. Nessas condições, é possível a substituição de
um medicamento por outros equivalentes, denominados similares. Exemplos: Ácido
acetil salicílico = AAS, Aspirina; Diclofenaco = Voltaren, Cataflan, Inflaren.
Cumprimento
do tratamento prescrito
O
cumprimento do tratamento é a maneira como o paciente segue as indicações
prescritas pelo médico: dieta, remédios, mudanças de estilo de vida. O não
cumprimento da receita pode ocasionar inúmeros problemas à saúde, uma vez que
muitos pacientes abandonam o tratamento total ou parcialmente ou cometem erros
na maneira de usar sua medicação.
Conselhos
gerais para uso correto de medicamentos
Segue
abaixo alguns conselhos para uso de medicamentos:
· o idoso
deve ser estimulado a assumir a responsabilidade pelo tratamento, tomando os
medicamentos sozinho ou sob orientação, passando os cuidados para outra pessoa
somente quando se encontre impossibilitado (por exemplo, quando apresenta
falhas de memória, deficiência visual ou outras limitações);
· caso
haja mais de um cuidador responsabilizando-se pela administração de
medicamentos, será conveniente anotá-los em um papel diariamente e riscá-los
conforme forem sendo ministrados;
· os
medicamentos destinados a mais de uma pessoa no lar devem ser separados e
mantidos afastados para evitar erros;
· o prazo
de validade dos medicamentos deve ser observado, mantendo estes distante de
umidade, calor, luz e crianças;
· o nome
dos medicamentos deve ser colocado em rótulos com letras legíveis para sua
melhor visualização, orientando o idoso para utilização de uma lupa, se
necessário;
· as
medicações devem ser separadas para o uso diário em frascos identificados,
conforme o horário em que deverão se tomadas, caso o idoso tenha dificuldade
visual, seja analfabeto ou não consiga manipulá-las;
· o idoso
deve manter consultas médicas periódicas, informando o médico sobre todos os
medicamentos e tratamentos utilizados;
· devem
ser utilizados somente medicamentos recomendados por médicos;
· é
necessário levar os medicamentos que estão utilizados às consultas médicas;
· as
doses recomendadas devem ser seguidas rigorosamente, não se devendo aumentá-las
ou diminuí-las sem orientação médica;
·
devem-se observar possíveis alterações ou efeitos que possam ser causados pelos
medicamentos e comunicar ao médico;
· não se
pode deixar o idoso esquecer de tomar os medicamentos;
·
programe o horário dos medicamentos com atividades do dia (café da manhã,
almoço, jantar etc.);
· coloque
as medicações em local visível;
· utilize
um esquema com horários, por escrito ou colocando a tampinha das caixas dos
medicamentos e outros lembretes como os que se seguem:
- lave
sempre as mãos com água e sabão antes de pegar nos medicamentos;
-
controle a data de vencimento;
- faça o
possível para que o nome do medicamento e a dose sejam os receitados;
- se for
administrar um medicamento durante a noite, nunca o faça com a luz apagada e
lembre de confirmar o nome e a dose;
- evite
guardar os medicamentos em geladeira a menos que seja indicado e também em
lugares úmidos, pois podem ser alterados;
- não
utilize o armário do banheiro para guardar os medicamentos, pois são muito
úmidos;
- não
aconselhe medicamentos a terceiros, nem aceite conselhos de vizinhos, amigos ou
parentes, pois um medicamento que é bom para uma pessoa pode ser prejudicial
para outro;
-
portador de alergia a algum medicamento deve ter sempre uma advertência em
lugar visível.
Uso
correto de administração das distintas formas farmacêuticas
A forma
farmacêutica é a maneira como o medicamento se apresenta. É importante
conhecê-las e detalhar alguns conselhos.
Uso oral
· Os
medicamentos de uso oral devem ser tomados com água e não com outro tipo de
bebida (leite, suco, chás, café ou bebidas alcoólicas).
· Os
medicamentos não devem ser manipulados (esvaziar as cápsulas) sem consultar o
médico.
· Os
medicamentos devem ser tomados em pé ou sentado, engolido sem mastigar, a não
ser que seja indicado.
· Os
medicamentos de uso sublingual devem ser colocados debaixo da língua e esperar
que se dissolvam, não devendo ser ingerido com água.
Formas
oftalmológicas
São
colírios e pomadas para aplicação nos olhos.
· Deve-se
ter cuidado para que a extremidade do frasco não toque nos olhos para não
contaminar.
· As
preparações oftálmicas, uma vez abertas, devem ser usadas e não é conveniente
que sejam aproveitadas novamente.
· Para
aplicar um colírio deve-se inclinar a cabeça ligeiramente para trás, baixar a
pálpebra inferior, colocando as gotas na cavidade assim formada.
· Para
aplicar as pomadas nos olhos deve-se inclinar a cabeça para trás, baixar a
pálpebra inferior e colocar a pomada na cavidade, nunca diretamente no olho;
manter os olhos fechados por um ou dois minutos para que possa espalhar por
igual.
Formas
para ouvido
São as
formas farmacêuticas para serem aplicadas no ouvido.
· Como
primeira medida o frasco deve ser aquecido entre as mãos, devendo-se após
reclinar a cabeça com suavidade e virar a orelha para cima e para trás para que
o medicamento penetre.
· O
conta-gotas deve ser colocado sobre a orelha com cuidado, procurando não
encostar; a gota deve cair de modo que deslize pelas paredes do ouvido;
· Uma vez
colocadas as gotas, é aconselhável permanecer inclinado alguns minutos; não
tampar o ouvido com algodão seco, pois pode absorver as gotas.
Formas
tópicas
Consiste
na aplicação de medicamentos sobre a pele em forma de pomadas, cremes e outros.
Para conseguir um efeito local, a pele deve ser lavada antes de cada aplicação.
Depois de cada aplicação o cuidador deve lavar as mãos cuidadosamente para
evitar que o medicamento chegue aos olhos e boca.
Formas de
uso retal
Consiste
na introdução de preparados sólidos (supositórios), cremes ou pomadas no ânus.
· Os
supositórios devem ser colocados na geladeira para endurecer.
· Retirar
a embalagem do supositório e introduzir no ânus com a parte mais fina para
dentro; juntar as nádegas, fazendo força por alguns instantes.
· Evitar
as evacuações por uns vinte minutos depois da aplicação, a não ser que o
supositório
tenha efeito laxante; caso o supositório saia por inteiro é necessário colocar
outro.
· Com
respeito à aplicação de cremes e pomadas é necessário primeiramente lavar e
secar a área retal: a quantidade a ser aplicada deve ser pequena e distribuída
adequadamente.
Preparados
vaginais
São
preparados para serem usados na vagina. Podem ser de formas sólidas (óvulos,
comprimidos)
ou cremes.
·
Lembre-se de tirar as embalagens que envolvem os óvulos.
· A
paciente deve deitar-se e separar as pernas; o remédio deve ser colocado na
vagina o mais profundamente possível; durante uns cinco minutos depois da
aplicação é importante que os quadris continuem um pouco levantados.
· Deve-se
usar um aplicador para as formas de creme e, uma vez utilizado, limpá-lo com
água quente e depois guardá-lo.
· Usar de
preferência a noite.
Preparados
de uso nasal
São
medicamentos para serem colocados no nariz.
· Antes
da aplicação do medicamento deve-se assoar levemente o nariz; quando colocar é
preferível respirar pela boca, sentar-se e inclinar a cabeça para trás; colocar
o conta gotas em um dos orifícios do nariz, sem respirar, apertar o conta-gotas
e pingar o número correto de gotas recomendado.
· Repetir
o mesmo processo no outro orifício nasal.
· Manter
a cabeça inclinada alguns instantes para que o produto penetre nos pulmões;
respirar pela boca e não procurar assoar o nariz nesse tempo. É possível
perceber um gosto de medicamento na boca.
Interações
medicamentosas
É a
maneira como um medicamento reage com um alimento, com outro medicamento, com
álcool, com fumo quando usados ao mesmo tempo.
Observações
Em caso
de surgirem reações não desejadas procurar o médico ou pronto-socorro,
informando
sobre o medicamento que o paciente faz uso. Deve ser ressaltado que o cuidador
deve seguir a orientação do médico quanto:
·
freqüência de uso dos medicamentos;
·
horário;
· antes
ou depois das refeições;
· o que
eles podem provocar.
Cabe ao
cuidador a responsabilidade de cuidar e orientar quanto ao uso correto dos
medicamentos,
uma vez que as pessoas idosas que requerem cuidados são, na sua maioria,
dependentes
fragilizados. O tratamento medicamentoso pode acarretar dificuldades para o
idoso e para os cuidadores que o administra, sendo oportuno apresentar algumas
recomendações, afim de facilitar o tratamento e evitar complicações. A
apresentação das diversas de formas farmacêuticas e, para cada uma delas,
ensinar as maneiras de administrá-las, além de expor um elenco de conselhos
gerais para uso correto dos medicamentos, teve a finalidade precípua de
facilitar o trabalho do cuidador, transmitindo segurança a ele e à pessoa
idosa, que é o maior beneficiário deste e dos demais ensinamentos constantes
deste manual.
d-3) - OS
DIREITOS DOS IDOSOS NA CONSTITUIÇÃO
Constituição
Federal:
Título II
Dos
Direitos e Garantias Fundamentais
Capítulo
II
Dos
Direitos Sociais
Art. 7)
São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à
melhoria de sua condição social:
XXIV —
aposentadoria
XXX -
proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
Capítulo
VII
Da
Administração Pública
Seção II
Dos
Servidores Públicos Civis
Art. 40)
O servidor será aposentado:
I - por
invalidez permanente, sendo os proventos integrais quando decorrentes de
acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou
incurável, especificadas em lei, e proporcional nos demais casos:
II -
compulsoriamente aos setenta anos de idade, com proventos proporcionais ao
tempo de serviço;
III -
voluntariamente:
aos
trinta e cinco anos de serviço, se homem e aos trinta, se mulher, com proventos
integrais;
aos
trinta anos de efetivo exercício em funções de magistério, se professor e vinte
e cinco, se professora, com proventos integrais;
aos
trinta anos de serviço, se homem e aos vinte e cinco, se mulher, com proventos
proporcionais a esse tempo;
aos
sessenta e cinco anos de idade, se homem e aos sessenta, se mulher, com
proventos proporcionais ao tempo de serviço.
Parágrafo
primeiro — Lei complementar poderá estabelecer exceções ao disposto no inciso
III, "a" e "c", no caso de exercício de atividades
consideradas penosas, insalubres ou perigosas.
Parágrafo
segundo - A lei disporá sobre a aposentadoria em cargos ou empregos
temporários.
Parágrafo
terceiro — O tempo de serviço público federal, estadual ou municipal será
computado integralmente para efeitos de aposentadoria e de disponibilidade.
Parágrafo
quarto — Os proventos da aposentadoria serão revistos, na mesma proporção e na
mesma data, sempre que se modificar a remuneração dos servidores em atividade,
sendo também estendidos aos inativos quaisquer benefícios ou vantagens
posteriormente concedidos aos servidores em atividade, inclusive quando
decorrentes da transformação ou reclassificação do cargo ou função em que se
deu a aposentadoria na forma da lei.
Parágrafo
quinto — Os benefícios da pensão por morte corresponderá à totalidade dos
vencimentos ou proventos do servidor falecido, até o limite estabelecido em
lei, observado o disposto no parágrafo anterior.
Título
VIII
Da Ordem
Social
Capítulo
II
Da
Seguridade Social
Seção IV
Da
Assistência Social
Art. 203)
A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a
proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - a
garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.
Capítulo
VII
Da
Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso
Art. 229)
Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos
maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou
enfermidade.
Art. 230)
A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e
bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
Parágrafo
primeiro — Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente
em seus lares.
Parágrafo
segundo - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos
transportes coletivos urbanos.
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