Reconciliar-se com Deus e consigo mesmo
Num mundo de
conflitos, a reconciliação é uma necessidade. Os cristãos poderiam ajudar o
mundo e as pessoas em algo tão necessário?
Por Erní Walter Seibert
Um tema necessário em nosso tempo é a reconciliação. Nas
últimas décadas, o desentendimento, a tensão, a ansiedade têm aumentado de
maneira extraordinária. Por um lado, os direitos individuais têm sido
salientados. Por outro lado, a necessidade de viver em comunidade faz com que
tensões surjam e não se encontre entendimento. É muito fácil essas tensões
crescerem a ponto de iniciarem conflitos e violência. A maior evidência disso
são as guerras existentes pelo mundo afora. O Peace Research Institute de Oslo diz
que existem 134 conflitos ativos pelo mundo. Esse número é o maior alcançado
nos últimos trinta anos.
No entanto, a necessidade de reconciliação não se dá apenas
nesse nível. A reconciliação é necessária na sociedade, nas igrejas, no
ambiente de trabalho, nos condomínios, nas ruas das cidades, enfim, em toda
parte. Mas qual é o caminho da paz? Não é fácil responder a essa pergunta. Se o
conflito está em toda parte, se a reconciliação precisa ser feita até mesmo
dentro das igrejas, qual o caminho para alcançar a paz?
Shalom e shabat
No Antigo Testamento há duas palavras que expressam o que o
ser humano tem quando ele experimenta a reconciliação. Uma delas é shalom e a
outra é shabat. Traduzidas de maneira simples para o português elas significam
paz e descanso.
A Bíblia nos ensina que a paz é um dom de Deus. No livro de
Números, capítulo 6, a partir do versículo 22, está registrada a bênção
sacerdotal ou bênção araônica. No final dessa bênção é dito: “O Senhor sobre
vocês levante o seu rosto e lhes dê a paz.” Essa paz, da qual fala o texto, não
é conquistada pelo ser humano. Ela é dada por Deus. Na Bíblia Sagrada, quando é
tratado do tema paz, ele está muitas vezes relacionado à graça de Deus, pela
qual Deus restabelece sua aliança. Deus concede paz para que essa paz exista.
Vejamos o que diz em Isaías 54.10: “Mesmo que os montes se retirem e as colinas
sejam removidas, a minha misericórdia não se afastará de você, e a minha
aliança de paz não será removida”, diz o Senhor, que se compadece de você.” Claramente
a paz é afirmada como um dom de Deus. O mesmo acontece em Ezequiel 34.25: “ –
Farei uma aliança de paz com as minhas ovelhas.” Nesse sentido, paz é sinônimo
de reconciliação. Com a paz, Deus estabelece a reconciliação.
Mas há textos que claramente estabelecem que a paz também é
sinônimo de tranquilidade e descanso. Shabat é a palavra hebraica que designa o
descanso. O oposto da tranquilidade, descanso e paz é guerra, desentendimento.
Nesse sentido, o ser humano deve procurar a paz, deve pedir a paz, deve
trabalhar pela paz. Em Mateus 5.9, no texto das bem-aventuranças, Cristo diz
que os pacificadores serão chamados filhos de Deus. O ser humano é convidado a
trabalhar ativamente pela paz. Em 2 Timóteo 2.2, o apóstolo Paulo convida a
orar pela paz. E, em Romanos 12.18, há uma expressão que mostra que nem tudo
depende de nós para que haja paz: “Se possível, no que depender de vocês, vivam
em paz com todas as pessoas.”
A reconciliação está intimamente ligada com a paz e com o
descanso. Shalom e shabat formam o ambiente onde a reconciliação habita. Quando
a reconciliação acontece, temos paz e descanso em Deus, temos paz e descanso
conosco mesmos, com nossas famílias, com a igreja e com a sociedade.
O ministério da reconciliação
Num mundo de conflitos, a reconciliação é uma necessidade.
Sem reconciliação, os conflitos crescem e se acentuam. Será que os cristãos
poderiam ajudar o mundo e as pessoas em algo tão necessário para elas?
A Bíblia ensina que há coisas que podemos e devemos fazer.
No tempo do profeta Jeremias, ocorreu o exílio do povo de Israel para a
Babilônia. Ali eles estavam, no meio de um povo estranho, e ali teriam de
morar, gostando ou não gostando. Deus, por meio do profeta diz uma palavra que
tem uma atualidade excepcional. Em Jeremias 29.4-9, está registrado:
“Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel, a todos
os exilados que eu deportei de Jerusalém para a Babilônia: “Construam casas e
morem nelas; plantem pomares e comam o seu fruto. Casem e tenham filhos e
filhas; escolham esposas para os filhos de vocês e deem as suas filhas em
casamento, para que tenham filhos e filhas. Aumentem em número e não diminuam
aí na Babilônia! Procurem a paz da cidade para onde eu os deportei e orem por
ela ao Senhor; porque na sua paz vocês terão paz. Porque assim diz o Senhor dos
Exércitos, o Deus de Israel: Não se deixem enganar pelos profetas e adivinhos
que vivem no meio de vocês. Não deem ouvidos aos sonhadores, que sempre sonham
segundo o desejo de vocês. Porque eles profetizam falsamente em meu nome; eu
não os enviei”, diz o Senhor”.
Reconciliação é um tema central na Bíblia Sagrada.
Reconciliação é um ministério que Deus confiou à sua igreja (2Co 5.18). Os
cristãos têm o privilégio de serem agentes de reconciliação onde estiverem.
Assim todos terão shalom - paz e shabat – descanso.
Erní Walter Seibert, diretor executivo da Sociedade Bíblica
do Brasil e Vice-Presidente das Sociedades Bíblicas Unidas.
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