A cabeleira da minha mãe e as folhas novas da oliveira
Ao ver os cabelos da minha mãe cair sobre o chão fui fraco
como Sansão entre os filisteus
Por Timóteo Fassoni
A cabeleira ruiva de Davi devia voar ao vento, como velas de
um navio. Saul era alto e esbelto, mas Davi, mesmo baixo, carregava uma coroa
carmesim sobre sua cabeça – ainda mais linda que Saul.
A cabeleira longa de Sansão era sua força divina. Carregava
sobre si com pompa e orgulho: era o terror dos filisteus. Mesmo a sua careca
reluzente, ao ver nascer as gramíneas em seu solo, foi capaz de trazer vitória
sobre as aflições e o inimigo.
Até Arão, sacerdote da tenda, teve sua longa cabeleira,
desde a cabeça até a barba, por sobre qual escorria o óleo da comunhão dos
irmãos. Cada fio, sagrado e mantido por vontade divina – separados um por um
para o serviço da expiação, da comunhão e da bênção.
Mas ao ver os cabelos da minha mãe caírem sobre o chão,
sendo o próprio Deus que os coletou de sua cabeça, fio a fio, fui fraco como
Sansão entre os filisteus. Chorei e desfaleci diante dessa divina providência,
como Davi diante da morte de seu amado Jonatas. Mas, pensando em Arão, desejei
refletir pela minha face aquela que é divina e perfeita, para abençoar a minha
mãe e aqueles que oraram e a sustentam nesse tempo, mesmo tendo somente a barba
de Arão.
E minha mãe? O que seria se Jesus entrasse em seu quarto
hospitalar? Será que poderia ela lavar os pés do Mestre com sua cabeleira? Será
que poderia reclamar as migalhas de pão que caem sobre o chão? Será que poderia
vê-lo amá-la e dizendo que nenhum de seus fios caíram sem consentimento de sua
perfeita vontade?
Ora, para que choro como um bebê diante da providência
divina? Será que a sentinela também chora diante do raiar do sol?
Eu sei que minha mãe não tem mais aquela cabeleira. Mas, de
seus fios de prata, coletados pelo próprio Cristo, a partir da maturação da Fé
na Esperança, o Senhor Deus fez adubo: adubo para as raízes de uma frondosa
árvore. Raízes de uma Oliveira, que é minha mãe.
Sua madeira envelheceu, seus frutos secaram e sua folhagem
caiu. Mas Cristo está chorando em seu monte, compadecido, clamando para que lhe
seja afastado o cálice, porque ele também viu sua cabeça ferida por espinhos.
Cristo está presente, como segundo Adão, cuidando daquela sua árvore que sempre
amou, para que sua folhagem venha ainda mais verde, para que sua madeira exiba
novamente os seus belos sulcos e seus frutos deem novo azeite untuoso para ser
derramado como a gordura sobre o altar.
Tanto sacrifício, tão pouco dele voluntário. Mas Jesus
estava sempre ali, regando a oliveira doente. Estava ali com as orações dos
irmãos, estava ali com o sacrifício do marido, estava ali com o amor dos
filhos. Jesus transformou os cabelos de prata da minha mãe em adubo da oliveira,
que cresce, agora sim, com nova medula.
Dou glória a Deus pelos cabelos caídos da minha mãe. Dou
glória a Jesus Cristo pelo adubo que ele maturou para ela. Dou glória ao Santo
Espírito pelas outras oliveiras plantadas nesse mesmo monte, que não deixaram
de clamar por aquela que mais amo.
Os cabelos da minha mãe são as folhas dessa oliveira. Nunca
mais sentirei falta dos velhos, porque os novos chegam junto com o Cristo.
Timóteo Fassoni, filho caçula de Klênia Fassoni.
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